QUEIRÓS,
Ademar de
*militar; rev. 1924; pres. Petrobras 1964-1966; min.
Exérc. 1966-1967.
Ademar de Queirós nasceu
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 22 de novembro de 1899, filho
de Salatiel de Queirós e de Maria Leite de Castro Queirós. Seu pai era oficial
do Exército e professor do Colégio Militar. Sua mãe era irmã do general José
Fernandes Leite de Castro, ministro da Guerra de 1930 a 1932.
Iniciou a carreira militar em 1917, ingressando na Escola
Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, da qual saiu aspirante-a-oficial de
artilharia em 1921, arma que viria a deixar depois, passando à infantaria. Foi
promovido a segundo-tenente em maio de 1921 e a primeiro-tenente em setembro do
ano seguinte.
Participou
em São Paulo da Revolta de 5 de Julho de 1924, chamada de Segundo 5 de Julho
porque dava continuidade ao movimento de 5 de julho de 1922, que iniciara o
ciclo de revoltas tenentistas da década de 1920. O movimento de 1924, que
irrompeu em Sergipe, no Amazonas e em São Paulo, foi dominado com rapidez nos dois primeiros estados, enquanto em São Paulo os rebeldes, comandados por Isidoro Dias Lopes, ocuparam a capital por três semanas, deslocando-se em
seguida para o interior. No ano seguinte esse grupo reuniu-se no oeste do
Paraná com o contingente revolucionário que sublevara, também em outubro de
1924, unidades militares no Rio Grande do Sul, constituindo dessa forma a
Coluna Prestes.
Em
1929 Ademar de Queirós concluiu o curso de aperfeiçoamento de oficiais e
matriculou-se em seguida no curso de informações, ambos da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais da Vila Militar, no Rio de Janeiro. Em maio de 1932
foi promovido a capitão. Em 1934 serviu no 4º Regimento de Artilharia Montada,
em Itu (SP), e integrou a Comissão de Estudos para a Indústria Militar
Brasileira na Europa.
Foi promovido a major em 1940 e a tenente-coronel em junho de
1943. Em dezembro desse último ano acompanhou a comitiva do general João
Batista Mascarenhas de Morais que visitou frentes de combate e estabeleceu
contato com os Aliados na Itália e no norte da África. Em setembro de 1944
embarcou mais uma vez para a Europa na comitiva do ministro da Guerra, Eurico
Gaspar Dutra. Seu objetivo era ingressar na Força Expedicionária Brasileira
(FEB) que, no entanto, estava com seus quadros completos. Permanecendo na
Europa, acabou por ser incorporado à FEB como membro do estado-maior da
Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária. Participou
do ataque a Monte Castelo como um dos assessores do general Mascarenhas de
Morais, integrando o posto de comando avançado de C. Gadelle. Em julho de 1948
foi promovido a coronel.
No
governo do presidente Getúlio Vargas (1951-1954), João Goulart — nomeado
ministro do Trabalho em junho de 1953 — encaminhou ao presidente um projeto de
aumento do salário mínimo em 100%. Em fevereiro de 1954 Ademar de Queirós foi
um dos 82 tenentes-coronéis e coronéis que assinaram um manifesto contra a alta
do custo de vida, a inflação, os baixos salários dos militares e a precariedade
de equipamentos e instalações nos quartéis e órgãos ligados ao Ministério da
Guerra. O projetado aumento do salário mínimo era apontado como um fator que
aumentaria a desigualdade salarial entre militares e civis, além de acelerar a
inflação. O documento ficou retido nas mãos do ministro da Guerra, general Ciro
do Espírito Santo Cardoso, até o dia 17 do mesmo mês, quando passou às mãos de
Vargas. Vinte e quatro horas depois, João Goulart e Ciro do Espírito Santo
Cardoso foram exonerados dos respectivos ministérios. No dia 1º de maio,
entretanto, o presidente decretou o aumento tal como proposto por Goulart,
reconhecendo assim as perdas salariais sofridas pelos trabalhadores nos anos
anteriores. Em julho de 1954 Ademar de Queirós foi promovido a
general-de-brigada e assumia o comando da 6ª Divisão de Infantaria.
No governo do presidente Carlos Luz, no auge da crise
político-militar decorrente da forte oposição à posse dos eleitos em outubro
para a presidência e a vice-presidência da República, Juscelino Kubitschek e
João Goulart, respectivamente, o general Henrique Teixeira Lott, ministro da
Guerra, pediu demissão (10/11/1951). Fora articulada sua substituição pelo
general Adir Fiúza de Castro que, no mesmo dia 10, convidou Ademar de Queirós —
também contrário à posse dos eleitos — para a chefia do seu gabinete. Esses
planos não se concretizaram uma vez que, na madrugada do dia 11, o general
Lott, que permanecera no cargo, e Odílio Denis — comandante da Zona Militar
Leste, sediada no Rio de Janeiro — desfecharam o golpe militar que acarretou o
impedimento de Carlos Luz pelo Congresso. A presidência da República foi
assumida pelo vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, que governou até a posse
de Juscelino Kubitschek (31/3/1956).
Em
1958 Ademar de Queirós foi comandante da 9ª Região Militar (9ª RM), com sede em Campo Grande, então no estado de Mato Grosso e hoje capital de Mato Grosso do Sul. Em maio de
1961 foi promovido a general-de-divisão e passou a comandar a 1ª Divisão de
Infantaria, no Rio de Janeiro. Nesse posto, em agosto do mesmo ano, procurou o
governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, para com ele discutir sobre
a reação a ser tomada ante a iniciativa do presidente Jânio Quadros de
condecorar o líder revolucionário cubano Ernesto “Che” Guevara. Com a renúncia
de Jânio Quadros no dia 25 desse mês, gerou-se grave crise político-militar
decorrente do veto dos ministros militares — almirante Sílvio Heck, da Marinha,
brigadeiro Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica, e marechal Denis, da Guerra — à
posse do vice-presidente João Goulart. A crise foi contornada com a
instauração, pelo Congresso, do regime parlamentarista, e João Goulart assumiu
a presidência da República no dia 7 de setembro. A partir de então a
conspiração difundiu-se e organizou-se. O primeiro grupo, que se reunia na casa
do ministro da Guerra, era integrado pelos ministros da Marinha e da
Aeronáutica, o brigadeiro Eduardo Gomes, os generais Osvaldo Cordeiro de Farias
e Nélson de Melo, Francisco Campos e Antônio Náder. Mais tarde juntaram-se ao
grupo os generais Humberto Castelo Branco, Orlando Geisel, José Pinheiro de
Ulhoa Cintra, Golberi do Couto e Silva, Artur da Costa e Silva e Ademar de
Queirós. Este, ainda em 1963, dirigiu a Artilharia de Costa e Antiaérea até o
mês de novembro, quando foi transferido para a reserva como marechal.
A
partir de 1º de abril de 1964, com a deposição do presidente João Goulart pelo
movimento político-militar de 31 de março, o Brasil passou a ser governado pelo
autodenominado Comando Supremo da Revolução, integrado pelo general Costa e
Silva, o almirante Augusto Rademaker e o brigadeiro Francisco de Assis Correia
de Melo. Em reuniões entre os principais chefes militares e alguns governadores
— Carlos Lacerda, da Guanabara, Ademar de Barros, de São Paulo, José de
Magalhães Pinto, de Minas Gerais, Ildo Meneghetti, do Rio Grande do Sul, e
Mauro Borges, de Goiás — foi escolhido o nome do marechal Humberto Castelo
Branco para a presidência da República. Apresentado ao Congresso, esse nome foi
aprovado, para o que contribuíram articulações promovidas pelos generais
Cordeiro de Farias, Nélson de Melo, Golberi do Couto e Silva, Orlando e Ernesto
Geisel e Ademar de Queirós — amigo pessoal do escolhido — com o apoio do Clube
Militar e do Clube Naval. No dia 7 de abril, a uma semana da posse de Castelo
Branco, Ademar de Queirós foi nomeado presidente da Petrobras, em substituição
ao marechal Osvino Ferreira Alves.
No
início de 1965, começaram as discussões sobre a questão do monopólio estatal na
implantação da indústria petroquímica no país. O grupo executivo da indústria
química Geiquim, integrado por Juvenal Osório Gomes, Paulo Belotti, Paulo Ribeiro e Francisco Melo Franco, redigiu um documento sugerindo ao governo, embora sem
precisar os termos da proposta, o monopólio estatal da petroquímica, projeto
que tinha como principais opositores os ministros da Fazenda, do Planejamento e
de Minas e Energia, respectivamente Otávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos e
Mauro Thibau. A comissão do Conselho Nacional do Petróleo, constituída por José
Batista Pereira, Paulo Ribeiro, Ivo Ribeiro, Paulo Figueiredo e Kurt Politzer,
adotou resolução assegurando “na implantação e no desenvolvimento da indústria
petroquímica a liberdade de participação, tanto da iniciativa privada quanto da
iniciativa estatal”. Antes de ratificar o projeto, o presidente Castelo Branco
ouviu a palavra final do Conselho de Segurança Nacional, após as
reuniões de uma comissão parlamentar de inquérito, do Conselho Nacional do
Petróleo e da comissão especial nomeada pelo governo. Na ocasião, foi estudada
a desapropriação das refinarias particulares de petróleo, medida decretada pelo
ex-presidente João Goulart em 13 de março de 1964. Acompanhando o voto do
ministro da Viação Juarez Távora, o presidente manifestou-se contra a
desapropriação que foi logo revogada. Em 9 de julho de 1965, Castelo Branco
assinou o decreto que regularia a exploração da petroquímica, endossando a
participação conjunta da iniciativa privada nacional e estrangeira e do Estado.
A Petrobras, sob a chefia de Ademar de Queirós, participaria
da organização e do financiamento do novo programa petroquímico para atender ao
Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), reservando-se os lucros de
subprodutos privativos de seu monopólio. Esse projeto abriu caminho para a
criação da Petroquisa, já no governo do presidente Artur da Costa e Silva.
Após
a edição do Ato Institucional nº 2 (27/10/1965), que instituiu eleições
indiretas para a presidência da República, eliminando dessa forma as aspirações
de alguns políticos descontentes com a política econômica do governo, Ademar de
Queirós teve seu nome cogitado, entre outros, pelo próprio Castelo Branco, para
substituto na presidência da República. O escolhido, todavia, foi Costa e
Silva, único candidato viável naquele momento por seu papel de mediador entre a
facção mais intransigente e a mais liberal das forças armadas.
Em julho de 1966 Ademar de Queirós passou a presidência da
Petrobras a Irnack Carvalho do Amaral e assumiu o Ministério da Guerra, cujo
titular, Costa e Silva, se afastara para tornar-se elegível à presidência da
República. Com a posse do novo presidente em 15 de março de 1967, foi
substituído na pasta da Guerra pelo general Aurélio de Lira Tavares.
Dedicando-se a partir de então às atividades empresariais, dirigiu a Bakal,
empresa ligada à indústria petroquímica, com sede nos Estados Unidos. A partir
de fevereiro de 1970 passou a integrar o Conselho de Administração da
Petrobras.
Na carreira militar, cursou a Escola de Estado-Maior do
Exército, na qual foi também instrutor, e a Escola Superior de Guerra (ESG).
Comandou o Regimento de Infantaria, no Rio de Janeiro, e a 2ª Brigada Mista, em
Corumbá (MS). Foi adido militar do Brasil em Washington, membro da Junta
Interamericana de Defesa, subcomandante da Academia Militar das Agulhas Negras
e subchefe do Exército no Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA).
Afastado
da vida pública, trabalhou em grupos privados do setor de petroquímica, tais
como a Oxigênio S.A. Indústria e Comércio e a Oxigênio Nordeste S.A. Indústria
e Comércio, além de permanecer integrado ao conselho de administração da
Petrobras até a morte.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 26 de junho de 1984.
Era casado com Carivaldina Nogueira de Queirós, com quem teve
um filho.
FONTES: BRAYNER, F.
Verdade; CACHAPUZ, P. Cronologia; CONSULT. MAGALHÃES, B.;
CORRESP. PETROBRAS; Encic. Mirador; CURRIC. BIOG. FICHÁRIO PESQ.
M. AMORIM; FIECHTER, G. Regime; Folha de S. Paulo (27 e 28/6/84);
Grande encic. Delta; Jornal do Brasil (27/6 e 1/7/84); MIN. GUERRA.
Almanaque (1934 e 1938); MIN. GUERRA. Subsídios; MORAIS, A. Introdução,
SILVA, H. 1964; VIANA FILHO, L. Governo; VÍTOR, M. Cinco.