GUSMÃO,
Roberto
*
pres. UNE 1947-1948; min. Ind. Com. 1985-1986.
Roberto
Herbster Gusmão nasceu em Belo Horizonte no dia 29 de maio
de 1924, filho de Prescilo Versiani Murta de Gusmão e de Maria Cristina
Herbster Gusmão.
Começou
a fazer política estudantil ainda em sua cidade natal, quando cursava direito
na Universidade de Minas Gerais, tornando-se presidente da União Estadual dos
Estudantes. No X Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1947, foi
eleito presidente da entidade, tomando posse no cargo no mesmo ano. Filiado ao
Partido Socialista Brasileiro (PSB), liderou no movimento universitário uma ala
de jovens intelectualizados da qual fazia parte, entre outros, o futuro
jornalista Fernando Pedreira. Durante sua gestão, a UNE entrou oficialmente na
campanha nacionalista do petróleo, promovendo vários comícios. Realizou ainda a
unificação das diversas facções de esquerda dentro da entidade, reunindo-as em
uma frente conhecida como “Grupão”. Deixou a presidência da UNE em 1948 ao
concluir o mandato, sendo substituído por Genival Barbosa Guimarães.
Ainda
em 1948 integrou a comissão diretora do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo
e da Economia Nacional (Cedpen). No ano seguinte, concluiu o curso de direito
da Universidade de Minas Gerais. Ainda em 1949, tornou-se membro do conselho
consultivo do Cedpen, permanecendo até o ano seguinte. Filiou-se ao Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1954, pertencendo ao grupo de Ivete Vargas e
Frota Moreira. Ainda naquele ano, foi um dos fundadores da Escola de
Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp) da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), onde lecionou direito trabalhista nos cursos de graduação e
pós-graduação. Em 1956, tornou-se chefe do departamento de ciências sociais da
Eaesp.
No
ano seguinte, fez o curso da Escola Superior de Guerra (ESG), patrocinado pela
Universidade de São Paulo (USP). Ainda em 1957, tornou-se delegado regional do
Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado de São Paulo
(Ipase) e no ano seguinte fez o curso de especialização em direito social e
sociologia industrial. Em 1959, por indicação do PTB, que participara da
coligação que elegeu Juscelino Kubitschek no pleito de outubro de 1955, foi
nomeado inspetor da Delegacia Regional do Trabalho em São Paulo. No exercício
dessa função, organizou o Conselho Sindical e cooperativas, além de promover
cursos em que lecionaram Nélson Werneck Sodré, Caio Prado Júnior, Paul Singer,
Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso, entre outros. Em 1960, fez o curso
de extensão universitária de economia e desenvolvimento econômico do Brasil. No
ano seguinte, foi encarregado pelo presidente Jânio Quadros de elaborar um
projeto, depois arquivado, de instalação de universidades populares no país.
No
pleito de outubro de 1963, disputou uma cadeira na Câmara Municipal de São
Paulo, pela legenda do PTB, mas não teve sucesso. Obteve, no entanto, a
primeira suplência. Chegou a exercer o mandato em 1965, na ausência do titular,
vereador Odon Pereira.
Tornou-se
membro do diretório estadual do PTB e, após a vitória do movimento
político-militar de 31 de março de 1964 que depôs o presidente João Goulart
(1961-1964), Gusmão foi cassado pelo Ato Institucional n°2
(27/10/1965), quando exercia o cargo de procurador da Justiça do Trabalho junto
ao Tribunal Regional do Trabalho, em São Paulo. Teve seus direitos políticos
suspensos e foi proibido de lecionar. Em março de 1966, foi um dos fundadores
do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), legenda de oposição ao regime
militar.
Afastando-se
da vida pública, participou de um escritório de planejamento e trabalhou para
uma pequena fábrica de cervejas, a Companhia Paulista de Cervejas, de Ribeirão
Preto (SP), da qual acabou tornando-se diretor. Posteriormente, com a venda
desta fábrica para o grupo Antártica, tornou-se, em 1971, diretor-presidente da
Cervejaria Antártica Niger S.A., em Ribeirão Preto.
Com
a extinção do bipartidarismo em novembro de 1979 e a subseqüente reformulação
partidária, filiou-se, em 1981, ao Partido Popular (PP), liderado por Tancredo
Neves, tornando-se segundo vice-presidente regional em São Paulo. Com a saída
de Olavo Setúbal, que presidia o PP de São Paulo, e do deputado Herbert Levy,
primeiro vice-presidente, que não concordavam com a proposta de incorporação ao
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), agremiação sucessora do
MDB, Gusmão assumiu a presidência do partido. Comandou as articulações para que
aquela iniciativa se concretizasse, o que acabou ocorrendo em fevereiro de
1982. No ano seguinte, tornou-se membro do conselho consultivo do Centro das
Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), onde permaneceria até 1985.
Em
março de 1983, assumiu a presidência do Banco de Desenvolvimento do Estado de
São Paulo (Badesp), nomeado pelo governador Franco Montoro, do PMDB, e
tornou-se membro do conselho de administração do Banco do Estado de São Paulo
S.A. (Banespa). Permaneceu nesses cargos até fevereiro do ano seguinte, quando
tornou-se chefe do Gabinete Civil do governo de São Paulo, em substituição ao
filho do governador, Eugênio Montoro. Por sua relação bem próxima com a família
Mesquita, proprietária do jornal O Estado de São Paulo e bastante
crítica do governador Montoro e de sua administração, enquanto esteve à frente
da Casa Civil cessaram os ataques.
Um
dos principais articuladores da candidatura presidencial vitoriosa de Tancredo
Neves no Colégio Eleitoral em janeiro de 1985, em março seguinte deixou a
chefia do Gabinete Civil do governo de São Paulo e assumiu o Ministério da
Indústria e do Comércio (MIC), em substituição a Murilo Badaró, último titular
da pasta do governo João Figueiredo. Nessa condição, tornou-se membro do
Conselho Monetário Nacional. Uma de suas primeiras e principais medidas no MIC
foi a realização de auditorias para investigar irregularidades no uso e
aplicação de recursos no Instituto Brasileiro do Café (IBC), no Instituto do
Açúcar e do Álcool (IAA), na Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) e no
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Como um dos principais
defensores, no governo da Nova República, da ampla redução da intervenção do
Estado na economia, principalmente com a privatização de empresas estatais,
propôs a reformulação ou extinção do IBC, do IAA e da Embratur, após a
divulgação das auditorias nesses órgãos. Elas revelaram graves irregularidades,
como má utilização e desvio de recursos e, no caso do IAA, grande
endividamento.
Não
sendo bem sucedido em sua tentativa de extinguir ou reformular as principais
autarquias de seu próprio ministério, “por pressões políticas de vários
setores”, deixou o cargo em fevereiro de 1986, como conseqüência de uma reforma
ministerial empreendida pelo presidente José Sarney (1985-1990), fazendo duras
críticas ao governo, principalmente à “centralização” do Ministério da
Fazenda. No mês seguinte desligou-se do PMDB, depois que o partido aprovou uma
moção de repúdio contra ele pelo apoio que expressara à candidatura de Antônio
Ermírio de Moraes ao governo do estado de São Paulo no pleito de novembro desse
ano, na legenda do PTB.
Filiando-se
a essa legenda trabalhista, em setembro de 1986 foi eleito primeiro
vice-presidente nacional do partido, mas, antes do pleito, afastou-se da
campanha de Antônio Ermírio de Moraes. Em dezembro seguinte tornou-se
presidente nacional do PTB. Em 1987, retirou-se da vida pública e retornou às
suas atividades na direção da Cervejaria Antártica Niger S.A.
Em
1995, tornou-se membro do conselho orientador político e social da Fiesp e do
conselho orientador da Fundação Antônio e Helena Zerrener, pertencente à
Companhia Antártica Paulista - IBBC, em São Paulo.
Foi membro também dos conselhos regionais do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(Senai) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), além de ter integrado o conselho
de administração da Caixa Econômica do Estado de São Paulo e do grupo de cervejarias Ambev.
Faleceu em Agosto de 2019, acometido por insuficiência respiratória.
Era casado com Ivna Tarsis d’Afonseca Gusmão, com quem teve quatro filhos.
/Marcelo Costa
FONTES:
CARVALHO, E. Petróleo; POERNER, A. Poder; Jornal da Tarde (15/9/79);
Estado de São Paulo (25/2 e 15/7/84, 13/3, 29/5, 5, 13, 26 e 31/7, 4, 6,
7, 8, 14, 15 e 22/8, 28/11 e 17/12/85, 4/2, 19/3 e 2/4/86); Folha de São
Paulo (29/2/84, 15/5, 25/6, 5, 6, 7, 9, 14, 18 e 19/8 e 14/9/85, 24/1, 4 e
9/2, 6 e 26/4, 22/9 e 15/11/86); Globo (12 e 19/3, 5/5, 31/7, 6, 8, 13,
14, 16 e 26/8 e 1/9/85, 4/2 e 18/12/86); INF. BIOG.; Jornal do Brasil
(26 e 28/2/84, 7, 16, 20 e 21/3, 19/5, 5 e 31/7, 4, 6, 7, 16, 20 e 22/8, 5/9 e
29/11/85, 16/1 e 4/2/86); Última Hora (17/6/60); Veja (7/10/87,
10/8/88).