NÓBREGA,
Maílson da
*min. Faz. 1987-1990.
Maílson Ferreira da Nóbrega
nasceu em Cruz do Espírito Santo (PB) no dia 14 de maio de 1942, filho do
alfaiate e agricultor Wilson Ferreira da Nóbrega e da costureira Maria José
Pereira Nóbrega.
Primogênito
de dez irmãos, teve uma infância bastante pobre. A fim de continuar seus
estudos, ainda na adolescência mudou-se para a casa de parentes em João Pessoa. Fez o curso secundário com o auxílio do governador Pedro Gondim, que lhe
concedeu uma bolsa de estudos. Nesse período, estudava à noite e trabalhava
como office-boy numa usina de açúcar de propriedade de Renato Ribeiro Coutinho, um dos homens mais ricos da Paraíba, que também o ajudou
financeiramente quando teve de deixar o emprego para servir ao Exército em
1961.
Por
influência de um colega de quartel, prestou concurso para o Banco do Brasil
(BB) após completar o serviço militar. Aprovado, foi admitido pelo banco em
abril de 1963, sendo indicado para trabalhar na agência de Cajazeiras (PB) e
logo assumindo a chefia da área de crédito rural e industrial da instituição no
município.
Durante
sua permanência em Cajazeiras, participou de algumas reuniões do Partido
Comunista Brasileiro (PCB), então na ilegalidade. Mais tarde, às vésperas da
eclosão do movimento político-militar de 31 de março de 1964, inscreveu-se ao
lado de alguns companheiros no Grupo dos Onze, movimento que tentou inutilmente
resistir às articulações para a derrubada do presidente da República, João
Goulart (1961-1964), e que era liderado nacionalmente pelo deputado federal e
ex-governador do Rio Grande do Sul (1959-1963) Leonel Brizola.
Com o advento do regime militar, seguiu-se um período de
repressão ao opositores do novo governo. Ao contrário de alguns de seus
companheiros, Maílson escapou de ser demitido e pôde dar prosseguimento à sua
carreira. Em fevereiro de 1968, após uma visita ao Rio de Janeiro como
presidente da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), foi convidado para
chefiar a carteira agrícola do Nordeste num grupo de trabalho criado para
reformular as normas de crédito rural da instituição. Também assistente da
consultoria técnica do BB no Rio de Janeiro, em abril de 1970 transferiu-se
para Brasília, onde assumiu o cargo de diretor da região Nordeste do banco e
iniciou curso de economia no Centro de Ensino Universitário de Brasília (CEUB),
pelo qual se bacharelou em 1974.
Também neste último ano, tornou-se assessor do presidente do
Banco do Brasil, Ângelo Calmon de Sá (1974-1977). Promovido a consultor técnico
em 1975, no ano seguinte representou o Brasil na Reunião Anual de Governadores
do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizada em Cancún, no
México, e chefiou a divisão de análise de projetos do BB. Com a ida de Calmon
de Sá para o Ministério da Indústria e Comércio em fevereiro de 1977, foi
nomeado chefe da assessoria de assuntos econômicos da pasta, cargo que ocupou
até o ano seguinte. Ainda em 1977, participou das reuniões de governadores do
Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington,
encontros aos quais estaria presente nos cinco anos posteriores. Entre 1977 e
1978, participou, em Nova Iorque, do grupo de trabalho da Organização das
Nações Unidas (ONU) que estudou a elaboração de um código de conduta para as
corporações transnacionais. Chefiou ainda a assessoria de assuntos econômicos
do Ministério da Fazenda entre 1979 e 1982, nas gestões de Carlos Rischbieter
(1979-1980) e Ernâni Galveias (1980-1985).
Em 1983, atuou como delegado junto ao Comitê Interino do FMI
e participou da equipe do governo brasileiro que analisou projetos de política
agrícola nos Estados Unidos, França, Austrália e Chile. Ainda nesse ano foi
nomeado secretário-geral do Ministério da Fazenda e no ano seguinte chefiou as
delegações brasileiras às reuniões do Conselho Interamericano Econômico e
Social da Organização dos Estados Americanos (OEA), realizadas em Caracas e
Assunção, e a missão encarregada da negociação, em Tóquio, do acordo bilateral
entre o Brasil e o Japão promovida pelo Clube de Paris, entidade formada por
bancos oficiais de vários países. Também como secretário-geral do Ministério da
Fazenda, integrou a equipe do governo responsável pela definição do acordo
sobre a dívida externa brasileira que vinha sendo negociado com o FMI desde
fins de 1982. O entendimento fez com que fosse aprovada a abertura de novas
linhas de crédito para o Brasil, condicionada à implementação de um rigoroso
programa de ajuste interno. Até o final do governo João Figueiredo (1979-1985),
foram assinadas sete cartas de intenções com o FMI, todas prevendo, quase
sempre sem efeito, a adoção de medidas para conter o déficit público.
Ainda
na gestão de Galveias, Maílson presidiu uma comissão do Conselho Monetário
Nacional (CMN) encarregada de rever as finanças do país. O projeto aprovado na
comissão previa o fim da conta-movimento do Banco do Brasil, unificava o
orçamento da União e extinguia as funções de fomento do Banco Central (BC).
Rejeitadas pela Justiça Federal, as mudanças seriam no entanto adotadas no
governo José Sarney (1985-1990), durante as gestões de Dílson Funaro
(1985-1987) e de Luís Carlos Bresser Pereira (1987) no Ministério da Fazenda.
No
final de 1984, Maílson da Nóbrega deixou a Secretaria Geral do Ministério da
Fazenda. Cogitado para ocupar novamente o cargo no início do governo José
Sarney, teve seu nome vetado pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB), que fez restrições ao fato de ter trabalhado para o regime militar
durante vários anos. Afastado do governo, em junho de 1985 transferiu-se para
Londres, onde assumiu a diretoria executiva do European Brazilian Bank
(Eurobraz), uma associação entre o BB e instituições européias. Durante sua
passagem pelo Eurobraz, representou a instituição nas reuniões de governadores
do FMI e do Banco Mundial realizados em Seul (Coréia do Sul), em 1985, e em
Washington, no ano seguinte. Retornou ao Brasil em 1986, após deixar a
diretoria do banco.
Com a posse de Bresser Pereira no Ministério da Fazenda em
abril de 1987, Maílson reassumiu, por influência do presidente Sarney, a
secretaria geral da pasta. Nessa época, já superados os efeitos positivos do
Plano Cruzado (1986), o Brasil atravessava uma nova crise econômica com o
recrudescimento da inflação e com as pressões advindas da moratória dos juros
da dívida externa, decretada em fevereiro pelo ex-ministro Dílson Funaro.
Na tentativa de evitar a hiperinflação, Bresser anunciou, em
junho de 1987, um novo pacote de medidas econômicas, entre elas o congelamento
de preços e salários por 90 dias, a desvalorização do cruzado em relação ao
dólar e a substituição do gatilho salarial por um novo indexador, a unidade de
referência de preços (URP). Batizado de Plano Bresser, o pacote também não foi
capaz de conter a aceleração dos preços, tendo como agravante ainda o fato de
ter produzido o maior arrocho salarial da história republicana do país.
Desprestigiado, e já sem o apoio de seu partido, o PMDB, Bresser Pereira
entregou o cargo em dezembro de 1987, deixando para seu sucessor a herança de
uma inflação anual de 366%, até então a maior de toda a história.
Ministro da Fazenda
Nomeado em dezembro de 1987 substituto interino de Bresser,
Maílson acabou sendo efetivado no Ministério da Fazenda em janeiro de 1988.
Anos mais tarde, num longo depoimento à revista Playboy, afirmou que a
confirmação de seu nome somente fora decidida após um encontro que tivera, a
pedido de Sarney, com o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho.
Segundo Maílson, Sarney retardara a decisão em virtude do apoio inicial do
empresário ao nome de Camilo Calazans, presidente do Banco do Brasil.
Comentando declarações feitas pelo deputado federal Amaral
Neto, do Partido Democrático Social (PDS) do Rio de Janeiro, Maílson negou que
sua nomeação representasse uma “vitória da Revolução de 1964”, definindo-se, ao contrário, como um “típico funcionário de carreira”, sem qualquer vinculação
partidária ou ideológica.
Essa postura mais “técnica” de Maílson logo ficaria evidente
no trato das questões econômicas. Já no início de sua gestão, e em clara
oposição a seus antecessores, descartou a utilização de “choques” e “planos
mirabolantes” no combate à inflação. A seu ver, a “peça-chave da política
econômica” era o controle do déficit público, o que, em curtas palavras,
significava apenas “cumprir o orçamento”. Maílson assim inaugurava a “política
do feijão-com-arroz”, baseada num rigoroso princípio de austeridade fiscal e
monetária.
Também o problema da dívida recebeu nova orientação durante
sua passagem pelo ministério. Ainda em janeiro de 1988, dando prosseguimento a
contatos iniciados por Bresser Pereira, Maílson anunciou “o retorno ao
realismo” e o fim da moratória, pregando a necessidade de um maior
“profissionalismo” nas negociações com os credores e o FMI.
Se no plano externo o governo ensaiava o retorno à comunidade
financeira internacional, inclusive com o apoio dos Estados Unidos,
internamente a situação não era das melhores. O problema da inflação persistia,
e Maílson encontrava sérias dificuldades para implementar sua política do
feijão-com-arroz. No interior do próprio governo eram grandes as resistências a
cortes no orçamento e ao controle na emissão de moeda.
Um
dos principais opositores da política econômica de Maílson era o ministro-chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas, brigadeiro Paulo Roberto Camarinha, que
criticava publicamente a intenção do ministro de extinguir a URP para os
funcionários públicos federais. Além de Camarinha, Maílson vinha também se
desentendendo com Camilo Calazans, seu antigo superior no Banco do Brasil.
Nesse caso, os motivos da divergência eram um projeto de reformulação do plano
de aposentadoria dos servidores do banco e a equiparação salarial destes com os
funcionários do Banco Central. Patrocinadas por Calazans, as medidas eram combatidas
por Maílson por aumentar o rombo nas contas públicas e dificultar o combate à
inflação. Arrastando-se desde o início do ano, o impasse só foi resolvido em
março de 1988 com a exoneração de Calazans da presidência do BB. Ao fim do
episódio, Maílson declarou que essa tinha sido a decisão mais difícil de sua
vida, já que o ex-presidente do Banco do Brasil fora um dos responsáveis por
sua ascensão na vida pública desde o tempo em que ainda era bancário na
Paraíba. Para o lugar de Calazans foi indicado o secretário-geral do Ministério
da Fazenda, Mário Berard.
Ainda no mesmo dia da demissão de Calazans, Fernando Milliet
deixou a presidência do Banco Central. Remanescente da equipe de Bresser,
Milliet era o último representante do PMDB no primeiro escalão da área
econômica do governo. Seu substituto foi o banqueiro Elmo Camões.
Ao mesmo tempo em que fortalecia sua posição no ministério,
Maílson finalmente conseguiu, em abril de 1988, a autorização de Sarney para o congelamento por dois meses da URP do funcionalismo federal.
Afirmando não ter outra alternativa para diminuir os gastos do Estado, também
anunciou um aumento do imposto de renda dos bancos, um plano de aposentadoria
antecipada e um programa de incentivo à demissão voluntária para servidores com
mais de dois anos de serviço.
No mês seguinte, a divulgação de diretrizes para uma profunda
reformulação da política industrial do país deu início a um nova fase na
relação do Brasil com o mercado internacional. Baseado numa maior abertura da
economia ao capital privado, o projeto incluía, além da venda de empresas
estatais e do estímulo às exportações, a revisão de subsídios e incentivos
fiscais e, sobretudo, a redução do imposto de importação para milhares de
produtos. O fim do protecionismo tarifário significou o rompimento com o modelo
de substituição de importações que vigorara no país durante quase 50 anos.
Impulsionada por Maílson, a modernização da economia brasileira, via
privatização e abertura ao mercado externo, se consolidaria nos governos
posteriores a Sarney, tornando-se quase que uma palavra de ordem no vocabulário
da maioria dos políticos e economistas brasileiros.
A nova orientação na política econômica, bem como as medidas
para conter o déficit público, tinham ainda o objetivo de garantir o
cumprimento das metas que vinham sendo negociadas com o FMI. Concluído em 1º de
julho de 1988, o primeiro acordo firmado entre o Brasil e o FMI desde o fim do
regime militar previa um financiamento de até 1,4 bilhão de dólares para o país
e estabelecia uma série de compromissos a serem realizados pelo governo
brasileiro, entre eles, a manutenção das reservas internacionais em torno de
4,4 bilhões de dólares, a elevação do superávit da balança comercial para cerca
de 12,6 bilhões de dólares, a garantia de que a inflação não superasse o índice
de 600% no ano, e, principalmente, a contenção do déficit público em até 4% do
produto interno bruto (PIB).
O acerto com o FMI seguramente contribuiu para o encerramento
de uma longa negociação entre o governo e os credores estrangeiros. Em setembro
de 1988, depois de quase nove meses de discussões, Maílson assinou em Nova Iorque o mais abrangente programa de reestruturação da dívida externa do país. Orçado em
cerca de 82,1 bilhões de dólares, o acordo permitiu ao Brasil o alongamento em
20 anos — com oito de carência — dos prazos de pagamento do principal da dívida
que venceria até 1993. Entre outras medidas, as autoridades brasileiras também
acertaram a renovação de linhas de crédito de curto prazo e um empréstimo de
5,2 bilhões de dólares para o pagamento de parte dos juros de 1988 e 1989 e de
débitos pendentes em decorrência da moratória — débitos estes que já vinham
sendo quitados desde janeiro de 1988, quando Maílson anunciou o retorno do país
à comunidade financeira internacional.
Com
o problema da dívida temporariamente equacionado, restava ao governo enfrentar
a aceleração inflacionária, que, a essa altura, já havia ultrapassado em muito
as metas estabelecidas no acordo com o FMI. No dia 13 de outubro de 1988,
quando os índices já apontavam para uma taxa de quase 30% no mês — novo recorde
histórico —, o diretor da dívida pública do Banco Central, Juarez Soares, numa
tentativa desesperada de conter o aumento dos preços, determinou a elevação dos
juros do mercado financeiro de 38% para 50% ao mês — um crescimento de mais de
dez pontos percentuais em menos de um dia. A iniciativa visava a combater a
inflação com o desestímulo ao consumo e à especulação no estoque de
mercadorias.
Medida
ortodoxa, o aumento dos juros, segundo Maílson, era uma solução tecnicamente
correta. No entanto, o ministro achava que a elevação determinada por Soares
fora muito acentuada e que acabaria por levar a um efeito contrário ao pretendido,
já que o mercado poderia interpretar que o governo estava trabalhando com uma
expectativa inflacionária maior do que a anunciada. Não bastasse esse fato para
agravar o episódio, Soares ainda havia tomado a decisão sem nenhuma consulta à
pasta da Fazenda, o que obviamente colocava sob suspeição a autoridade do
ministro. Nada mais tendo a fazer, Maílson determinou a exoneração de Soares
ainda no dia 13. Menos de 24 horas depois, o Banco Central reduzia a taxa de
juros para 42% ao mês.
No rastro da inflação, uma série de dificuldades abatia-se
sobre o governo: greves sucessivas de funcionários públicos, rumores sobre a
saída de Maílson do ministério, derrotas na Justiça do Trabalho, fracasso das
medidas de controle do déficit, descontentamento empresarial, boatos sobre a
elaboração de um novo pacote. Era esse, em linhas gerais, o quadro vivido pelo
país sob a ameaça, cada vez mais real, da hiperinflação.
Em mais uma tentativa de resolver o problema, empresários,
sindicalistas e governo sentaram-se à mesa, em novembro de 1988, para a
primeira reunião de um novo pacto social, iniciativa já experimentada sem
sucesso durante o próprio governo Sarney. Ao fim das negociações, foi assinado
um documento, válido por dois meses, prevendo a limitação do reajuste das
tarifas públicas, a manutenção da política salarial com base na URP e a
elaboração de uma lista com produtos básicos que teriam seus preços mantidos
sob controle. Articulado sem o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
a maior entidade sindical do país, o pacto era também visto com desconfiança
pelo próprio Maílson, que o julgava ineficiente enquanto não fosse dada uma
solução para o rombo nas contas públicas.
Além da crise econômica, no final de novembro o governo
Sarney teve de se defrontar com a votação do relatório final da Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado criada em fevereiro de 1988 para
investigar denúncias de corrupção na administração federal. Aprovado pelo
plenário da CPI, o parecer do senador gaúcho Carlos Chiarelli, do Partido da
Frente Liberal (PFL), denunciou 29 pessoas, entre elas o próprio presidente da
República, o ex-ministro do Planejamento, Aníbal Teixeira, o consultor-geral da
República, Saulo Ramos, e os ministros José Reinaldo Tavares (Transportes),
João Batista de Abreu (Planejamento) e Maílson da Nóbrega.
Maílson e Abreu foram acusados de omissão de informações à
CPI, aumentos abusivos de impostos e liberação de dinheiro público sem a devida
aprovação do Congresso Nacional. Em dezembro de 1988, o presidente da comissão,
senador José Inácio, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB),
entregou um requerimento ao presidente da Câmara dos Deputados, Ulisses
Guimarães (PMDB-SP), solicitando o impeachment dos membros do governo.
Por falta de provas, o caso seria no entanto arquivado pela Câmara em fevereiro
do ano seguinte.
O Plano Verão
Na passagem do ano de 1988, Maílson finalmente se rendeu aos
fatos e declarou que estava encerrado “o gradualismo como forma de combate à
inflação”. Anunciava, assim, o fim da política do feijão-com-arroz implementada
logo que chegara ao ministério. Em janeiro de 1989, após ter autorizado o
reajuste das tarifas públicas e o aumento no preço de cerca de 80 produtos,
apresentou, então, o que seria o quarto e último pacote econômico da
administração Sarney: o Plano Verão.
A partir de um novo congelamento de preços e salários, o
plano determinou a extinção da URP e, com ela, a reposição mensal da inflação.
No lugar do cruzado, instituiu-se uma nova moeda, o cruzado novo, cuja cotação
foi estabelecida em paridade com o dólar americano. Foram ainda sancionadas a
extinção da correção monetária e a diminuição nos prazos de crédito para a
compra de automóveis e eletrodomésticos. A economia foi desindexada e
manteve-se a política de juros altos.
Na
tentativa de reduzir o déficit público, o governo anunciou a desativação de
cinco ministérios e de várias autarquias e fundações, além de ter divulgado um
programa de privatização e o fechamento de dezenas de empresas estatais. Por
fim, o pacote também previa a demissão de cerca de 90 mil funcionários públicos
não concursados. Embora o congelamento tenha sido aprovado pelo Congresso, os
itens mais ortodoxos do plano acabaram sendo rejeitados. Ainda assim, o impacto
das medidas fez a inflação de fevereiro de 1989 cair de um patamar que rondava
os 30% ao mês para 3,6%.
Esse
sucesso inicial, contudo, não seria mantido por muito tempo. Já em março — mês
em que as centrais sindicais decretaram uma greve geral de dois dias contra as
perdas salariais provocadas pelo pacote — os índices registraram
inesperadamente um aumento no custo de vida da ordem de 6%. Maílson foi então
obrigado a fazer o primeiro realinhamento de preços, na tentativa de evitar o
início de um desabastecimento na economia, fenômeno que havia sido uma das
causas do fracasso do Plano Cruzado.
Como a inflação não dava sinais de fraqueza, em junho de 1989
o país voltou à indexação. No mês seguinte, foi a vez de o câmbio ser
descongelado com a primeira de uma série de desvalorizações do cruzado novo em
relação ao dólar. Sem alternativas, e com o infortúnio de mais um plano
econômico fracassado, restou ao governo apenas administrar a economia até a
posse do novo presidente da República a ser eleito ainda em 1989.
Em
março do ano seguinte, quando Fernando Collor de Melo, do Partido da
Reconstrução Nacional (PRN), assumiu o comando do país em sucessão a Sarney, e
Maílson da Nóbrega passou a pasta da Fazenda a Zélia Cardoso de Melo, a
inflação girava em torno de 82% ao mês. Tendo superado todos os recordes,
inclusive com a astronômica cifra de 933,6% no ano de 1988, a alta dos preços tornara-se, então, o centro de uma das maiores crises econômicas vividas pelo
país ao longo de sua história.
Durante
sua passagem pelo Ministério da Fazenda, Maílson representou o Brasil nas
reuniões do Comitê Interino do FMI, do BID e da Junta FMI-Banco Mundial (BIRD)
e presidiu o CMN, o Conselho Federal de Desestatização, o Conselho Nacional do
Comércio Exterior (Concex), o Conselho de Política Fazendária e o Conselho
Nacional de Seguros Privados, além de ter participado do chamado Grupo do Rio,
formado por ministros da Fazenda latino-americanos.
Após deixar o governo, tornou-se membro do Instituto Fernand
Braudel de Economia Mundial e passou a integrar o conselho de administração de
diversas companhias privadas nacionais e estrangeiras, tendo assumido uma
cadeira no Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado
de S. Paulo (FIESP) em 1992. Em julho de 1995, atuou como colaborador do jornal
Folha de S. Paulo e, em dezembro, foi nomeado para o Conselho de Reforma
do Estado. No final de 1996, fundou em São Paulo a Maílson da Nóbrega Consultoria, tornando-se também sócio da Tendência Consultoria Integrada a partir de
janeiro de 1997. Como representante da MCM Consultores Associados Ltda.,
participou de diversas missões no exterior.
Em seus artigos para a Folha de S. Paulo, Maílson
passou a defender a necessidade de uma ampla reforma no país, a começar pela
Constituição de 1988. Repetindo afirmações que fizera ainda no tempo de
ministro, sustentou que a Carta havia criado uma enorme “rigidez orçamentária”
com a vinculação obrigatória de receitas e a transferência de recursos da União
para estados e municípios. Para ele, a estabilidade econômica só poderia ser
reconquistada quando o Tesouro Nacional readquirisse a capacidade de
investimento através da criação de um novo regime fiscal e monetário. Entre as
mudanças que advogava, incluía a revisão do papel do Estado, a reforma da
previdência social, o fim dos monopólios estatais e a extinção da estabilidade
no funcionalismo público, ou seja, uma agenda em larga medida inaugurada no
período em que comandou a economia do país.
Deixou a Folha em julho de 2000 e, a partir de outubro, tornou-se
articulista do jornal O Estado de S. Paulo. Também passou a escrever para
a revista Veja.
Maílson foi casado com Guilhermina Chaves da Nóbrega, com
quem teve quatro filhos. Posteriormente, uniu-se a Rosa Maria Dalcin, com quem
teve mais um filho.
Além
de vários artigos sobre economia brasileira em jornais do Brasil e do exterior,
publicou Desenvolvimento da agricultura e da pecuária no Nordeste
(boletim, 1973), Taxa de juros e crédito subsidiado (1981), Desafios
da política agrícola (1984), Ouvindo o Brasil (1992), O Brasil em
transformação (2000), O futuro chegou: instituições e desenvolvimento no
Brasil (2005).
Luís Otávio de Sousa
FONTES: Almanaque Abril
(1990); CURRIC. BIOG.; Estado de S. Paulo (26/12/89, 14/1/90 e 7/8/94);
FAUSTO, B. História do Brasil; Folha de S. Paulo (3/12/89 e
29/5/93); Globo (12/8/93); Jornal do Brasil (15/6/94); Playboy
(3/99); Veja (23/12/87, 13 e 20/1, 24/2, 9 e 16/3, 13/4, 25/5, 22 e
29/6, 28/9, 19/10, 2 e 9/11/88, 11, 18 e 25/1, 8 e 22/2, 8, 22 e 29/3, 26/4,
21/6, 5/7 e 20/12/89).