CRIMMINS, John
*diplomata
norte-americano; emb. EUA no Brasil 1973-1978.
John Hugh Crimmins nasceu no
estado de Massachusetts, nos EUA, no dia 26 de novembro de 1919.
Formado
pela Universidade Harvard de em 1941, desse ano até 1946 serviu ao Exército de
seu país, tendo participado da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com a patente
de tenente-coronel. Atuou no teatro de operações da Itália junto à II Divisão
Blindada do V Corpo do Exército norte-americano, ao qual se subordinou também a
Força Expedicionária Brasileira (FEB).
Após deixar o Exército, ingressou no Departamento de Estado
como oficial de informações da Assessoria de Projetos Especiais, desempenhando
ainda em 1946 a função de assistente político de informações. Permaneceu no
Serviço de Informações do Departamento de Estado até 1951, exercendo em
seguida, até 1954, a chefia da Seção das Repúblicas Americanas da Assessoria de
Projetos Especiais. Passou depois à função de encarregado de investigações de
informações, que desempenhou até 1957.
Nesse ano, foi nomeado primeiro-secretário da embaixada
norte-americana no Brasil, então sediada no Rio de Janeiro, àquela época
Distrito Federal. Após ocupar esse posto, tornou-se em 1961 diretor do
Escritório de Negócios para o México e o Caribe no Departamento de Estado,
exercendo a função até 1963. Coordenador de negócios cubanos de 1963 a 1966, nesse ano foi nomeado conselheiro da embaixada norte-americana em São Domingos, assumindo em seguida as funções de encarregado de negócios e, depois, de
embaixador, pelas quais respondeu até 1969. Desse ano até 1973 exerceu em
Washington a função de vice-assistente para assuntos interamericanos do
secretário de Estado.
Embaixador
no Brasil
Em
1973, Crimmins foi nomeado embaixador no Brasil, assumindo o posto em agosto
desse ano em substituição a Richard Rountree. Como embaixador, participou da
negociação do memorando de entendimentos entre o Brasil e os EUA, assinado por
Henry Kissinger durante sua visita ao Brasil, em fevereiro de 1976, estabelecendo
que os dois governos deveriam realizar consultas semestrais sobre problemas
relativos à política externa e a qualquer questão específica que viesse a ser
levantada.
No início de novembro de 1976, com a chegada dos primeiros
resultados das eleições presidenciais norte-americanas ao Brasil, Crimmins
comemorou abertamente a vitória de seu candidato, o democrata Jimmy Carter, e,
durante as comemorações do bicentenário da independência dos EUA, em sessão
realizada pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais no dia 23 daquele mês,
declarou: “Quando os governos deixam de satisfazer aos propósitos para os quais
foram criados, ou negam os direitos inalienáveis dos cidadãos aos quais devem
sua razão de ser, eles podem ser mudados ou em última instância depostos.”
Afirmou ainda que a comemoração do bicentenário constituía um momento de
reflexão dos norte-americanos sobre seus erros passados e de retomada dos
princípios e ideais emanados da independência, referindo-se veladamente à
mudança da política externa dos EUA prometida pelo novo presidente Jimmy
Carter.
Conforme noticiou a imprensa na época, setores do Itamarati
receberam muito mal as declarações de Crimmins, que foram consideradas
“provocadoras”. O embaixador revelou-se surpreso com as repercussões, observando
que as declarações consideradas provocadoras eram transcrições de textos com
mais de duzentos anos: a Declaração de Independência dos EUA, sua Constituição
e sua Declaração de Direitos, as quais se referiam exclusivamente ao contexto
norte-americano.
As
relações entre o Brasil e os EUA, que se haviam mantido tensas desde a eleição
de Carter para a presidência, entraram numa séria crise em 4 de março de 1977,
quando foi entregue ao Itamarati a cópia de um relatório sobre os direitos
humanos enviado pelo Departamento de Estado ao Congresso norte-americano e
elaborado com subsídios fornecidos pela embaixada daquele país no Brasil. O
documento referia-se à situação dos direitos humanos no país, citando a morte
do jornalista Vladimir Herzog, a prática de torturas, as prisões ilegais, as
perseguições políticas e a falta de liberdade de imprensa, e foi devolvido pelo
Itamarati, que o considerou “indigno” de constar de seus arquivos. O relatório
era exigência de lei assinada em 1976, que determinava a apresentação desse
tipo de documento relativo a cada um dos países que recebessem ajuda militar
dos EUA, à exceção dos que fossem considerados estratégicos para os interesses
de Washington, cada vez que o Congresso votasse a renovação da ajuda militar a
tais países.
O
governo brasileiro considerou a apresentação do relatório uma “ingerência em
assuntos internos”, vendo nessa atitude uma forma de pressionar o Brasil para
recuar no acordo nuclear firmado com a República Federal da Alemanha em 27 de
junho de 1975, apesar da objeção dos EUA. Em nota distribuída pelo Itamarati, o
Brasil abriu mão do acordo militar que mantinha com os EUA desde 1952, não
aceitando qualquer ajuda que dependesse de condições prévias. Crimmins divulgou
então nova nota justificando a atitude norte-americana como uma exigência da
legislação de seu país. No dia 7 de março, após audiência com o ministro das
Relações Exteriores, Antônio Azeredo da Silveira, acompanhando o senador
Charles Mathias em visita ao Brasil, Crimmins negou a existência de crise nas
relações entre os dois países. Uma semana depois, o porta-voz da embaixada
declarou que a versão do relatório divulgado pela imprensa não correspondia na
íntegra ao texto que fora entregue ao Ministério das Relações Exteriores.
Durante
a visita da primeira-dama dos EUA, Rosalynn Carter, ao Brasil, em junho de
1977, foi-lhe entregue, entre outras, uma carta atribuída a estudantes
brasileiros contendo denúncias sobre a situação dos direitos humanos no país. O
deputado arenista Álvaro Vale denunciou a carta como forjada e alguns jornais
veicularam a versão de que a embaixada norte-americana e a Central Intelligence
Agency (CIA) estariam por trás do episódio. Crimmins classificou a acusação
como “uma mentira total e uma fabricação de idéias”. Para aprofundar o
episódio, Álvaro Vale endereçou carta a Rosalynn Carter denunciando a situação
trabalhista irregular dos funcionários brasileiros que trabalhavam na embaixada
norte-americana em Brasília. Crimmins não respondeu diretamente à carta do
deputado, defendendo o direito deste de “expressar suas idéias”, embora “se
tratando de assunto interno da embaixada e do governo norte-americano”.
No
dia 12 de setembro de 1977, durante solenidade em São Paulo no Centro de Comércio dos EUA, Crimmins anunciou a visita do secretário de Estado
Cyrus Vance ao Brasil, confirmou a continuidade da política de direitos humanos
da administração Carter e classificou as relações de seu país com o Brasil de muito
boas. Na mesma ocasião demonstrou preocupação quanto ao financiamento para as
empresas estrangeiras instaladas no país e expressou suas esperanças de que “o
Brasil continuasse receptivo aos capitais estrangeiros”. Ainda em setembro, no
dia 19, foi chamado ao gabinete do ministro Azeredo da Silveira, onde recebeu
nota do governo brasileiro denunciando os últimos acordos militares que o país
mantinha com os EUA, extinguindo a Comissão Naval Americana, a Comissão Mista
Brasil-Estados Unidos e a Comissão de Defesa do Brasil nos EUA. Crimmins
afirmou que a decisão não causou surpresa, que não iria influir nas relações
entre os dois países e que seu país a aceitava com “equanimidade e serenidade”.
Pouco depois, em outubro seguinte, a vinda do secretário de Estado ao Brasil
iria proporcionar certa melhora nas relações bilaterais.
Crimmins
teve sua substituição no cargo de embaixador no Brasil anunciada em 9 de
fevereiro de 1978, pouco antes da visita do presidente Carter ao país. Foi
nomeado para substituí-lo Robert Marion Sayre. Circularam na imprensa versões
de que seu afastamento significava uma concessão do governo norte-americano,
removendo um “elemento incômodo” nas relações entre os dois países. Crimmins,
por sua vez, minimizou a importância do acontecimento, explicando sua remoção
do posto como um fato “rotineiro e perfeitamente normal” e ressaltando que sua
decisão fora tomada de comum acordo com o Departamento de Estado e decorria de
seu pedido de aposentadoria. Ainda segundo suas declarações, “a visita do
presidente seria uma oportunidade preciosa para inaugurar as atividades do novo
embaixador”. No dia 25 daquele mês deixou definitivamente a embaixada,
retornando aos EUA.
Durante conferência que pronunciou em setembro de 1978 no
Centro de Altos Estudos Internacionais Woodrow Wilson, o ex-embaixador acusou o
Brasil de ter “nítidas pretensões hegemônicas sobre a América do Sul”, segundo
notícias publicadas na imprensa. Ainda segundo essas mesmas fontes, sua
conferência foi muito mal recebida pelo Itamarati.
Faleceu em Maryland, nos Estados Unidos, no dia 12 de dezembro
de 2007.
Casou-se com Margueriti Virginia Carlson, com quem teve dois
filhos.
FONTES: Estado de S.
Paulo (24 e 26/11/76 e 6/3/77); Jornal do Brasil (3/9/76; 8 e 15/3,
11 e 15/6, 13 e 29/9/77; 10, 11 e 25/2 e 25/9/78); REIS, A. Poetas; Veja
(15/2//78); Who’s who in America.