BORGES,
Mauro
*militar; dep. fed. GO
1959-1961; gov. GO 1961-1964; sen. GO 1983-1991; const. 1987-1988;
dep. fed. GO 1991-1995.
Mauro Ludovico Borges Teixeira nasceu em Rio Verde (GO) no dia 15 de fevereiro de 1920,
filho do médico Pedro Ludovico Teixeira e de Gercina Borges Teixeira. Seu pai,
integrante da Aliança Liberal, participou da Revolução de 1930, passando, a
partir de então, a exercer um domínio que durou quase 40 anos sobre a política
do estado de Goiás. Durante esse período foi interventor de 1930 a 1935, governador de 1935 a 1937, novamente interventor de 1937 a 1945, constituinte em 1946, senador na legenda do Partido Social Democrático (PSD) de 1946 a 1951, novamente governador de 1951 a 1954 e mais uma vez senador, de 1955 a 1969. Seu avô materno, o fazendeiro e comerciante Antônio Martins Borges, também foi senador
por Goiás. Seu irmão Paulo Borges foi deputado federal por Goiás entre 1979 e
1987.
Mauro Borges estudou no Colégio Diocesano de Uberaba (MG) e,
após concluir o secundário, matriculou-se, em 1938, na Escola Militar do
Realengo, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, de onde saiu
aspirante-a-oficial da arma de infantaria em 1941. Promovido a segundo-tenente
em agosto de 1942, atingiu o posto de primeiro-tenente em dezembro do ano
seguinte e o de capitão em dezembro de 1946. Foi enviado para servir em Santa Maria (RS). Cursou ainda a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército,
especializando-se como oficial de transportes. Em 1951 foi nomeado para dirigir
a Estrada de Ferro de Goiás, deixando sua direção em 1954, já como major do
Exército, patente à qual fora promovido em julho de 1953.
Entusiasta da mudança da capital federal para o Planalto
Central, fez parte de vários órgãos que cuidaram do assunto, desde a época em
que o marechal José Pessoa presidia a comissão de localização (1954-1956),
tendo por último participado do conselho fiscal da Companhia Urbanizadora da
Nova Capital (Novacap). Esta empresa pública foi criada em setembro de 1956 com
o objetivo de executar a urbanização e a construção de Brasília. Fez parte
ainda da comissão construtora da usina hidrelétrica de Cachoeira Dourada,
inaugurada na gestão do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961).
Em
1958 candidatou-se a deputado federal por Goiás na legenda do PSD, saindo
vitorioso. Assumiu sua cadeira em fevereiro de 1959 e nessa legislatura
apresentou projetos de interesse para a região Centro-Oeste, destacando-se,
entre eles, a criação de uma comissão para os vales dos rios Araguaia e
Tocantins e a criação de uma empresa mista para a exploração industrial do
babaçu. Integrou também a Frente Parlamentar Nacionalista (FPM), entidade
interpartidária criada no Congresso em 1956, que defendia uma plataforma
nacionalista, condenando a entrada maciça de capital estrangeiro no país e
defendendo a manutenção do monopólio estatal sobre o petróleo. Designado pela
Câmara, fez parte do grupo de parlamentares que participou da conferência da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
em Paris, em 1959.
Governador de Goiás
Nas eleições de 1960, já como coronel da reserva, elegeu-se
governador do estado de Goiás, tendo como lema de sua campanha “nacionalismo e
desenvolvimento”, baseando-se em idéias de reforma, planejamento e justiça
social. Sua vitória nas urnas, obtendo cerca de 160 mil votos e derrotando um
primo, José Ludovico de Almeida, candidato à reeleição na legenda da coligação
entre a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Progressista (PSP),
deveu-se muito à influência do PSD no estado. Assumiu o governo de Goiás em
fevereiro de 1961, após deixar a Câmara dos Deputados.
Em
abril deste último ano participou da segunda reunião de governadores convocada
pelo presidente Jânio Quadros, ao lado de Fernando Correia da Costa, do Mato Grosso,
Abelardo de Alvarenga Mafra, de Rondônia, e José Altino Machado, do Acre, na
qual o presidente prometeu verbas para a instalação de redes de água e esgoto
em Goiânia, Anápolis e vários outros municípios do estado de Goiás. As reuniões
de governadores eram um recurso usado por Jânio para tentar compensar a
situação minoritária do governo no Congresso.
Com
a renúncia do presidente em 25 de agosto de 1961, o país atravessou um período
de grave crise política, devido à resistência dos ministros militares à posse,
na presidência da República, do vice-presidente João Goulart. No dia 30 do
mesmo mês, Mauro Borges dirigiu um manifesto à nação, declarando-se totalmente
favorável à posse de Goulart, associando-se assim à resistência encabeçada pelo
governador Leonel Brizola no Rio Grande do Sul.
No dia 1º de setembro, o Correio da Manhã publicou um
telegrama procedente de Goiânia que relatava a chegada, nessa capital, de uma
comissão de deputados favoráveis à posse de Goulart, chefiada por José
Guimarães Neiva Moreira, para encontrar-se com o governador. O objetivo do
encontro seria transferir a Câmara e o Senado para Goiânia, onde Borges
garantiria seu funcionamento. Finalmente em 2 de setembro, culminando um
conjunto de esforços conciliadores, o Congresso aprovou a Emenda Constitucional
nº 4, implantando no país o regime parlamentarista, o que permitiria a posse de
Goulart, embora com os poderes reduzidos.
Antes de João Goulart desembarcar em Brasília, em 5 de
setembro, corriam boatos de que elementos das forças armadas iriam impedir sua
chegada. Além dessas notícias, não confirmadas, surgiram outras, como a de que
o novo presidente estaria seguindo para Goiânia, onde o governador Mauro Borges
lhe daria todas as garantias. Em 7 de setembro, Goulart foi finalmente
empossado na presidência da República.
Em 25 de outubro de 1961 foi criada a Frente de Libertação
Nacional (FLN), movimento constituído por políticos nacionalistas que haviam
defendido a posse de Goulart. Entre eles se incluíam Mauro Borges, como secretário-geral
da organização, e Leonel Brizola, como presidente. Todos se encontravam
empenhados na defesa das liberdades democráticas e da independência política e
econômica do país. Lançaram o manifesto Declaração de Goiânia, divulgando
os objetivos da frente e conclamando os diferentes setores da sociedade a
aderirem ao movimento. Entre as medidas defendidas constavam a nacionalização
de companhias estrangeiras e a aprovação da Lei de Remessa de Lucros e da
Reforma Agrária. O documento condenava a intromissão norte-americana e a
soviética na política interna e externa brasileira. Ainda segundo o documento,
todos os objetivos da FLN poderiam ser atingidos desde que as “forças
nacionalistas” vencessem as eleições de 1962. O movimento, entretanto, não
chegou a desembocar efetivamente numa ação popular, dadas as divergências
internas e as dificuldades de deliberação e ação.
Uma
das principais iniciativas do governo de Mauro Borges foi a implantação de um
amplo projeto de redistribuição de terras e de assistência rural. Até a criação
da Superintendência de Reforma Agrária (Supra), em outubro de 1962, o problema
agrário era encaminhado exclusivamente pelos governos estaduais. Contudo, a 12
de março de 1964, em entrevista ao Correio da Manhã, fez severas
críticas à “demagogia” da Supra, denunciando que seu estado “jamais havia
contado com qualquer ajuda desse organismo federal, valendo-se apenas da
cooperação de missões israelenses, francesas e americanas, além da participação
do Serviço Geográfico do Exército”.
O movimento de 1964 e a intervenção em Goiás
Em
31 de março de 1964 eclodiu o movimento político-militar que depôs o presidente
João Goulart, recebendo inclusive a adesão de Mauro Borges. Na ocasião, este
declarou que “os goianos que pegaram em armas em 1961 para que o presidente
assumisse o poder as empunharão novamente para que ele não faça do país uma
casa grande onde queira ser o patrão”.
Logo após a vitória do movimento, participou no dia 4 de
abril de uma reunião onde se discutiu o problema sucessório. Dela fizeram parte
o general Artur da Costa e Silva, ministro da Guerra e integrante do
auto-intitulado Comando Supremo da Revolução, e os governadores Carlos Lacerda,
da Guanabara; José de Magalhães Pinto, de Minas Gerais; Ildo Meneghetti, do Rio
Grande do Sul; Ademar de Barros, de São Paulo; e Nei Braga, do Paraná, além dos
deputados José Costa Cavalcanti e Juarez Távora. Nessa reunião, Lacerda
reivindicou de Costa e Silva uma definição mais objetiva sobre a questão da
sucessão. Este último considerava uma eleição, naquele momento, opção
inoportuna e achava que a candidatura de um militar poderia dividir o Exército.
Opunha-se, assim, à opinião de Lacerda e dos outros governadores que defendiam
o nome do general Humberto Castelo Branco, chefe do Estado-Maior do Exército
(EME), para a presidência. Em outra reunião, convocada por Costa e Silva para o
dia seguinte, tomou-se conhecimento da posição do alto comando militar, que
endossava a imediata eleição de Castelo Branco, que seria empossado no dia 15
de abril.
Em
maio de 1964, uma subcomissão de investigações começou a apurar denúncias de
subversão contra o governador Mauro Borges. Além de empreender uma gestão
reformista, Borges havia feito viagens à URSS e à República Popular da China,
sendo considerado de esquerda pelos setores mais conservadores das forças
armadas. Por ocasião das investigações, foi aconselhado a conciliar com a
revolução, demitindo todo o seu secretariado, presidências de autarquias e
sociedades de economia mista, não podendo, porém, substituí-los por outros da
mesma linha ou padrão. Teria que convocar as classes conservadoras de todos os
partidos políticos para cooperarem com o governo.
Como
Mauro Borges recusou-se a sacrificar seus secretários, foram cassados os
direitos políticos de três deles: o da Educação e Cultura, padre Rui Rodrigues
da Silva, o do Interior e Justiça, Wilson da Paixão, e o da Administração,
deputado Valteno Cunha Barbosa. Foi, então, instalado um Inquérito
Policial-Militar (IPM) contra o governador, sob a presidência do
tenente-coronel Danilo Cunha Melo.
Mauro Borges, no entanto, continuava controlando o estado de
Goiás, de grande importância estratégica por situar-se em seu território o
Distrito Federal. Não tolerando tal situação, os oficiais da chamada “linha
dura” do Exército, ajudados pela força política da UDN, que queria ganhar
terreno em relação ao PSD, ativaram o ritmo do IPM em curso.
Nesse episódio, dois fatos fizeram com que o presidente
Castelo Branco, que até então tentava apaziguar a situação, fosse obrigado a se
pronunciar a respeito. O primeiro foi um furto de armas ocorrido em Anápolis,
cuja importância foi aumentada pelo diretor do Departamento de Polícia Federal,
general Riograndino Kruel, que viu no incidente a prova de que um golpe estava
prestes a acontecer em Goiás. Outro fato foi a concessão de habeas-corpus preventivo
a Mauro Borges, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 8 de novembro, que
desagradou profundamente grande parte da oficialidade de Goiás. O STF,
demonstrando independência, havia-se pronunciado inteiramente a favor de Mauro
Borges, por considerar que a sua qualidade de governador lhe permitia ser
julgado pela Assembléia Legislativa do estado de Goiás e não por um tribunal
militar.
No mesmo dia 8, Castelo Branco divulgou uma notificação na
qual manifestava o desejo de acatar as decisões judiciais, mas deixava claro o
propósito de não transigir com os Problemas e ameaças que o governo goiano
vinha apresentando para a ordem interna da nação. No dia seguinte, o presidente
se reuniu com Mílton Campos, Pedro Aleixo e Daniel Krieger, ocasião em que foi
decidida a intervenção em Goiás.
No dia 26 de novembro, Castelo destituiu Mauro Borges,
nomeando interventor federal o coronel Carlos de Meira Matos, que tinha 60 dias
para controlar a crise, segundo os termos da Constituição. O presidente
escreveu nessa ocasião para o deputado federal Ernâni Amaral Peixoto,
presidente do PSD, dando-lhe explicações sobre a intervenção e afirmando a
premência de se eliminar o foco de perturbação existente em Goiás “que ameaçava
frontalmente a integridade nacional e as realizações pacíficas da revolução”.
Nesta carta, Castelo Branco também deixava claro que sua ação não se dirigia
contra seus opositores políticos ou qualquer agremiação partidária.
Todavia, para ter confirmada a intervenção federal, o
presidente precisava do respaldo do Congresso, o que parecia difícil, uma vez
que parte do PSD conseguira que a Comissão de Justiça da Câmara desse parecer
desfavorável ao referido ato do governo federal. Segundo depoimento do próprio
Mauro Borges em seu livro O golpe em Goiás: história de uma traição (1965),
“a saída arquitetada pelo presidente Castelo Branco foi calcada em terrível
esquema de pressão sobre os deputados. O coronel Meira Matos, por intermédio de
emissários políticos, fazia chegar aos ouvidos de alguns políticos a iminência
de serem eles presos, com base em IPMs, caso não aprovassem o impeachment do
governador”. Pedro Aleixo, da UDN, apresentando na Câmara uma emenda
substitutiva à aprovação do decreto do governo, conseguiu sua vitória em
votação por 192 votos contra 140.
Ao saber do decreto da intervenção, Mauro Borges se recusou a
deixar o palácio das Esmeraldas, sede de seu governo, declarando que só o faria
morto. O coronel Meira Matos, porém, apoiado por forças militares de terra e
ar, em pouco tempo conseguiu ocupar Goiânia, assumindo o posto de interventor,
apesar dos esforços do pai de Mauro Borges, que mobilizou homens armados e todo
o seu poderio político em defesa do mandato do filho. Imediatamente 102
auxiliares do ex-governador tiveram sua prisão preventiva decretada, sob a
alegação de serem subversivos. Em 23 de janeiro de 1965, Meira Matos transferiu
o governo do estado ao marechal Emílio Ribas, eleito no dia 8 pela Assembléia
Legislativa de Goiás, apesar da forte oposição do PSD.
No dia 27 de outubro de 1965 foi outorgado o Ato
Institucional nº 2 (AI-2), que estabeleceu a eleição indireta para a
presidência da República e dissolveu todos os partidos políticos existentes. O
quadro partidário brasileiro foi, assim, inteiramente reformulado no início de
1966, quando surgiram apenas duas agremiações: o partido governista, a Aliança
Renovadora Nacional (Arena), e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de
oposição.
Em 14 de julho de 1966, Mauro Borges teve seus diretos
políticos cassados por ato do presidente Castelo Branco. Afastado do poder,
passou a dedicar-se a atividades empresariais, primeiramente como incorporador
imobiliário e depois como empresário rural, especializando-se na cultura irrigada
do arroz.
Em
1976 recuperou seus direitos políticos, mas só manifestou interesse em retornar
à vida partidária em 1978. Ligado ao MDB, elegeu-se em agosto de 1979
presidente do diretório regional do partido em Goiás. Neste período, marcado pelo início do processo de abertura e redemocratização do país,
declarou-se contrário à criação de novos partidos de oposição, considerando
inconveniente a divisão do MDB “quando ainda existia um quadro de exceção no
país”. Segundo o ex-governador, antes da criação de novos partidos, devia-se
lutar pela anistia ampla, pela revogação da Lei Falcão (que proibia aos
candidatos às eleições fazerem campanha pelo rádio e televisão) e pela
convocação de uma Assembléia Constituinte.
Com a extinção do bipartidarismo em 29 de novembro de 1979 e
a conseqüente reformulação partidária, ingressou no Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB).
No Senado Federal
Por
ocasião das eleições de novembro de 1982, recusou a possibilidade de disputar o
governo de seu estado, afirmando já ter dado “a sua contribuição ao Executivo,
e ser hora de dar oportunidade a outros”. No entanto, lançou-se candidato ao
Senado na legenda do PMDB goiano, sendo eleito por ampla margem de votos em
relação aos candidatos dos outros partidos. Assumiu sua cadeira em fevereiro de
1983, vindo a integrar como membro titular e depois como presidente a Comissão
do Distrito Federal. Foi também titular das comissões de Segurança Nacional,
Ciência e Tecnologia e suplente da Comissão de Agricultura.
Em
1984, integrou a delegação de senadores que visitou a Romênia e a Bulgária. Na
votação realizada na Câmara dos Deputados em 25 de abril desse ano, a emenda
Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas para presidente da República
em novembro seguinte, não obteve o número de votos indispensáveis à sua
aprovação — faltaram 22 para que o projeto pudesse ser encaminhado à apreciação
pelo Senado Federal —, fazendo com que a sucessão presidencial fosse mais uma
vez decidida por via indireta. No Colégio Eleitoral reunido em 15 de janeiro de
1985, Mauro Borges votou no candidato oposicionista Tancredo Neves, eleito novo
presidente da República pela Aliança Democrática, uma união do PMDB com a
dissidência do Partido Democrático Social (PDS) abrigada na Frente Liberal, derrotando
o candidato do regime militar, Paulo Maluf. Contudo, Tancredo Neves não chegou
a ser empossado na presidência, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. Seu
substituto foi o vice José Sarney, que já vinha exercendo interinamente o cargo
desde 15 de março desse ano.
Ainda em 1985, o nome de Mauro Borges foi cogitado para
governar o Distrito Federal. Não sendo confirmada essa possibilidade, anunciou
sua candidatura ao governo de Goiás, desencadeando uma crise dentro do PMDB, já
que o senador Henrique Santillo já havia se declarado candidato do partido,
obtendo apoio inclusive do então governador do estado, Íris Resende. Mauro
Borges ameaçou abrir uma dissidência caso fosse derrotado na convenção que
escolheria o nome do representante peemedebista e apresentou à executiva do
PMDB um pacote de documentos contendo denúncias de irregularidades e corrupção
em três empresas do estado. A crise chegou ao auge quando Íris Resende foi
nomeado ministro da Agricultura e ficou clara a tendência do partido a favor de
Santillo.
Diante deste quadro, Borges desligou-se do PMDB em março de
1986, filiando-se em seguida ao Partido Democrata Cristão (PDC) e anunciando
que sairia candidato ao governo de Goiás por sua nova agremiação. Com efeito,
nas eleições de novembro de 1986, disputou o cargo por uma coligação que
reuniu, além do PDC, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido
da Frente Liberal (PFL).
No entanto, durante a campanha teve problemas para explicar a
seu eleitorado o apoio à sua candidatura de vários deputados do PDS que se
haviam beneficiado do regime militar. Apesar de este partido não integrar
formalmente a coligação da qual Mauro Borges fazia parte, muitos de seus
deputados podiam ser vistos nos palanques de seus comícios. Derrotado por
Santillo, retornou ao Senado Federal, passando a integrar, em fevereiro de 1987, a Assembléia Nacional Constituinte (ANC).
Líder
do PDC na Constituinte, foi titular da Subcomissão da Política Agrícola e
Fundiária e da Reforma Agrária, da Comissão da Ordem Econômica, e suplente da
Comissão da Organização Eleitoral, Partidária e Garantia das Instituições.
Dentre as principais matérias apreciadas na Constituinte, votou contra a
jornada semanal de 40 horas, a pluralidade sindical, a soberania popular, o
presidencialismo, a estatização do sistema financeiro, o mandato de cinco anos
para o presidente Sarney, a anistia aos micro e pequenos empresários e a
desapropriação da propriedade produtiva. Votou a favor do turno ininterrupto de
seis horas, do aviso prévio proporcional, da unicidade sindical, da
nacionalização do subsolo e do limite de 12% ao ano para os juros reais.
Absteve-se quanto ao voto aos 16 anos e à proibição do comércio de sangue.
Esteve ausente nas votações acerca do rompimento de relações diplomáticas com
países com política de discriminação racial, da pena de morte, da limitação do
direito de propriedade privada, do mandado de segurança coletivo, da
descriminalização do aborto, da proteção ao emprego contra dispensa sem justa
causa, da limitação dos encargos da dívida externa, da criação de um fundo de
apoio à reforma agrária e da legalização do jogo do bicho.
Com a promulgação da Constituição em 5 de outubro de 1988,
Mauro Borges retornou aos trabalhos ordinários no Senado, integrando-se, como
titular, às comissões do Distrito Federal, de Segurança Nacional, de Ciência e
Tecnologia, de Minas e Energia, do Código de Defesa do Consumidor, de
Agricultura e de Serviços de Infra-Estrutura. Vice-líder do PMDB no Senado,
presidiu a Comissão do Distrito Federal e foi vice-presidente da Comissão de
Segurança Nacional, além de relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
sobre importação de alimentos. No Congresso Nacional integrou as comissões
mistas sobre duas propostas de emendas constitucionais: a que alteraria a
distribuição da receita tributária da União e a que instituiria o sistema
parlamentar de governo.
Em 1989 foi delegado da União Parlamentar na Conferência
Interparlamentar sobre Turismo, realizada em Haia.
Nas eleições de outubro de 1990, elegeu-se deputado federal
na legenda do PDC. Deixou o Senado em janeiro do ano seguinte, ao fim da
legislatura, iniciando em fevereiro seu mandato na Câmara dos Deputados. Ainda
em 1991, integrou a Comissão de Defesa Nacional e foi suplente da Comissão de
Agricultura e Política Rural.
Na
sessão da Câmara dos Deputados de 29 de setembro de 1992, votou a favor da
abertura do processo de impeachment do presidente Fernando Collor de
Melo, acusado de crime de responsabilidade por ligações com um esquema de
corrupção liderado pelo ex-tesoureiro de sua campanha presidencial, Paulo César
Farias. Afastado da presidência após a votação na Câmara, Collor renunciou ao
mandato em 29 de dezembro de 1992, pouco antes da conclusão do processo pelo
Senado Federal, sendo efetivado na presidência da República o vice Itamar
Franco, que já vinha exercendo o cargo interinamente desde 2 de outubro.
No pleito de outubro de 1994, Mauro Borges não disputou a
reeleição. Deixou a Câmara dos Deputados em janeiro de 1995, ao fim da
legislatura, e retirou-se da militância política. Em entrevista dada ao jornal
goiano Diário da Manhã em junho de 1999, Mauro Borges declarou que se
afastara da política devido à idade avançada.
Nessa mesma entrevista, afirmou que participara da campanha
vitoriosa de Marconi Perillo ao governo de Goiás nas eleições de 1998 e que
acreditava na sua capacidade para governar Goiás. Também analisou o governo do
presidente Fernando Henrique Cardoso, destacando o momento difícil que
atravessava o país e a capacidade intelectual do presidente. Contudo, criticou
sua falta de liderança e o rumo de suas políticas, principalmente a pouca
atenção financeira dada à agricultura nacional em comparação com a ajuda dispensada
aos bancos. Reafirmou sua crença no processo democrático, mas destacou que
Fernando Henrique deveria mudar “aquilo que deve ser mudado e fazer o país, de
novo, despertar esperança, entusiasmo”.
Ao longo de sua carreira política, como membro da missão
brasileira junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO), visitou Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha,
Dinamarca, Polônia, União Soviética, República Popular da China, Estados
Unidos, Israel, Uruguai, Argentina, Paraguai e Iugoslávia. Compareceu à 74ª
Conferência Interparlamentar ocorrida em Ottawa, no Canadá, e à reunião
interparlamentar sobre o meio ambiente na América Latina e no Caribe, realizada
na Cidade do México, no México.
Em 2002, publicou sua autobiografia, intitulada Tempos
idos e vividos: minhas experiências. Em 2007, foi lançado um documentário
dirigido por Carolina Paraguaçu, que tinha como tema a resistência de Mauro
Borges ao golpe militar e a intervenção federal em Goiás, em novembro de 1964.
Casou-se com Maria de Lurdes Estivallet Teixeira, com quem
teve cinco filhos.
Publicou, além da obra citada, Estrutura agrária do
governo Mauro Borges (1963), O golpe em Goiás — história de uma grande
traição (1965), Pelo Brasil e pelo povo (v. 1 e 2, 1984),
A conquista do cerrado — uma proposição para duplicar a produção de grãos (1985)
e Pelo Brasil e pelo povo (v. 3, 1988).
Alexandra Toste
FONTES: ARQ. DEP.
PESQ. JORNAL DO BRASIL; Assemb. Nac.
Const. Repertório (1987); BENEVIDES, M. Governo Kubitschek; CACHAPUZ,
P. Cronologia; CÂM. DEP. Deputados brasileiros. Repertório (1991-1995);
CÂM. DEP. Relação dos dep.; Diário da Manhã (15/6/99); Encic.
Mirador; Folha de S. Paulo (29/12/85, 18, 28/2, 4, 5/3, 10, 17/8 e 14/9/86,
2/3/88); Globo (26 e 29/4/85, 5/8/86); Grande encic. Delta; Jornal do
Brasil (31/12/84, 5/1, 28 e 31/10/86); QUADROS, J. História; SENADO.
Dados biográficos (1987); SILVA, H. 1964; VAITSMAN, M. Sangue;
Jornal Opção On-line (22 a 28/12/02).