SERPA,
José Maria de Andrada
*militar; ch. Depto. Ens. Pesq. Ex. 1977-1978; ch. EMFA
1978-1979.
José
Maria de Andrada Serpa nasceu em Barbacena (MG) no dia 27 de
novembro de 1915, filho do coronel José Maria Serpa e de Maria Antônia Duarte
de Andrada Serpa. Seu pai foi professor do Colégio Militar de Barbacena e sua
mãe era irmã de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente do estado de
Minas Gerais (1926-1930), e de José Bonifácio de Andrada e Silva, deputado
federal por Minas Gerais (1899-1930). Seu irmão Antônio Carlos de Andrada
Serpa, também militar, foi comandante interino do III Exército de 1977 a 1978 e chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército de 1978 a 1980. Seu primo José Bonifácio Lafayette de Andrada foi deputado federal por Minas Gerais em
várias legislaturas e líder do governo de Ernesto Geisel (1974-1979) na Câmara
dos Deputados.
José Maria de Andrada Serpa sentou praça na Escola Militar do
Realengo em abril de 1932, da qual saiu aspirante-a-oficial da arma de
artilharia em dezembro de 1934. Promovido a segundo-tenente em setembro de 1935
e a primeiro-tenente em maio de 1937, atingiu o posto de capitão em outubro de
1942, período em que se desenvolvia a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), na qual combateu na Itália
como comandante da 3ª Bateria do 2º Grupo de Artilharia do 1º Regimento de
Obuses Auto-Rebocados.
Após oito anos como capitão, Serpa foi promovido a major em
março de 1949 e a tenente-coronel em março de 1954. Devido a seu temperamento
forte e a suas posições antipopulista, antigovernista e anti-Lott (general
Henrique Teixeira Lott), Serpa chegou a ser punido nos governos Juscelino
Kubitschek (1956-1961) e João Goulart (1961-1964), fatos que justificam só
haver alcançado o posto de coronel oito anos depois da última promoção, em
dezembro de 1962.
No
início de 1964, ao lado do irmão Antônio Carlos e de outros oficiais,
participou da elaboração de um documento traçando as diretrizes da conspiração
contra Goulart. Com a deposição do presidente pelo movimento político-militar
de 31 de março de 1964 e a eleição do marechal Humberto Castelo Branco,
iniciou-se no país um período de regime militar que duraria 21 anos. Mesmo
assim, José Maria de Andrada Serpa só voltaria a ser promovido em março de
1968, quando atingiu o generalato no posto de general-de-brigada. Identificado
com as posições do ex-presidente Castelo Branco, durante o curto mandato de
transição da Junta Militar entre os governos do marechal Artur da Costa e Silva
(1967-1969) e do general Emílio Médici (1969-1974), Serpa foi destacado para
acompanhar as articulações desenvolvidas pelos militares que defendiam a
candidatura do general Afonso Augusto de Albuquerque Lima. Ao viajar com o
coronel Boaventura Cavalcanti num vôo para Porto Alegre, frustrou a tentativa
de mobilização dos militares gaúchos em favor do ex-ministro do Interior de
Costa e Silva.
Após
cinco anos como general-de-brigada, Serpa foi promovido a general-de-divisão em
julho de 1973 e, quatro anos depois, em novembro de 1977, quando ocupava a
vice-chefia do Departamento de Material Bélico, recebeu a quarta estrela como
general-de-exército. Com essa promoção, foi nomeado pelo então presidente
Ernesto Geisel (1974-1979) para a chefia do Departamento de Ensino e Pesquisa
do Exército. Assumindo o cargo no dia 19 de dezembro seguinte, em substituição
ao general Ariel Paca da Fonseca, e passando a integrar o Alto Comando dessa
força, Andrada Serpa mostrou-se afinado com o governo ao endossar o conceito de
“democracia relativa” defendido pelo presidente Geisel, afirmando que ela “não
[poderia] ser suicida, deixando que seus inimigos a [destruíssem]”. Por outro
lado, destacou, na oportunidade, a liberdade de imprensa e o seu papel na
politização dos empresários brasileiros, como ficou demonstrado, pela primeira
vez, por ocasião da realização do Congresso das Classes Produtoras (Conclap).
Em seu discurso, Serpa disse que “a Revolução de 1964 tinha por meta a
redemocratização do país, mas contestadores e subversivos [vinham] impedindo
que ela se [realizasse] na sua plenitude”.
A promoção de Antônio Carlos ao posto de general-de-exército
em 31 de março de 1978 e a sua posterior nomeação para a chefia do Departamento
Geral de Pessoal (DGP) proporcionou o aparecimento de um fato inédito na
história militar do Brasil: a presença de dois irmãos no Alto Comando do
Exército. Isso esteve próximo de se concretizar quando os irmãos Geisel
(Ernesto e Orlando) chegaram a general-de-exército. Entretanto, logo Ernesto
seria nomeado ministro do Superior Tribunal Militar (STM) e apenas Orlando
ficaria no Alto Comando dessa força.
Embora fosse considerado um militar “linha-dura”, por seu
rigor no que se referia à disciplina e ao respeito à hierarquia, tornou-se um
dos poucos militares com liderança dentro da força ainda no serviço ativo do
Exército. Apesar de manter, ou procurar manter, uma imagem distanciada dos
acontecimentos políticos, sempre teve a sua personalidade destacada como um
militar de grande vocação política. Esse perfil e essa liderança, aliados à sua
facilidade em dialogar e externar sua opinião, inclusive sobre assuntos
políticos, tornaram-no uma figura importante dentro do processo de distensão
política do governo de Ernesto Geisel. Logo após as promoções de novembro de
1978, o general Andrada Serpa foi escolhido pelo presidente da República para a
chefia do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). No dia 18 do mês seguinte,
deixou o Departamento de Ensino e Pesquisa, no qual foi substituído pelo
general Ernâni Airosa. Em seu discurso de transmissão do cargo relembrou sua
participação na Segunda Guerra Mundial, ao lado do próprio Airosa e do ministro
do Exército, general Fernando Belfort Bethlem, destacando que o respeito
existente entre eles não era “por orgulho de terem participado [da guerra, mas,
por considerarem] que tradição e civismo são indispensáveis à vida dos povos e,
particularmente, para caracterizar a índole democrática de nosso povo e das
forças armadas na luta contra o nazifascismo”. Ressaltou ainda a sua convicção “de
que o retorno dos expedicionários apressou a queda da ditadura então dominante
no Brasil”. Além de destacar o profissionalismo do ministro Bethlem por ter
assumido o comando do Exército num momento crítico, referindo-se ao episódio da
complicada demissão do ministro Sílvio Frota em 1977, Serpa reafirmou sua
“crença [numa] democracia brasileira que, de fato, [atendesse] às aspirações e
anseios do povo brasileiro” e que ela deveria ser “livre de pressões externas,
de direita ou de esquerda, livre de um liberalismo já ultrapassado, em face da
violência no mundo”.
Dois
dias depois Andrada Serpa assumiu a chefia do EMFA em substituição ao general
Tácito Teófilo Gaspar de Oliveira. Na oportunidade, além de destacar que, em
seu governo, o presidente Geisel, “com energia e serenidade, [soubera] dominar
crises político-militares de relativa importância, mas, acima de tudo,
[soubera] manter, com sabedoria e maestria, a união indestrutível das Forças
Armadas”, manifestou sua disposição em “levar a bom termo as múltiplas e
complexas tarefas afetas ao órgão que [passaria] a chefiar”.
Definida
a sucessão presidencial com a escolha do general João Batista Figueiredo, Serpa
teve um encontro de três horas com ele em janeiro de 1979. Indagado sobre o
assunto tratado na reunião com o futuro presidente, disse que haviam tratado
“dos problemas da alçada das três Forças Armadas”. Na realidade, nessa reunião
Serpa foi convidado a permanecer na chefia do EMFA. Aceito o convite,
permaneceu no cargo a partir de 15 de março seguinte, quando findou o governo
de Ernesto Geisel e se iniciou o de João Figueiredo (1979-1985).
Andrada
Serpa foi também adido militar junto à embaixada do Brasil na Itália,
comandante de Artilharia Divisionária, comandante da 5ª Divisão de Infantaria,
segundo-subchefe do Departamento de Provisão Geral, vice-chefe do DGP do
Exército, diretor de processamento de dados e de movimentação, comandante da 7ª
Região Militar (RM) e da 7ª Divisão de Exército em Recife, adjunto da 3ª seção
do Estado-Maior da 1ª RM, chefe da 27ª Circunscrição de Recrutamento em Caruaru
(PE), adjunto da 1ª seção do Estado-Maior do Exército (EME), chefe da 19ª
Circunscrição de Recrutamento em Aracaju, chefe da 3ª seção do I Exército,
comandante do 1º Grupo de Canhões Automáticos Antiaéreos e membro do Conselho
Superior de Economia e Finanças.
Fez os cursos da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
(EsAO), da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e da Escola
Superior de Guerra (ESG).
Faleceu em Brasília no dia 3 de junho de 1979, em pleno
exercício do cargo de chefe do EMFA, no qual foi substituído pelo general
Samuel Augusto Alves Correia.
Era casado com Leonor de Brito Serpa, com quem teve um casal
de filhos.
Alan
Carneiro
FONTES: Estado
de S. Paulo (20/1/79); Folha de S. Paulo (20/1/79); Globo
(4/6/79); Jornal do Brasil (26/11 e 20/12/77, 20/1, 3/4, 19 e 21/12/78,
4 e 5/6/79); MIN. EXÉRC. Almanaque (1975); Veja (30/11/77).