PALMÉRIO,
Mário
*dep. fed. MG 1951-1962; emb. Bras. Paraguai 1962-1964.
Mário
de Ascenção Palmério nasceu em Monte Carmelo (MG) no dia 1º de março de 1916, filho do engenheiro civil e magistrado
Francisco Palmério e de Maria da Glória Palmério.
Fez os estudos secundários no Colégio Diocesano de Uberaba
(MG) e no Colégio Regina Pacis, em Araguari (MG), concluindo-os em 1933. Em
1935 sentou praça, ingressando na Escola Militar do Realengo, no Rio de
Janeiro, então Distrito Federal, que deixou no ano seguinte por motivo de
saúde. Posteriormente, formou-se em filosofia pela Universidade de São Paulo
(USP) e em medicina pela Universidade de Belo Horizonte.
Iniciou sua atividade profissional em 1936, trabalhando no
Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais. Designado para servir na capital
de São Paulo, iniciou ali suas atividades no magistério secundário como
professor de matemática do Colégio Pan-Americano, então mantido pela Escola
Paulista de Medicina. Passou, em seguida, a lecionar em outros
estabelecimentos, até poder se dedicar exclusivamente ao magistério. Em 1939
matriculou-se no curso de matemática da Faculdade de Filosofia da USP. Nesse
mesmo ano, nomeado pelo governo estadual, tornou-se professor do Colégio
Universitário da Escola Politécnica de São Paulo.
Atraído pelo progresso de Uberaba e do Triângulo Mineiro,
Mário Palmério deixou São Paulo, fixando-se nessa região, onde desejava criar
uma cidade universitária. Em Uberaba fundou o Liceu do Triângulo Mineiro e fez
construir, em 1945, um conjunto de edifícios destinados a funcionar como sede
do Colégio do Triângulo Mineiro e da Escola Técnica de Comércio do Triângulo
Mineiro, dos quais era diretor. Em 1947 foi autorizado pelo governo federal a
fundar as faculdades de Odontologia e Direito de Uberaba.
Em outubro de 1950 elegeu-se deputado federal por Minas
Gerais na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), assumindo seu
mandato na Câmara em fevereiro do ano seguinte. Durante essa legislatura foi
vice-presidente da Comissão de Educação e Cultura. Em 1953 fundou em Uberaba a
Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro e, em outubro do ano seguinte,
voltou a eleger-se deputado federal, na mesma legenda. Durante esse período
legislativo integrou a Comissão de Orçamento e a mesa diretora da Câmara dos
Deputados. Em 1955, por indicação da presidência da Câmara, fez o curso da
Escola Superior de Guerra (ESG).
Romancista, publicou em 1956 sua obra de estréia, Vila dos
confins, através da qual analisou a deformação do processo eleitoral no
interior do país. Nesse mesmo ano fundou a Escola de Engenharia do Triângulo
Mineiro e fez construir o Hospital Mário Palmério, ambos na cidade de Uberaba.
Reeleito no pleito de outubro de 1958, apoiou em novembro de
1961 o reatamento das relações diplomáticas do Brasil com a União Soviética,
rompidas desde 1947. Em setembro de 1962 foi nomeado pelo presidente João
Goulart (1961-1964) embaixador do Brasil no Paraguai, em substituição ao
general Justino Alves Bastos. Deixando a Câmara, assumiu o seu posto em outubro
seguinte. À frente da embaixada concluiu as obras do Colégio Experimental, doado
pelo governo do Brasil ao Paraguai, e da ponte internacional de Foz do Iguaçu.
Instalou em novo edifício a sede do serviço de expansão e propaganda, da missão
cultural e do consulado brasileiro. Aprendeu a tocar piano e compôs algumas
guarânias (Saudade, Non digas no, Asunción), chegando a gravá-las em disco. Em abril de 1964, logo após a vitória do movimento político-militar de março desse
ano, que depôs o presidente João Goulart, deixou a embaixada em Assunção, sendo
substituído por Jaime de Sousa Gomes.
Em
abril de 1968 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), na vaga
aberta pela morte de João Guimarães Rosa. No ano seguinte, decidiu realizar uma
viagem de dois a três meses pela Amazônia, permanecendo, no entanto, um ano. Em
novembro de 1970, tentou, sem sucesso, eleger-se prefeito de Uberaba. Viajou
então para a Europa, onde deu palestras sobre a Amazônia e a África. Como ficou
longo tempo sem dar notícias, seus amigos chegaram a acionar o Itamarati para localizá-lo.
Decidido
a retornar à região amazônica com um barco próprio, voltou para Uberaba, onde
passou vários anos se desvencilhando de suas atividades na direção das
faculdades — que passou para seu filho Marcelo — e de sua fazenda em São José do Cangalha, em Mato Grosso. Em 1978 construiu um barco, batizado de Frei Gaspar
de Carvajal — uma homenagem a quem chamou de “primeiro cronista da
Amazônia” —, com três conveses, biblioteca com cerca de cinco mil livros,
piano, equipado com radiotransmissor e serviço móvel marítimo da Embratel.
Nesse barco, percorreu quase todos os rios da Amazônia durante alguns anos.
Em agosto de 1986 retornou a Minas Gerais para participar da
campanha de Itamar Franco ao governo do estado, mas o candidato foi derrotado.
Em dezembro, o Conselho Federal de Educação aprovou a transformação de suas
Faculdades Integradas de Uberaba em Universidade Integrada de Uberaba (Uniub), da qual Mário Palmério seria reitor até abril de
1996. Por problemas de saúde, foi forçado a abandonar suas viagens à Amazônia.
Em fevereiro de 1989 ofereceu suas residências e fazendas para que o
ex-presidente deposto do Paraguai, general Alfredo Stroessner, asilado no
Brasil, pudesse morar. Palmério explicou que com este gesto estava “retribuindo
a Stroessner a mesma gentileza e presteza dedicada ao ex-presidente João
Goulart quando foi deposto em 1964”. O presidente paraguaio, segundo Palmério,
oferecera asilo político a Goulart no Paraguai, mas este acabou se asilando no
Uruguai, o que deixou Stroessner “muito aborrecido”.
Autodefinindo-se como o maior conhecedor da Amazônia em todo
o mundo, defendia uma ocupação “programada, orientada e dirigida pelo governo,
com a implantação de parques florestais, tal como nos Estados Unidos”. Ainda em
1989 pretendia criar a disciplina colonização do Brasil, a ser ministrada em
todos os cursos da Uniub, visando a defender a idéia de que a região não estava
sendo devastada pelo governo, pois “não se pode ocupar economicamente uma
região sem cortar árvores”.
Ex-fazendeiro
em Mato Grosso, agricultor e pecuarista no Triângulo Mineiro, foi, de acordo
com o Correio Brasiliense, partidário de uma reforma agrária não-radical.
Católico, defendeu a correção dos desníveis entre as classes sociais a partir
do sindicalismo e do cooperativismo e não através do regime socialista.
Presidiu o Instituto de Pesquisas do Brasil Central.
Faleceu em Uberaba em 24 de setembro de 1996.
Era casado com Cecília Arantes Palmério, com quem teve dois
filhos.
Além de Vila dos confins, publicou Chapadão do
bugre (1965).
Marcelo
Costa atualização
FONTES: ACAD. BRAS.
LETRAS. Anuário; ASSEMB. LEGISL. MG. Dicionário biográfico;
AUDRÁ, A. Bancada; CÂM. DEP. Deputados; CÂM. DEP. Relação dos
deputados; CAMPOS, Q. Fichário; CISNEIROS, A. Parlamentares;
CORTÉS, C. Homens; Encic. Mirador; Globo (9/2/89,
25/9/96); Grande encic. Delta; Jornal do Brasil (19/1/83,
12/12/86, 9 e 11/2 e 31/3/89); MENESES, R. Dic.; MIN. REL. EXT. Anuário
(1962-3); OLIVEIRA, M. História; Rev. Arq. Públ. Mineiro (12/76);
SOC. BRAS. EXPANSÃO COMERCIAL. Quem; TRIB. SUP. ELEIT. Dados (2,
3 e 4).