* empresário e jornalista
Otávio Frias de Oliveira nasceu
no Rio de Janeiro no dia 5 de agosto de 1912. Penúltimo dos nove filhos de Luís
Torres de Oliveira e de Elvira Frias de Oliveira, seu pai foi juiz de direito
da cidade de Queluz, interior do estado de São Paulo. A família paterna possuía
raízes políticas no Rio de Janeiro. Seu avô Luís Plínio de Oliveira participou
da construção dos Arcos da Lapa, adutora que trazia água do bairro de Santa
Teresa para o centro da cidade, hoje um dos cartões postais da capital
fluminense.
Em 1918, com a licença de seu pai da
magistratura e a mudança da família para a cidade de Jundiaí (SP), cursou o
Colégio São Luís, mantido por padres jesuítas. Em 1927, aos 15 anos, devido a
dificuldades financeiras enfrentadas pela família, deixou o colégio e começou a
trabalhar. Seu primeiro emprego foi na Companhia de Gás de São Paulo, onde
trabalhou como office-boy e mecanógrafo. Em 1930, convidado a exercer um
posto junto à Secretária da Fazenda do Estado de São Paulo, organizou a
confecção mecânica dos tributos estaduais.
Em 1932, alistou-se nas tropas da
Revolução Constitucionalista, permanecendo por dois meses em Cunha, na região
do Vale do Paraíba.
Sua vida profissional oscilou entre as
atividades empresariais e a estabilidade do serviço público, prezada por seu
pai. A partir de 1940, tornou-se diretor do Departamento Estadual do Serviço
Público, respondendo pela diretoria de contabilidade e planejamento. Três anos
mais tarde, na condição de acionista-fundador, participou do estabelecimento do
Banco Nacional Imobiliário (BNI), dirigido por Orozimbo Roxo Loureiro, onde
exerceu o cargo de diretor da carteira imobiliária. Nessa função, lançou o
programa de condomínios a preço de custo, que possibilitou a construção de
prédios como o da Copan e a Galeria Califórnia, projetos de Oscar Niemeyer,
como também o Teatro Maria Della Costa.
Na condição de diretor do banco, viajou
várias vezes para os Estados Unidos, tomando contato com a cultura e o
empresariado norte-americanos. Deixou o BNI em junho de 1954, seis meses antes
do banco ter sido comprado pelo Bradesco, quando entrou em processo de
liquidação.
Em 1953, fundou a empresa Transaco -
Transações Comerciais, uma das primeiras firmas especializadas na venda de ações
diretamente ao público. Por conta dessa atividade, traduziu para o português o
livro Do fracasso ao sucesso na arte de vender, de Frank Bettger, em
1956, e organizou, entre 1955 e 1958, cursos de vendas para equipes de até
quinhentos vendedores, empreendimento inédito no país na época. Nesse período,
a empresa Transaco prestou serviços ao jornal carioca Tribuna da Imprensa,
de Carlos Lacerda e à Folha da Manhã, de José Nabantino Ramos.
Associou-se ao empresário Carlos
Caldeira Filho para juntos construírem a Estação Rodoviária de São Paulo, em
1961, e em 13 de agosto do ano seguinte adquiriram a Folha de São Paulo,
de propriedade de José Nabantino Ramos.
Frias e Caldeira, presidente e
superintendente da empresa, dedicaram-se no primeiro momento a recuperar
financeiramente o jornal. Contrataram para dirigir a redação o cientista José
Reis, um dos criadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC). A reestruturação da Folha ficou a cargo do jornalista Cláudio
Abramo, que havia saído do O Estado de São Paulo. Convidado, em fins de
1965, por Otávio Frias de Oliveira, Abramo foi primeiramente trabalhar na
empresa Transaco, que realizava corretagem de ações e análises diárias para o
jornal. Mais tarde, Frias o colocou dentro do jornal como chefe de produção, e
em 1967, Abramo tornou-se secretário-geral da Folha.
No final dos anos 1960, os sócios Frias
e Caldeira chegaram a organizar o embrião de uma rede de televisão congregada à
TV Excelsior de São Paulo, adquirindo, em 1967, outras três emissoras no Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Dois anos depois, abandonaram o
projeto. Nessa mesma época, investiram na modernização industrial da Folha
de São Paulo, com a compra de novos equipamentos nos Estados Unidos. A
partir de 1968, o jornal passou a ser o primeiro na América Latina a ser
impresso em off-set.
No período de 1969 a 1972, o jornal foi submetido à censura imposta pelo regime militar.
Durante os preparativos
para a posse do general Ernesto Geisel como presidente da República, em 15 de
março de 1974, Otávio Frias foi convidado pelo general Golberi do Couto e Silva
para ir ao Rio conversar. Nessa conversa, Golberi delineou os rumos que seriam
dados ao país pelo novo governo, mostrou a necessidade de uma abertura
política, e que era conveniente para a concretização deste objetivo que
houvesse em São Paulo mais de um jornal forte, em termos de peso de opinião
pública. Entretanto, segundo Otávio Frias Filho, apesar do encorajamento para
que a Folha de São Paulo se tornasse um jornal importante no estado, não
houve, da parte do governo, nenhum outro tipo de apoio.
Em 1974, Boris Casoy,
recém-contratado como editor de política do jornal, tornou-se editor-chefe da Folha.
Um ano depois, Abramo retornou à direção do órgão e reformulou a página 3, com
a colaboração de intelectuais e jornalistas como Paulo Francis, Newton
Rodrigues e Alberto Dines, dando início a uma mudança ainda discreta do jornal.
Essas alterações só começariam a se efetivar em 1976, quando Abramo retornou à
direção efetiva da redação juntamente com Otávio Frias de Oliveira e Otávio
Frias Filho.
Recém-nomeado diretor de
redação, Cláudio Abramo iniciou uma série de mudanças no jornal, como uma
grande reforma gráfica que mudou bastante o aspecto plástico, visual da Folha
e introduziu uma sessão denominada “Tendências em debate”. Ao deixar o
jornal, Abramo foi substituído por Rui Lopes.
Em 1977, Casoy retornou ao
jornal e passou a escrever uma coluna sobre os bastidores políticos intitulada
“Painel”. Em setembro desse ano, Abramo foi novamente afastado da direção de
redação por imposição do ministro do Exército, general Sílvio Frota, em um
episódio que envolveu o jornalista da Folha Lourenço Diaféria, que
escrevera uma crônica considerada pelos militares ofensiva à memória de Duque
de Caxias. No dia seguinte à prisão de Diaféria, o general Hugo Abreu, chefe da
Casa Militar do presidente Ernesto Geisel, ligou para o jornal e Frias pediu
que Abramo se demitisse, tendo sido então substituído por Boris Casoy.
Acerca desse episódio, Otávio
Frias Filho escreveu, em 1996, uma versão que o associava a uma “crise
provocada por uma tentativa de golpe militar contra o presidente Ernesto
Geisel”.
Em meados dos anos 1980, Frias começou
a transferir a operação executiva do jornal para seus filhos Luís e Otávio,
respectivamente nas funções de presidente e editor do Grupo Folha, sem,
contudo, afastar-se da orientação e do dia-a-dia do órgão. Em 1984, Boris Casoy
deixou o cargo de diretor de redação e voltou a escrever a coluna “Painel”,
sendo substituído por Otávio Frias Filho.
Sócios durante 30 anos, Frias e
Caldeira desfizeram a sociedade em 1991, cabendo ao primeiro a empresa de
comunicações e ao segundo os demais negócios e imóveis em comum.
Faleceu em São Paulo no dia 29 de abril de 2007.
Casou-se em primeiras
núpcias com Zuleika Lara de Oliveira, em 1948. Ficou viúvo em 1954 e dois anos
depois casou-se com Dagmar de Arruda Camargo, com quem teve três filhos,
Otávio, Maria Cristina e Luís.
Sobre o biografado foi
publicado A trajetória de Octavio Frias de Oliveira (2006).
Beatriz
Kushnir
Fontes: CURRIC. BIOG.; ENTREV. Otávio Frias Filho.