MEDEIROS,
Maurício de
*jornalista; dep. fed. RJ 1921-1922 e 1927-1930; min.
Saúde 1955-1958.
Maurício Campos de Medeiros
nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império, em 14 de julho de 1885,
filho do quarto casamento de Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros,
conselheiro do Império. Sua mãe, Maria Carolina Ribeiro de Medeiros, era viúva
do caricaturista Henrique Fleuiss.
Órfão de pai aos sete anos, Maurício de Medeiros foi viver
sob a tutela do irmão José Joaquim Medeiros e Albuquerque, escritor, jornalista
e político, deputado federal por Pernambuco de 1894 a 1896, de 1901 a 1902 e de
1904 a 1911, que exerceu grande influência sobre suas idéias e atividades posteriores.
Completou os estudos básicos no Ginásio Nacional, hoje Colégio Pedro II,
matriculando-se em 1901 na Faculdade de Medicina. Diplomou-se em farmácia em
1903 e foi escolhido delegado brasileiro ao I Congresso Internacional de
Estudantes, reunidos na cidade italiana de Milão em 1906. No ano seguinte,
concluiu o curso de medicina.
Depois de formado, substituiu seu irmão Medeiros e
Albuquerque em uma seção diária da Gazeta de Notícias, iniciando sua longa
militância na imprensa, continuada nos anos seguintes através da colaboração
com o Correio Paulistano e A Notícia. Fez também várias viagens à Europa,
freqüentando cursos de especialização em histopatologia e fisiologia em Paris,
Munique e Viena, e participando, em 1909, dos congressos internacionais de
psicologia e de medicina, realizados respectivamente em Genebra e Budapeste. A
atuação permanente na medicina e no jornalismo marcaria toda a sua vida
profissional. De volta ao Brasil, substituiu João do Rio como autor de uma
crônica diária no jornal A Noite, intitulada “O momento”, e foi aprovado, em
1912, no concurso para livre-docência da cadeira de fisiologia na faculdade em
que estudara. Dois anos depois, também através de concursos, tornou-se
livre-docente das cadeiras de patologia geral na Faculdade de Medicina e de
psicologia na Escola Normal do Distrito Federal, hoje Instituto de Educação.
Pouco
depois do início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, Maurício de Medeiros
tornou-se fundador e secretário-geral da Liga Pró-Aliados, que atuou até o fim do
conflito. Em 1915, foi nomeado diretor-geral de Higiene do estado do Rio de
Janeiro e, no ano seguinte, foi eleito para a Câmara estadual fluminense na
legenda do Partido Republicano, prosseguindo no Correio da Manhã e em A Época
sua pregação contrária à neutralidade adotada pelo Brasil diante da guerra. Era
amigo e admirador de Nilo Peçanha, nomeado ministro das Relações Exteriores em
maio de 1917, pouco depois do afundamento de um navio mercante brasileiro pelos
alemães. Esse fato desencadeou fortes pressões favoráveis à declaração de
guerra contra a Alemanha, assinada pelo presidente Venceslau Brás em outubro
seguinte. Sem perder seu mandato parlamentar, Maurício de Medeiros integrou a
Missão Médica Militar que o Brasil enviou à França, sendo comissionado no posto
de tenente-coronel-médico e lotado na chefia do serviço de neuropsiquiatria do
Hospital Brasileiro de Paris, que funcionou nos últimos meses do conflito.
Maurício de Medeiros considerava o parlamento “o único poder
legitimamente representativo da opinião em uma democracia” e via no
presidencialismo a raiz de todos os males da história republicana do Brasil,
pois conduzia freqüentemente a “regimes autoritários e ditatoriais”. Defendia a
forma federativa de governo e a autonomia estadual, “em nada contrários ao
parlamentarismo”. Deixando a Câmara estadual em 1920, foi eleito no ano
seguinte deputado federal pelo estado do Rio. Em janeiro de 1922, contudo,
desincompatibilizou-se do novo mandato a fim de prestar concurso para professor
da seção de patologia geral da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sendo
integrado nessa função em setembro seguinte. Em janeiro de 1923, exerceu o
cargo de secretário-geral do efêmero governo fluminense chefiado por Raul
Fernandes, que, nesse mesmo mês, foi substituído pelo interventor federal
Aureliano Leal, nomeado pelo presidente Artur Bernardes.
Maurício de Medeiros foi redator-chefe do Diário de Medicina
em 1924. Em 1927, durante o governo de Washington Luís, foi novamente eleito
deputado federal pelo Rio de Janeiro. Nessa legislatura, integrou as comissões
de Legislação Social e de Instrução da Câmara, foi delegado à Conferência
Interparlamentar de Comércio, reunida em Versalhes, na França, em 1928, e votou
a favor da concessão de anistia aos envolvidos nos levantes tenentistas de 1922
e 1924, que, segundo ele, haviam expressado um “sentimento de revolta contra o
governo unipessoal” exercido por Epitácio Pessoa (1919-1922) e, depois, Artur
Bernardes (1922-1926). Essa proposta recebeu apenas 18 votos favoráveis na
Câmara, insuficientes para a sua aprovação.
Reeleito deputado federal pelo estado do Rio em março de
1930, teve seu mandato interrompido pela revolução que, em outubro desse ano,
depôs Washington Luís e levou à formação do Governo Provisório chefiado por
Getúlio Vargas. Ainda em 1930, passou um mês na União Soviética, lançando, no
ano seguinte, um livro considerado simpático ao regime vigente nesse país. Foi
então acusado pela imprensa governista de pertencer à Internacional Comunista,
o que provocou a apreensão do livro por ordem de João Batista Luzardo, chefe de
polícia do Distrito Federal.
No
primeiro semestre de 1932, publicou outra obra, intitulada Outras revoluções
virão, criticando “a falta de orientação doutrinária e de qualquer política
sistematizada” por parte do Governo Provisório, o qual, segundo ele, incorria
nos mesmos vícios do presidencialismo vigente na República Velha, sufocando o
Poder Legislativo. Os rumos tomados pela Revolução de 1930 foram freqüentemente
criticados por Maurício de Medeiros, que, na condição de colaborador do Diário
Carioca e do jornal paulista A Gazeta, publicou vários artigos contra, entre
outras coisas, “o projeto ultra-reacionário de repressão ao comunismo”, o
“espantoso decreto introduzindo o ensino religioso nas escolas” e as
“tendências fascistas da Legião Liberal Mineira” liderada por Francisco Campos.
Criticou também o Clube 3 de Outubro, “partidário da extrema violência”.
Apesar de afastado de atividades políticas desde 1930 e
mundialmente conhecido por suas contribuições à psiquiatria, Maurício de
Medeiros foi atingido pelas medidas repressivas adotadas pelo governo de Vargas
depois da fracassada Revolta Comunista de novembro de 1935. Em abril do ano
seguinte, foi demitido junto com vários colegas do cargo de catedrático de
clínica propedêutica médica, que ocupava desde 1934, sendo reintegrado nessas
funções somente em maio de 1945, por sentença do Poder Judiciário. Voltou à
faculdade na cátedra de clínica psiquiátrica em abril de 1946, durante a
redemocratização do país que se seguiu à derrubada do Estado Novo. Em setembro
desse ano, foi nomeado diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade do
Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Representou o
Brasil no Congresso Mundial de Psiquiatria, realizado em Paris em 1950, e nos
dois primeiros congressos internacionais de neuropatologia, realizados
respectivamente em Roma (1952) e Londres (1955), aposentando-se por limite de
idade em 1955.
Em agosto desse ano, tomou posse na cadeira nº 38 da Academia
Brasileira de Letras e em 19 de novembro seguinte foi nomeado ministro da Saúde
pelo presidente Nereu Ramos, que atendeu à indicação de Ademar de Barros, líder
do Partido Social Progressista, ao qual Maurício de Medeiros era filiado. Foi
mantido nesse cargo pelo presidente Juscelino Kubitschek, que tomou posse em 31
de janeiro de 1956, sendo designado, em março de 1958, para integrar uma
comissão, presidida pelo ministro da Viação Lúcio Meira, encarregada de
coordenar o auxílio à região Nordeste, que sofria os efeitos de uma seca de
grandes proporções. Deixou a pasta da Saúde em 3 de julho de 1958, sendo
substituído por Mário Pinotti. Em 1962, começou a colaborar com o jornal
carioca O Globo, onde assinou urna coluna esporádica sobre assuntos políticos
até sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 23 de julho de 1966.
Membro de inúmeras associações médicas e culturais, nacionais
e internacionais, Maurício de Medeiros teve três filhos do seu primeiro
casamento, com Mariana Isabel da Silva Lobo de Medeiros, e uma filha em segundas núpcias, com Denise de
Medeiros.
Deixou
publicadas diversas obras, notadamente sobre temas médicos, entre as quais:
Métodos em psicologia (tese, 1907), Fisiologia da secreção intestinal (1913),
Partenogênese em patologia (1913), A reforma constitucional fluminense de 1920
(1922), Coloidoclasia (1923), Peço a palavra! (discursos, 1923), O soro
sangüíneo em patologia (1925), Ciência impura (ensaios, 1928), Supranormais
(1930), Rússia: impressões de viagem (1931), Outras revoluções virão (1932),
Psicoterapia (1933), Segredo conjugal (novela, 1933), Idéias, homens e fatos
(1934), Pensamentos de Medeiros e Albuquerque (1935), Folhas secas (1941),
Aspectos da psicologia infantil (1941), Temas falados (1945), Joaquim Nabuco
(ensaio, 1949), No mundo do ensino (1954), O casamento (1956), O inconsciente
diabólico (1959) e Homens notáveis (1964).
Vera Calicchio
FONTES: ACAD. BRAS.
LETRAS. Anuário (1960, 1961 e 1962); ARQ. GETÚLIO VARGAS; BRINCHES, V. Dic.;
CORTÉS, C. Homens; COUTINHO, A. Brasil; Encic. Mirador; Globo (24/6/66); Grande
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KUBITSCHEK, J. Meu (3); MEDEIROS, M. Homens; MEDEIROS, M. Outras; MEDEIROS, M.
Peço; MEDEIROS, M. Rússia; MIN. GUERRA. Almanaque; PEIXOTO, A. Getúlio; QUADROS,
J. História; RIBEIRO FILHO, J. Dic.