SALES,
Landri
*militar; rev. 1930; interv. PI 1931-1935.
Landri Sales Gonçalves nasceu
em Acaraú (CE) no dia 19 de julho de 1904, filho de Francisco Losada Gonçalves
e de Efigênia Sales Gonçalves.
Iniciou seus estudos em Camocim (CE), prosseguindo-os no
Ginásio São Joaquim, em Lorena (SP), e no Liceu do Ceará.
Assentou praça em junho de 1922, ingressando na Escola
Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, da qual saiu
como aspirante-a-oficial em janeiro de 1927.
Classificado no 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, foi
promovido a segundo-tenente em julho do mesmo ano. Motivado pelos ideais
revolucionários, reuniu-se a seu colega de Escola Militar, o também tenente
Júlio Veras, para formar um grupo de conspiradores no 23º BC.
Pouco depois, porém, os dois tenentes foram transferidos para
o Colégio Militar de Fortaleza, onde logo retomariam a conspiração, reunindo-se
aos tenentes Ari Hugo, Brígido Correia e Antônio Martins de Albuquerque. O
problema dos tenentes era a ausência de oficiais revolucionários no 23º BC,
situação que se modificou com a incorporação à unidade, no final do primeiro
semestre de 1929, do também tenente Carlos Cordeiro de Almeida. Instruído por
Landri Sales e Júlio Veras, o tenente Cordeiro retomou a organização do
movimento no 23º BC.
Em julho de 1929, Landri Sales foi promovido a
primeiro-tenente. Até a eclosão da Revolução de 1930, foi ele o chefe da
conspiração em toda a guarnição de Fortaleza, ao mesmo tempo em que consolidava
o foco de conspiradores do Colégio Militar. Recebia cópias de todos os
telegramas cifrados dirigidos ao comandante do 23º BC, bem como dos despachos
oficiais relacionados com o movimento revolucionário. Todas as diretrizes para
a preparação e a execução do levante no Ceará vinham diretamente de Juarez
Távora, chefe militar da revolução no Norte e no Nordeste, para o tenente
Landri.
Entretanto, a única unidade combatente sediada em Fortaleza,
o 23º BC, teve o grosso de suas tropas (inclusive o tenente Cordeiro) deslocado
para Sousa, na Paraíba, em conseqüência da crise que se verificava nesse estado
desde o início de 1930 e que se intensificou com a Revolta de Princesa (junho)
e o assassinato de João Pessoa (julho).
A partir de então, a eclosão da revolução foi transferida
para Sousa, e o comando das operações passou ao tenente Cordeiro. Alguns dos
tenentes e sargentos revolucionários que haviam permanecido em Fortaleza
partiram para Sousa no dia 3 de outubro, indo juntar-se aos militares do 23º BC
partidários da revolução. Ficando na capital cearense, o tenente Landri pouco
pôde fazer. Apenas uma pequena parte da guarnição do 23º BC ficara na cidade; o
Colégio Militar não contava com praças; a tentativa de levante da Força Pública
fracassou. Ao mesmo tempo, o governo do estado já tomara conhecimento do que
ocorria e assumira medidas preventivas, pondo de prontidão os batalhões
policiais. Diante dessa situação, Landri Sales também partiu para Sousa, na
madrugada do dia 4 de outubro, liderando os conspiradores do Colégio Militar
que ainda se encontravam em Fortaleza.
O levante do 23º BC foi bem-sucedido e, ao chegar a Sousa no
início da tarde do dia 5 de outubro, após fazer todo o percurso de automóvel, o
tenente Landri e seus companheiros encontraram a situação controlada pelos
revolucionários desde a véspera. Conforme o plano traçado por Juarez Távora, o
23º BC desmembrou-se em três batalhões ligeiros. Comissionado no posto de
tenente-coronel, Landri Sales assumiu o comando de um dos batalhões e iniciou a
marcha sobre Fortaleza na manhã do dia 6. A meio caminho, recebeu ordens para
dirigir-se para Mossoró (RN), onde deveria reunir forças para constituir uma
coluna que participaria do ataque a Fortaleza. No entanto, o governo cearense
capitulou no dia 8, ficando suspensa a operação.
De
Mossoró Landri viajou para Fortaleza com o objetivo de formar e comandar uma
coluna expedicionária destinada a ajudar o 24º BC, sediado em São Luís, em
sua luta contra o governo maranhense. Entretanto, com a deposição do presidente
do Maranhão, José Pires Sexto, no dia 9 de outubro, recebeu novas ordens de
Juarez Távora, que o intimavam a dirigir-se a Belém e prestar socorro ao 26º
BC, que se levantara naquela capital.
Constituiu-se
então a Coluna Landri, formada por um dos batalhões originados do
desmembramento do 23º BC, por tropas da polícia cearense e por centenas de
voluntários, totalizando um efetivo de cerca de dois mil homens e recebendo a
denominação de Brigada Norte.
No dia 18 de outubro, a Brigada Norte zarpou de Fortaleza a
bordo dos navios Afonso Pena, Tutóia e Itapena, aprisionados pelas forças
revolucionárias. Em São Luís, a brigada teve seu efetivo reforçado, partindo
para a última etapa da única operação naval-terrestre da Revolução de 1930.
Chegando
a Belém no dia 24 de outubro, a brigada preparava-se para atacar a cidade
quando Landri Sales recebeu a notícia da deposição de Washington Luís no Rio de
Janeiro. Reuniu-se então com outros chefes revolucionários e resolveu enviar um
telegrama ao presidente do estado, Eurico Vale, intimando-o a transferir o
cargo ao tenente Ismaelino Castro, que se encontrava detido na penitenciária do
estado. A transferência do governo ocorreu no mesmo dia.
A Brigada Norte atuou principalmente na manutenção da ordem no
Pará, estendendo sua ação até o Amazonas, para cuja capital foi enviada parte
de seu contingente. Landri Sales só retornou ao Ceará depois da chegada a Belém
de Juarez Távora (12/11/1930), que foi à capital paraense empossar o tenente
Joaquim Magalhães Barata no cargo de interventor federal.
Em janeiro de 1931, eclodiu no Piauí um levante que resultou
na deposição do interventor federal no estado, o comandante Humberto de Areia
Leão. Ao mesmo tempo em que o comandante do 25º BC, capitão Joaquim de Lemos Cunha,
era nomeado interinamente interventor militar no Piauí, Juarez Távora designava
o tenente Landri Sales para conduzir um inquérito policial-militar destinado a
apurar as responsabilidades. O resultado deste inquérito nunca foi revelado ao
público.
De
todo modo, no dia 7 de maio de 1931, o tenente Landri Sales foi nomeado por
Getúlio Vargas interventor federal no Piauí. Logo no início de seu governo, nos
dias 3 e 4 de junho, ocorreu em Teresina um levante militar comandado por cabos
do 25º BC. Há divergências quanto à origem do levante. O Inquérito
Policial-Militar (IPM) sobre os acontecimentos afirma que o movimento tinha
“fundo comunista”, ligando-o à atividade da Liga de Ação Revolucionária no
Nordeste. O comandante do 25º BC, major Sebastião Rabelo Leite, e Juarez Távora
endossaram esta versão. Contudo, o jornalista piauiense Higino Cunha, citado
por Moisés Castelo Branco Filho em Depoimento para a história da revolução no
Piauí, afirma que o responsável pela sedição foi o desembargador Joaquim Vaz da
Costa, líder revolucionário no estado que já participara ativamente da crise de
janeiro.
Os
revoltosos prenderam os oficiais do 25º BC na madrugada de 3 de junho, tomando
em seguida o quartel da polícia e capturando depois Landri Sales e seus
principais auxiliares. Mais tarde, entretanto, os oficiais foram soltos por
descuido das tropas rebeladas, e no dia 4 o interventor Landri Sales e o
delegado de Juarez Távora no Piauí, o capitão Delso Mendes da Fonseca,
comandaram a repressão ao movimento, dominado sem muita dificuldade. Em
conseqüência do levante, mais de cem soldados tiveram baixa por indisciplina, e
60 militares, inclusive sargentos, foram presos e remetidos para a guarnição de
Recife.
Em 1933, foi fundado no Piauí o Partido Nacional Socialista,
a fim de congregar as forças políticas locais que apoiaram a Revolução de 1930.
Landri Sales foi escolhido para presidente de honra do partido, juntamente com
Hugo Napoleão do Rego.
Em
novembro de 1933 foi promovido a capitão. Permaneceu no cargo de interventor
até 3 de maio de 1935, quando foi substituído por Leônidas Castro Melo, eleito
governador constitucional pela Assembléia Legislativa do estado. Embora tenha
sido convidado, Landri Sales não consentiu com o lançamento de sua candidatura
ao governo do Piauí ou ao Senado Federal.
Ainda em maio de 1935, retornou ao serviço ativo, realizando
curso de aperfeiçoamento até 1936 e servindo depois no estado-maior da 3ª
Região Militar, em Porto Alegre, e no 14º Regimento de Infantaria, em Niterói.
Em julho de 1939, foi nomeado diretor do Departamento de Correios e Telégrafos,
e em 1941 alcançou o posto de major. Em março de 1945, foi promovido a
tenente-coronel.
Em setembro de 1945, quase no fim do Estado Novo, participou
de uma reunião de oficiais na casa de João Alberto Lins de Barros, então chefe
de polícia do Distrito Federal, na qual se discutiu a situação do país diante
do processo de redemocratização. Participaram dessa reunião Pedro Aurélio de
Góis Monteiro, Odílio Denis, Newton Estillac Leal, Osvaldo Cordeiro de Farias,
Juarez Távora e outros. Os militares preocupavam-se com o movimento
“queremista”, que defendia a convocação de uma assembléia constituinte com a
permanência de Vargas na chefia do Estado. De reuniões desse tipo resultou a
deposição de Getúlio no dia 29 de outubro de 1945.
Landri Sales deixou a diretoria dos Correios e Telégrafos em
novembro de 1945, retornando ao mesmo cargo em julho de 1949 e nele
permanecendo até fevereiro de 1951.
Em maio desse ano, foi promovido a coronel. De setembro de
1952 a outubro de 1954, chefiou o gabinete da Escola Superior de Guerra.
Comandou o 1º Batalhão de Caçadores, sediado no Rio de Janeiro, de outubro de
1954 a janeiro de 1955, e comandou o 2º Regimento de Infantaria, ainda no Rio
de Janeiro, de janeiro a fevereiro de 1955.
Promovido a general-de-brigada em abril de 1957, passou
imediatamente para a reserva no posto de general-de-divisão. Exerceu ainda
vários cargos de direção na Companhia Telefônica Brasileira até 1966, quando
foi eleito presidente da empresa.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 30 de abril de 1978.
Foi casado com Zilma Cavalcanti Gonçalves, com quem teve três
filhos,
A respeito de sua administração no Piauí, Hugo Napoleão
publicou A interventoria Landri Sales (1934).
Robert Pechman
FONTES: ALBUQUERQUE,
J. Cearenses no Rio e em SP; ANSELMO, O. Revolução; ARAÚJO, M. Cronologia 1943;
ARQ. MIN. EXÉRC.; ARQ. OSVALDO ARANHA; BRAGA, R. Dic.; CASTELO BRANCO FILHO, M.
Depoimento; COUTINHO, A. Brasil; Encic. Mirador; FONTOURA, J. Memórias; GIRÃO,
R. Ceará; Grande encic. Delta; HIRSCHOWICZ, E. Contemporâneos; Jornal do Brasil
(1/5/78); MIN. GUERRA. Almanaque; PEIXOTO, A. Getúlio; POPPINO, R. Federal;
REGO NETO, H. Fatos; SILVA, H. 1945; TÁVORA, J. Vida.