LIMA,
Flecha de
*diplomata;
emb. Bras. Inglaterra 1990-1993; emb. Bras. EUA 1993-1999; emb. Bras. Itália
1999-2001.
Paulo Tarso Flecha de Lima
nasceu em Belo Horizonte no dia 8 de julho de 1933, filho de Sebastião Dayrell
de Lima e de Maria de Lurdes Flecha de Lima.
Após
concluir os estudos básicos em sua cidade natal, obteve o bacharelato em
ciências jurídicas e sociais pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro
(1955), e entrou, por concurso direto, para a carreira diplomática. Foi nomeado
cônsul de terceira classe em junho de 1955 e fez, a seguir, o curso de
aperfeiçoamento de diplomatas do Instituto Rio Branco. Integrou a delegação às
solenidades de posse do presidente do Brasil e, como oficial do Gabinete Civil,
a equipe do presidente Juscelino Kubitschek até 1959. Tomou parte na I
Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena
(Áustria), em 1957, e nas solenidades de posse do presidente do México, no ano
seguinte.
Promovido a segundo-secretário por merecimento, em 1959, foi
removido para Roma (Itália) em 1961, servindo na embaixada junto ao Quirinal
até 1962, ano em que exerceu as funções de encarregado de negócios e de
representante-suplente à XXXI Sessão do Comitê de Produtos de Base da
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Em Montevidéu
(Uruguai), serviu de 1962 a 1964 como segundo-secretário na embaixada junto à
Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), na qual exerceria as
funções de encarregado de negócios em 1963, 1965 e 1966. Foi promovido a
primeiro-secretário por merecimento em outubro de 1964 e continuou em
Montevidéu até 1966. Nesse período, foi representante suplente junto à ALALC
(1964-1966) e participou de numerosas reuniões e conferências em Montevidéu e
Buenos Aires (Argentina).
De
volta à Secretaria de Estado das Relações Exteriores, dirigiu a Divisão
Latino-Americana de Livre Comércio (Dalalc) de 1966 a 1968, tendo recebido, em fevereiro de 1967, o título de conselheiro. Nas funções de chefe da
Dalalc, tomou parte em diversas reuniões internacionais, entre as quais a
reunião de chanceleres dos países da bacia do Prata em Buenos Aires (1967), a V Reunião Anual do Conselho Interamericano Econômico e Social em Viña
del Mar (Chile) e o IV Período de Sessões Extraordinárias da Conferência das
Partes Contratantes do Tratado de Montevidéu. Ainda em 1967, coordenou a
reunião do conselho de ministros da ALALC em Assunção (Paraguai) e participou
da III Reunião da Comissão Especial Brasil-Argentina de Coordenação (CEBAC),
bem como da I Reunião do Grupo sobre Implicações Financeiras da Integração
Econômica Latino-Americana, ambas no Rio de Janeiro.
Indicado
subchefe do grupo técnico exploratório do Brasil para conversações comerciais
com a Venezuela (1967), tomou parte na sessão brasileira da Comissão Mista
Brasil-Chile (1968), nas reuniões da CEBAC em Buenos Aires (1967-1968) e no Rio de Janeiro (1968) e, como coordenador, no VII Período de
Sessões Ordinárias da Conferência da ALALC em Montevidéu (1968). Removido para
Nova Iorque em 1969, chefiou, como cônsul-adjunto, o Setor de Promoção
Comercial (Secom) do consulado geral da cidade até 1971. Nesse período, foi
também subchefe das conversações sobre exportação de têxteis brasileiros para
os Estados Unidos.
De
volta ao Brasil, foi nomeado, em 1971, chefe do Departamento de Promoção
Comercial da Secretaria de Estado das Relações Exteriores. Encarregado do
comércio internacional do Brasil nos 13 anos seguintes, dedicou-se com sucesso
a remodelar, modernizar e expandir os serviços de apoio a essa atividade no
exterior. Nesse período (1971-1984), chefiou, entre outras missões, a delegação
do Brasil a Bagdá para dar cumprimento ao disposto no acordo sobre cooperação
comercial, assinado com o governo do Iraque em maio de 1971. Em 1972, integrou
a comitiva do ministro das Relações Exteriores, Mário Gibson Barbosa, em viagem
a países da costa oeste da África.
Em
1973 representou o Ministério das Relações Exteriores (MRE) no convênio de
prestação de assistência técnica para a modernização do sistema de informações
da pasta e no comissariado da Feira Brasileira de Exportação. No ano seguinte,
integrou a comitiva do ministro das Relações Exteriores, Antônio Azeredo da
Silveira, em viagem oficial ao Senegal. Membro da comitiva de Azeredo da Silveira
em viagem oficial à Costa do Marfim em 1975, participou, nesse mesmo ano, da
XXX Sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, e chefiou a missão preparatória à visita do ministro das Relações Exteriores do
Brasil ao Iraque. Também em 1975, integrou a comitiva do presidente, general
Ernesto Geisel, em visita oficial ao Uruguai. No ano seguinte, chefiou missão
comercial governamental a Angola e à seção brasileira da Comissão Econômica
Brasil-Canadá, em Ottawa (Canadá).
Promovido por merecimento a ministro de primeira classe em
abril de 1977, no mesmo ano chefiou a seção brasileira da Comissão Econômica
Mista Brasil-Kuweit, integrou a comitiva do ministro da Indústria e Comércio,
Ângelo Calmon de Sá, em viagem oficial ao Iraque e chefiou a seção brasileira
na reunião sobre investimentos privados Brasil-Portugal, em Lisboa, e as
missões comerciais ao Irã, à Venezuela e à Argélia, além de ter participado de
missão especial à Nigéria, da feira internacional de Bagdá (Iraque) e da
reunião de coordenação dos Secoms em Dallas (EUA). Em 1978, chefiou a seção
brasileira na reunião Brasil-Portugal sobre investimentos recíprocos, em
Lisboa, e integrou as comitivas do secretário-geral do MRE, embaixador Dario de
Castro Alves, em viagens oficiais ao Irã, Japão e Austrália, além de ter
participado da visita oficial do presidente Geisel à Alemanha Ocidental.
Subchefe da delegação brasileira à reunião da Comissão Mista Brasil-Iraque, em
Bagdá, em 1979, no mesmo ano chefiou missões comerciais à Argélia e a Malta.
Em
1980 participou da I Reunião da Comissão Mista Brasil-Nigéria em Lagos, chefiou
a missão comercial governamental à Arábia Saudita e desempenhou missão oficial
junto ao governo da Grécia, tendo ainda integrado a comitiva do ministro das
Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, em visita oficial aos países da
África Austral e participado do seminário da Organização dos Países Produtores
de Petróleo (Opep) em Viena. Em Lagos, participou da II Reunião da Comissão
Mista de Coordenação Brasil-Nigéria, em 1981, tendo no mesmo ano chefiado
missão comercial aos países da Associação das Nações do Sudeste Asiático
(Asean). Também em 1981, integrou a comitiva do presidente, general João
Batista de Figueiredo, em suas visitas a Portugal, França, Colômbia, Equador,
Alemanha Ocidental e Peru.
Embaixador, em missão especial, para negociações econômicas
junto ao governo do Iraque em 1982, nesse mesmo ano foi subchefe da delegação
brasileira à III Reunião da Comissão Mista Brasil-Iraque e integrou a comitiva
da visita presidencial aos Estados Unidos e ao Canadá e a missão comercial
governamental ao Egito. No ano seguinte, foi chefe da missão preparatória à
visita presidencial ao México, das missões comerciais à Argentina e ao
Paraguai, da delegação brasileira às conversações econômicas junto ao governo
da França, em Paris, da missão preparatória à visita presidencial à Nigéria e
da delegação do Brasil à reunião do Comitê Conjunto ad hoc sobre
Questões Comerciais em Bagdá, além de ter integrado a comitiva da visita do
presidente Figueiredo à África. Em 1984, foi nomeado subsecretário-geral para
Assuntos Econômicos e Comerciais do MRE.
No
ano seguinte, atingiu o cargo mais alto da carreira diplomática como
secretário-geral das Relações Exteriores, tendo sido, nesse mesmo ano, assessor
especial para a coordenação da viagem ao exterior do presidente eleito Tancredo
Neves. À frente da Secretaria Geral do Itamarati, coordenou a adesão do Brasil
aos Pactos de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos e Sociais das
Nações Unidas e ao Pacto de São José — principais instrumentos jurídicos
internacionais e interamericanos de proteção aos direitos humanos —, bem como
às Convenções contra a Tortura da ONU e da Organização dos Estados Americanos.
Também durante sua gestão, foi criado o Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais. Em várias ocasiões, assumiu interinamente o Ministério das
Relações Exteriores. Embaixador em missão especial nos EUA para assuntos
econômicos e comerciais bilaterais em 1986, foi a seguir nomeado representante
especial do governo brasileiro para negociações comerciais.
Em
1990, foi nomeado embaixador do Brasil em Londres, em substituição a Celso
Antônio de Sousa Silva. Em 1991, durante a Guerra do Golfo, tendo em vista sua
familiaridade com o Iraque e sua capacidade de negociação, chefiou uma missão
diplomática a Bagdá que conseguiu a liberação de centenas de trabalhadores
brasileiros retidos no país. Também no mesmo ano, foi designado pelo Itamarati
para acompanhar o herdeiro do trono britânico, príncipe Charles, e a princesa
de Gales, lady Diana — de quem sua esposa tornou-se grande amiga —,
durante a primeira visita do casal ao Brasil. Deixou a embaixada em Londres em
novembro de 1993, para assumir o cargo de embaixador nos Estados Unidos em
sucessão a Rubens Ricupero, sendo substituído na capital inglesa por Rubens
Barbosa.
Em dezembro de 1994, liderou a participação do Brasil na
Cúpula das Américas, em Miami (EUA), encontro em que foi aprovado um plano de
ação com vistas à eliminação das barreiras alfandegárias entre os países do
continente e à criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que,
embora prevista para ser instalada até 2005, não se concretizou.
Uma
das principais polêmicas que enfrentou como embaixador em Washington foram as
críticas à questão dos direitos humanos no Brasil. Em janeiro de 1995, num
artigo para o jornal Folha de S. Paulo, acusou a Anistia Internacional e
outras organizações não-governamentais de “desonestidade intelectual” e “má-fé”
pela publicação de três relatórios responsabilizando as autoridades brasileiras
por práticas de torturas contra crianças, homossexuais e prostitutas e outras
violências verificadas no país. Seu artigo provocou uma reação imediata de
intelectuais e especialistas dos direitos humanos, num debate que se estendeu
por vários dias.
Em
agosto de 1995, Flecha Ribeiro sofreu uma hemorragia cerebral. Retornou ao
trabalho em outubro, após duas cirurgias. As relações comerciais Brasil-Estados
Unidos foram uma de suas prioridades em Washington. Contra as informações de possíveis conflitos nessa área, procurou sempre
ressaltar a “convergência estrutural” entre os dois países, baseada — segundo
afirmou em várias ocasiões — na opção pelo livre-mercado e no respeito aos direitos
humanos e à democracia.
Não
obstante as declarações oficiais, o relacionamento com os norte-americanos
enfrentou alguns percalços durante sua gestão. O principal deles foi a pressão
dos Estados Unidos para a aprovação de uma Lei de Propriedade Industrial pelo
Congresso brasileiro. Favorável à adoção de uma legislação específica para o
setor, como forma de garantir a continuidade dos investimentos externos, Flecha
de Lima conseguiu evitar a adoção de sanções comerciais contra o Brasil durante
todo o período em que se estendeu a polêmica. Para além dos acordos de
cooperação estabelecidos com os norte-americanos, criticou em várias
oportunidades a política protecionista dos EUA em setores importantes para a
economia brasileira, notadamente o agropecuário e o siderúrgico. Também a data
prevista para a criação da ALCA foi objeto de divergências entre os dois
países, tendo o Brasil liderado a resistência às pressões americanas para a
aceleração do processo.
Deixou a embaixada de Washington em junho de 1999, assumindo
em seguida a de Roma. Foi sucedido nos Estados Unidos novamente pelo embaixador
Rubens Barbosa. Em outubro do mesmo ano foi designado para chefiar,
cumulativamente, a embaixada na Albânia. Permaneceu na embaixada da Itália até
o fim de 2001, quando foi substituído por Angelo Andrea Matarazzo. Este foi seu
último posto como diplomata.
Mesmo aposentado, Flecha de Lima continua acompanhando a
política internacional e concedendo sua análise sobre os acontecimentos na
ordem global. Além disso, ele integra um escritório de consultoria em Brasília. Em entrevista a Isto é Dinheiro, em 05/04/2003, ressaltou sua preocupação em
entender como será o mundo depois da guerra do Iraque e afirmou que o
mundo só poderia ser reconstruído depois que o presidente americano à época,
George W. Bush, deixasse o poder. Para Flecha de Lima, o sistema político
internacional, estruturado em torno da ONU, é o principal afetado pela guerra.
O unilateralismo do presidente George W. Bush estaria destruindo a ONU. Com
relação ao Brasil, entende que “é péssimo para nós o colapso do sistema
multilateral. Esse sistema é uma proteção que dilui nossas fraquezas ao obrigar
as grandes nações a respeitar as regras do jogo. No momento em que os
americanos quebram as regras, prevalece a lei do mais forte. E não somos nós.”
Casou-se com Lúcia Martins
Flecha de Lima, com quem teve cinco filhos.
Publicou
o livro Caminhos diplomáticos (1997), reunindo artigos, entrevistas e
discursos.
Sílvia
Escorel/Luís Otávio de Sousa
FONTES:
CURRIC. BIOG.; Agência Senado (01/10/2009); Isto é Dinheiro
Entrevista (05/04/2003); Folha de S. Paulo (26/2, 3 e 18/12/94, 9, 10,
11, 14, 15, 19, 21, 25 e 26/1, 15/2, 17, 18 e 21/4, 9/5, 26/8, 9, 14 e 27/9 e
4/10/95, 1/3, 13 e 21/10/96, 17/2, 19/8, 4, 14, 15 e 21/10/97, 13/5 e 15/12/98
e 14/6/99, 24/10/01); Jornal do Brasil (13 e 21/9/90 e 6/10/93); MIN.
REL. EXT. Anuário (1983).