RIBAS,
Manuel (interv. PR)
*interv. PR 1932-1935; gov. PR 1935-1937; interv. PR
1937-1945.
Manuel Ribas nasceu
em Ponta Grossa (PR) no dia 8 de março de 1873.
Em 1902, radicou-se em Santa Maria (RS), onde começou sua
carreira política como prefeito do município. Nesse cargo, promoveu o
saneamento da cidade e dotou-a de abastecimento de água. Criou a Cooperativa
dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul que, em poucos anos,
tornou-se uma das principais empresas do estado, responsável pelo fornecimento
de grande número de mercadorias ao município e pela criação de escolas,
oficinas e um importante hospital.
Seu desempenho administrativo fez com que, em meados de 1931,
fosse lembrado para substituir o interventor federal no Paraná, general Mário
Alves Tourinho, cujo governo enfrentava crescente oposição, inclusive por parte
de forças que haviam apoiado a Revolução de 1930. Os opositores o acusavam de
pretender controlar a administração pública e perseguir a oposição. Diante
disso, Osvaldo Aranha, ministro da Justiça, e o general Pedro Aurélio de Góis
Monteiro, inspetor do 2º Grupo de Regiões Militares (que congregava os
contingentes do sul do país), começaram a articular a substituição de Tourinho.
No fim do ano, a escolha recaiu em Manuel Ribas, considerado
capaz de congregar todos os “elementos revolucionários e a população
paranaense”, sendo finalmente nomeado em 15 de janeiro de 1932 e empossado 16
dias depois. Ribas iniciou então um período de 13 anos a frente do governo
estadual, durante o qual tornou-se fundador (1933) e presidente honorário da
Partido Social Democrático (PSD) do Paraná, foi eleito governador pela
Assembléia Estadual Constituinte de 1935 (na qual o PSD detinha a maioria, com
20 representantes), e voltou a ocupar a interventoria durante o Estado Novo
(1937-1945).
Ao assumir, encontrou o estado em grandes dificuldades
econômico-financeiras, herdadas do período anterior à Revolução de 1930, e não
superadas por seu antecessor. As dívidas interna e externa eram consideráveis,
bem como o déficit orçamentário, o que acarretara, entre outros graves
problemas, o atraso de um ano no pagamento do funcionalismo público. A situação
tornou-se mais grave quando venceram as promissórias emitidas durante a gestão
de Mário Tourinho sem que o governo tivesse condições de resgatá-las, o que
provocou violenta crise no comércio.
Diante desse quadro, Ribas orientou sua administração para
promover gradativamente a reconstrução econômico-financeira do Paraná. Para
tal, realizou importantes obras no setor rodoviário, o que possibilitou uma
ligação mais rápida e eficaz entre os centros de produção e os de consumo, e um
aumento substancial da arrecadação do estado, sem qualquer elevação no valor
dos impostos, Depois de concluir — em 1934 — a restauração das estradas
existentes, Ribas passou a executar um plano visando facilitar o
escoamento da produção agrícola, que incluía a ampliação do porto de Paranaguá
e a construção de rodovias de ligação da capital e dos portos marítimos com as
principais regiões produtoras do estado. Daí resultou a construção da estrada
do Cerne, ligando Curitiba ao norte do estado, integrada com o Piraí do
Sul-Londrina e a Piraí do Sul-Ribeiro Claro.
Por outro lado, Ribas fomentou a produção de café, algodão e
trigo, principalmente através da distribuição de sementes selecionadas, e
incentivou a multiplicação do rebanho do estado, com a retomada da importação
de reprodutores e da organização de exposições de animais, atividades que, na
época, estavam em franca decadência. Quanto ao problema das doações de terras
devolutas do estado a particulares, ocorridas antes da revolução, Ribas manteve
a orientação seguida por seu antecessor, fazendo retornar aos poderes públicos
milhares de hectares, através da organização do cadastro territorial, que
originou protestos da oposição junto ao Governo Provisório. Ao mesmo tempo, a
administração estadual reiniciou e tomou para si a organização dos trabalhos de
colonização, rescindindo contratos anteriormente feitos com empresas privadas,
à exceção dos que estavam sob a responsabilidade da Companhia de Terras Norte
do Paraná e de Francisco Gutierrez Beltrão. Da iniciativa oficial resultaram,
entre outras, as colônias de Jataizinho, Içara (1941), Paranavaí (1942),
Jaguaritã (1943) e Centenário (1944).
Face
à rápida recuperação da economia paranaense, Manuel Ribas pôde manter os
compromissos assumidos pelo estado e atualizar o pagamento dos funcionários
públicos, além de implantar uma política de construção de escolas —
principalmente rurais e profissionais — e iniciar o projeto do Colégio Estadual
do Paraná, em Curitiba. Em virtude do grande número de colonos estrangeiros
existentes no estado — especialmente alemães e italianos — Manuel Ribas foi
obrigado a reforçar as medidas voltadas para a nacionalização do ensino
determinadas pelo governo federal logo após a implantação do Estado Novo, de
modo a diminuir a influência dos países do Eixo nessas áreas de colonização
estrangeira. Neste sentido, em janeiro de 1938 Ribas baixou decreto exigindo,
entre outras coisas, que os professores de história do Brasil, língua
portuguesa e geografia fossem brasileiros natos, que todas as aulas fossem
dadas em português e que nenhuma escola recebesse subvenção de organizações ou
governos estrangeiros. Esse decreto, bem como toda a legislação federal de
nacionalização do ensino, provocou forte resistência entre os colonos, cujas
escolas muitas vezes se tornaram clandestinas.
Em 1939, a arrecadação tributária do estado praticamente
triplicou em relação ao ano em que Ribas assumira a primeira interventoria,
permitindo a construção do Hospital das Crianças e da Penitenciária de
Piraquara. Entretanto, a partir de 1943 seu governo enfrentou uma oposição
crescente que, em documentos enviados ao ministro da Justiça, Osvaldo Aranha,
denunciava violências e abusos de autoridade praticados por diversos órgãos
oficiais, como a apropriação de terras. No final desse ano, chegou a ser
articulado — sem êxito — um movimento para a substituição de Ribas “em nome dos
revolucionários de 1930 e dos que combateram [a Revolução Constitucionalista]
em 1932”.
Organizador, no Paraná, do Partido Social Democrático, ocupou
a presidência do diretório regional e integrou o diretório nacional da
agremiação.
Manuel Ribas foi destituído da interventoria no dia 29 de
outubro de 1945, quando da deposição de Getúlio Vargas e o fim do Estado Novo.
Entretanto, só transferiu oficialmente o cargo ao juiz Clotário de Macedo Portugal
no dia 3 de novembro, passando a articular sua candidatura ao governo do estado
nas eleições de 1947.
Faleceu em Curitiba no início da campanha eleitoral, no dia
28 de janeiro de 1946.
Regina da Luz Moreira
FONTES: Álbum; ARQ.
OSVALDO ARANHA; CARNEIRO, D. Galeria de ontem; CORRESP. BIB. PÚBL. PR; DALBEY,
R. German; Grande encic. Delta; GUIMARÃES, H. Deputados; História do Paraná;
PEIXOTO, A. Getúlio; POPPINO, R. Federal.