MAGALHÃES,
Sérgio
*dep. fed. DF 1955-1960; dep. fed. GB 1960-1964.
Sérgio Nunes de Magalhães Júnior nasceu em Recife, no dia 7 de fevereiro de 1916, filho de
Sérgio Nunes de Magalhães e de Antônia de Godói Magalhães. Seu pai foi
advogado, deputado federal por Pernambuco em 1914 e 1915 e magistrado. Seu
irmão mais velho, Agamenon Magalhães, foi deputado federal de 1924 a 1929, revolucionário em 1930, constituinte de 1934, ministro do Trabalho de 1934 a 1937 e interventor federal em Pernambuco de 1937 a 1945. Foi ainda ministro da Justiça em
1945, constituinte em 1946, deputado federal de 1946 a 1951 e governador de Pernambuco de 1951 a 1952.
Sérgio Magalhães fez seus estudos em Recife, tendo cursado o
primário e iniciado o ginásio no Colégio Padre Félix. Após concluir o
secundário no Ginásio Pernambucano, ingressou na Escola de Engenharia de
Pernambuco e, enquanto realizava os estudos superiores, trabalhou, de 1933 a 1936, como nivelador e condutor de obras na Diretoria de Obras Públicas da Secretaria de
Viação e Obras Públicas do estado. Nesse último ano formou-se em engenharia
civil e em 1937, pouco antes do golpe do Estado Novo, transferiu-se para o Rio
de Janeiro, então Distrito Federal, passando a trabalhar como engenheiro na
Diretoria de Limpeza Pública da Secretaria de Viação e Obras Públicas. Em 1938
assumiu a chefia do Serviço de Estatística do mesmo órgão e no ano seguinte
tornou-se diretor do Departamento de Geografia e Estatística da Prefeitura do
Distrito Federal, função que exerceria até 1947. De 1948 a 1951 trabalhou no laboratório de estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), sob a direção do professor Giorgio Mortara.
Entre
1952 e 1954, durante o segundo governo de Getúlio Vargas, foi diretor de
Montepio dos Empregados Municipais (MEM), depois denominado Instituto de
Previdência do Estado da Guanabara (IPEG) e mais tarde Instituto de Previdência
do Estado do Rio de Janeiro (IPERJ). Sua atuação à frente do MEM, implantando
medidas em benefício do funcionalismo, foi o marco inicial de sua popularidade.
Na representação parlamentar
Ingressando no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),
candidatou-se nessa legenda a deputado federal pelo Distrito Federal nas
eleições de outubro de 1954. Vitorioso no pleito, assumiu, em fevereiro de
1955, o mandato na Câmara, tornando-se membro efetivo da Comissão de Economia,
que elaborou um projeto de legislação tarifária — posteriormente aprovado pelo
Congresso — instituindo alíquotas ad valorem marcadamente protecionistas e
reduzindo as cinco categorias de câmbio a apenas duas.
Nesse
mesmo ano pediu o desarquivamento do projeto de lei antitruste — de autoria de
Agamenon Magalhães —, de regulamentação do artigo 148 da Constituição, que
previa a repressão a “toda e qualquer forma de abuso econômico”. Apresentado em
1948 e duramente combatido pelas classes conservadoras, o projeto tivera sua
tramitação paralisada até então.
Ainda em 1955, tornou-se membro da Liga de Emancipação
Nacional (LEN), fundada em abril do ano anterior, no Rio de Janeiro, com o
objetivo de defender as liberdades democráticas e de lutar pelo desenvolvimento
econômico independente do país. Em 1956, já no governo de Juscelino Kubitschek,
foi um dos fundadores da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN), organização
interpartidária criada na Câmara Federal em torno de idéias nacionalistas,
reunindo parlamentares do Partido Socialista Brasileiro (PSB), do PTB, do
Partido Social Democrático (PSD) e da União Democrática Nacional (UDN). Segundo
Maria Vitória Benevides, essa frente tornou-se um verdadeiro grupo de pressão
defensor de uma plataforma nacionalista, condenando o imperialismo, em geral, e
a ação do capital estrangeiro no Brasil, em particular, e reivindicando a
regulamentação da remessa de lucros para o exterior e o controle estatal sobre
a exploração dos recursos naturais básicos. Presidida por Bento Gonçalves, a
FPN teve desde o início em Sérgio Magalhães um de seus nomes mais expressivos,
principalmente na liderança da campanha pela limitação da remessa de lucros
para o exterior.
Em maio de 1957 assumiu a vice-liderança do PTB na Câmara,
tornando-se em julho seguinte vice-líder da maioria, então constituída pelo
PSD, o PTB e o Partido Republicano (PR) e denominada três meses depois Bloco
Parlamentar da Maioria.
Em agosto de 1957, o ministro da Fazenda, José Maria Alkmin,
sancionou afinal a Lei de Tarifas, que, segundo Francisco de Oliveira, ergueu
uma poderosa barreira protecionista que muito contribuiu para a oligopolização
dos novos setores industriais. Por outro lado, a lei representou um passo
importante para a uniformização das taxas diferenciais de câmbio,
insistentemente reclamada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Quando,
em 29 de março de 1958, o Brasil e a Bolívia assinaram o documento
convencionalmente denominado Ata de Roboré, composto de 29 Notas Reversais
elaboradas sob a justificativa de atualização do Acordo de Roboré — firmado
entre os dois países em 1938 —, instalou-se um rumoroso caso na política
nacional. Segundo o documento, a exploração de petróleo da Bolívia caberia a
grupos privados nacionais, ficando vedada a participação das empresas estatais
brasileiras. Essa nova orientação conferida à política do petróleo foi
duramente contestada por amplos setores da sociedade, que alegavam ainda que a
exploração seria realizada provavelmente por empresas de capital estrangeiro.
Criticando o que denominou um novo tratado — e não a regulamentação do anterior
—, a FPN passou a denunciar que o seu cumprimento abriria uma brecha no
monopólio estatal do petróleo, sendo, portanto, lesivo aos interesses
nacionais. Sérgio Magalhães pronunciou-se na Câmara contra o financiamento “em
dólares” pleiteado pelas referidas empresas ao governo brasileiro. O
acirramento das divergências em torno do fato levou à exoneração, pelo
presidente Kubitschek, dos presidentes do Conselho Nacional do Petróleo,
coronel José Alexínio Bittencourt, e da Petrobras, coronel Janari Nunes. A
questão seria solucionada apenas em 1963, quando o acordo passou a vigorar
segundo o texto do documento original de 1938.
Segundo Muniz Bandeira, ainda em 1958 o deputado Sérgio
Magalhães declarou que a constituição do poder operário no Brasil era uma
tarefa do PTB, e, “com o propósito de marcar posição”, ensaiou na época o
lançamento da candidatura de João Goulart à presidência da República.
Integrando, ao lado de José Joffily, José Guimarães Neiva
Moreira, Hermógenes Príncipe, Colombo de Sousa, Josué de Castro e Abguar
Bastos, o grupo de trabalho da FPN encarregado de estudar os problemas
relacionados com o aumento do custo de vida, Sérgio Magalhães defendeu a
necessidade de contenção da carestia, assinalando, como sua principal causa, a
“descapitalização do país pela exploração dos trustes”.
No segundo mandato
Em outubro de 1958, num período caracterizado pelo
agravamento dos desequilíbrios financeiros acirrados com a crise do café e pela
pressão dos credores estrangeiros sobre o governo brasileiro, Sérgio Magalhães
foi reeleito, sempre na legenda do PTB. No mês das eleições, o presidente
Kubitschek anunciou uma nova iniciativa governamental, o Plano de Estabilização
Monetária (PEM), elaborado pelo ministro da Fazenda, Lucas Lopes, e pelo
presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), Roberto
Campos.
A implementação desse programa, visando sustar a aceleração
do processo inflacionário e os déficits crescentes no balanço de pagamentos,
obedeceria ainda a uma condição imposta pelo FMI para liberar o empréstimo de
trezentos milhões de dólares solicitado pelo governo brasileiro para solucionar
o impasse na área econômica e atender ao Programa de Metas do governo.
Enfatizando uma política de industrialização intensa, esse programa contava com
o apoio da maioria parlamentar — PSD e PTB —, apesar da entrada em massa de
capital estrangeiro no país e da inflação.
Com a adoção do PEM, que, entre outras medidas
antiinflacionárias, determinou a contenção dos gastos públicos e o controle da
expansão monetária e creditícia, colocando em risco a própria sobrevivência do
Programa de Metas, iniciou-se, no primeiro semestre de 1959, forte oposição ao
governo, particularmente dos setores industriais, insatisfeitos com as
restrições de crédito à indústria. Recém-eleito primeiro-vice-presidente da
mesa da Câmara — representação que exerceria nos dois anos subseqüentes —,
Sérgio Magalhães e o então líder do PTB nessa casa legislativa, Fernando
Ferrari, dirigiram intensos ataques contra o PEM durante as sessões plenárias.
Por
outro lado, a pressão exercida pelo FMI provocou uma reação antiamericana
generalizada, que encontrou grande ressonância em toda a imprensa. Pressionado
interna e externamente, Juscelino chegou a um impasse político e em junho de
1959 rompeu as negociações com aquele órgão financeiro internacional, obtendo
desse modo o apoio de todos os partidos, e, segundo Maria Vitória Benevides, de
grupos de pressão como a Federação das Indústrias. No dia 17 de junho os
setores nacionalistas de esquerda, representados, entre outros, pela FPN e a
União Nacional dos Estudantes (UNE), que vinham desenvolvendo uma intensa
campanha contra os idealizadores do PEM, promoveram uma concentração nos
jardins do palácio do Catete em solidariedade a Juscelino e em favor do
estabelecimento de relações com o bloco socialista, medida sobre a qual o
presidente já se manifestara favorável publicamente.
Após
o rompimento com o FMI e o abandono do programa de estabilização, Juscelino
destituiu o ministro da Fazenda e designou para substituí-lo Sebastião Pais de
Almeida. Em julho exonerou Roberto Campos da presidência do BNDE, nomeando
Lúcio Meira para o cargo.
Ainda
em 1959, Sérgio Magalhães apresentou o Projeto nº 1 de limitação da remessa de
lucros para o exterior, baseado nos princípios defendidos em 1956 pelo então
deputado Francisco Saturnino Braga. A partir dessa época, ampliou-se o debate
em torno da questão dos lucros excessivos das empresas estrangeiras, acusadas
pelo vice-presidente João Goulart de “provocarem problemas econômicos” no país.
Integrando, ao lado de Almino Afonso, Armando Temperani
Pereira, Rubens Paiva e Clidenor Freitas, entre outros, o chamado “grupo
compacto” do PTB, que reuniu os parlamentares mais radicais do partido,
defensores da reforma agrária e da estatização de diversos setores da economia,
Sérgio Magalhães moveu durante o ano de 1960 forte oposição ao que denominou
“manobras continuístas” do governo Kubitschek.
Nesse
período, teve sua candidatura lançada pelo PTB — com o apoio do PSB e dos
comunistas — ao governo do estado da Guanabara, criado em abril desse ano com a
transferência da capital da República. para Brasília. Disputavam ainda o cargo
Carlos Lacerda, candidato da UDN, Tenório Cavalcanti, do Partido Social
Trabalhista (PST) e Ângelo Mendes de Morais, lançado pelo PSD com o apoio dos
integralistas chefiados por Plínio Salgado.
Sérgio
Magalhães, com 333.901 sufrágios, foi derrotado por Carlos Lacerda — com uma
diferença de pouco mais de 20 mil votos — no pleito realizado em outubro de
1960. O próprio Lacerda, muitos anos depois, viria a admitir que os votos dados
a Tenório haviam contribuído para a derrota do candidato petebista, já que
ambos disputavam na ocasião o apoio dos setores populares. Permanecendo na
Câmara, Sérgio Magalhães defendeu ainda em 1960 o reatamento das relações
diplomáticas do Brasil com os países socialistas e apresentou, em janeiro do
ano seguinte, o Projeto nº 2.571, de nacionalização da indústria farmacêutica.
Ainda em janeiro de 1961, Jânio Quadros foi empossado na
presidência da República, dando início a um governo que se caracterizaria pela
implementação da chamada política externa independente. Com essa perspectiva, o
presidente encaminhou ao Congresso o Projeto nº 3.251 — sobre o qual foi
apresentado pedido de urgência na Câmara —, provocando o recrudescimento dos
debates em torno da ação do capital estrangeiro no país. Considerando que, a
“pretexto de limitar as remessas de lucros, o projeto modificava a Lei do Imposto
de Renda, atingindo todas as empresas”, Sérgio Magalhães reuniu as sugestões
sobre o tema contidas em vários outros projetos e logo em seguida apresentou um
substitutivo. A ele foram agregadas as emendas elaboradas por Alexandre Barbosa
Lima Sobrinho e por Francisco Saturnino Braga, que o deputado Celso Brant,
relator da Comissão de Finanças, sistematizou num novo projeto.
Com a renúncia de Jânio em 25 de agosto de 1961, a presidência da República foi assumida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Pascoal
Ranieri Mazzilli, devido à ausência do vice-presidente da República, João
Goulart, então em missão diplomática na China. Como primeiro-vice-presidente da
Câmara, Sérgio Magalhães passou a exercer interinamente a presidência daquela
casa.
Logo
em seguida, os três ministros militares, general Odílio Denis, da Guerra,
almirante Sílvio Heck, da Marinha, e brigadeiro Gabriel Grün Moss, da
Aeronáutica, vetaram a posse de Goulart, dando origem a uma crise
político-militar. No entanto, o general José Machado Lopes, comandante do III
Exército, sediado em Porto Alegre, tornou público seu apoio a Goulart e
mobilizou as tropas sob sua chefia para garantir a manutenção da ordem
constitucional. Diante do impasse criado, o Congresso patrocinou uma iniciativa
conciliatória, promulgando em 2 de setembro a Emenda Constitucional nº 4, que
instituiu o regime parlamentarista no país. Na ocasião, encontravam-se
presentes à mesa, entre outros, o senador Auro de Moura Andrade, o ministro
Frederico Barros Barreto e o deputado Sérgio Magalhães.
Vencidos pela cisão estabelecida no seio das forças armadas e
pela vigorosa campanha em favor da legalidade, liderada pelo governador do Rio
Grande do Sul, Leonel Brizola, os ministros militares decidiram acatar a
deliberação do Congresso. Assim, no dia 5 seguinte, Sérgio Magalhães transmitiu
na Câmara o comunicado oficial do ministro da Justiça, José Martins Rodrigues,
sobre o estado de normalidade reinante no país e a chegada de João Goulart a
Brasília naquele mesmo dia. Em 6 de setembro deu também o informe de Auro
de Moura Andrade sobre a posse de Goulart na presidência da República marcada
para o dia seguinte, decisão que já havia sido ratificada pela mesa da Câmara.
Em 25 de outubro de 1961, Sérgio Magalhães apresentou o
Projeto nº 3.548, visando impedir a “expulsão de famílias e trabalhadores
individuais de terras pertencentes a terceiros”, ressalvando, porém, na
justificativa, tratar-se de uma proposição limitada, aquém da lei de reforma
agrária “pela qual lutamos”.
Ainda
nesse mês Goulart denunciou em discurso a existência de uma conspiração contra
a “nova ordem constitucional”. Baseado nas declarações do presidente, Sérgio
Magalhães pronunciou-se, no início de novembro, diante do plenário da Câmara,
advertindo que “grupos financeiros externos e internos procuram criar, com a
elevação desenfreada do custo de vida e a especulação no mercado cambial, uma
situação insustentável que justifique, perante o povo, a implantação de uma
ditadura de direita”.
Em 1962 ligou-se à Frente de Mobilização Popular (FMP),
movimento recém-criado que se propunha a lutar como grupo de pressão em favor
das chamadas reformas de base — agrária, urbana, tributária, bancária e
constitucional —, sob a liderança de Leonel Brizola. A frente congregou
representantes de entidades e organizações como o Comando Geral dos
Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Pacto de Unidade
e Ação (PUA) e a FPN.
Em
agosto de 1962, o projeto de regulamentação da remessa de lucros para o
exterior foi afinal aprovado na Câmara em segunda votação, mantendo os
dispositivos originais da proposição de Celso Brant e rejeitando o substitutivo
de autoria do senador udenista Mem de Sá, que propunha a delegação de poderes à
Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) para limitar as remessas de
lucros, “sempre que ocorrer grave desequilíbrio no balanço de pagamentos”. Em
meio a um intenso debate político, João Goulart deixou decorrer o prazo
constitucional para sancionar a Lei de Remessa de Lucros, promulgada afinal
pelo presidente do Congresso em setembro de 1962.
Em outubro seguinte, Sérgio Magalhães, Leonel Brizola e o
líder da bancada do PTB na Câmara Federal, Almino Afonso, entre outros, ao lado
do CGT, da UNE e de diversas entidades representativas da opinião pública,
manifestaram-se contra o bloqueio a Cuba decretado pelo governo norte-americano
em resposta à instalação de mísseis soviéticos naquele país.
Na presidência da FPN
Em outubro de 1962 Sérgio Magalhães foi reeleito, na legenda
da Aliança Socialista Trabalhista, formada pelo PSB e o PTB, num pleito que
consagrou o avanço dos setores nacionalistas com a vitória de Miguel Arrais
para governador de Pernambuco, a eleição de Brizola com extraordinária votação
para deputado federal pela Guanabara e a ampliação da bancada do PTB na Câmara
de 66 para 116 deputados. O resultado eleitoral fortaleceu ainda as fileiras da
FPN, apesar da atuação da Ação Democrática Parlamentar (ADP), criada na Câmara
em 1961, congregando parlamentares mais conservadores oriundos fundamentalmente
da UDN e do PSD. Segundo denúncias de grupos opositores, a ADP era financiada
pelo Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), fundado em 1959 com o
apoio de capitais estrangeiros.
Em fevereiro de 1963, Sérgio Magalhães foi eleito presidente
da FPN, encabeçando uma comissão executiva constituída pelos vice-presidentes
Clóvis Ferro Costa, Adail Barreto, Leonel Brizola e Aurélio Viana, pelos
secretários Neiva Moreira, Fernando Santana e Paulo de Tarso, pelos tesoureiros
Rubens Paiva e Max da Costa Santos e por um presidente do conselho coordenador,
Bento Gonçalves.
Ainda nesse mês, segundo Carlos Castelo Branco, vários
deputados nacionalistas, entre eles Sérgio Magalhães, começaram a levantar
restrições ao Plano Trienal, elaborado pelo ministro extraordinário do
Planejamento, Celso Furtado. Criticando o ministro “por sua crença na eficácia
da supressão de subsídios”, alegavam também que ele havia “formulado um plano
de governo que não substitui nem altera estruturas”. Segundo Sérgio Magalhães,
o plano traduzia “uma política de conciliação ideológica” que desqualificava a
ação do imperialismo econômico.
Em 27 de março Sérgio Magalhães pronunciou na Câmara um
discurso contra as “arbitrariedades” do governador Carlos Lacerda, que proibira
a realização de um congresso continental para a defesa de Cuba, marcado para o
dia seguinte na cidade do Rio de Janeiro. Subscreveu ainda, ao lado de 41
deputados federais, um manifesto ao presidente da República em favor desse
evento, que acabaria por se realizar afinal em Niterói, com a concordância do
governo do estado do Rio. No decorrer desse ano, Sérgio Magalhães condenaria
duramente o “terror policial” existente no estado da Guanabara, acusando o governo
de Carlos Lacerda, com base em notícias veiculadas pelo Jornal do Brasil e o
Correio da Manhã, de ter instituído a pena de morte através da ação
desenvolvida pela Invernada de Olaria, uma unidade da polícia estadual.
Responsabilizaria ainda o governador pela matança de mendigos, por afogamento,
em rios da Baixada Fluminense.
Eleito
vice-líder da maioria e do PTB em abril seguinte, no mês de junho Sérgio
Magalhães combateu intensamente o Projeto nº 93 — de reforma agrária —
apresentado em 1962 por Mílton Campos ao Senado e então em pauta na Câmara.
Refutando a idéia de que a proposição dispunha sobre a reforma agrária, já que
mantinha inalterada a estrutura de propriedade e de uso da terra, condenou
também o dispositivo referente ao pagamento prévio das desapropriações em
dinheiro — e não em títulos da dívida pública, como propunha —, alegando que,
se aprovado, daria origem a um processo inflacionário de grandes proporções.
Diante da oposição da bancada do PTB e dos chamados “agressivos” do PSD, esse projeto
seria recusado pela Câmara no mês seguinte.
Ainda em junho, Sérgio Magalhães requereu a execução rigorosa
da Lei de Remessas de Lucros, criticando a atuação da Sumoc na gestão anterior,
responsável, a seu ver, pelo não-cumprimento da lei em seu texto integral. Na
verdade, o presidente João Goulart vinha protelando a regulamentação dessa lei
e a sancionaria apenas em janeiro de 1964, quando uma comissão parlamentar de
inquérito (CPI) instaurada na Câmara apurava seu efetivo cumprimento pela
Sumoc.
Sempre
em junho de 1963, Sérgio Magalhães propôs ao Congresso a encampação das
companhias concessionárias de serviços públicos, subsidiárias da Bond and
Share, em concordância com as leis brasileiras e, particularmente, com o Código
de Águas. Quatro meses depois voltaria a exigir a encampação dessas
concessionárias, em especial da Light da Guanabara, cujos serviços deficientes
prejudicavam, a seu ver, as instalações industriais, devido aos freqüentes
cortes de energia. Condenaria ainda o regime de fiscalização dessas empresas,
sujeitas “aos escritórios de advogacia e de relações públicas, e ao suborno”.
Em 3 de setembro de 1963, foi deflagrada em Brasília a
Revolta dos Sargentos, em protesto contra a decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) de decretar a inelegibilidade de representantes daquela categoria
militar. O levante teve o apoio da FPN, e, segundo Glauco Carneiro, Sérgio
Magalhães, Neiva Moreira, Lamartine Távora, Marco Antônio Coelho, Henrique Oest
e Emanuel Vaismann foram ao quartel da Base Aérea manifestar solidariedade “ao
movimento reivindicatório”, que foi debelado no mesmo dia. Defendendo a posição
dos revoltosos, de que o levante não passara de um protesto, Sérgio Magalhães
divulgou o apelo dos sargentos ao grupo de parlamentares no sentido de que o
Congresso derrubasse o capítulo das inelegibilidades da Constituição. Logo em
seguida a FMP denunciou a repressão aos líderes da revolta e defendeu a
extensão do direito de votar e de ser votado aos soldados, cabos e sargentos.
No
dia 18 de setembro o comandante do II Exército, sediado em São Paulo, general Peri Bevilacqua, encaminhou uma nota aos quartéis condenando a ação dos
revoltos de Brasília. No dia 23 seguinte, o CGT, a FPN e a UNE distribuíram um
manifesto de repúdio às declarações do general Bevilacqua e de reforço às
reivindicações dos sargentos. Em outubro, o inquérito policial-militar (IPM)
instaurado para apurar as responsabilidades no levante concluiu pelo
envolvimento de alguns membros da FPN, entre os quais Sérgio Magalhães, no
“incitamento a atividades subversivas”, sugerindo, segundo Carlos Castelo
Branco, o enquadramento desses parlamentares na Lei de Segurança Nacional, o
que só poderia ser efetuado, no entanto, com a aquiescência da Câmara.
Ainda em princípios de outubro, uma entrevista de Lacerda ao
jornal norte-americano Los Angeles Times sobre a possível queda de João
Goulart — patrocinada pelos militares — antes do final do ano foi considerada
injuriosa às forças armadas pelos ministros militares, general Jair Dantas
Ribeiro, almirante Sílvio Mota e brigadeiro Anísio Botelho, que pediram o
estado de sítio para que o governador da Guanabara fosse legalmente destituído
e processado. A mensagem nesse sentido, enviada ao Congresso por Goulart, não
teve, entretanto, receptividade. Os próprios integrantes da FMP, embora
favoráveis à deposição de Lacerda, opuseram-se à medida, temerosos de que a
suspensão das liberdades públicas pudesse ser igualmente dirigida contra o
governador de Pernambuco, Miguel Arrais, e atingisse o movimento de massas,
especialmente o movimento grevista dos bancários, que se encontravam
paralisados há várias semanas. Além disso, o fato de Lacerda não ter sido
preso, nem ter havido intervenção na Guanabara era bastante sintomático: as forças
armadas não estavam coesas. O próprio líder do PTB na Câmara, deputado Luís
Fernando Bocaiúva Cunha, acompanhado de Sérgio Magalhães e de parte da bancada
trabalhista, aliou-se à UDN e ao PSD em oposição à medida. Finalmente, após a
rejeição ao parecer favorável do deputado petebista e relator da Comissão de
Justiça da Câmara, Roland Corbisier, o presidente retirou o pedido encaminhado
ao Congresso.
Em
novembro de 1963, logo após o assassinato do presidente norte-americano John
Kennedy, Sérgio Magalhães fez uma advertência ao povo brasileiro ao afirmar que
a primeira conseqüência da nova política dos Estados Unidos “será o golpe nas
nossas instituições democráticas para facilitar os acordos antinacionais e
fazer calar a voz dos nacionalistas”. Ainda nesse mês, declarou-se contra a
revogação da Lei do Inquilinato, propondo sua prorrogação até que se
implantasse a reforma urbana. Durante o ano de 1963, apresentou pelo menos dois
projetos em defesa dos inquilinos: o Projeto nº 9, de desapropriação e venda dos
imóveis residenciais aos inquilinos, e o de nº 19, relativo a contratos de
compra e venda.
Em dezembro, apoiou a iniciativa de Francisco Clementino de
San Tiago Dantas, de formação de uma frente única das esquerdas, que incluiria
desde o Partido Comunista Brasileiro (PCB) ao PSD. O PCB foi favorável à
proposta, o mesmo não ocorrendo, entretanto, com os demais grupos de esquerda.
O jornal O Semanário — ligado à FPN — do qual Sérgio Magalhães era colaborador,
passou a apoiar essa articulação, contrapondo-se a O Panfleto,
jornal fundado por Brizola, cuja equipe de redatores Sérgio Magalhães também
integrava. Ainda em 1963, Sérgio Magalhães teve sua candidatura ao governo da
Guanabara mais uma vez lançada, agora pelo PSB, às eleições previstas para
1965.
Representando a FPN, foi um dos signatários, ao lado de
diversas lideranças das principais entidades sindicais e associações
profissionais e estudantis, da convocação para um grande comício em favor das reformas
de base, marcado para o dia 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro. O Comício
das Reformas, ou Comício da Central, como se tornou conhecido, contou com a
participação de João Goulart, que assinou decreto de nacionalização das
refinarias de petróleo particulares e outro voltado para a reforma agrária.
Diante
disso, os setores descontentes com a política implementada por Goulart
intensificaram a conspiração para destituí-lo, o que afinal ocorreu em 31 de
março seguinte, com a eclosão de um movimento político-militar. Na noite de 1º
de abril João Goulart viajou para o Rio Grande do Sul e o presidente do Senado,
Auro de Moura Andrade, convocou o Congresso em sessão conjunta para comunicar a
vacância da presidência da República. Sérgio Magalhães tentou sem êxito
demonstrar que essa convocação extraordinária contrariava os regimentos da
Câmara e do Senado, visando impedir a comunicação oficial da queda de Goulart.
A medida foi no entanto adotada, possibilitando que o presidente da Câmara dos
Deputados, Pascoal Ranieri Mazzilli, assumisse interinamente a presidência da
República.
Em
9 de abril, o autodenominado Comando Supremo da Revolução, composto pelo
general Artur da Costa e Silva, o almirante Augusto Rademaker e o brigadeiro
Francisco Correia de Melo, baixou o Ato Institucional nº 1 (AI-1), conferindo
poderes extraordinários ao Executivo. Com a publicação, no dia seguinte, da
primeira lista de punições, Sérgio Magalhães teve o mandato parlamentar cassado
e os direitos políticos suspensos por dez anos.
Diante da nova orientação política, quase que imediatamente
após a deposição de Goulart a Câmara Federal aprovou o projeto sobre reforma
agrária do deputado Aniz Badra, uma reedição do projeto Mílton Campos, que
antes rejeitara. Ainda em agosto de 1964, a Lei de Remessa de Lucros foi alterada substancialmente pela Lei nº 4.310, de tendência menos rígida no controle
da ação do capital estrangeiro e na disciplina da remessa de lucros para o
exterior.
Afastado
compulsoriamente da vida política, Sérgio Magalhães dedicou-se a partir de
então à atividade profissional de engenheiro. Mais tarde aposentou-se como
perito do Instituto de Previdência do Rio de Janeiro, passando a trabalhar como
engenheiro autônomo. Em 1974 readquiriu os direitos políticos com a expiração
do prazo de sua punição pelo AI-1.
Em 1986 teve seu nome vetado, segundo o Jornal do Brasil,
pelo presidente José Sarney à vaga de vice-governador na chapa encabeçada por
Wellington Moreira Franco (PMDB) no Rio de Janeiro.
No governo Moreira Franco (1987-1991), presidiu o Instituto
de Previdência do Estado do Rio de Janeiro (IPERJ). Permaneceu nesse cargo até
1990, quando se desincompatibilizou para concorrer a uma cadeira na Câmara dos
Deputados na legenda do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), no
pleito de novembro desse mesmo ano, mas não conseguiu se eleger.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 19 de junho de 1991.
Era casado com Maria de Lurdes Portinho, com quem teve seis
filhos. Em 1962 casou-se em segundas núpcias com Laís Delgado Magalhães, com
quem teve um filho.
Publicou Problemas do desenvolvimento econômico
(1960), A questão da remessa de lucros (em colaboração, 1962) e Prática
da emancipação nacional (2ª ed., 1964).
Sônia
Dias
FONTES: ARQ. DEP.
PESQ. JORNAL DO BRASIL; BANDEIRA, L. Governo; BANDEIRA, L. Presença; BANDEIRA,
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