PASSOS,
Sezefredo dos
*militar; min. Guerra 1926-1930.
Nestor Sezefredo dos Passos
nasceu em Desterro, hoje Florianópolis, no dia 29 de fevereiro de 1872, filho
de José Filipe dos Passos e de Maria Vicência dos Passos.
Sentou praça em 1888, matriculando-se no curso preparatório
anexo à então Escola Militar da Corte. Em 1890, sua matrícula foi transferida
para o primeiro ano do curso geral da Escola Tática e de Tiro de Rio Pardo
(RS). Em 1891, foi incluído no 6º Regimento de Cavalaria, em Santa Vitória do
Palmar (RS). Por ter-se envolvido na Revolução Federalista, iniciada em 1893 no
Rio Grande do Sul, nesse mesmo ano foi desligado do Exército.
Transferiu-se
então para Porto Alegre, onde se empregou no comércio e deu aulas. Beneficiado
pela anistia de outubro de 1895, voltou ao Exército no posto de alferes-aluno.
Foi servir no 36º Batalhão de Infantaria, aquartelado em Florianópolis, em cuja
imprensa colaborou, escrevendo em O Estado. Voltou à Escola Militar em 1899.
Recebeu o grau de bacharel em matemática e ciências físicas em 1902, ano em que
obteve promoção para segundo-tenente. Em 1903, passou a primeiro-tenente.
Nesse posto, tomou parte, em Mato Grosso, das lutas que se
travaram entre os “legalistas” de Generoso Pais Leme de Sousa Ponce e a
oposição “nacional”. Esta, desgostosa de haver perdido as eleições para a
Assembléia Constituinte do estado, aliou-se a um grupo de militares, depôs as
autoridades locais e obrigou o presidente do estado, Manuel José Murtinho, a
renunciar.
Sezefredo
dos Passos participou também da construção de linhas telegráficas efetuada pela
Missão Rondon, que percorreu o estado de Mato Grosso. Em 1904 serviu em Corumbá
(MT) e, em 1905, dirigiu a construção do ramal do forte de Coimbra (MT), o qual
também comandou. Em 1906, atuou em operações de guerra em Cuiabá, na mesma luta
entre legalistas e nacionais, que se vinha estendendo desde 1892. Foi promovido
a capitão em 1907.
Em
1909, foi classificado na 10ª Companha Isolada de Infantaria, em São Paulo.
Desempenhou, interinamente, as funções de chefe do estado-maior da 10ª Inspeção
Permanente. Ainda nesse ano, representou no Sul do país os interesses do
Ministério da Marinha. Em 1910, seguiu para Santos (SP) a fim de proteger o
porto e a fortaleza de Itaipus contra possíveis ataques dos navios
participantes da Revolta da Chibata, sublevação de marinheiros comandada por
João Cândido.
Em 1911, em Manaus, voltou a fazer parte da comissão de
linhas telegráficas encarregada do trecho Mato Grosso-Amazonas. Servindo em
Santa Catarina em 1912, atuou em Campos Novos na luta contra os rebeldes do
Contestado, movimento popular de caráter messiânico. Em 1914, ano em que foi
promovido a major, combateu os revoltosos em Taquaruçu e Caraguatá (SC) e, em
1915, lutou no reduto de Santa Maria (SC).
Transferido
em 1916 para o 2º Regimento de Infantaria, na cidade do Rio de Janeiro, então
Distrito Federal, ali comandou o 5º Batalhão. Em 1917 foi promovido a
tenente-coronel, servindo depois no gabinete do general Alberto Cardoso de
Aguiar, ministro da Guerra. Em 1919, recebeu a patente de coronel. Foi
transferido para o Rio Grande do Sul em 1920 e, em 1921, matriculou-se no curso
de revisão de estado-maior. Em 1922, exerceu o comando da Escola Militar do
Estado-Maior.
Em
julho de 1922, estava no comando do 1º Regimento de Infantaria, aquartelado na
Vila Militar, no Distrito Federal, quando ali ocorreu o levante dos tenentes,
articulado com as rebeliões do forte de Copacabana e da Escola Militar do
Realengo. Os sediciosos protestavam contra o fechamento do Clube Militar e a
prisão do marechal Hermes da Fonseca, no primeiro movimento do ciclo de
revoltas armadas que marcou a década de 1920 no país.
No dia 4 de julho de 1922, véspera da data marcada para a
sublevação, o coronel Sezefredo dos Passos recebeu ordem de prender, na estação
da Vila, os oficiais suspeitos das articulações. Na madrugada do dia 5,
surpreendeu no cassino da Vila Militar o tenente Frederico Cristiano Buys, que
estava organizando os revoltosos. Estes foram presos, depois que Sezefredo dos
Passos mandou cercar o local. O coronel contribuiu, assim, para dominar o
levante, que ficou limitado à Escola Militar e ao forte de Copacabana, tendo
sido sufocado no mesmo dia. Em agosto de 1922, foi promovido a
general-de-brigada.
Em
1924, comandando uma unidade de combate, participou da luta contra os rebeldes
de São Paulo, que, em levante irrompido a 5 de julho, pretendia depor o
presidente Artur Bernardes. Esse movimento desdobrou-se em duas fases.
Na primeira, os revolucionários ocuparam a capital e algumas cidades de São
Paulo; na segunda, os sediciosos paulistas, retirando-se para o interior,
uniram-se aos gaúchos para formar a Coluna Prestes, que ao longo de 12 meses percorreu
o interior do Brasil.
Em
março de 1925, Sezefredo dos Passos, com o general Cândido Mariano da Silva
Rondon, dirigiu as operações de guerra contra esses revoltosos, que haviam
assumido o controle da situação no oeste do Paraná. Ocupando uma vasta região
que ia de Guaíra a Foz do Iguaçu, os revolucionários deram início à Campanha do
Paraná, “uma das mais violentas de que há memória nos fastos militares do
Brasil”, segundo Lourenço Moreira Lima em seu livro A Coluna Prestes. Os
soldados do governo constituíam um corpo de cerca de 12 mil homens, composto
das melhores tropas do país e munido de todos os recursos necessários à
campanha. No entanto, apesar de sua grande superioridade, o corpo legalista foi
rechaçado por algum tempo, até a chegada de reforços, quando as tropas
governamentais forçaram a queda de Catanduvas, principal reduto revolucionário.
Em
1926 Sezefredo dos Passos foi promovido a general-de-divisão, tendo feito parte
da Comissão de Promoções do Exército. Com a ascensão de Washington Luís à
presidência da República, foi designado ministro da Guerra, assumindo a pasta
em 15 de novembro de 1926.
Durante sua gestão, foi promulgada (1927) a Lei nº 1.569, que
criava a arma de aviação do Exército, dando impulso definitivo ao uso militar
da aviação no Brasil. Na oportunidade, adquiriu-se copioso material para essa
arma e ampliou-se o Campo dos Afonsos (Rio). Foi criada, ainda, a Escola de
Educação Física do Exército.
Como ministro da Guerra, Sezefredo dos Passos recusou-se a
fornecer armas a João Pessoa, presidente da Paraíba, para debelar a luta armada
que havia irrompido em Princesa, hoje Princesa Isabel (PB), em 9 de junho de
1930. João Pessoa havia sido candidato à vice-presidência da República na chapa
da Aliança Liberal, liderada por Getúlio Vargas, e os aliancistas acusavam o
governo federal de ter fomentado a rebelião de Princesa.
Com
a Revolução de outubro de 1930 e a deposição de Washington Luís, deixou o
ministério, foi reformado (27/11/1930) e, depois, exilado, radicando-se em
Portugal. Em outubro de 1932, foi um dos brasileiros que acolheram, no cais de
Lisboa, os revolucionários de 1932, exilados pelo governo. Depois de vários
anos, regressou ao Brasil e recolheu-se à vida privada.
Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de outubro de 1941.
Robert Pechman
FONTES: ARQ.
GETÚLIO VARGAS; CABRAL, O. História; CONSULT, MAGALHÃES, B.; COUTINHO, L.
General; Encic. Mirador; FERREIRA FILHO, A. História; Grande encic. Delta;
JAMUNDÁ, T. Catarinenses; Jornal do Comércio, Rio (19/9/41); SILVA, H. 1922;
SILVA, H. 1932; SILVA, Z. Perfis; TIAGO, A. História; WANDERLEY, N. História.