RESENDE,
Palimércio de
* militar; rev. 1932.
Palimércio de Resende nasceu
no Rio Grande do Sul no dia 13 de dezembro de 1880, filho de Afonso Zulmiro
Resende.
Ingressou
na carreira militar sentando praça em 1896. No ano seguinte matriculou-se na
Escola de Tática e de Tiro de Rio Pardo, transferindo-se depois para a Escola
Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde fez
os cursos de engenharia militar e de ciências físicas e matemáticas.
Aspirante-a-alferes em 1901, foi promovido a segundo-tenente
em 1907, a primeiro-tenente em 1911 e a capitão em 1917. Em 1921 serviu na 13ª
Companhia de Metralhadoras, em Niterói, na 4ª Seção do Estado-Maior do Exército
(EME), no Rio de Janeiro, e na 10ª Companhia de Metralhadoras, em Juiz de Fora
(MG), tendo ainda feito o curso de revisão da Escola de Estado-Maior (EEM). No
ano seguinte, tornou-se chefe da 3ª seção do estado-maior da Direção de Etapas,
assumindo depois as funções de oficial-de-gabinete do ministro da Guerra,
general Fernando Setembrino de Carvalho (1922-1926).
Foi
promovido a major em 1923, a tenente-coronel em 1926 e a coronel em 1928, ano
em que assumiu a chefia do estado-maior da 2ª Região Militar (2ª RM), sediada
em São Paulo. Servia nesse estado quando eclodiu a Revolução de 1930 em 3 de
outubro, tendo combatido os revoltosos no norte do Paraná até a vitória do
movimento. Embora derrotado, chegou a ocupar a chefia da Casa Militar do
governo paulista de 24 a 28 de outubro, durante a curta administração do
general Hastínfilo de Moura, que foi logo substituído em virtude de suas
ligações com o governo deposto.
Participou
ativamente das articulações que precederam a Revolução Constitucionalista de
1932 em São Paulo. Esse movimento teve como antecedentes a nomeação do
“tenente” João Alberto Lins de Barros como interventor no estado logo após a
vitória da Revolução de 1930, o que significou a marginalização do segmento da
oligarquia política local que havia participado do movimento, em especial o
Partido Democrático (PD). Esse processo, acirrado progressivamente ao longo de
1931-1932, foi marcado pela oposição entre as correntes políticas tradicionais
do estado, de um lado, e as forças tenentistas e o governo federal, do outro.
Estando
no Rio de Janeiro em 1932 após a oficialização da Frente Única Paulista (FUP),
Palimércio de Resende tornou-se um estreito colaborador do coronel Euclides
Figueiredo na organização dos planos para o levante armado. Em junho de 1932 os
revolucionários paulistas estabeleceram o comando do levante, ficando o coronel
Euclides como chefe do estado-maior do general Isidoro Dias Lopes, chefe-geral
da revolução. Isidoro, por sua vez, ofereceu o comando das forças constitucionalistas
depois da deflagração da luta ao general Bertoldo Klinger, comandante da
Circunscrição Militar de Mato Grosso. O início da luta estava previsto para o
dia 15 de julho. Entretanto, Klinger precipitou os acontecimentos ao dirigir um
ofício ao general Augusto Inácio do Espírito Santo Cardoso, novo ministro da
Guerra, posicionando-se contra sua posse. Os coronéis Palimércio e Euclides, no
Rio de Janeiro, contataram o portador do ofício antes que ele fosse entregue ao
ministro. Após a leitura do documento, decidiram enviar o portador de volta a
São Paulo, de onde este comunicaria a Klinger o que lhe tinham exposto para
tentar demover o general de sua intenção de desencadear imediatamente o
movimento. Klinger, porém. já havia enviado o ofício a todos os comandos de
regiões e, inflexível, ordenou ao portador que o entregasse ao ministro
Cardoso.
Considerando
inevitável a eclosão do movimento, no dia 8 de julho o coronel Euclides
convocou uma reunião no Rio de Janeiro, na qual se decidiu, após muitas discussões,
que por medida de segurança, ele retornaria de carro naquele mesmo dia a São
Paulo, enquanto o coronel Palimércio tomaria o mesmo rumo de trem. Palimércio,
entretanto, viajou para São Paulo apenas no dia seguinte, por ter-se
encarregado de comunicar às pessoas comprometidas com o movimento o que estava
por acontecer. Chegou a São Paulo no dia 9 de julho e assumiu a chefia do
estado-maior do quartel-general revolucionário, comandado por Euclides. O plano
do levante que ajudara o coronel Euclides a elaborar juntamente com alguns
civis dois meses antes, previa com detalhes, o ataque ao quartel-general da 2ª
RM, às principais unidades militares e meios de comunicação e transportes,
assim como ao palácio do governo e ao Hospital Militar do Cambuci. Previa ainda
a expansão do movimento para o vale do Paraíba, Santos e Mojimirim, a
mobilização da aviação civil e dos transportes disponíveis na capital, a
organização de batalhões revolucionários e o levante nos municípios do interior
do estado. No momento de sua execução, porém, o plano teve que sofrer algumas
alterações.
Palimércio apoiou o coronel Euclides acompanhando-o quando
este ordenou que o 3º Batalhão de Caçadores do 6º Regimento de Infantaria
marchasse contra o quartel-general da 2ª RM depois de esgotado o prazo dado ao
comandante interino para que informasse de sua posição diante do movimento
revolucionário. Essa ordem de Euclides foi uma das alterações dos planos
originais impostas pelas circunstâncias.
Com
o início da revolta no dia 9 de julho, o interventor Pedro de Toledo resolveu
entregar o governo paulista ao secretário de Justiça do estado, Valdemar
Ferreira. O coronel Euclides, consultado sobre a conveniência de se criar uma
junta de governo revolucionária com membros dos dois partidos paulistas e
chefiada por um militar, decidiu com o apoio de Palimércio, de Isidoro e do
coronel Júlio Marcondes Salgado, comandante da Força Pública local, manter
Pedro de Toledo no governo para não ameaçar a unidade partidária alcançada.
Toledo telegrafou então no dia seguinte ao chefe do Governo Provisório Getúlio
Vargas, renunciando à interventoria e sendo de imediato aclamado governador do
estado.
No dia 12 de julho, Euclides passou a Klinger o comando da 2ª
RM na presença de Isidoro e de Palimércio, que expôs ao novo comandante o
panorama da revolução naquele momento e as providências que ainda pretendiam
tomar, logo aprovadas por Klinger. Este propôs que fossem enviadas a Minas
Gerais e ao Rio de Janeiro delegações com representantes de diversos setores inclusive
intelectuais, que levariam para os outros estados a mensagem paulista. Quanto
às tropas que prometera a Euclides, afirmou que eram dispensáveis. Palimércio
partiu com Euclides no mesmo dia para o vale do Paraíba, baseando o
estado-maior revolucionário em Aparecida do Norte (SP).
O avanço das tropas legalistas nos meses de julho, agosto e
setembro derrotando seguidamente os constitucionalistas, gerou grande
intranqüilidade entre os militares paulistas, começando a ser discutida a
hipótese do armistício. No final de setembro, Palimércio acompanhou Euclides a
Taubaté (SP) para se encontrarem com o coronel Herculano de Carvalho e Silva,
comandante da Força Pública do estado. Lá ficaram sabendo que tropas
revolucionárias em Campinas (SP) ameaçavam abandonar seus postos se os chefes
rebeldes não se comprometessem a entrar em entendimentos com o governo federal
visando a pôr fim à luta. Essa posição, endossada pelo coronel
Herculano, foi combatida por Euclides, que defendeu a resistência para manter
uma melhor posição militar e a dignidade perante a população paulista.
Palimércio defendeu a viabilidade da resistência pelo setor norte e propôs uma
consulta a Klinger e ao governo estadual antes que qualquer decisão fosse
tomada. Euclides concordou e enviou uma carta a Klinger convocando-o para uma
reunião.
No
dia 28 de setembro Palimércio reuniu-se em Aparecida com os comandantes dos
três subsetores revolucionários, que garantiram manter suas posições. Nesse
mesmo dia recebeu telegrama de Klinger informando que iria propor o armistício
ao governo federal e solicitando a Euclides que enviasse um representante às
linhas inimigas para iniciar conversações com esse objetivo. Euclides respondeu
contrariamente, afirmando que tanto ele quanto seus oficiais superiores só
poderiam tomar qualquer medida nesse sentido após consultar o governo estadual
e os comandantes de setores.
Palimércio
e Euclides viajaram para São Paulo ainda no dia 28 a fim de se encontrar com
Klinger. Este afirmou que o telegrama sobre o armistício era do conhecimento do
governo do estado e que estava esperando apenas a assinatura de Pedro de Toledo
para apresentar o pedido. Concordou, porém, em não fazê-lo nas estações locais
e em modificar seus termos, assim como em atuar junto a Herculano de Carvalho
para que este não enviasse representantes às tropas adversárias. Euclides
entrou então em contato com Herculano, tentando demovê-lo de sua intenção, mas
este alegou que era impossível interromper os contatos. Realizou-se então uma
reunião com políticos e militares, entre eles Palimércio e Euclides, na qual
foi exposta a posição dos oficiais da Força Pública de não mais combaterem e a
do alto comando que, diante desse fato, decidira pelo armistício. Durante a
reunião, Pedro de Toledo recebeu um telefonema do quartel-general
revolucionário informando que Klinger esperava apenas sua assinatura no
telegrama da rendição, que seria enviado naquela noite. Quando o governador
pediu a Klinger que esperasse por uma decisão até o dia seguinte, este ameaçou
demitir-se do comando constitucionalista. Palimércio e Euclides sugeriram então
que o telegrama fosse enviado somente como nome de Klinger, o que foi aceito na
reunião. Tomaram-se diversas outras decisões visando à continuidade da luta e
contando já com a possível defecção de Klinger.
Palimércio
e Euclides retornaram aos seus comandos para prosseguir a resistência. Mas
começaram a ocorrer defecções em suas tropas. Temendo não conseguir resistir
por muito tempo aos ataques das tropas federais, Euclides organizou uma coluna
que, de trem, alcançaria Mato Grosso para continuar a resistência junto com os
constitucionalistas locais, esperando um possível apoio do Rio Grande do Sul.
No dia 2 de outubro, Palimércio passou por São Paulo, rumo a Três Lagoas (MS),
então no estado de Mato Grosso, e foi informado que Klinger havia-se declarado
sem funções e pedido ao general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, comandante das
forças legais, que designasse seu destino e de seus oficiais. Góis teria
mandado concentrar as tropas em Três Lagoas e dado ordens ao comandante da
circunscrição militar de só acatar instruções suas. Diante disso, Palimércio
telegrafou ao comandante da circunscrição militar pedindo-lhe que enviasse um
emissário para informar sobre a atuação de Campo Grande, então no estado de
Mato Grosso e hoje capital de Mato Grosso do Sul. Porém, antes da chegada do
emissário, foi informado que a guarnição de Campo Grande se colocara ao lado
das forças legalistas, que o quartel-general havia sido bombardeado e que o
comandante da circunscrição deveria estar preso. Palimércio bateu então em
retirada para o Sul, comandando seus oficiais em busca da fronteira. Ainda no
dia 2 de outubro a revolta era definitivamente debelada e muitos dos seus
líderes e participantes, entre eles Palimércio, refugiaram-se no exílio.
De volta ao Brasil com a concessão da anistia pelo governo
federal em 1934, participou no início de 1935, juntamente com o coronel
Euclides Figueiredo, Bertoldo Klinger e João Neves da Fontoura, de uma
conspiração contra o governo Getúlio Vargas, que acabou não sendo deflagrada.
Faleceu em São Paulo no dia 1º de maio de 1939.
FONTES: ARAÚJO, A.
Chefes; ARQ. GETULIO VARGAS; CONSULT. MAGALHÃES, B.; FIGUEIREDO, E.
Contribuição; LEITE, A. História; SILVA, H. 1932.