STEPANENKO, Alexis
*min.
Planej. 1993-1994; min. Min. e Energia 1994.
Alexis Stepanenko nasceu
em São Paulo no dia 14 de abril de 1938, filho do russo Dimitri Stepanenko e
da francesa Monique Marie Thérèse Rauneau.
Seu curso primário iniciado em 1946 na Saint
Paul School teve prosseguimento em 1948 e 1949 no Liceu Pasteur e foi concluído
no Colégio Dante Allighieri, todos na capital paulista. Transferindo-se para
Piracicaba (SP), fez o ginásio no Colégio Piracicabano de 1950 a 1953. Cursou o científico no Instituto Mackenzie em 1954 e 1955, formando-se pelo Colégio
Maria José em 1956.
Entre 1959 e 1961 estudou na Escola de
Sociologia e Política da Universidade de São Paulo (USP), transferindo-se em
1962 para a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), pela
qual diplomou-se dois anos depois. Enquanto era estudante de graduação
trabalhou como pesquisador social em diversas empresas, entre as quais a McCann
Ericsson e a World Press, em São Paulo.
Em 1967, quando lecionava na Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF), engajou-se na campanha de Itamar Franco para
prefeito. Eleito, Itamar nomeou-o assessor especial para elaboração de um plano
diretor para a cidade. Desde então passou a ser identificado como parte do
denominado Grupo de Juiz de Fora.
A partir de 1972, exerceu diversas
atividades: superintendente editorial de empresa do grupo Delta-Larousse (1972
e 1973); aluno de curso de especialização na Universidade de Madri, Espanha
(1973); sócio-gerente da empresa Cirh (1973 a 1975), diretor do Sindicato Nacional de Editores de Livro (1973 a 1975); técnico da Financiadora de Estudos e
Projetos (1975); técnico da Secretaria Geral do Ministério do Planejamento
(Seplan); editor da revista Infância e Adolescência e professor de
pós-graduação em ciência da informação, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e do então denominado Instituto Brasileiro de Bibliografia e
Documentação (IBBD).
Foi também vice-presidente (1975-1976) e
presidente (1977-1978) do comitê executivo do Centro Regional para el Fomento
del Libro en América Latina (Cerlal), organismo da UNESCO sediado em Bogotá, na
Colômbia, gerente de departamento e membro da diretoria executiva do Banco Lar
Brasileiro, no Rio de Janeiro (1975 a 1978) e realizou cursos de gerência
financeira na África do Sul. De 1978 a 1981 foi gerente de treinamento e
desenvolvimento na Indústria e Comércio Atlantis do Brasil Ltda. em São Paulo. Em seguida foi consultor das Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás) por meio
da empresa que originou a Marktel Consultoria S/C Ltda., da qual viria a ser
sócio-gerente (1985 a 1990). Em 1988, tornou-se professor de pós-graduação em marketing
e pesquisa em organizações da Fundação Getulio Vargas (FGV), em Brasília.
Em julho de 1992, convidado pelo
vice-presidente Itamar Franco, ocupou o cargo de coordenador da assessoria
técnica do Gabinete da Vice-Presidência. Com o afastamento de Fernando Collor,
em 29 de setembro para responder a processo de impeachment, Itamar
assumiu interinamente a presidência em 2 de outubro. Nesse mês, Stepanenko foi
promovido a subsecretário-geral da Presidência da República, tendo sido o autor
da reforma administrativa do governo. Em novembro tornou-se vice-presidente do
sistema do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
NO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO
Em maio de 1993 deixou o BNDES para assumir
o Ministério do Planejamento substituindo Ieda Crusius. Na ocasião, definiu-se
como “um coringa técnico do presidente”, que a qualquer momento poderia
indicá-lo para outra função. Em junho propôs a criação de uma secretaria
executiva para controle das empresas estatais como forma de dar transparência
ao que qualificava como “caixa-preta” do orçamento da União.
Participando da elaboração da política de
reajuste de salários nas empresas estatais, Stepanenko declarou em agosto que a
concessão de reajustes superiores aos previstos na nova legislação salarial
dependeria da comprovação da capacidade financeira da empresa. Quanto ao
Programa Nacional de Desestatização, confirmou estudos do governo para criar
formas alternativas de privatização e defendeu a venda de ações de forma
pulverizada em todo o país e no exterior.
Por ocasião da votação no Congresso do veto
do presidente ao reajuste salarial geral de 100% da inflação, criticou o
Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE)
por ter apontado erros nos cálculos do governo. Ainda em agosto Stepanenko provocou uma crise política ao pedir a exoneração do presidente do BNDES,
Luís Carlos Delben, que por sua vez o acusou de ter cometido irregularidades
durante sua gestão no banco, como contratação de empresas sem licitação.
Delben fora indicado para o cargo pelo
governador peemedebista de São Paulo, Luís Antônio Fleury. Stepanenko avaliou
que sua saída do ministério seria fundamental para contornar a crise
estabelecida com o PMDB, encaminhando sua carta de demissão ao presidente
Itamar. Em contrapartida, determinou que fossem feitas auditorias em 188
contratos do banco. Mantendo-se no cargo, em setembro defendeu a
municipalização de alguns programas federais e estaduais como forma de melhorar
a qualidade de serviços públicos e negociou com o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) empréstimo para despoluição da baía de Guanabara e obras
da rodovia Fernão Dias, que interliga São Paulo e Belo Horizonte.
No mês seguinte anunciou cortes no
Orçamento Geral da União para cumprir decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)
que determinou o pagamento de perdas salariais do funcionalismo público federal
ocorridas na vigência do denominado Plano Bresser, no governo de José Sarney
(1985-1990). Discordou assim do projeto de lei de suplementação orçamentária
apresentado pela Secretaria de Orçamento Federal (SOF), no qual propunha o
aumento dos créditos de pagamento de pessoal utilizando como maior fonte de
recursos a emissão de títulos da dívida pública. Argumentou que o nível de
emissão proposto acirraria as expectativas inflacionárias, sugerindo em
contrapartida que fosse usado o excesso de arrecadação destinado geralmente
para suplementar outros gastos na área da saúde e previdência.
Diante da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) do Orçamento, criada para apurar denúncias de irregularidades no processo
de elaboração do orçamento geral da União, Stepanenko anunciou em novembro a
edição de uma medida provisória alterando os critérios de liberação de recursos
repassados a estados e municípios. Nesse mesmo mês comunicou que as prioridades
do governo para o orçamento de 1994 seriam dadas aos programas do Sistema Único
de Saúde (SUS), pagamento de benefícios previdenciários, combate à fome,
assentamentos de trabalhadores rurais e merenda escolar.
Em dezembro sugeriu ao presidente Itamar o
veto ao projeto de lei que anistiava os servidores demitidos no governo Collor.
Frente ao descontentamento do Judiciário e Legislativo com os cortes no
Orçamento de 1994, propôs um “acordo de cavalheiros” no qual, em troca da
aceitação dos cortes, o Executivo se comprometia a suplementar verbas em casos
de comprovada necessidade.
Em janeiro de 1994 foi acusado pelo
Sindicato dos Bancários do Rio de uso indevido de recursos do BNDES e atribuiu
a denúncia à “ira corporativista” dos funcionários diante da sua “disposição de
promover um choque público nas empresas estatais”. Comparando alguns
funcionários e dirigentes de estatais a cupins, que “devoram as empresas por
dentro”, autodenominou-se “dedetizador de empresas”, além de declarar que “o
Estado centralizador faliu, evidenciando a necessidade de descentralizar e
dividir responsabilidades”.
Na tentativa de obrigar os fundos de pensão
das estatais a comprarem Notas do Tesouro Nacional (NTN-R), conforme resolução
do Conselho Monetário Nacional (CMN), em fevereiro solicitou ao presidente
Itamar a destituição de três dirigentes de fundos resistentes aos propósitos
governistas. Deixou o Ministério do Planejamento em março de 1994, sendo
substituído pelo senador Beni Veras (Benedito Clayton Veras de Alcântara), do
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
NO MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA
Transferido para a pasta de Minas e
Energia, sua quarta função no governo Itamar, no lugar de José Israel Vargas,
queixou-se de ter ido para um cargo de menor poder. No ato de posse, anunciou a
demissão do diretor-geral do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
(DNAEE), por ter autorizado o aumento das tarifas de energia elétrica acima da
inflação, contrariando compromissos do governo.
Em maio defendeu a parceria do setor
elétrico com empresas privadas, o que possibilitaria a retomada das obras de
usinas de energia paralisadas por falta de verbas, além de redução das tarifas.
Comunicou também que contratara o trabalho de comissões especiais para fazer o
levantamento dos custos da Petrobras e da Eletrobrás. Ressaltando que o Brasil
poderia se tornar o segundo ou terceiro produtor de ouro mundial, sugeriu o
incentivo à produção e à exportação de jóias nacionais agregando o valor ao
ouro, pedras preciosas e semipreciosas que eram habitualmente exportados em
estado bruto.
Em junho de 1994, ao declarar sua intenção
de votar em Fernando Henrique Cardoso, candidato do PSDB à presidência da
República, provocou uma crise política que tornou insustentável sua permanência
como ministro. O governo passou a ser acusado de praticar crime eleitoral ao
supostamente usar a máquina administrativa em proveito de um candidato. O
procurador-geral da República, Aristides Junqueira solicitou ao Ministério
Público a abertura de inquérito, com base em bilhetes de Stepanenko a
auxiliares nos quais procurava ajustar o cotidiano de inauguração de obras de
sua pasta ao calendário eleitoral. No início de setembro, o Partido dos
Trabalhadores (PT) solicitou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a cassação do
registro da candidatura de Fernando Henrique Cardoso, anexando ao processo um
ofício de Stepanenko ao presidente da República referindo-se a Fernando
Henrique como “nosso candidato” e comentando que ele (Cardoso) havia sido
consultado a respeito de datas para inauguração de obras em Sergipe. Na China, onde se encontrava em missão oficial, Stepanenko considerou a publicidade
do ofício “uma invasão da privacidade em nome de um falso moralismo”.
Pediu demissão do cargo no dia 19 de
setembro de 1994, tendo sido substituído, interinamente, pelo
secretário-executivo do ministério, Delcídio Gomez. Em fevereiro de 1995, um
mês depois da posse de Fernando Henrique na presidência, Alexis Stepanenko foi
nomeado diretor comercial da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT)
em Brasília por indicação do recém-nomeado presidente do órgão, Henrique
Hargreaves, também integrante do “Grupo de Juiz de Fora”.
Afastado do governo, Aléxis Stepanenko
desenvolveu carreira de conferencista e consultor nas áreas de energia,
petroquímica, planejamento estratégico, marketing em serviço público e formação
e aperfeiçoamento de executivos. A partir de 2005 prestou consultoria para a
elaboração de planos de desenvolvimento socioeconômico e ambiental de regiões
do estado de Santa Catarina e participou de reuniões no âmbito da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP. Em 2008, como
presidente do conselho diretor do Grupo VIBRAPAR, divulgou a implantação, no
Brasil, de modelo industrial baseado no aproveitamento de campos com produção
inferior a 30 barris diários, volume que não atraía o interesse da PETROBRAS e
demais empresas do setor. Nesse sentido, a refinaria de Itupeva, no estado de
São Paulo, com capacidadde de refinar cinco mil barris por dia, provenientes de
pequenos campos terrestres do Brasil, Argentina e Bolívia, tornou-se exemplar.
Ainda em 2008, a imprensa repercutiu carta de Stepanenko acusando o governo
Lula de transformar em marketing político de sua gestão a revelação da
descoberta de reservas gigantescas de petróleo na camada geológica do
“pré-sal”, fato que teria ocorrido durante a presidência de Itamar Franco.
Stepanenko tornou-se um dos
vice-presidentes da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China – CCIBC.
Casado com Rosa Duran Castro, teve três
filhas. Casou-se posteriormente com Maria del Carmen Martins Tomé, com quem
teve um filho.
Publicou diversos trabalhos, a maioria em
co-autoria, entre os quais A Zona Rural da Guanabara — um levantamento
sócio-econômico (1962), A educação cristã e o desenvolvimento à luz do
Concílio e da Populorum Progressio (1968) e Guia de saúde
infanto-juvenil (1973 e 1974).
Verônica Veloso/Sinclair
Cechine
FONTES: CURRIC. BIOG.; Estado de S.
Paulo (8/5, 28/7, 28 e 30/8, 7 e 8/10 e 4/11/93, 12/1, 26/2, 4/3, 21 e
30/6, 5 e 27/8, 20 e 21/9/94 e 14/2/95); Folha de S. Paulo (8 e 21/5, 1
e 6/6, 4, 5, 7 e 30/8, 9, 21 e 22/10, 11 e 26/11, 15 e 21/12/93, 7, 12 e 29/1,
4/3, 26/4, 12/5, 25/8, 8, 9, 20, 25 e 26/9/94); Globo (8 e 29/5, 5, 9 e
10/6, 3 e 25/7, 7, 13, 27 e 29/8, 29/9, 5/11 e 7/12/93, 11 e 15/1, 12/2, 3/3,
2/5, 29/8, 7, 10, 17, 20 e 26/9/94, 2 e 17/9/95); INF. Rosa Duran Castro;
Jornal do Brasil (21 e 29/5, 25/7, 4, 5, 7 e 28/8, 9, 22 e 25/9, 5, 23 e
26/11 e 15/12/93, 7 e 12/1, 12/2, 29/4, 14/6, 25/8, 7, 8, 17, 21, 26 e 29/9/94
e 2/9/95); Veja (14/4, 23/6 e 11/8/93 e 20/9/95).www.senado.gov.br; www.ccibc.com.br; www.folhaonline.com.br; revista Petróleo e
Química, n.306/2008.