LAMPREIA, Luís Felipe
*emb.
Bras. Portugal 1990-1992; min. Rel. Ext. 1995-2001
Luís Felipe
Palmeira Lampreia nasceu no Rio de Janeiro em
19 de outubro de 1941, filho de João Gracie Lampreia e de Maria Carolina
Palmeira Lampreia.
Estudou sociologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC)
do Rio de Janeiro e ingressou no Instituto Rio Branco em 1962.
Nomeado terceiro-secretário em 7 de novembro de 1963, atuou
como auxiliar do chefe da Divisão da Política Comercial de 1963 a 1964 e como
auxiliar do chefe de Produtos de Base entre 1963 e 1964.
Foi promovido ao cargo de segundo-secretário em 1966, quando
já estava em serviço junto à Organização das Nações Unidas (ONU), permanecendo
nesta tarefa até 1968. Tomou parte da II United Nations Conference on Trade and Development
(UNCTAD), em Nova Délhi (1968). Entre 1968 e
1971, serviu junto à delegação permanente em Genebra. Participou da XXIV Sessão
da Assembléia Geral da ONU em 1969. Participou, em 1971, como delegado, na
Reunião do Comitê sobre Restrições à Importação por Razões de Balanço de
Pagamentos. Em 1972, atuou como auxiliar do secretário-geral-adjunto para
Organismos Internacionais e auxiliar do chefe do Departamento Econômico.
Foi nomeado primeiro-secretário por merecimento, em 1973.
Atuou como assessor de coordenação econômica do gabinete do ministro do Estado
das Relações Exteriores entre 1974 e 1976. Participou da comitiva do ministro
de Estado das Relações Exteriores na visita oficial à Alemanha em 1975, por
ocasião da assinatura do Acordo de Cooperação Nuclear. No mesmo ano foi nomeado
conselheiro por merecimento. Entre 1977 e 1979, atuou como chefe da Secretaria
de Informação do gabinete do ministro do Estado. Participou da comitiva do
ministro do Estado das Relações Exteriores às assembléias gerais da ONU entre
os anos de 1974 e 1978.
Foi nomeado ministro de segunda classe em 12 de junho de
1978. Participou das assembléias anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI)
e do Banco Mundial em Belgrado (1979) e em Washington (1980). Participou como
delegado da assembléia anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
em 1980, no Rio de Janeiro.
Foi nomeado embaixador do Brasil no Suriname em 1983. No ano
seguinte, foi nomeado ministro de primeira classe por merecimento. Participou,
como governador alterno temporário pelo Brasil, nas assembléias anuais do FMI e
do Banco Mundial em Seul (1985) e em Washington (1986). Em 1986, participou
como governador alterno temporário da assembléia anual do BID, em São José da
Costa Rica. Atuou como secretário de Cooperação Internacional da Secretaria de
Planejamento da Presidência da República entre 1985 e 1987 e como subsecretário
de Assuntos Políticos Bilaterais entre 1988 e 1990.
Em 1990, foi nomeado embaixador do Brasil em Lisboa. Entre
1992 e 1993, assumiu o cargo de secretário-geral das Relações Exteriores,
permanecendo na função até 1993. Em seguida, entre 1993 e 1994, serviu como
embaixador do Brasil junto a organismos internacionais em Genebra, onde chefiou
a delegação brasileira na rodada conclusiva do Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio (GATT) — a Rodada Uruguai do GATT se estendeu de 1986 a 1994.
No
Ministério das Relações Exteriores
Foi empossado como ministro das Relações Exteriores em
janeiro de 1995. O novo projeto de inserção do Brasil na política internacional
deu a Lampreia e ao Itamarati posição de destaque no novo governo. A conquista
da estabilidade econômica com o Plano Real, posto em prática no primeiro
semestre de 1994, o impacto positivo para a imagem da democracia brasileira
obtido no exterior com o impeachment do presidente Fernando Collor de
Melo, em 1992, e a renegociação da dívida externa nos marcos do Plano Brady
(iniciativa proposta pelo então secretário do Tesouro norte-americano Nicholas
Brady) possibilitaram a aspiração de um novo lugar para o país nas relações
internacionais.
O símbolo maior deste projeto foi a candidatura do Brasil ao Conselho
de Segurança da ONU, por ocasião de sua possível reforma, defendida pela
diplomacia brasileira desde o governo anterior. Na 50ª Assembléia Geral da ONU
(1995), Lampreia defendeu oficialmente a reforma da instituição, que
consistiria na ampliação do conselho em cinco membros permanentes. Três vagas
seriam reservadas para os países em desenvolvimento: uma para a América Latina,
uma para Ásia e uma para a África. Contudo, a busca de apoio dos países
latino-americanos não foi bem sucedida, frustração maior nesse sentido sendo
colhida durante a Reunião do Grupo do Rio, em Assunção (1997).
Outro elemento fundamental da política externa brasileira
durante a gestão de Lampreia como ministro das Relações Exteriores foi a
consolidação do Mercosul. Se, durante o primeiro mandato de Fernando Henrique
Cardoso, o bloco pouco aprofundou sua integração, tampouco deixou de resistir
ao que poderia ameaçar o projeto que encarnava. Foi ao longo das negociações da
Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), entre 1995 e 1998, que o bloco
adquiriu estatura política nesse sentido. A ALCA, sugerida pelos EUA na Cúpula
de Miami (dezembro de 1994), preocupava a diplomacia brasileira, temerosa de
que sua implantação acabasse por diminuir a significação do Mercosul. Para que
a ALCA não engolisse o Mercosul, duas conquistas da diplomacia brasileira (e
dos demais membros do bloco) foram fundamentais. Em primeiro lugar, foi
decidido que a de negociação se daria em bloco (building blocks) e não
de forma bilateral, como defendia os EUA. Em segundo lugar, com grande empenho
pessoal de Lampreia e da diplomacia brasileira, foi acertado que a implantação
da integração hemisférica ocorreria pelo processo de single undertaking,
ou seja, os acordos setoriais só entrariam em vigor quando todo o arcabouço
estivesse concluído. Nesse sentido, o ministro declarou em diversos fóruns
(Fórum Hemisférico de Comércio, em Denver, em 1995; 3ª Reunião de Ministros de
Comércio do Hemisfério, em Belo Horizonte, em 1997; 4ª Reunião de Ministros de
Comércio do Hemisfério, em San José da Costa Rica, e 2ª Cúpula das Américas,
ambas em 1998) que a implantação da ALCA não poderia ocorrer antes de 2005, impedindo
sua aceleração e conseqüente diluição do Mercosul. O ministro deixou igualmente
claro, em diversas situações, que a ALCA não poderia representar um segundo
choque liberal (o primeiro foi realizado durante o governo Collor) para a
economia brasileira.
Com relação ao Mercosul, Lampreia defendeu consistentemente
um ritmo cauteloso de integração entre partes constituintes do bloco. Já em
1995 considerava a adoção de uma moeda única uma medida prematura. Da mesma
forma, a diplomacia brasileira, durante sua gestão como ministro, se contrapôs
à criação de um tribunal supranacional para dirimir controvérsias. Lampreia
apontou a consolidação da liberalização comercial como objetivo maior antes de
qualquer outro progresso na relação entre os países membros.
A questão das patentes também acabou por exemplificar a nova
inserção brasileira pretendida. Depois de anos de relação contenciosa com os
EUA nessa área, o Brasil aprovou, em maio de 1996, uma lei de patentes que
efetivamente eliminou o risco de sanções americanas, já que o Brasil fazia
parte de uma lista de países em “observação prioritária”, na qual figuravam
aqueles que não possuíam uma legislação de propriedade industrial. Lampreia e o
governo entendiam que a legislação propiciaria o ingresso de novos investimentos
e o acesso a novas tecnologias. No início de 1997, mais um passo na política de
atração de investimentos: a assinatura do acordo de abertura do setor de
telecomunicações na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Na busca de acesso às chamadas tecnologias sensíveis —
aquelas que permitem utilização tanto para fins civis quanto militares —, o
Brasil assumiu uma série de compromissos internacionais implicando renúncia no
desenvolvimento e adoção de certas tecnologias de destruição. Em 1995, decidiu
aderir ao Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis; em 1996, assinou o
Tratado para a Proibição Completa de Testes Nucleares; e, por último, em 1998,
subscreveu o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
Em
abril de 1998, durante a realização da II Cúpula das Américas, em Santiago do
Chile, o presidente Fernando Henrique Cardoso promoveu discursos que teriam
demonstrado uma mudança de postura frente a Cuba, cobrando dela mudanças
políticas rumo à democracia e a libertação de presos políticos. Aprofundando
esta postura crítica a Cuba, Luís Felipe Lampreia visitou o país no mês
seguinte, vindo a protagonizar um dos episódios mais polêmicos da política
externa brasileira durante a sua gestão: o encontro com o dissidente cubano
Elizardo Sánchez. Ao contrário do que se imaginava, Lampreia se disse contrário
ao ingresso de Cuba na Organização dos Estados Americanos (OEA), alegando que
seriam necessários avanços democráticos para tal. Com isso, o Itamarati rompeu
intencionalmente com a postura de não intervir em assuntos internos de outros
países.
Durante
a visita, Lampreia também se reuniu com Ricardo Alarcón, presidente da
Assembléia Nacional de Cuba, e Roberto Robaina, ministro das Relações
Exteriores, assinando ajustes ao acordo de cooperação científica, técnica e
tecnológica nas áreas de administração tributária e aduaneira e serviços
aéreos. Lampreia ainda assinou com Cuba uma linha de crédito de US$15 milhões.
Tudo isso não evitou que Fidel Castro cancelasse seu encontro com o ministro
brasileiro, numa demonstração de descontentamento com o encontro do ministro
com os oposicionistas ao regime. Posteriormente, foi noticiado na revista Veja de 24 de junho de 1998, que Robaina teria mandado uma carta a Lampreia dizendo que
as divergências de ponto de vista entre os dois países eram absolutamente
normais.
Após essa visita a Cuba, Lampreia compareceu ao 28º
Encontro da OEA em Caracas (Venezuela) e visitou Bill Clinton em Camp David
(Estados Unidos), tendo em ambas as ocasiões tratado de temas referentes à política
cubana.
Em 13 de julho de 1998, foi aprovada
pelo Congresso Nacional e assinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a
adesão do Brasil ao Tratado sobre a Não-Proliferação Nuclear (TNP), na presença
do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan. O evento representou a
culminância do processo de adesão brasileira ao regime da não-proliferação de
armas nucleares. Na mesma ocasião, Fernando Henrique assinou a ratificação
brasileira ao Acordo para a Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT). O
depósito do instrumento de adesão do Brasil ao TNP foi feito no dia 18 de
setembro de 1998, simultaneamente em Washington, Londres e Moscou. A adesão
brasileira foi um marco nas relações externas do país. Rompeu-se com um símbolo
da política externa não-alinhada que marcou o país por mais de trinta anos.
Como havia afirmado Lampreia, o cenário internacional havia mudado em relação à
conjuntura internacional quando da elaboração do tratado.
O então
ministro já havia servido junto à delegação brasileira no contexto da
Conferência de Desarmamento em Genebra, sob a chefia do embaixador Azeredo da
Silveira. Conforme as razões apontadas pelo ministro, países como o Brasil –
Estados não-nucleares – reconheciam a barganha proposta pelos detentores de
arsenais, encabeçados pelos Estados Unidos e União Soviética, mas exigiam que
aqueles renunciassem para sempre à produção de arsenais nucleares em troca de
dois pontos: a promessa de acesso à tecnologia nuclear e ao compromisso das
potências nucleares com o progressivo desarmamento nuclear.
Definida
a reeleição de Fernando Henrique Cardoso para um segundo mandato nas eleições
de outubro de 1998, Lampreia foi mantido no cargo de ministro das Relações
Exteriores. Em 23 de dezembro daquele ano, foi
concedida sua aposentadoria no cargo de diplomata por meio de portaria assinada
pelo interino no cargo, Sebastião do Rego Barros.
Ainda
em 1998, participou da criação do Centro
Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), instituição independente,
multidisciplinar e apartidária, formada com o objetivo de promover estudos e
debates sobre temas prioritários da política externa brasileira e das relações
internacionais em geral. Tornou-se vice-presidente do Conselho de Curadores da
entidade, sediada no Rio de Janeiro.
Em junho de 1999, foi realizada, no Rio de Janeiro, a I
Cúpula entre Chefes de Estado e de Governo da América Latina e Caribe e da
União Européia. O evento refletiu a determinação de ambas as regiões de
fortalecer suas relações nos campos político, econômico-comercial, cultural,
educativo e humano. Nessa ocasião, foram definidas 55 prioridades de ação para
a cooperação entre as duas regiões nas áreas de política, econômica, cultura, educação,
ciência e tecnologia. Neste ano, fez um curso de especialização em Relações Internacionais
na Universidade de Brasília (UnB).
Em julho de 2000, Lampreia se
tornou sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em
agosto, quando a secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, desembarcou
no Brasil para discutir a ALCA, Lampreia comunicou que o país só assinaria o
acordo do bloco em 2005, como previsto, se os EUA aceitassem rever pelo menos
dez pontos da política alfandegária.
Nos dias 31 de agosto e 1º de setembro desse mesmo ano,
foi realizada a primeira Reunião de Presidentes da América do Sul, em Brasília.
O evento contou com a participação dos chefes de Estado dos 12 países da região–
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru,
Suriname, Uruguai e Venezuela – bem como de diversos representantes de órgãos
regionais de fomento, parlamentares etc. Essa reunião, a primeira na história
da América do Sul com tamanha amplitude, abordou temas relacionados à geografia
comum de seus países: democracia; comércio; infra-estrutura de integração;
drogas ilícitas e delitos conexos; informação, conhecimento e tecnologia. O
encontro de Brasília teve por consequência o fortalecimento do processo de
integração da América do Sul no conjunto da América Latina e Caribe. Ao final
do encontro, foi assinado o documento intitulado “Comunicado de Brasília”, que selou o entendimento dos líderes sul-americanos
sobre assuntos importantes para a região. A manutenção do Estado de Direito e o
pleno respeito ao regime democrático passaram a constituir condição para a
participação em futuros encontros sul-americanos.
No dia 10 de janeiro de 2001, Lampreia entregou sua carta
de demissão ao presidente Fernando Henrique, alegando questões pessoais, já que
pretendia iniciar uma “nova fase profissional”. Na
comunicação, ele agradeceu “a determinação e a criatividade” dos funcionários
frente às “limitações orçamentárias” impostas pelo governo federal ao
ministério. Foi sucedido no cargo
por Celso Lafer.
No dia 12 de fevereiro, assumiu a presidência do Conselho
Curador do CEBRI, em substituição a Daniel Miguel Klabin. Em março, Lampreia
tomou posse no cargo de presidente do Conselho de
Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado (Firjan).
Mestre em relações internacionais pela UnB em 2003, no ano
seguinte tornou-se professor do curso de Relações Internacionais do Instituto
de Educação Superior de Brasília (IESB). Ainda em 2004, tornou-se membro do Conselho de Administração do grupo empresarial português
Sonae SGPS.
Nos
últimos anos, tornou-se membro do conselho de administração da Sousa Cruz S/A, e
dos conselhos consultivos de diversas empresas, como Novartis do Brasil, Petrobrás
Bolívia, Toyota Motor Corporation, Coca Cola Company, Kissinger
Mc Larty Associates, UNILEVER, Banco
Calyon do Brasil, Council on Foreign
Relations, de Nova Iorque e da Oxford Analytica. Lampreia também é
administrador da Bovespa Holding e Ampla Energy Corporation.
Luis Felipe Lampreia tornou-se
diretor da Lampreia Consultores Internacionais Ltda. e professor de Relações Internacionais
da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) no Rio de Janeiro.
No
final do ano de 2008, passou a manter o blog intitulado “Blog do Lampreia –
Questões de política internacional” no portal do jornal O Globo.
Organizou,
juntamente com Durval de Noronha Goyos Júnior, o
livro O Direito do Comércio Internacional,
em 1997. Em 1999, publicou Diplomacia brasileira: palavras, contextos e
razões. Lampreia publicou também
as obras Brasil e os ventos do mundo (2010) e Aposta em Teerã
(2015).
Casou-se com Lenir Aché Lampreia, com quem teve cinco filhas.
Luisa
Lamarão/Bruno De Marco Lopes
FONTES: Estado
de S. Paulo; Folha de S. Paulo; Globo; Jornal do Brasil;
MIN. REL. EXT. Anuário (1991); Portal Blog do Luis Felipe Lampreia.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/lampreia/>. Acesso em
18/08/2015; Portal da FIRJAN disponível em <http://www.firjan.org.br>. Acesso
em 28/11/2009; Portal Folha de S. Paulo.
Disponível em: <www.folha.uol.com.br/>. Acesso em 28/11/2009. Portal da Livraria Cultura. Disponível em:
<www.livrariacultura.com.br/>. Acesso em 18/08/2015; Portal Oxford Analytica. Disponível em: <http://www.oxan.com/Default.aspx>.
Acesso em 18/08/2015;