MANSO,
Fritz Azevedo
*militar;
comte IV Ex. 1974; ch. EME 1974-1977.
Fritz Azevedo Manso nasceu no Rio de Janeiro,
então Distrito Federal, no dia 24 de outubro de 1912, filho de Raul Manso e de
Regina Azevedo Manso.
Ingressou na Escola Militar do Realengo em abril de 1931 e em
janeiro de 1934 saiu aspirante-a-oficial da arma de infantaria. Promovido a
segundo-tenente em agosto do mesmo ano, servia na Companhia de Metralhadoras do
3º Regimento de Infantaria, sediado na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro,
quando em 27 de novembro de 1935 aí eclodiu a Revolta Comunista. Sua companhia
foi uma das duas do regimento que resistiram à sublevação. Em virtude de um
ferimento sofrido pelo comandante da companhia, capitão José Alexínio
Bittencourt, Manso assumiu o comando, tendo uma participação marcante nos
combates. Ao final, a revolta foi derrotada pelas forças leais ao governo.
Menos de um ano depois, em setembro de 1936, foi promovido a
primeiro-tenente, servindo no 2º Regimento de Infantaria, sediado na Vila
Militar, também no Rio de Janeiro. Em dezembro de 1940 foi promovido a capitão,
posto em que permaneceu durante quase dez anos, lotado em unidades de diferentes
regiões do país. Promovido a major em março de 1950, foi designado para a
Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai, que havia sido criada em
1942, sendo a única no gênero que o Brasil mantém no exterior. Naquele país
exerceu também as funções de assessor no Regimento de Infantaria 14, comandado
pelo coronel Alfredo Stroessner, mais tarde presidente da República do
Paraguai.
Retornou ao Brasil em 1953, sendo promovido em outubro desse
mesmo ano a tenente-coronel. Nessa ocasião, era presidente da República Getúlio
Vargas, que exercia seu segundo mandato, não sendo visto com simpatia por
parcela considerável da oficialidade. Em fevereiro de 1954 foi divulgado um
documento assinado por 82 coronéis, entre os quais Fritz Manso, dirigido à alta
hierarquia das forças armadas, protestando contra a exiguidade de recursos
destinados ao Exército e a promessa governamental de elevar em 100% o salário
mínimo. O documento ficou conhecido como Manifesto dos coronéis e contribuiu
decisivamente para a demissão dos ministros da Guerra, general Ciro do Espírito
Santo Cardoso, e do Trabalho, João Goulart.
Ainda
como tenente-coronel, foi comandante do 17º Regimento de Infantaria e da
guarnição de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Promovido a coronel em agosto de
1960, quatro meses depois foi nomeado comandante do Corpo de Bombeiros do
estado da Guanabara pelo secretário de Segurança Pública, general Siseno
Sarmento, permanecendo nesse cargo até outubro do ano seguinte. Por ocasião do
movimento político-militar de 31 de março de 1964, foi favorável, assim como a
grande maioria da oficialidade militar, à derrubada de Goulart. Em novembro de
1965 foi promovido a general-de-brigada. Foi subdiretor da Reserva, no
Departamento Geral de Pessoal do Exército, e responsável pela Diretoria do
Serviço Militar. Em julho de 1969 foi promovido a general-de-divisão e
designado para comandar a Vila Militar, no Rio de Janeiro.
Duas semanas após a posse do general Ernesto Geisel na
presidência da República (15/3/1974), Fritz Manso recebeu sua quarta estrela,
passando a general-de-exército. Menos de um mês depois deixou a chefia do
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra (ESG), sendo nomeado
comandante do IV Exército, sediado em Recife, em substituição ao general Válter
de Meneses Pais, que foi designado para o comando da ESG.
Com o falecimento do ministro do Exército, Vicente de Paulo
Dale Coutinho, em 24 de maio de 1974, e a nomeação do general Sílvio Frota para
substituí-lo no ministério, Fritz Manso foi nomeado para a chefia do
Estado-Maior do Exército (EME). Assumiu o cargo em 21 de junho de 1974, quatro
dias depois de passar o comando do IV Exército para o general Tácito Teófilo
Gaspar de Oliveira.
Na qualidade de chefe do EME, em palestra realizada num
painel de assuntos internacionais promovido pela Comissão de Relações
Exteriores da Câmara de Deputados, em outubro de 1975, fez uma análise da
situação militar mundial. Afirmou que, dado o equilíbrio entre os Estados
Unidos e a União Soviética, era inaceitável para ambos a hipótese da hecatombe
nuclear. Daí, “o recurso às guerras limitadas e à guerra revolucionária,
estimulada pelos países socialistas”, afirmou ele, ressaltando a importância
das atividades relacionadas com a segurança interna “como resposta ao desafio
da guerra revolucionária”.
Poucos dias depois, falando na XI Conferência de Exércitos
Americanos, em Montevidéu, como chefe da delegação brasileira, declarou que o
trabalho político no interior das instituições militares era uma das
prioridades dos comunistas. Na ocasião, fez referência a uma declaração que
teria sido feita por Miguel Arrais, ex-governador de Pernambuco, cassado pelo
movimento de 1964, acerca da necessidade de destruir as forças armadas por
dentro. A conferência teve a duração de uma semana e o principal ponto em
discussão foi a ação subversiva desenvolvida por Cuba e pela União Soviética na
América Latina.
Por ocasião da entrega de espadas aos novos
generais-de-brigada, em dezembro de 1975, fez novas advertências contra os
ataques dos comunistas às forças armadas e conclamou os generais a lutarem
contra “o maior crime que se pode cometer contra o país: a tentativa de
estigmatizar as forças armadas como instrumento do obscurantismo e do ódio, ou
como forças retrógradas e antipovo”.
Em abril de 1977 viajou a Lima para retribuir uma visita
feita ao Brasil, em outubro do ano anterior, pelo general Oscar Jaramillo,
diretor da Escola Superior de Guerra do Peru — equivalente no Brasil à Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército. Na ocasião, esteve com o presidente
Francisco Morales Bermudez e transmitiu-lhe uma mensagem do presidente
brasileiro, general Ernesto Geisel, expressando o reconhecimento “pelas ações
empreendidas para fortalecer as relações peruano-brasileiras”.
Poucos dias depois, foi mais uma vez o encarregado da
saudação aos 11 novos generais-de-brigada do Exército brasileiro, em cerimônia
que contou com a presença do ministro do Exército, general Sílvio Frota, e do
chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), general João Batista Figueiredo.
Desta feita, seu discurso não teve como tema o combate ao comunismo, mas sim
uma série de considerações sobre a arte de comandar e liderar homens.
“Liderança não se impõe, mas se consolida pelo exemplo de ação construtiva e de
inteireza moral, jamais pelo mandonismo ou pelo temor”, declarou.
Em agosto viajou ao Paraguai, atendendo a um convite do
presidente Alfredo Stroessner, seu amigo particular. Naquele país encontrou-se
também com o ministro da Defesa Nacional, general-de-divisão Marcial Samaniego,
e com o chefe do Estado-Maior Geral das Forças Armadas, general-de-divisão
Alejandro Fretes Dabalos.
No
dia 12 de outubro de 1977 o presidente Geisel exonerou o ministro do Exército,
general Sílvio Frota, postulante à presidência da República e concorrente do
general Figueiredo, candidato oficial, nomeando para seu lugar o
general-de-exército Fernando Belfort Bethlem. Na ocasião, houve um ensaio de
tentativa de resistência à demissão por parte de Frota, frustrada pelo apoio
que a esmagadora maioria da alta hierarquia do Exército deu ao presidente.
Fritz Manso, apesar de considerado ligado a Frota, manteve-se fiel a Geisel e,
mesmo depois da saída do ministro do Exército, continuou no seu cargo à frente
do EME. Duas semanas depois, entretanto, ao presidir a cerimônia de transmissão
de cargo da terceira subchefia do Estado-Maior, citou em seu discurso, por três
vezes, o nome do ex-ministro, fato que foi registrado com destaque pela
imprensa.
Menos
de um mês depois, em 25 de novembro de 1977, completou seu tempo de serviço,
passando para a reserva. Considerado um dos homens mais cultos e inteligentes
dos meios militares, esteve muitas vezes diretamente ligado ao magistério. Foi
instrutor do grupo de observadores e sinaleiros, instrutor-chefe do curso de
blindados, da Seção de Tática Geral e da Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército. Foi, ainda, depois de atingir o generalato, diretor de instrução do
Exército. Grande apreciador de esportes, foi instrutor e subcomandante da
Escola de Educação Física do Exército, chegando a participar da delegação
brasileira em um campeonato sul-americano de atletismo, realizado em Lima, no
Peru.
Reformado em 1982, retirou-se para a vida privada, não
voltando a desenvolver nenhuma atividade profissional.
Ao
longo de sua carreira militar, foi também subcomandante e diretor da Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército e presidente da comissão que atualizou o
regulamento de administração do Exército. Fez ainda os cursos da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais, de instrutor da Escola de Educação Física do
Exército, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da ESG.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 28 de abril de 2003.
Casado com Ilca Pizarro Manso, teve um filho.
FONTES:
CORRESP. SECRET. GER. EXÉRC.; Estado de S. Paulo (25/10 e 17/12/75);
Globo (29/4/03); INF. BIOG.; Jornal de Brasília (17/10/75);
Jornal do Brasil (17/4, 28/5 e 14/6/74, 8/4, 31/8 e 28/10/77); Perfil;
SILVA, H. 1935.