NATEL,
Laudo
*gov.
SP 1966-1967 e 1971-1975.
Laudo Natel nasceu em São Manuel (SP) no dia 14 de setembro de 1920,
filho de Bento Alves Natel e de Albertina Barone Natel.
Fez
seus estudos primários e secundários nas cidades paulistas de Mirassol e
Pirajuí. Era empregado do Banco Noroeste e colega de trabalho de Amador Aguiar,
quando este último criou em 1943 o Banco Brasileiro de Descontos (Bradesco),
para onde se transferiu. O Bradesco experimentou um rápido crescimento e, a
partir de 1950, Natel passou a integrar os quadros de sua diretoria.
Transferindo-se para a capital do estado, formou-se em economia pela Faculdade
de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo. Dirigiu
a Associação Comercial e foi presidente do Sindicato de Bancos de São Paulo,
além da Comissão Bancária do Conselho Monetário Nacional. Tornou-se tesoureiro
do São Paulo Futebol Clube em 1952 e seu presidente em 1958, cargo que ocuparia
durante 12 anos.
Ingressou na vida política no pleito de 7 de outubro de 1962,
no qual disputavam o governo de São Paulo os candidatos Ademar de Barros,
apoiado pelo Partido Social Progressista (PSP) e o Partido Social Democrático
(PSD), Jânio Quadros, pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN) e o Movimento
Trabalhista Renovador (MTR), José Bonifácio Coutinho Nogueira, apoiado pelo
Partido Republicano (PR), o Partido Democrata Cristão (PDC), a União
Democrática Nacional (UDN) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e,
finalmente, Cid Franco, lançado pela legenda do Partido Socialista Brasileiro
(PSB). Concorreu ao cargo de vice-governador na legenda do PR, enfrentando
Teotônio Monteiro de Barros, da chapa de Ademar de Barros, o brigadeiro José Vicente Faria Lima, da de Jânio Quadros, e Remo Forli, companheiro de chapa de Cid Franco. Essas
eleições foram realizadas no clima de crescente radicalização social e política
que marcou o governo de João Goulart, e a vitória coube a Ademar de Barros que,
colocando-se contra o governo Goulart, capitalizou os anseios de ordem e
tranqüilidade social de sua parte do eleitorado.
Natel
foi eleito vice-governador com cerca de 1,2 milhão de votos, após uma campanha
em que enfatizou a eficiência administrativa, chegando mesmo, segundo Oliveiros
Ferreira, a valorizar o fato de não ser político. Num quadro político-partidário
marcado por grande fragmentação, seu partido, o PR, experimentou um relativo
crescimento, aumentando de sete para 13 o número de cadeiras que detinha na
Assembléia Legislativa. Assumiu o cargo de vice-governador em 31 de janeiro de
1963 e no período seguinte participou ativamente, ao lado de Ademar de Barros,
da preparação do movimento político-militar de 31 de março de 1964, que depôs o
presidente João Goulart.
Em março de 1965 concorreu às eleições para a sucessão de
Francisco Prestes Maia na prefeitura de São Paulo, no primeiro pleito realizado
durante o governo do marechal Humberto Castelo Branco. Lançado pelo PR, teve o
apoio do general Artur da Costa e Silva, então ministro da Guerra, enfrentando Faria Lima, apoiado pela UDN
e também por Jânio Quadros, Auro de Moura Andrade, apoiado pelo PSD e por
Ademar de Barros, Franco Montoro, do PDC, Lino de Matos e Paulo Egídio Martins.
Faria Lima venceu as eleições, ficando Natel em segundo lugar.
Em 27 de outubro de 1965, por determinação do Ato
Institucional nº 2 (AI-2), foram extintos os partidos políticos existentes e
foi aberto o caminho para a implantação do bipartidarismo. Com a criação no
início do ano seguinte da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido
situacionista, e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de
oposição, Natel, assim como Ademar de Barros e seus seguidores, passou a
integrar a Arena. Pouco tempo depois, porém, começaram a surgir divergências
entre Ademar e o governo federal. Marginalizado politicamente, o governador
paulista começou a criticar o bipartidarismo, o estabelecimento de eleições
indiretas para os governos dos estados e a política econômico-financeira do
ministro do Planejamento Roberto Campos, que, buscando combater a inflação,
limitou a expansão dos meios de pagamento e acarretou inúmeros problemas para a
indústria paulista. Ademar, além disso, contrariando a política preconizada por
Campos, passou a emitir títulos de dívida pública do estado de São Paulo.
Em maio de 1966 Castelo Branco convocou uma reunião de
deputados federais e estaduais e membros do diretório regional da Arena
paulista, com o fim de examinar a sucessão do governo estadual. Na ocasião,
ficou estabelecida a elaboração de uma lista tríplice, na qual o presidente da
República escolheria o candidato do partido que, segundo ele próprio, deveria
ser um “revolucionário autêntico”. Composta a lista por Roberto de Abreu Sodré, Laudo Natel e Paulo Egídio, Castelo apontou Abreu Sodré como candidato.
Em conseqüência do agravamento de suas divergências com o
governo federal, em 5 de junho de 1966 Ademar acabou tendo seus direitos
políticos e seu mandato cassados por Castelo, com base no AI-2. Com isso, Laudo
Natel assumiu o cargo de governador, e, durante sua breve gestão, atuou sempre
em sintonia com o governo federal, aceitando suas indicações para postos
importantes. Assim, foram nomeados o general Augusto Fragoso para a Secretaria
de Segurança Pública e o coronel João Batista Figueiredo para o comando da
Polícia Militar. Desse período data sua amizade com Figueiredo, que mais tarde
ocuparia a presidência da República. Natel nomeou também Antônio Delfim Neto
para a Secretaria da Fazenda, atendendo a uma determinação de Roberto Campos.
Procurou reduzir o déficit das finanças públicas e foi durante seu governo que
se deu a unificação das 11 hidrelétricas do estado, originando a Companhia de
Energia de São Paulo (CESP). Encerrou sua gestão em 31 de janeiro de 1967
quando foi empossado Abreu Sodré, eleito pela Assembléia Legislativa do estado
em 3 de setembro de 1966, voltando então a exercer suas funções na diretoria do
Bradesco.
Após a crise política que culminou com o AI-5 em 13 de
dezembro de 1968, foram impostas maiores restrições à vida política e reduzida
a autonomia dos estados. O governo do general Emílio Garrastazu Médici,
empossado em 1969, haveria de acentuar ainda mais a centralização econômica e
política e a ingerência do governo federal nas sucessões dos executivos
estaduais. Assim, embora Abreu Sodré tivesse apresentado uma lista de sete
candidatos à sua sucessão, Médici escolheu o nome de Laudo Natel, que não
constava da relação mas havia sido sugerido por Delfim Neto, então ministro da
Fazenda.
No
governo de São Paulo
Uma vez indicado pelo presidente, Natel foi eleito em 3 de
outubro de 1970 pela Assembléia Legislativa e tomou posse em 15 de março do ano
seguinte, tendo Antônio Rodrigues Filho como vice-governador. Para chefe do
Gabinete Civil foi designado Henri Couri Adar, que havia sido o primeiro
presidente da CESP; para a Secretaria de Agricultura, Rubens de Araújo Dias;
para a de Cultura, Esportes e Turismo, Pedro de Magalhães Padilha, que havia
sido secretário de Turismo no primeiro governo de Natel; para a de Economia e
Planejamento, Miguel Colasuonno; para a de Educação, Ester de Figueiredo
Ferraz; para a Fazenda, Carlos Antônio Rocca; para o Interior, Hugo Lacorte
Vitale, e para a Justiça, Osvaldo Müller da Silva. Mário Romeu de Lucca
tornou-se secretário da Promoção Social, Mário Machado Lemos secretário de
Saúde, Ciro Albuquerque assumiu a Secretaria do Trabalho e da Administração,
Paulo Salim Maluf, a Secretaria dos Transportes, o general Sérvulo de Mota
Lima, a Secretaria de Segurança, e José Meiches foi o secretário dos Serviços e
Obras Públicas.
Natel assumiu o governo com a preocupação de dar prioridade
ao desenvolvimento do interior ou, como afirmou na época, promover a
“interiorização do desenvolvimento”. Na ocasião de sua posse, declarou:
“Resolver os problemas do interior significa a médio prazo resolver os problemas
da capital; e na capital estão os grandes problemas do estado.” A educação e a
agricultura foram definidas como as prioridades do governo, que buscou também
aumentar a capacidade de investimento do estado. Assim, entre 1971 e 1974 os
investimentos passariam de 1,8 milhão de cruzeiros a mais de seis bilhões de
cruzeiros, num aumento superior a 300%.
Em
abril de 1973 Natel demitiu o prefeito da cidade de São Paulo, o engenheiro
José Carlos de Figueiredo Ferraz, que havia sido nomeado dois anos antes.
Figueiredo Ferraz investira contra interesses do setor imobiliário,
envolvera-se numa polêmica com a Light e, em plena euforia do “milagre
econômico”, condenara o crescimento irracional das grandes cidades,
particularmente o de São Paulo. Para o seu lugar foi nomeado Miguel Colasuonno.
No início de 1974 começaram as articulações para a sucessão
de Natel. A facção arenista vinculada a Ademar de Barros Filho, que sucedia ao
seu pai no controle da antiga máquina política do PSP, assim como a ala de
Laudo Natel, ambas com representatividade no empresariado paulista, indicaram o
nome do ministro da Fazenda Delfim Neto. Já em janeiro o presidente nacional da
Arena, Petrônio Portela, começou a receber sugestões e a articular as sucessões
estaduais. Na época, em função da aprovação de um projeto enviado ao Congresso
pelo próprio Portela, a decisão final no processo de escolha dos candidatos
passara das convenções para os diretórios estaduais dos partidos.
Aparentemente, como o próprio Portela chegara a afirmar, o comando do processo
sucessório em São Paulo estaria nas mãos de Natel. Entretanto, coube a ele
apenas anunciar a 29 de março de 1974, a decisão do general Ernesto Geisel, empossado duas semanas antes, de que o futuro governador seria Paulo Egídio
Martins. Os grupos laudista e ademarista pretenderam ainda indicar o
vice-governador, sugerindo o nome do então secretário do Trabalho, Ciro
Albuquerque, que foi no entanto preterido pelo governo federal, que se definiu
em favor de Manuel Gonçalves Ferreira Filho. Paulo Egídio e Manuel Ferreira Filho seriam eleitos pela Assembléia Legislativa no dia 15 de outubro de 1974.
Problemas
semelhantes na escolha dos candidatos arenistas ocorreram em relação às
eleições parlamentares de novembro de 1974, quando o governo federal, articulado
com o futuro governador Paulo Egídio, fixou-se em Carlos Alberto Carvalho Pinto para concorrer ao Senado, sob a alegação de que era o único
nome capaz de unir a Arena no estado. Entretanto, isso não se deu e,
contrariando a vontade do governo federal, lançaram-se ainda como candidatos à
obtenção da legenda Ademar de Barros Filho e Paulo Maluf. No momento da
convenção houve uma imposição do governo federal no sentido de que o candidato
fosse Carvalho Pinto, o que levou a descontentamentos no interior do partido. A
corrente ligada a Natel empenhou-se ao máximo em forçar a desistência de
Carvalho Pinto, sendo acusada, com bastante freqüência, no decorrer da
campanha, de colocar seus interesses de grupo acima dos interesses gerais da
Arena no estado.
Os resultados do pleito de 15 de novembro de 1974 foram
desastrosos para o partido do governo, que alcançou pouco mais de dois milhões
de votos contra cerca de 3,4 milhões dados ao MDB, que obteve assim maioria na
Assembléia Legislativa. Na disputa para o cargo de senador, o candidato
emedebista Orestes Quércia venceu Carvalho Pinto por uma significativa
diferença de votos.
Em 15 de março de 1975 Laudo Natel encerrou seu mandato no
governo do estado, sendo substituído por Paulo Egídio Martins e retornando ao exercício
de suas funções na diretoria do Bradesco, onde permaneceria até 1980. Durante
sua gestão como governador foram formulados o Plano Rodoviário para a
Interiorização do Desenvolvimento (Proinde) e o Programa de Desenvolvimento do
Vale da Ribeira. Dentre as realizações do seu governo destacaram-se a
instituição do seguro rural, a ampliação da sede de armazéns de silos, a
criação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e da
Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico de Controle de Poluição
das Águas (Cetesb), a construção de um grande interceptor oceânico para a
condução de esgotos em Santos e a instalação de estações na Grande São Paulo e
em Cubatão para a medição da poluição. Foram realizadas obras nas usinas de Urubupungá,
da Promissão, de Paraitinga-Paraibuna, de Capivara e de Água Vermelha,
aprimorados os serviços da VASP, com a instalação do primeiro sistema integrado
de processamento eletrônico de dados relativos à administração e ao controle
estatístico de operação da empresa, implantado num moderno complexo portuário em São Sebastião, e criadas a Diretoria de Eletrificação e Telefonia Rural, a Fundação Estadual
do Bem-Estar do Menor (FEBEM) e a Divisão Especial de Saúde do Vale da Ribeira
(Devale).
Ao
longo do governo de Natel, marcado por um tom administrativo e técnico, o
estado de São Paulo conheceu um intenso crescimento econômico. Ao mesmo tempo,
num quadro de grandes restrições às liberdades políticas, aprimorou-se o
aparelho repressivo de combate aos grupos de esquerda. Assim, durante sua
gestão os órgãos de segurança, particularmente a Operação Bandeirantes (Oban) e
o Departamento de Operações Internas — Centro de Operações para a Defesa
Interna (DOI-CODI), tiveram sua importância aumentada e exerceram um papel
decisivo na repressão à esquerda.
O
pós-1975: o rompimento com Maluf
A
derrota da Arena em 1974 fez com que Natel, ao deixar o governo do estado, se
voltasse para um trabalho política de fortalecimento do partido governista.
Consciente de que o projeto de distensão política do presidente Geisel
implicaria um papel mais ativo dos partidos na vida nacional, passou a
percorrer inúmeros municípios paulistas reforçando as bases arenistas no
interior do estado, de modo a se preparar para os novos tempos. Em entrevistas
à imprensa nos primeiros dias de novembro de 1976, defendeu o fim do
bipartidarismo e afirmou que o sucessor de Geisel deveria ser um militar, o que
justificou como uma necessidade da segurança do regime.
Ao lado de Cláudio Lembo, presidente do diretório regional da
Arena, Natel empenhou-se a fundo nas eleições municipais de 1976, cujo
resultado em São Paulo foi favorável à Arena, que venceu em número de
municípios e no cômputo geral da votação, obtendo 52% do total dos votos
válidos contra 48% dados ao MDB. Entretanto, em termos relativos, a oposição
conseguiu um avanço, pois elegeu 99 prefeitos contra 54 na eleição anterior, em
1972. O empenho e a vitória da Arena em São Paulo foram muito bem recebidos pelo presidente Geisel, que se congratulou pessoalmente com Natel pelo êxito. A
partir daí, este último passou a ter em vista as eleições de 1978, que, em sua
opinião, obrigariam a Arena a um esforço ainda maior: “Minha função continua
sendo a de sacudir o partido, tirando-o do clima de arrefecimento. Não podemos
ser surpreendidos como fomos em 1974.”
Em
1º de abril de 1977, após determinar o recesso do Congresso, Geisel decretou um
conjunto de medidas, conhecidas como o “pacote de abril”, com o objetivo de
assegurar a hegemonia do governo no Parlamento: as reformas constitucionais não
mais exigiriam 2/3 dos votos, mas apenas a maioria absoluta, as eleições para
governador voltariam a ser indiretas e 1/3 dos senadores (os que ficariam
conhecidos como “biônicos”) seria também eleito de forma indireta. Na ocasião
Natel apoiou as medidas tomadas por Geisel, afirmando que o presidente era o
único juiz das decisões, ao mesmo tempo em que manifestou mais uma vez seu
apoio ao projeto de distensão política e ao fim do bipartidarismo.
Já preocupado com a sucessão no governo de São Paulo, Natel
reuniu-se em outubro de 1977 com Abreu Sodré, Carvalho Pinto e Lucas Nogueira
Garcez na casa de Adriano Castelo Branco, assessor de Delfim Neto, então
embaixador brasileiro em Paris. Na ocasião, todos se pronunciaram a favor das
eleições diretas para o governo estadual, à exceção de Natel, que defendeu a
via indireta e justificou sua posição “pelo momento que atravessamos”. Como
pretendente ao cargo de governador, fez um acordo com Ademar de Barros Filho em
fevereiro de 1978, quando ambos reafirmaram sua subordinação ao comando de
Geisel e irrestrita solidariedade às candidaturas do general João Batista
Figueiredo e do governador mineiro Aureliano Chaves respectivamente à
presidência e vice-presidência da República. Natel confiava que obteria apoio
por parte do governo federal nas suas pretensões de voltar ao governo do
estado, o que de fato ocorreu. Assim, quando Paulo Egídio foi a Brasília
trabalhar pela candidatura de sua preferência, a do então prefeito da cidade de
São Paulo, Olavo Setúbal, não teve sucesso. Ao retornar, anunciou que o nome
escolhido pelo Planalto era Laudo Natel, o que fez com que também Delfim Neto,
que mais uma vez tinha pretensões a ser indicado, desistisse de sua candidatura
em nome da unidade das forças arenistas. Diante disso, restava somente a Natel
assegurar o apoio dos convencionais da Arena para homologar seu nome, o que
parecia uma tarefa fácil.
Entretanto, em maio de 1978 o ex-prefeito de São Paulo, Paulo
Maluf, reiterou que também apresentaria seu nome à convenção do partido que
indicaria o candidato a governador. Tudo levava a crer numa vitória de Natel,
pois seus assessores obtiveram, de um total de 1.261 convencionais, 872
assinantes apoiando seu nome, aos quais se somaram mais quatro depois que
Rafael Baldacci Filho resolveu apoiá-lo. No entanto, os resultados da
convenção, realizada no dia 4 de junho, surpreenderam à maioria: por 617 votos
contra 589 dados a Natel, Maluf saiu vencedor, sendo indicado como candidato da
Arena ao governo de São Paulo. Como candidato a vice-governador foi escolhido
José Maria Marin, e a senador “biônico” Antônio Osvaldo do Amaral Furlan, ambos
apoiados por Maluf. Dois fatos concorreram de forma decisiva para a derrota de
Natel: em primeiro lugar, o governador Paulo Egídio, seu chefe do Gabinete
Civil, Afrânio de Oliveira, e os deputados Rafael Baldacci Filho, Rui Silva e Jorge Maluli Neto, apesar de chamados a Brasília para apoiar Laudo Natel, na verdade
permitiram que os delegados que seguiam sua orientação política votassem
secretamente em Maluf; além disso, este último vinha realizando há tempos um
persistente trabalho junto aos convencionais para obter apoio, sendo inclusive
acusado na época por Natel de haver comprado votos de alguns deles. Natel tentou
ainda impugnar o resultado da convenção, impetrando recursos junto ao Tribunal
Regional Eleitoral (TRE) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas não teve
êxito em seu intento.
Um mês e meio depois, na convenção da Arena que escolheu os
candidatos ao Senado, à Câmara Federal e à Assembléia Legislativa, a maior
parte dos delegados que haviam apoiado Natel na convenção anterior sequer
compareceram, refletindo assim a desarticulação de sua corrente. No dia 1º de
setembro de 1978 Maluf e Marin foram eleitos de forma indireta respectivamente
governador e vice-governador de São Paulo.
Nas eleições de 15 de novembro de 1978, a Arena foi fragorosamente derrotada pelo MDB, que ampliou a maioria que já tinha na Assembléia
Legislativa e reelegeu o senador Franco Montoro. O grupo de candidatos apoiado
por Natel sofreu nova derrota; dos chamados laudistas históricos, apenas Diogo
Nomura e Salvador Julianelli conseguiram a reeleição para a Câmara Federal. O
antigo líder da Arena na Assembléia Legislativa, Agnaldo de Carvalho, também
alinhado com Natel, não se reelegeu.
Em janeiro de 1979 Geisel revogou o AI-5 e em 15 de março do
mesmo ano assumiu a presidência da República o general João Batista Figueiredo,
que se comprometeu a prosseguir no processo de abertura política iniciado por
seu antecessor. Nesse mesmo dia Maluf assumiu o governo de São Paulo. Pouco
mais de cinco meses depois, em 28 de agosto, foi aprovado pelo Congresso o
projeto de anistia política enviado pelo governo.
Diante
da iminência da reforma partidária, que extinguiria o bipartidarismo, e das
dificuldades que enfrentava na Arena paulista devido ao fortalecimento da
liderança de Maluf, Natel ensaiou alguns passos no sentido da formação de um
novo partido. Nesse sentido, fez contatos com Ademar de Barros Filho e com
outros políticos paulistas e fluminenses, no sentido da criação de uma nova
agremiação, semelhante ao antigo PSP, e para a qual sugeriu o nome de Partido
Democrata Progressista. Manteve também contatos com José de Magalhães Pinto e
Olavo Setúbal, discutindo a formação de um partido independente do governo
federal, com características cristãs, desenvolvimentistas e liberais. Em
entrevista à imprensa em outubro de 1979, declarou-se contrário à formação de
um único partido para abrigar todas as tendências arenistas, afirmando ainda
ser favorável à existência de quatro ou cinco partidos no cenário político
nacional.
Aprovada
a reforma partidária pelo Congresso em 21 de novembro de 1979 e extinto o
bipartidarismo, Natel acabou por se filiar, entretanto, ao partido que sucedeu
à Arena, o Partido Democrático Social (PDS). Na ocasião, referindo-se ao PDS,
declarou que o governo contava com enormes vantagens para formar um grande
partido, “porque os pequenos e os médios municípios, que constituem a grande maioria,
são adesistas quase que por necessidade”.
Em
janeiro de 1981 admitiu publicamente que pretendia ser o candidato do PDS ao
governo do estado nas eleições diretas que se realizariam em novembro do ano
seguinte. Até a convenção regional do partido, que em 6 de junho de 1982
definiria seu candidato, Natel manteve-se sempre numa posição de total
antagonismo ao governador Paulo Maluf, chegando mesmo a afirmar que não admitia
qualquer aproximação com ele, não só pelo seu procedimento na convenção em que foi
escolhido candidato a governador, mas também por discordar do trato que ele
dava ao dinheiro público. Maluf contra-atacou, dizendo que não podia aceitar a
candidatura de Natel que, em sua opinião, não passava de um menino de recados
do Planalto. O clima que precedeu a disputa na convenção tornou-se mais tenso
com as declarações de Natel de que, caso fosse derrotado, poderia vir a apoiar
outro candidato, mesmo que da oposição. Diante da ameaça de divisão no PDS
paulista, Figueiredo chamou a Brasília os dois postulantes à legenda, Natel e
Reinaldo de Barros, ex-prefeito de São Paulo, sobrinho de Ademar de Barros e
apoiado por Maluf, para reiterar de viva voz seu empenho no sentido de que
vencedor e vencido se unissem, depois da definição do candidato, em benefício
do partido. Realizada a convenção, houve uma esmagadora vitória de Reinaldo de
Barros, que obteve 721 votos (77,2%) contra 131 (18,15%) dados a Natel. Para
senador, Ademar de Barros Filho, integrante da chapa de Reinaldo de Barros, foi
o vitorioso, seguido pelo empresário José Papa Júnior e pelo ex-deputado e
radialista José Blota Júnior, enquanto o candidato que integrava a chapa de
Natel, Jacob Salvador Zveibil, obteve apenas 16 votos.
No início de 1984, fez parte do grupo dissidente do PDS que
tentou levar o nome do vice-presidente Aureliano Chaves a disputar, na
convenção do partido, a indicação para concorrer à presidência da República em
janeiro de 1985 por escolha do Colégio Eleitoral. A campanha pró-Aureliano
reuniu, em fevereiro, na casa do ex-prefeito Olavo Setúbal, além de Natel, os
ex-governadores Paulo Egídio Martins, Abreu Sodré e Carvalho Pinto, além do
empresário Antônio Ermírio de Morais. O nome de Aureliano, contudo, não chegou
à convenção do partido, realizada em agosto e disputada apenas por Maluf e pelo
ministro do Interior, Mário Andreazza. Com a vitória de Maluf, Natel deixou o
partido.
Em princípios de 1985, filiou-se ao Partido da Frente Liberal
(PFL), agremiação fundada naquela ocasião e que reunia a maioria dos
dissidentes do PDS que se opuseram a Maluf na sucessão presidencial. Pensando
em disputar por este partido o governo de São Paulo no pleito de novembro de
1986, no início desse ano, ao avaliar sua posição junto às bases com vistas à
disputa com o chanceler Olavo Setúbal pela indicação do PFL, admitiu apoiar a
candidatura de seu concorrente caso este vencesse na convenção. O PFL, contudo,
decidiu não lançar candidato próprio e apoiar a candidatura de Paulo Maluf
(PDS), o que levou Natel a trabalhar abertamente em prol da candidatura do
empresário Antônio Ermírio de Morais, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
No apoio a Ermírio, Natel foi novamente acompanhado por Olavo Setúbal e Abreu
Sodré, entre outras lideranças pefelistas.
Sem ter disputado nenhum cargo eletivo
pelo PFL, desligou-se do partido no final de maio de 1996. Justificou sua saída
por discordar da direção regional do partido que, dias depois, mais uma vez
descartou a possibilidade de apresentar candidato próprio às eleições
municipais de outubro, preferindo indicar o deputado federal Régis de Oliveira
para integrar, como candidato a vice-prefeito, a chapa encabeçada por Celso
Pitta, do Partido Progressista Brasileiro (PPB), afilhado político de Paulo
Maluf, então prefeito de São Paulo e antigo desafeto de Natel. Retirando-se da
política, permaneceu com suas atividades no setor privado, exercendo o cargo de
diretor da Sul América Seguros, até o ano de 2000 e, desta data em diante,
atuou como assessor da diretoria do Banco Bradesco.
Foi homenageado como “Economista do
ano” em 1974 pela Ordem dos Economistas.
Casou-se com Maria Zilda Natel, com quem teve dois filhos.
Jorge
Miguel Mayer/Elizabeth
Dezouzart
FONTES:
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(4 e 20/11/76, 4/4 e 6/10/77, 15/1, 11/2, 3, 5, 6 e 14/6 e 24/7/78, 10/5, 13/6
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PRÊMIO ECON. DO ANO. Disponível em : <http://www.economistadoano.org.br/economista1974.html>.
Acesso em : 05 jan. 2009; SAMPAIO, R. Ademar;
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FILHO, L. Governo;
Who’s who in Brazil.