SAMPAIO, Raimundo
*militar;
comte. Zona Mil. Sul 1946-1948.
Raimundo Sampaio nasceu
em Corumbá (MS), então no estado de Mato Grosso, no dia 3 de junho de 1884,
filho de Raimundo Jacinto Sampaio e de Francisca Dolores de Sampaio Ferrão.
Fez o primário e o ginásio no Colégio Militar do Rio de
Janeiro, então Distrito Federal, de 1892 a 1900, e sentou praça em março de 1901, ingressando na Escola Militar do Brasil, na mesma cidade, onde atingiu o
posto de alferes-aluno em fevereiro de 1903. Em novembro de 1904, a escola foi fechada devido a uma revolta em protesto contra a vacinação obrigatória, decretada
pelo presidente Rodrigues Alves (1902-1906). O movimento irrompido na Escola
Militar sob inspiração de políticos da oposição foi acompanhado, embora sem
vinculação direta, de uma rebelião popular com o mesmo objetivo, que eclodiu no
Rio de Janeiro também em novembro.
Em dezembro de 1904, Raimundo Sampaio passou a servir no 5º
Regimento de Cavalaria (5º RC), com sede em Castro (PR). De abril a agosto de
1905 prestou os exames que deixara de fazer no ano anterior devido ao
fechamento da Escola Militar e, aprovado, foi transferido para o 6º Batalhão de
Artilharia de Posição. Matriculou-se no curso de engenharia militar e
estado-maior da Escola de Artilharia e Engenharia em abril de 1906, sendo
promovido a segundo-tenente da arma de cavalaria em janeiro de 1907.
Diplomou-se em engenharia civil e bacharelou-se em matemática e ciências
físicas pela Escola de Artilharia e Engenharia em fevereiro de 1908, passando a
estagiar na Direção Geral de Engenharia, onde tornou-se auxiliar em março do
ano seguinte.
Em outubro de 1910 assumiu a função de auxiliar da Comissão
da Carta Geral do Brasil e, no mês seguinte, a de auxiliar da Comissão de
Levantamento Cartográfico da Fronteira e Reconhecimento dos Vértices, sendo
promovido a primeiro-tenente em agosto de 1911. Passou a servir no 1º RC,
sediado no Rio de Janeiro e conhecido como Dragões da Independência, em outubro
de 1915. Promovido a capitão em dezembro de 1918, serviu a partir do mês
seguinte no 4º RC, sediado em Três Corações (MG). Em maio de 1919 foi destacado
para o 4º Corpo de Trem, em Piraçununga (SP), retornando ao Rio de Janeiro em
setembro, quando atuou como auxiliar do Estado-Maior do Exército (EME). Em
outubro foi destacado para o Serviço Geográfico Militar. Em fevereiro de 1921
matriculou-se na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), de onde saiu no
ano seguinte para ficar à disposição da Missão Militar Francesa, como adjunto
do professor de francês na EsAO. Essa missão, enviada pelo governo francês sob
a chefia do general Gustave Gamelin, foi responsável pela remodelação do
Exército brasileiro.
Em abril de 1922 passou a comandar o 3º Esquadrão do 1º RC,
participando da repressão ao levante de julho desse ano no forte de Copacabana,
como comandante das primeiras tropas a entrarem no forte. Esse movimento, que
iniciou o ciclo de revoltas tenentistas da década de 1920, irrompeu no Rio de
Janeiro e em Mato Grosso, em protesto contra a eleição de Artur Bernardes
(1922-1926) e contra o fechamento do Clube Militar e a prisão do marechal
Hermes da Fonseca, punições impostas pelo governo de Epitácio Pessoa
(1919-1922) aos militares. A revolta foi sufocada no mesmo dia, tendo
envolvido, no Rio de Janeiro, além do forte de Copacabana, a Escola Militar e
efetivos da Vila Militar.
Em
setembro de 1922 foi promovido a major e, no mês seguinte, tornou-se fiscal do
15º Regimento de Cavalaria Independente. Em outubro tornou-se fiscal do 1º
Regimento de Cavalaria Divisionária, que comandaria interinamente durante cinco
meses. Fez o curso de revisão da Escola de Estado-Maior (EEM) em 1924 e, a
partir de fevereiro do ano seguinte, ficou adido ao Departamento de Guerra. Em
janeiro de 1926 foi nomeado pelo presidente de Mato Grosso, Mário Correia da
Costa, comandante-geral da Força Pública do estado.
Em setembro de 1926 comandou o Destacamento Norte, corpo
formado pelo 16º BC, sediado em Cuiabá, e por unidades da Força Pública, para
dar combate à Coluna Prestes, movimento rebelde que se havia formado em abril
de 1925, com a junção dos grupamentos sublevados no ano anterior em São Paulo (no mês de julho) e no Rio Grande do Sul (no mês de outubro). Liderada por Luís
Carlos Prestes e por Miguel Costa, a coluna percorreu o interior do país,
através de 13 estados, dando combate às tropas legais, até internar-se na
Bolívia, em fevereiro de 1927, e no Paraguai, em março do mesmo ano. Raimundo
Sampaio voltou a Cuiabá em janeiro de 1927, onde reassumiu o comando-geral da
Força Pública. Foi promovido a tenente-coronel em março de 1928, sendo
comissionado no posto de coronel pelo presidente do estado em novembro.
Voltou ao Rio de Janeiro em abril de 1929, indo servir no
EME, onde foi chefe interino e, posteriormente, fiscal do estado-maior do 2º
Grupo de Regiões Militares e relator do conselho administrativo. Promovido a
coronel em fevereiro de 1930, no mês seguinte foi designado chefe do 2º Grupo
de Regiões Militares. Em junho seguinte atuou como juiz no conselho militar que
julgou à revelia um dos processos a que foi submetido o capitão Juarez Távora,
em virtude de sua participação nos levantes tenentistas da década de 1920.
A
partir da Revolução de 1930
Durante
a Revolução de 1930, chefiou o estado-maior das forças em operação no norte do
país e, com a vitória do movimento, voltou ao 2º Grupo de Regiões Militares. Em
novembro assumiu a presidência do conselho administrativo, ficando adido ao
Departamento de Guerra a partir de dezembro. Comandou o 1º Regimento de
Cavalaria Independente a partir de março de 1931, passando a chefiar, um ano
depois, a 9ª Circunscrição de Recrutamento. Em fevereiro de 1933 tornou-se
chefe do estado-maior da 5ª Região Militar (5ª RM), com sede em Curitiba, de
onde passou, em junho de 1934, para o Departamento de Pessoal do Exército, como
adjunto. Em fevereiro de 1935 tornou-se juiz do Conselho Especial de Justiça e,
em maio, foi nomeado comandante do 2º Regimento de Cavalaria Divisionária,
sediado em Piraçununga. Passou a chefiar a 4ª Seção do EME em maio de 1936,
tendo exercido interinamente o comando da 3ª Divisão de Cavalaria, sediada em Porto Alegre, em abril de 1937. A partir de julho exerceu o comando da 5ª RM e da 5ª Divisão
de Infantaria (5ª DI).
Promovido
a general-de-brigada em março de 1938, assumiu nesse mês o comando da 9ª
Brigada de Infantaria, sediada em Curitiba, e, em outubro, o comando da
Infantaria Divisionária da 5ª DI. A partir de junho de 1939, ficou adjunto à
secretaria geral do Ministério da Guerra, tornando-se, em julho, chefe da
Diretoria Geral de Engenharia do Exército. Em fevereiro de 1943 passou a
comandar a 4ª RM e a 4ª DI, em Minas Gerais, sendo promovido a
general-de-divisão em setembro de 1944. Foi nomeado comandante da 5ª RM e da 5ª
DI em março de 1946, ficando no cargo até setembro, quando tornou-se comandante
da Zona Militar Sul (atual III Exército), com sede em Porto Alegre, em substituição ao general-de-divisão João Batista Mascarenhas de Morais. Em
junho de 1948, passou o comando da Zona Militar Sul ao general-de-divisão José
Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, passando para a reserva com a patente de
general-de-exército.
Foi membro do Clube de Engenharia e do Centro de Estudos e
Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN). Nessa condição, participou
em 1950, junto com os generais Júlio Caetano Horta Barbosa e Estêvão Leitão de
Carvalho, membros do mesmo órgão, da comissão que deu parecer negativo ao
anteprojeto sobre investimentos estrangeiros no Brasil. O documento, elaborado
pelo Conselho Federal de Comércio Exterior, foi considerado lesivo aos
interesses nacionais.
Participou
ativamente da campanha pelo monopólio estatal do petróleo e dos minerais
radioativos, tendo realizado palestras e publicado artigos na Revista do
Clube Militar. No início de 1952, integrou a comissão criada pelo
presidente do Clube Militar, general Newton Estillac Leal, para analisar o
projeto governamental de exploração do petróleo, que permitia a atuação do
setor privado. Em junho, a comissão divulgou o documento Estudo do problema
do petróleo, no qual apresentou as conclusões do ciclo de conferências
realizadas no clube e concluiu pelo caráter nocivo à economia e à segurança
nacionais do projeto, reafirmando a necessidade da implantação do monopólio
estatal no setor. A campanha do petróleo, de cunho nacionalista e envolvendo
diversas entidades e personalidades civis e militares, culminou com a aprovação
da tese do monopólio estatal, em outubro de 1953, e a conseqüente criação da
Petrobras, em abril de 1954.
Casou-se com Maria Conceição Ribeiro Sampaio.
FONTES: CARVALHO, E. Petróleo;
COHN, G. Petróleo; COUTINHO, A. Brasil; HIRSCHOWICZ, E. Contemporâneos;
MENDONÇA, R. Dic.; SODRÉ, N. História militar; SODRÉ, N. Memórias.