NÉRI,
Sebastião
*jornalista; dep.
fed. RJ 1983-1987.
Sebastião Augusto de Sousa Néri nasceu
em Jaguaquara (BA), no dia 8 de março de 1932, filho de Lindolfo Andrade Néri e
de Elvira Sousa Néri.
De
1942 a 1950 estudou no Seminário de Amargosa (BA) e no Seminário Central da
Bahia, em Salvador. Transferindo-se para Belo Horizonte, colou grau em
filosofia na Universidade de Minas Gerais, em 1954, iniciando o curso de
ciências jurídicas e sociais que só concluiria em 1958, na Faculdade de Direito
da Bahia.
Repórter de O Diário, matutino ligado à Arquidiocese
de Belo Horizonte, no pleito de outubro de 1954 disputou uma cadeira na Câmara
Municipal de Belo Horizonte na legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Eleito e diplomado, não chegou a assumir a cadeira: sua candidatura foi
impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais sob a alegação de
que as campanhas haviam sido feitas em nome do Partido Comunista Brasileiro
(PCB), então na clandestinidade. O mesmo sucedeu a Orlando Bonfim Júnior,
candidato a deputado federal, e a Élcio Costa, candidato ao Legislativo
estadual.
Em 1956 trabalhou para o semanário Jornal do Povo,
publicação vinculada ao PCB. Viajou a Moscou em 1957 e, de volta ao Brasil,
após breve passagem por Minas, radicou-se novamente em Salvador. Contratado pelo Jornal da Bahia, em 1958, e no ano seguinte pelo jornal A
Tarde, fundou o semanário Jornal da Semana (1959).
Em outubro de 1962, concorrendo na legenda do Movimento
Trabalhista Renovador (MTR), em coligação com o PSB, elegeu-se deputado
estadual, sendo empossado em fevereiro de 1963. Com a vitória do movimento
político-militar de 31 de março de 1964 foi preso e recolhido a um quartel do
Exército. Cassado pela Assembléia Legislativa no dia 28 de abril, recuperou a
liberdade em agosto, conseguindo reaver sua cadeira quatro meses depois por
determinação do Tribunal de Justiça do estado, uma vez que os deputados não
tinham prerrogativa para tomar tal decisão, privilégio do presidente da
República. No dia 23 de dezembro, porém, sofreu nova cassação. Escondido em São Paulo, no dia 5 de julho de 1965 teve seus direitos políticos suspensos por determinação
do presidente Castelo Branco. Em outubro, o Superior Tribunal Militar o
absolveu de todas as acusações, sem contudo devolver-lhe a cidadania plena.
Mudando-se para o Rio de Janeiro trabalhou no Diário
Carioca. Com o fechamento do jornal, no dia 31 de dezembro de 1965, a convite de Reinaldo Jardim tornou-se editor político na recém-inaugurada TV Globo, onde
permaneceria até 1970. Em 1968 assumiu uma coluna na Tribuna da Imprensa
e, dois anos depois, foi contratado pelo Correio da Manhã. Em 1971,
juntamente com Oliveira Bastos, fundou o semanário Politika, fechado em
1974 em virtude de problemas financeiros e do rigor da censura. Processado em
1972 com base na Lei de Segurança Nacional por ter associado o
primeiro-ministro de Portugal, Marcelo Caetano, a Hitler e Mussolini, em artigo
publicado na Tribuna da Imprensa foi novamente absolvido pelo STM. Em
1975 assinou pela primeira vez a coluna Contra Ponto, no jornal Folha
de S. Paulo, onde permaneceria até 1983. De 1978 a 1980 manteve um programa diário na TV Bandeirantes, de comentários políticos. Em 1979, deixou
a Tribuna e levou sua coluna para a Última Hora.
De
15 a 20 de junho de 1979, participou do Encontro de Lisboa, que tratou da
reorganização do antigo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sob a liderança
do ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola. A iniciativa, no entanto,
não teve a unanimidade entre os trabalhistas. Em oposição a Brizola, um grupo
liderado pela ex-deputada Ivete Vargas também articulava no Brasil a retomada da
legenda.
Com a decretação da anistia e o retorno de Brizola ao país a
disputa acirrou-se. Em novembro de 1979, às vésperas do fim do bipartidarismo,
ambos solicitaram ao Tribunal Superior Eleitoral o registro provisório da
legenda. Em maio de 1980 o pedido de Ivete prevaleceu e os brizolistas
decidiram criar o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Fundador da nova
agremiação, Néri foi eleito segundo vice-presidente da seção fluminense do
partido e secretário da executiva nacional.
Em novembro de 1982, quando Leonel Brizola conquistou o
governo do Rio de Janeiro, Néri elegeu-se deputado federal com 111.460 votos,
sendo o segundo mais votado do partido. Empossado na Câmara Federal em
fevereiro de 1983, foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que
investigou o endividamento externo brasileiro e um dos articuladores da
proposta de prorrogação do mandato do então presidente João Batista Figueiredo
e o retorno das eleições diretas em 1986, juntamente com a convocação de uma
assembléia nacional constituinte.
Fracassada a iniciativa, em 25 de abril de 1984 votou a favor
da emenda Dante de Oliveira, que previa o restabelecimento de eleições diretas
para presidente da República já em novembro. Derrotada a proposição — faltaram 22 votos para que fosse levada à apreciação do
Senado — no Colégio Eleitoral, reunido em 15 de janeiro de 1985, Sebastião Néri
apoiou o candidato oposicionista Tancredo Neves, eleito pela Aliança
Democrática, uma união do PMDB com a dissidência do Partido Democrático Social
(PDS) abrigada na Frente Liberal. Doente, Tancredo Neves não chegou a ser
empossado, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. Seu substituto foi o vice
José Sarney, que já vinha exercendo o cargo interinamente, desde 15 de março
deste ano.
Ainda em março de 1985, Néri foi expulso do PDT sob a
alegação de “assumir postura indigna à convivência partidária” — o diretório
nacional tomou esta represália ante a sua insistência em provar a existência de
corrupção no Departamento de Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro.
Retornando à Tribuna da Imprensa após o fechamento da Última
Hora, Néri converteu Brizola no alvo principal de suas matérias. Filiado ao
PMDB, vice-líder do partido na Câmara, em novembro de 1985 foi candidato a vice-prefeito
do Rio na chapa encabeçada por Rubem Medina, do Partido da Frente Liberal
(PFL), ambos derrotados por Saturnino Braga e Jó Resende, do PDT.
Em novembro de 1986 concorreu à reeleição na legenda do PMDB,
mas não foi bem-sucedido. Deixou a Câmara ao término do mandato, em janeiro de
1987. Permanecendo em Brasília, tornou-se assessor especial do governador José
Aparecido (1985-1988), acompanhando-o quando a partir de setembro de 1988 ele
assumiu a pasta da Cultura.
Em março de 1989 Néri integrou-se à assessoria do candidato
do Partido da Reconstrução Nacional (PRN) à Presidência da República, Fernando
Collor de Melo. Após a eleição de Collor, em dezembro de 1989, foi nomeado
adido cultural em Roma (1990-junho de 1991) e em Paris (fevereiro de 1993).
O cargo dependia de regulamentação do Congresso, razão pela
qual o Tribunal de Contas da União enviou uma representação ao Ministério das
Relações Exteriores, solicitando explicações sobre as nomeações de Néri e a do
ex-porta-voz da Presidência, Cláudio Humberto, na época exercendo idêntica
função em Portugal. Em setembro de 1992 a justiça deliberou pela ilegalidade das indicações.
Insinuando
que o TCU havia tomado uma decisão política, Néri argumentou que nunca vira
“uma instituição com tanto velho. Eles só descobriram o Brasil em 1992 (...)
Durante a ditadura, 30 adidos foram nomeados, e no governo Sarney (1985-1990),
outros 15 foram enviados ao exterior, apadrinhados pelo presidente (...) o TCU
nunca tomou conhecimento”.
De fato a situação do governo não era das melhores. Principal
personagem de uma CPI criada no Congresso para investigar as atividades do seu
ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, o presidente foi acusado de
crime de responsabilidade por envolvimento num suposto esquema de corrupção. Em
29 de setembro de 1992 a Câmara dos Deputados aprovou a abertura de um processo
de impeachment e três meses depois Collor teve o mandato cassado e os
direitos políticos suspensos por oito anos pelo Senado Federal.
De volta ao Brasil, Néri continuou com a coluna na Tribuna
da Imprensa, republicada no Diário Popular, de São Paulo, na Gazeta
de Alagoas, em O Estado do Ceará, na Gazeta do Paraná
e em O Estado de Santa Catarina.
Em fevereiro de 1997 escreveu um artigo no jornal Folha de
S. Paulo, acusando o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, de
“destruir” a legislação social e trabalhista do país. Ao sucessor e opositor,
Luis Inácio Lula da Silva, também não poupou duras críticas, afirmando que “ se
Fernando Henrique se aliou ao Satanás, Lula se aliou a Judas”.
Escreveu
diversas obras sobre a história recente do Brasil e o folclore político
nacional, entre elas: Sepulcro caiado: o verdadeiro Juraci (1962), Socialismo
com liberdade (1974), 16 derrotas que abalaram o Brasil (sobre as
vitórias do PMDB nas eleições de 1974), Portugal, um salto no escuro
(1975), Pais e padrastos da pátria (1980), Folclore político (v.
1, 2, 3 e 4 — 1973, 1976, 1978 e 1982), Sibéria, Nicarágua, El Salvador e
outros mundos (1982), Crime e castigo da dívida externa (1985), A
história da vitória: porque Collor ganhou (em co-autoria com Cristóvão
Buarque, 1990), A eleição da reeleição (1999).
Casado com Guaraciaba do Carmo Néri, teve dois filhos. Do
relacionamento com Ana Elisa Figueiredo teve uma filha. Posteriormente,
casou-se com Maria Cristina Oliveira.
Sérgio
Lamarão
FONTES: CÂM. DEP. Deputados brasileiros.
Repertório (1983-1987); Folha de S. Paulo (27/10/89 e 12/2/97); Globo
(17/9/92); INF. BIOG. Jornal do Brasil (5/7/83 e 27/9/92); Última
Hora (22/3/85).
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4065042-EI6578,00-Sebastiao+Nery+Lula+se+aliou+a+Judas+FHC+a+Satanas.html