MACEDO,
Araripe
*militar; min. Aer. 1971-1979.
Joelmir Campos de Araripe Macedo nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 16
de fevereiro de 1909, filho do coronel José Araripe Macedo e de Zulmira Campos
de Araripe Macedo. Seu irmão, Zilmar Campos de Araripe Macedo, foi ministro da
Marinha entre 1965 e 1967.
Cursou
o secundário no Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde ingressou em 1919,
diplomando-se em 1924. Em março de 1925 ingressou na Escola Militar do
Realengo, também no Rio, e em janeiro de 1928 foi declarado aspirante-a-oficial
da arma de aviação, integrando a primeira turma de cadetes da Escola de Aviação
Militar Marechal Deodoro. Em agosto desse ano, foi promovido a segundo-tenente.
Promovido
a primeiro-tenente em agosto de 1930, participou do movimento que tinha como
objetivo a deposição do presidente Washington Luís. Foi preso na fortaleza de
Santa Cruz e, posto em liberdade, fugiu pilotando um avião com armas, da base
do campo dos Afonsos em direção a Belo Horizonte. Sofreu uma queda antes de
alcançar seu objetivo, foi mais uma vez aprisionado, impedido de participar
diretamente da Revolução de 1930.
Em
outubro de 1931, como um dos pioneiros do Correio Aéreo Militar, depois Correio
Aéreo Nacional (CAN), foi o primeiro piloto — ao lado do tenente Nélson Freire
Lavenère Wanderley — a fazer a linha Rio de Janeiro-Goiás. No mês seguinte,
teve início a linha regular do Correio Aéreo Militar para Goiás, com um vôo por
semana. Entre julho e outubro de 1932, participou da repressão à Revolução
Constitucionalista de São Paulo, realizando missões aéreas na frente da 4ª
Divisão de Infantaria, comandada pelo general Jorge Pinheiro, na região de
Campinas e Mojimirim, perto da fronteira de Minas Gerais. Continuando suas
atividades no Correio Aéreo Militar, mais uma vez ao lado de Lavenère
Wanderley, inaugurou em fevereiro de 1933 a linha postal entre o Rio de Janeiro e cidades do interior baiano e cearense, chamada linha do rio São Francisco.
Em junho desse ano foi promovido a capitão, permanecendo como instrutor de
rádio na Escola e comandante de esquadrilha do 1º Regimento de Aviação Militar,
comandado pelo tenente-coronel Eduardo Gomes. Em setembro de 1938 passou a
major. Impedido de voar por um ano devido a uma doença nos olhos, freqüentou a
primeira turma de engenharia aeronáutica da Escola Técnica do Exército,
formando-se em dezembro de 1941, na especialidade de metalurgia, sendo
promovido, na ocasião, ao posto de tenente-coronel.
Com
a criação do Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira (FAB) em
janeiro de 1941, transferiu-se para essa nova força armada. Em janeiro de 1942,
assumiu a direção da Fábrica do Galeão, antiga Oficinas Gerais da Aviação
Naval, no Rio de Janeiro, e agora pertencente ao Ministério da Aeronáutica.
Teve como tarefa a reestruturação deste órgão para a produção de novos modelos
de avião de combate, diante da situação de guerra existente. Grande parte do
material e ferramental necessário foi fornecida pelos americanos.
Em 1945, deixou o comando da Fábrica do Galeão assumindo o
cargo de diretor-técnico da Fábrica Nacional de Motores (FNM). A fábrica,
montada pelo brigadeiro Muniz para fabricar motores Wright, tornara a produção
antieconômica pelo longo tempo que demandou para ser equipada. O governo
americano já nos fornecia motores gratuitamente, próximo ao fim da guerra,
tornados obsoletos para eles. Sua missão na FNM foi a de montar um novo
programa para a fabricação de caminhões, tendo sido feito um contrato com a
Alfa Romeo para fornecimento de ferramental e licença para fabricação.
Exonerou-se, em 1950, por discordar do presidente da empresa quanto à
modificação do tipo de caminhão produzido.
Em 1951, já no segundo governo do presidente Getúlio Vargas,
tornou-se membro do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), onde ficaria até 1956
como representante do Ministério da Aeronáutica. Entre fevereiro e julho de
1951, foi chefe da Comissão de Organização do Centro Técnico da Aeronáutica
(COCTA) a ser instalado em São José dos Campos (SP), sendo também convocado por
Vargas para retornar à FNM, desta feita como diretor-presidente. Obteve êxito
na redução da importação de material para a montagem dos novos caminhões,
conseguindo um índice de nacionalização de 75%.
Em 1952, foi nomeado membro da Comissão de Desenvolvimento
Industrial da Aeronáutica e, em novembro de 1954, foi promovido a brigadeiro.
Em 1955, deixou a FNM e assumiu a direção da diretoria de
Engenharia da Aeronáutica, função exercida até 1958. Promovido a
major-brigadeiro em dezembro de 1958, assumiu nesse mesmo ano a direção-geral
do Material da Aeronáutica, cargo que ocupou até 1960. Cursou cumulativamente a
Escola Superior de Guerra (ESG). No ano seguinte passou a chefiar a Diretoria
de Rotas Aéreas. Em junho de 1964, após o movimento político-militar de 31 de
março, que derrubou o presidente João Goulart, foi promovido a
tenente-brigadeiro-do-ar e designado membro da Comissão Geral de Investigação.
Em
1967 deixou a direção das Rotas Aéreas para assumir o cargo de inspetor geral
da Aeronáutica. Ainda em 1967, foi nomeado presidente da Comissão Coordenadora
do Projeto Aeroporto Internacional do Galeão (CCPAI), sua última função no
serviço ativo da Aeronáutica. Atingido pela compulsória, passou para a reserva
remunerada mas continuou à frente da comissão graças a ato especial do titular
da pasta da Aeronáutica, brigadeiro Márcio de Sousa e Melo. Permaneceu na
comissão até novembro de 1971, quando foi nomeado pelo presidente da República,
general Emílio Garrastazu Médici, para a pasta da Aeronáutica, em substituição
a Sousa e Melo. Segundo a revista Veja, o afastamento do brigadeiro
Sousa e Melo teria sido motivado por “um não esclarecido conflito de doutrinas
na direção da Aeronáutica envolvendo a legendária figura do brigadeiro
Eduardo Gomes”.
Ministro da Aeronáutica
Em seu discurso de posse no Ministério da Aeronáutica,
Araripe Macedo afirmou que seria mantida a vigilância na defesa da pátria e na
garantia dos poderes constituídos, “da lei e da ordem, conforme a missão
constitucional das forças armadas”. Acrescentou que não daria trégua “à
subversão, ao terrorismo e ao comunismo”, e que “acima de tudo” exigiria
“disciplina, exação no cumprimento do dever, lealdade, respeito mútuo entre
superiores e subordinados, e uma inflexível linha hierárquica nos canais de
comando”.
Uma semana após ser empossado, promoveu várias substituições
nos principais cargos do Ministério da Aeronáutica. A primeira modificação foi
no comando da III Zona Aérea (ZA), no Rio de Janeiro, onde o brigadeiro João
Paulo Moreira Burnier foi substituído pelo major-brigadeiro Faber Cintra.
Posteriormente, órgãos da imprensa e familiares de presos políticos denunciaram
a prática de torturas e mesmo assassinatos nas dependências da III ZA na gestão
do brigadeiro Burnier.
O
chefe do Centro de Informações de Segurança, brigadeiro Carlos Afonso
Dellamora, também foi exonerado, o mesmo acontecendo com o tenente-brigadeiro
José Vaz da Silva, que fora empossado no Comando Geral do Pessoal pouco antes e
foi substituído interinamente pelo brigadeiro Roberto Faria Lima. A chefia do
Estado-Maior da Aeronáutica também mudou de mãos. Foi afastado seu titular, o
tenente-brigadeiro Armando Serra de Meneses, que passaria para a reserva em
poucos dias por ter atingido o limite de permanência no serviço ativo, o que o
impediria, constitucionalmente, de permanecer no cargo. Araripe Macedo preferiu
não esperar, substituindo-o imediatamente pelo tenente-brigadeiro Ari Presser
Belo.
Em
termos técnico-administrativos, Araripe Macedo conferiu prioridade, no decorrer
do governo Médici, à melhoria das instalações dos aeroportos visando a maior
proteção ao vôo e ocupou-se também do reequipamento da FAB. Foi também o
criador da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero), em
1972, e do Museu Aeroespacial, em julho do ano seguinte. Inaugurou o Cindacta I
voltado para a segurança e o controle do tráfego aéreo.
Com o fim do mandato presidencial do general Médici e a posse
do general Ernesto Geisel na presidência da República, em 15 de março de 1974,
foi o único ministro militar mantido na pasta. Na administração Geisel, deu
prosseguimento ao programa de reaparelhamento que vinha executando. Em dezembro
de 1976, a Aeronáutica já contava com 54 aviões supersônicos de procedência
francesa e norte-americana.
Em março de 1977, em aula inaugural na Escola de Comando e
Estado-Maior da Aeronaútica, Araripe Macedo, falando a respeito do acordo
nuclear entre o Brasil e a Alemanha Ocidental, afirmou que o rompimento do
acordo de ajuda militar com os Estados Unidos não acarretaria para o Brasil
“grandes conseqüências, porque ele nunca teve grande alcance e não era eterno”.
Admitiu a necessidade de diversificar as fontes de energia existentes e afirmou
que o Brasil não iria buscar “fontes exóticas”. Considerou como “medida
patriótica e de larga visão a construção do complexo nuclear de Angra dos
Reis”, além de mostrar-se favorável à implementação da produção em larga escala
de álcool etílico como combustível. Ainda em março de 1977, viajou para o
Chile, onde assinou um acordo para a venda de armamentos brasileiros àquele
país. No mesmo ano inaugurava-se o Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de
Janeiro.
Em
palestra na Escola Superior de Guerra (ESG), referindo-se à preparada
privatização da VASP, de propriedade do governo de São Paulo, defendeu essa
medida, afirmando que não se justificava a presença de uma empresa estatal no
mercado de transporte aéreo comercial. Em nova declaração dada à imprensa, em
dezembro de 1978, mostrando-se contrário à concessão da anistia ampla, afirmou
que “a Revolução não havia terminado” e que não se deveria “escancarar as
portas para o retorno da baderna e subversão que existia antes de 1964.”
Araripe Macedo deixou a pasta da Aeronáutica em março de
1979, ao terminar o governo do general Ernesto Geisel.
Durante sua carreira militar, foi ainda comandante da seção
de rádio da Escola de Aviação Militar e da seção do Grupo Misto de Aviação.
Ocupou a cadeira nº 7 do Instituto Histórico-Cultural da
Aeronáutica (Incaer).
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 12 de abril de 1993.
Era casado com Maria de Lurdes Viana de Araripe Macedo, com
quem teve dois filhos.
FONTES: Correio
do Povo (21/12/65); Encic. Mirador; Globo (13/4/93); Grande
encic. Delta; Jornal do Brasil (14/4/93); MIN. AER. Almanaque
(1963); Perfil (1975); SOUSA, J. Ministros; Veja (1e 8/12/71);
WANDERLEY, N. História.