NORONHA,
Isaías de
*militar; junta mil. 1930; min. Mar. 1930.
José Isaías de Noronha nasceu
no Rio de Janeiro, então capital do Império, no dia 6 de junho de 1873, filho
do general-de-divisão Manuel Muniz de Noronha e de Zulmira Augusta Aguiar
Noronha. Era sobrinho dos almirantes Carlos Frederico de Noronha e Júlio César
de Noronha, este ministro da Marinha de 1902 a 1906, e primo do almirante
Sílvio de Noronha, que ocupou este mesmo cargo entre 1946 e 1951.
Ingressou no curso preparatório da Escola Naval em março de
1887, passando à condição de aspirante de primeira classe em dezembro de 1889 e
a guarda-marinha em 1892. Estava nesse posto quando eclodiu, em setembro de
1893, a Revolta da Armada, que opôs a esquadra sediada na baía da Guanabara ao
governo Floriano Peixoto. Isaías de Noronha não participou da sublevação, que
se estendeu até março do ano seguinte e terminou com o asilo dos revoltosos em
embarcações portuguesas fundeadas no Rio. Em julho, foi incorporado à
tripulação do cruzador Andrada, e em novembro seguinte recebeu a patente de
segundo-tenente. Foi transferido para o brique Recife em janeiro de 1895 e
promovido a primeiro-tenente em dezembro de 1896, passando a servir no mês seguinte
no cruzador 15 de Novembro. Em dezembro de 1897, foi lotado na Repartição da
Carta Marítima, onde desempenhou a função de ajudante da Diretoria de
Hidrografia. Comandou o aviso Lamego de março a junho de 1898, sendo
transferido em seguida para o aviso Trindade.
Entre
janeiro de 1899 e novembro de 1902, Isaías de Noronha foi, sucessivamente,
ajudante-de-ordens dos comandantes da 3ª e da 1ª divisões navais. Passou depois
a exercer a mesma função junto ao ministro da Marinha, almirante Júlio César de
Noronha, seu tio, sendo promovido, em janeiro de 1906, a capitão-tenente. Com o
fim da gestão do ministro em novembro desse ano, foi designado para servir como
instrutor de artilharia no encouraçado Riachuelo. Entre outubro de 1907 e abril
de 1909, atuou como assistente da Inspetoria de Portos e Costas, sendo
promovido no mês seguinte a capitão-de-corveta e lotado no navio-escola
Benjamim Constant, na condição de imediato. Exerceu essa mesma função no
cruzador Tamandaré entre março e julho de 1910, quando foi nomeado comandante
interino do contratorpedeiro Piauí. Estava nesse posto quando eclodiu, em 22 de
novembro seguinte, o levante de marinheiros conhecido também como Revolta da
Chibata, que mobilizou marujos contra os castigos corporais então vigentes da Armada.
Isaías de Noronha recebeu ordens de preparar seu navio para eventuais combates
com os revoltosos, o que não chegou a ocorrer.
Deixou o comando do Piauí em dezembro de 1910, sendo nomeado
no mês seguinte para chefiar a Diretoria de Faróis da Superintendência de
Navegação, onde permaneceu até outubro de 1911. A partir desse mês, ocupou
interinamente o comando do contratorpedeiro Sergipe, que se deslocou para
Assunção em fevereiro de 1912 com o objetivo de ajudar na defesa da cidade,
ameaçada por forças rebeldes em meio a uma grande crise política que se
desenvolvia no Paraguai.
Incorporado
à 3ª Seção (operações) do Estado-Maior da Armada (EMA), integrou a Defesa Móvel
do Rio de Janeiro entre julho de 1912 e agosto de 1913, quando assumiu a
vice-diretoria das escolas profissionais e o comando do quartel da Defesa
Móvel. Foi promovido a capitão-de-fragata em fevereiro de 1914 e designado em
maio seguinte para o comando do cruzador República, onde permaneceu até outubro
de 1915. A partir desse mês, chefiou a 2ª Seção (informações) do EMA até
janeiro de 1916, quando assumiu o comando do vapor Carlos Gomes. Em julho
seguinte, foi deslocado para a chefia da 3ª Seção do EMA e em novembro passou a
comandar o cruzador Barroso.
Voltou
a chefiar a 2ª Seção do EMA entre março e novembro de 1917, quando passou a
dirigir a Escola de Grumetes, onde permaneceu até fevereiro de 1919. Promovido
nesse mês a capitão-de-mar-e-guerra, assumiu em março o comando do encouraçado
Minas Gerais. Deixou esse posto em fevereiro de 1920, sendo nomeado em agosto
capitão do porto do Pará, onde trabalhou durante um ano. Completou no início de
1922 o curso da Escola de Guerra Naval, da qual foi vice-diretor entre
fevereiro e dezembro desse ano, quando passou a dirigir o Depósito Naval do Rio
de Janeiro.
Promovido a contra-almirante em abril de 1923, dirigiu a
Escola Naval entre maio desse ano e janeiro de 1925, e foi diretor-geral de
Pessoal de maio a outubro de 1926. Retornou então à Escola Naval até agosto de
1927, quando passou à condição de comandante-em-chefe da Esquadra. Em novembro
de 1928, pediu exoneração desse cargo.
Na Revolução de 1930
Em
3 de outubro de 1930 eclodiram levantes armados no Rio Grande do Sul, Minas
Gerais e Paraíba contra o governo federal. A partir desses estados, as ações
militares se irradiaram para todo o país, evoluindo favoravelmente às tropas
sublevadas que, nas semanas seguintes, assumiram o controle de diversas
capitais e começaram a convergir em direção ao Rio de Janeiro. Nesse contexto,
a alta oficialidade sediada na capital se antecipou à chegada das forças
revolucionárias lideradas por Getúlio Vargas e depôs, em 24 de outubro, o
presidente Washington Luís. Constituiu-se então uma junta militar provisória,
na qual Isaías de Noronha representava a Marinha e os generais João de Deus
Mena Barreto e Tasso Fragoso o Exército. Isaías de Noronha assumiu também,
cumulativamente, a chefia do Ministério da Marinha.
No mesmo dia, a junta enviou o primeiro de uma série de
telegramas a Getúlio Vargas, propondo a suspensão das hostilidades. O
estado-maior revolucionário, estacionado em Ponta Grossa (PR), pouco seguro das
intenções da junta, enviou três emissários para negociarem as condições da
transferência do poder a Vargas e ordenou que os destacamentos rebeldes continuassem
avançando em direção ao Rio de Janeiro com o objetivo de garantir a vitória da
revolução. Tendo constatado que os efetivos federais estacionados em Minas
Gerais não apoiariam uma decisão de resistir aos revolucionários, a junta
entregou o poder a Vargas no dia 3 de novembro.
Isaías de Noronha foi mantido no Ministério da Marinha do
Governo Provisório então organizado, tornando-se signatário do Decreto-Lei nº
19.395, de 9 de novembro, que concedeu anistia a todos os envolvidos nos
movimentos revolucionários anteriores a 1930. Junto com Osvaldo Aranha
(ministro da Justiça), o general José Fernandes Leite de Castro (ministro da
Guerra), Francisco Campos (ministro da Educação), João Batista Luzardo (chefe
de Polícia do Distrito Federal) e o tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis
Monteiro (ex-chefe do estado maior das forças revolucionárias), assinou também
um telegrama sugerindo a Olegário Maciel, chefe do governo mineiro, a formação
da Legião de Outubro, destinada a defender o aprofundamento das medidas revolucionárias.
Pediu demissão do ministério em 17 de dezembro de 1930, sendo substituído por
Conrado Heck.
Promovido a vice-almirante em janeiro de 1931, foi eleito em
junho do mesmo ano presidente do Clube Naval. Renunciou a esse cargo em
outubro de 1932, alegando que seria transferido para a reserva no mês seguinte.
Apesar disso, foi sucessivamente reeleito até 1937. Foi reformado em 6 de julho
de 1941.
Isaías de Noronha faleceu no Rio de Janeiro no dia 29 de
janeiro de 1963.
Robert Pechman
FONTES: ANDREA, J.
Marinha; ARARIPE, T. Tasso; CORRESP. SERV. DOC. GER. MAR.; Encic. Mirador;
FONTOURA, J. Memórias; Globo (30/1/63); Grande encic. Delta; Histórico; Jornal
do Brasil (21/12/72); LEITE, A. História; LIMA, J. Como; MACEDO, R. Efemérides;
MAGALHÃES, B. Artur; MIN. MAR. Almanaque (1932); MORAIS, A. Minas; NOGUEIRA
FILHO, P. Ideais; PEIXOTO, A. Getúlio; REIS JÚNIOR, P. Presidentes; SERV. DOC.
GER. MARINHA; SILVA, H. 1931; SILVA, H. 1932; SILVA, H. 1934.