NUNES,
Adão Pereira
*dep. fed. RJ 1961, 1963-1964.
Manuel Adão Pereira Nunes
nasceu em Campos (RJ) no dia 21 de janeiro de 1909, filho de José Manuel
Pereira Nunes, comerciante, e de Maria Francisca Pereira Nunes, costureira.
Em 1921 ingressou no Liceu de Humanidades, em sua cidade
natal, onde cursou o secundário, colaborando nessa época na imprensa local com
reportagens e crônicas literárias.
Deixando
Campos em 1929, matriculou-se nesse mesmo ano na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro, no então Distrito Federal, onde foi presidente do centro acadêmico
durante os seis anos de curso, que concluiria em 1934. Em sua vida estudantil
combateu o governo de Washington Luís (1926-1930), participando também da
campanha contra a condenação, pela Justiça norte-americana, dos operários
italianos Sacco e Vanzetti, afinal executados nos Estados Unidos em 1927.
Mobilizou-se então a favor dos candidatos do Bloco Operário-Camponês (BOC),
organização política brasileira vinculada ao Partido Comunista do Brasil, então
Partido Comunista do Brasil (PCB), e criada com fins eleitorais, que elegeu no pleito
municipal de outubro de 1928 os vereadores comunistas Otávio Brandão e
Minervino de Oliveira.
Ainda
em 1929 participou de diversos comícios promovidos pela Aliança Liberal,
coligação oposicionista em favor da candidatura de Getúlio Vargas às eleições presidenciais
de março de 1930. A partir da derrota eleitoral de Vargas para o candidato
oficial, Júlio Prestes, intensificaram-se as articulações que resultariam, em
novembro seguinte, na Revolução de 1930. Logo após a vitória do movimento, Adão
Pereira Nunes participou de uma reunião, liderada pelos comunistas e realizada em São Paulo, com o objetivo de analisar os rumos da revolução. O encontro revelou na verdade
tendências diversas e João Alberto Lins de Barros, interventor no estado,
lamentou a radicalização e o malogro da reunião, muito embora tenha chegado a
garantir, segundo Adão, a instalação do PCB em São Paulo.
Considerando a Revolução Constitucionalista de 1932 “manobra
da reação”, Pereira Nunes se manteve fiel à linha do PCB, unido em torno do
governo federal. Ao longo de 1934 intensificou-se no país a campanha contra a
guerra e o fascismo, surgindo as frentes antifascistas que aproximavam
socialistas, comunistas e “tenentes” insatisfeitos com a Revolução de 1930.
Já
formado em medicina, Pereira Nunes voltou à sua cidade natal, onde passou a
clinicar e a militar na Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização
política de âmbito nacional formada em princípios de 1935, congregando liberais
e comunistas sob a liderança de Luís Carlos Prestes, para combater o
imperialismo e o fascismo. Apesar de fechada pelo governo em julho do mesmo
ano, a ANL, continuou a operar clandestinamente, sobretudo pela ação dos comunistas,
que em novembro seguinte deflagraram em Natal, Recife e no Rio de Janeiro um
levante armado que foi rapidamente sufocado pelas forças legalistas. O episódio
desencadeou violenta repressão por parte do governo, que prendeu milhares de
pessoas não só entre os comunistas, mas também entre os simpatizantes e membros
da ANL.
Por
ser o secretário da organização para o norte fluminense, Adão Pereira Nunes foi
obrigado a deixar Campos. Percorreu então sob nomes falsos o interior de Minas
Gerais, acabando por fixar-se durante alguns anos na região da Alta
Araraguarense (SP), onde, sempre clinicando, trabalhou pela emancipação do
município de Cosmorama, em que residia. Adversário do regime do Estado Novo
instaurado por Vargas em novembro de 1937, voltou a ser perseguido em diversas
ocasiões pela polícia do Distrito Federal, chefiada por Filinto Müller.
Durante
a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), participou da campanha pela intervenção
do Brasil no conflito, apresentando-se inclusive como voluntário às autoridades
militares de São Paulo, sem chegar, porém, a ser convocado. Lutou também pela
redemocratização do país, participando da campanha pela anistia aos presos
políticos, afinal decretada por Vargas em abril de 1945. Libertado após dez
anos de prisão, Prestes, secretário-geral do PCB, foi recebido no estádio do
Pacaembu, em São Paulo. Nessa ocasião Pereira Nunes conheceu pessoalmente o
Cavaleiro da Esperança e fez amizade com o poeta Pablo Neruda, vindo do Chile
para receber Prestes.
Em
novembro de 1945 o PCB voltou a atuar na legalidade após 18 anos de vida
clandestina, apresentando então como candidato próprio à presidência da
República Iedo Fiúza. Apesar de derrotado nas eleições de 2 de dezembro desse
ano, com apenas 10% dos votos, Fiúza foi o candidato mais votado na região da
Alta Araraguarense, conforme reconheceu o próprio Prestes. Entretanto, em maio
de 1947, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) cancelou o registro do PCB, que passou a atuar
novamente na ilegalidade.
Adão Pereira Nunes foi contrário ao Manifesto de agosto, como
ficou conhecido o documento assinado por Prestes em agosto de 1950,
considerando que o novo programa distanciava-se muito da ação do partido. O
manifesto não teve apoio unânime dentro do PCB, sendo julgado sectário por
muitos de seus membros. Nas eleições presidenciais de outubro de 1950, os
comunistas foram aconselhados a votar em branco, uma vez que, segundo Prestes,
todos os candidatos eram reacionários. Mais uma vez Pereira Nunes foi contrário
à campanha, sob a alegação de que, votando em branco, se tornaria patente a
fraqueza numérica do PCB, ao passo que, votando em Vargas, poderiam cobrar dele
as promessas feitas durante a campanha eleitoral.
Posteriormente, durante o segundo governo Vargas,
(1951-1954), apoiou a luta pela criação da Petrobras, instituída pela Lei nº
2.004, de outubro de 1953. Após a morte de Vargas em agosto do ano seguinte,
apoiou o Movimento de 11 de Novembro de 1955, liderado pelo general Henrique
Teixeira Lott, ministro da Guerra demissionário, que visava, segundo seus
promotores, barrar uma conspiração em preparo no governo e assegurar a posse do
presidente eleito Juscelino Kubitschek. O movimento provocou o impedimento dos
presidentes da República Carlos Luz, em exercício, e Café Filho, licenciado,
empossando na chefia da nação o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, que
concluiu a sucessão presidencial, dando posse, em janeiro de 1956, aos
candidatos eleitos.
No pleito de outubro de 1958 Pereira Nunes elegeu-se, com o
apoio do PCB, então na ilegalidade, suplente de deputado federal pelo Rio de
Janeiro na legenda do Partido Social Progressista (PSP). Em outubro de 1960
visitou a China Popular a convite do governo chinês, integrando uma comitiva de
escritores e artistas, entre os quais os acadêmicos Peregrino Júnior e Raimundo
Magalhães Júnior e a atriz Maria della Costa. Ocupou uma cadeira na Câmara a
partir de julho de 1961 e, após a renúncia de Jânio Quadros em agosto do mesmo
ano, defendeu no Congresso a posse do vice-presidente João Goulart, que, embora
vetada pelos ministros militares, ocorreu afinal em 7 de setembro seguinte, já
sob o regime parlamentarista implantado pela Emenda Constitucional nº 4 (2/7/1961).
Exerceu o mandato até o fim de setembro, tendo nesse curto período lutado pelas
reformas de base do governo Goulart e integrado a Frente Parlamentar
Nacionalista (FPN), que tinha por objetivo apresentar projetos e defender na
Câmara uma política de desenvolvimento nacionalista autônomo.
No
pleito de outubro de 1962 elegeu-se deputado federal pelo Rio de Janeiro com o
maior número de votos da legenda do PSP, assumindo o mandato em fevereiro de
1963. Em março do ano seguinte participou da festa comemorativa do segundo
aniversário da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil
(AMFNB), realizada no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro. Nessa
reunião, liderados pelo “cabo” — na verdade marinheiro — José Anselmo dos
Santos, os marinheiros rebelaram-se em protesto contra restrições impostas à
categoria. O comportamento das autoridades, contornando de forma tolerante a
rebelião, foi o golpe final no governo Goulart que, dias depois, era deposto
pelo movimento político-militar de 31 de março de 1964. Em abril seguinte, Adão
Pereira Nunes teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez
anos por força do Ato Institucional nº 1 (AI-1), editado no dia 9 pela junta
militar que assumiu o poder.
Em setembro de 1965, para escapar dos inquéritos
policiais-militares em que fora incluído, exilou-se no Chile. Retornou ao país
em novembro de 1968, poucos dias antes da edição do AI-5 (13/12/1968), passando
a responder a vários processos. Mais uma vez vagou pelo país clinicando sob
nome falso até que, no início de 1970, ao atender como médico a um paciente
baleado pela Polícia Militar, foi novamente processado. Beneficiado pela
anistia decretada em agosto de 1979, participou da campanha do Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), estruturado dentro do quadro de
reformulação partidária que se seguiu à extinção do bipartidarismo em novembro
de 1979.
Com a incorporação do Partido Popular (PP) ao PMDB em
fevereiro de 1982, desligou-se dessa última agremiação para ingressar no
Partido Democrático Trabalhista (PDT), liderado por Leonel Brizola. Nessa
legenda foi eleito primeiro suplente do senador pelo Rio de Janeiro Roberto
Saturnino Braga no pleito de novembro de 1982.
Atuou
no Sindicato dos Médicos e na Associação Médica do Estado da Guanabara, além de
ter colaborado em diversos jornais cariocas.
Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de abril de 1985.
Era casado com Alaíde Pereira Nunes, com quem teve quatro
filhas.
Publicou A revolta de João Cândido (1932), China,
epopéia de um povo (1963), Conversa de plantão (1973) e Do
planalto à cordilheira; memórias de um médico cassado (1979).
FONTES: ARQ. DEP.
PESQ. JORNAL DO BRASIL; CÂM. DEP. Deputados; CÂM. DEP. Deputados
brasileiros. Repertório (1946-1967); CÂM. DEP. Súmulas; CURRIC.
BIOG.; Folha da Manhã (2/1/83); Jornal do Brasil (7/4/74 e
14/4/85).