LARA
RESENDE, André
* pres. BNDES 1998.
André Pinheiro de Lara Resende
nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1951, filho do
jornalista e escritor Oto
Lara Resende e de Helena Pinheiro Guimarães. Seu avô materno, Israel
Pinheiro, foi revolucionário de 1930, constituinte de 1946, deputado federal
por Minas Gerais entre 1946 e 1956, prefeito do Distrito Federal de 1960 a 1961, e governador de Minas Gerais de 1966-1971. Seu tio materno, Israel Pinheiro Filho, foi
deputado federal por Minas Gerais entre 1967 e 1971.
Formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 1973, fez o mestrado em economia na Escola
de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro,
concluindo o curso em 1975. Posteriormente, em 1979, obteve o título de Phd em economia pelo Massachusetts Institute of Technology, nos
Estados Unidos.
De volta ao Brasil, ainda em 1979 passou a lecionar no
Departamento de Economia da PUC-Rio, instituição à qual ficaria ligado até
1988. Paralelamente às suas atividades docentes, em 1980 tornou-se sócio e
diretor administrativo do Banco de Investimentos Garantia, aí permanecendo até
1985. De 1984 a 1985, foi também diretor externo da Companhia Ferro Brasileiro,
cargo que voltaria a ocupar entre 1987 e 1990.
Nos primeiros anos da década de 1980, juntamente com o
seu colega de graduação na PUC-Rio, Pérsio Arida, interveio na discussão do
processo de transição do regime militar para a democracia, em um momento em que
ganhava espaço a proposta de pacto social do governador de Minas Gerais,
Tancredo Neves, que viria a ser o candidato da oposição à presidência da
República, por eleições indiretas, na suecessão do general João Batista
Figueiredo. Preocupado com a superação da crise econômico-financeira que o país
atravessava, divulgou, em conjunto com Arida, ideias que viriam a configurar o
eixo do artigo “Inertial inflation and monetary reform in Brazil”, publicado
pelos dois economistas em 1985 na coletânea organizada por J. Williamson, Inflation
and indexation: Argentina, Brazil and Israel (Boston, MIT Press).
Indo contra a tradição liberal-monetarista, Lara
Resende e Arida explicavam a crise como resultado de uma inflação de tipo inercial.
Nessa perspectiva, os êxitos obtidos no combate à inflação eram neutralizados
por uma “memória inflacionária” responsável pela incorporação, quando da
revisão dos contratos, das taxas mais elevadas observadas no período anterior.
Para sustar esse ciclo, eles conceberam um plano, conhecido por “Larida”, que
previa a adoção de uma moeda indexada — a OTN (Obrigação do Tesouro Nacional)
—, que circularia em paralelo ao cruzeiro e, por ser uma moeda forte, acabaria
se sobrepondo à moeda oficial, eliminando-se, assim, o fator de propagação
inflacionária. A indexação total da economia conduziria, portanto, à sua
desindexação definitiva
Integrante
do Conselho de Administração do Banco Central em 1985 e 1986, respondendo pelas
questões relativas à dívida pública e ao mercado aberto, André Lara Resende foi
um dos responsáveis – ao lado de Arida, Edmar Bacha, e dos
ministros do Planejamento, João Sayad, e da
Fazenda, Dilson
Funaro, entre outros – pela elaboração do Plano Cruzado, durante
o governo do presidente José Sarney
(1985-1990). Esse plano de estabilização econômica
anunciado por Sarney em 28 de
fevereiro de 1986, inspirava-se
na tese de Lara Resende e Arida da inflação inercial, combinada à proposta de “choque
heterodoxo”, de autoria do economista Francisco Lopes. Sua meta principal era interromper
um processo inflacionário galopante, que havia atingido, naquele mês, a taxa
anual de 250%. O plano previa a criação de um novo
padrão monetário, o cruzado, de valor mil vezes maior que o do cruzeiro, então
abolido, a extinção da correção monetária, a estabilização cambial e o
congelamento de preços e salários. Inicialmente bem-sucedido, uma vez que os
índices inflacionários caíram consideravelmente, o Plano Cruzado acabou se
convertendo, no final daquele ano, numa tentativa fracassada de combater a
inflação, devido ao recrudescimento da alta de preços.
Saindo da área de governo, André Lara Resende retornou
à iniciativa privada, voltando a atuar como diretor do Banco Garantia em 1987 e
1988. Ainda em 1987, foi contratado como diretor externo das Lojas Americanas,
função que desempenhou até 1989. Nesse ano, tornou-se diretor executivo do Brasil
Warrant Administração de Bens e Empresas, holding do grupo Moreira
Salles. Membro do conselho diretor e vice-presidente executivo da União de
Bancos Brasileiros - UNIBANCO, integrante do grupo Moreira Salles, de 1989 a 1993, integrou a partir de 1990 o conselho consultivo do The Capital Group, sediada em Los Angeles, Estados Unidos. Ocuparia esse assento até 1997.
De volta ao setor público, foi negociador-chefe da
dívida externa em 1993, no governo do presidente Itamar Franco (1992-1994).
Nesse mesmo ano, juntamente com Luís Carlos Mendonça de Barros e mais três
sócios, foi um dos fundadores do Banco Matrix, do qual se tornou sócio-diretor.
Atuando basicamente nos mercados de renda fixa e câmbio, e na administração de
recursos de terceiros, inclusive do exterior, para aplicação no Brasil, o
Matrix viria a ser, em 1995, o banco de maior rentabilidade do país. Em março
desse ano, o Matrix seria acusado de ter obtido informações privilegiadas sobre
mudanças na política cambial.
Com a
posse de Fernando Henrique Cardoso, eleito pelo Partido da Social Democracia
Brasileira (PDSB), na presidência da República em 1º de janeiro de 1995, Lara
Resende afastou-se do Banco Matrix para assumir o cargo de assessor especial da
Presidência. Ainda em 1995, foi um dos integrantes da equipe econômica que implementou
o Plano Real, programa
de estabilização da economia brasileira posto em prática, de forma gradativa, a
partir do último ano do governo de Itamar Franco. Anunciado em 28 de fevereiro
de 1994, o plano consistiu, inicialmente, na introdução da URV (Unidade
Referencial de Valor) como padrão de transição dos preços para uma nova moeda,
o real, que passaria a vigorar em 1º de julho seguinte.
Em abril
de 1998, assumiu a
presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em
substituição a Luís Carlos Mendonça de Barros, seu sócio no Banco Matrix, que
fora designado para ocupar a pasta das Comunicações. Permaneceu apenas sete
meses no cargo. Em novembro de 1998
foi obrigado a renunciar à presidência do BNDES devido a denúncias, que também
derrubaram Luís Carlos Mendonça de Barros da chefia do ministério. Foi substituído por José Pio Borges
de Castro Filho.
André
Lara Resende e Mendonça de Barros foram acusados de ter privilegiado o consórcio
capitaneado pelo Opportunity Asset Management Ltda. –
empresa de administração de recursos financeiros sediada no
Rio de Janeiro, e que tinha como sócio-diretor
um velho amigo de Lara Resende, o economista Pérsio Arida, – na aquisição do
controle acionário da holding Tele Centro Sul em um dos leilões de privatização do Sistema
Telebrás,
em julho de 1998. As acusações foram
baseadas em trechos de conversas telefônicas
grampeadas clandestinamente. Foram também arrolados José Pio Borges e
o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações Anatel, Renato
Guerreiro. Com base nessas conversas, a
Procuradoria Geral da República determinou a abertura de inquérito, a fim de
investigar uma possível pressão de Mendonça de Barros junto a fundos
de pensão, como a Previ e a Funcef, e seguradoras ligadas ao Banco do Brasil a
investirem no consórcio Telemar. No mesmo processo, o BNDES foi acusado de
emprestar ilegalmente quase R$500 milhões a empresas que se associaram no
consórcio que arrematou a Tele Norte Leste (ex-Telemar e atual Oi) consórcio
Telemar – a construtora Andrade Gutierrez, a Macal Investimento e Participações
e a Inepar Indústria e Construções.
Lara Resende e Mendonça de Barros foram indiciados pelo
Ministério Público, sob a acusação de improbidade administrativa e Arida deixou
a direção do Opportunity. Em outubro de 1999, o Tribunal de Contas da União
(TCU), em investigação paralela, absolveu os acusados e determinou o
arquivamento do caso. O processo, no entanto, continuaria tramitando na Justiça
Federal.
Dando
continuidade às suas atividades na iniciativa privada, sobretudo como
consultor, André Lara Resende foi membro do Conselho Consultivo das Faculdades
IBMEC, de 2000 a 2006, consultor de investimentos e membro do Conselho dos
Fundos de Investimentos da Clarita Investiments Inc., de 2001 a 2007, e membro do Conselho de Adminsitração da Gerdau S. A. e da Metalúrgica Gerdau S. A., a
partir de 2002. Nesse período, foi também pesquisador visitante da St. Antony’s
College, da Universidade de Oxford, na Inglaterra entre 2002 e 2003. Em agosto
de 2006, recebeu o prêmio de “Economista do Ano” pela Ordem dos Economistas do
Brasil.
Membro
do Conselho Consultivo da Fundação Israel Pinheiro (FIP), mais recentemente
tornou-se sócio-diretor da Lanx Capital Investimentos, membro do Conselho de
Administração da RB Capital, a partir de 2008, e membro associado do Instituto
de Estudos de Política Econômica – Casa das Garças, instituição criada em 2003
e que reúne economistas e pesquisadores ligados ao PSDB.
Em
março de 2009, a Justiça Federal absolveu André Lara Resende e Luís Carlos
Mendonça de Barros da acusação de terem conduzido ilegalmente a privatização do
Sistema Telebrás. O Ministério Público, autor da ação, anunciou que vai
recorrer. A decisão se baseou em parecer do TCU, que comprovou não ter havido favorecimento.
Em
agosto, André Lara Resende passou a integrar o Conselho Consultivo
Internacional do Itaú Unibanco, presidido por Pedro Malan, ex-ministro da
Fazenda dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Casou-se
com a fotógrafa Cláudia Jaguaribe, filha do sociólogo Hélio Jaguaribe.
Fontes: O Globo (14/3/2009);
unioncapital.com.uy/dsc/ItauUnibancoformaConsejoConsultiv;
blogdomello.blogspot.com/2006/08/luis-nassif-e-o-brasil-de-andr-lara... ; www.terra.com.br/istoegente/07/diversaoearte/book_fotos.htm www.israelpinheiro.org.br/boletim/boletim_2008_06.pdf - 5484k