ZECA DO PT
* gov. MS 1999-2007.
José Orcírio Miranda dos Santos, conhecido como Zeca do PT, nasceu em Porto Murtinho (MS) no dia 24 de fevereiro de 1950, filho de Orcírio dos Santos e de Assunção
Miranda dos Santos.
Filho de gaúchos, seus migraram para a região quando ele
ainda era criança. Durante sua juventude, teve uma passagem pela Aliança
Renovadora Nacional (Arena), o partido de sustentação do regime militar. Em
1973, tornou-se funcionário do Banco do Brasil, ingressando na instituição
mediante concurso público. Em 1977, pediu transferência de seu município,
segundo ele com o intuito de conhecer uma cidade maior. Foi enviado para Assis
(SP), onde teve seus primeiros contatos com o movimento sindical. Em 1980,
mudou-se para a capital sul-mato-grossense, Campo Grande. Lá iniciou seu
envolvimento direto com o movimento sindical. Foi fundador do Sindicato dos
Bancários de Campo Grande, no qual chegou à presidência em 1981. Em 1983, foi
um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Iniciou cursos superiores em economia e direito, sem
concluí-los.
Foi fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) no estado do
Mato Grosso do Sul. Mais tarde, por sua identificação com a legenda,
incorporou-a a seu nome, passando a ser conhecido pela alcunha de Zeca do PT.
Nas eleições municipais de 1988, candidatou-se pela primeira
vez a um cargo eletivo, concorrendo à Câmara de Vereadores de Campo Grande,
pela legenda do PT. Na ocasião, foi o candidato mais votado na capital, mas seu
partido não obteve o número de votos suficiente para eleger um vereador.
Nas eleições de 1990, elegeu-se deputado estadual pelo PT,
obtendo 4.217 votos. Foi o primeiro deputado estadual eleito pelo partido no
Mato Grosso do Sul até aquele momento.
Nas eleições municipais de 1992, candidatou-se a prefeito de
Campo Grande pelo PT. No pleito, obteve 42.042 votos, ficando em terceiro lugar
e deixando de ir para o segundo turno por pequena margem de votos.
Nas eleições de 1994, candidatou-se mais uma vez ao cargo de
deputado estadual, pela legenda do PT sul-mato-grossense. Na ocasião, foi
reeleito, obtendo 7.768 votos.
Nas eleições municipais de 1996, candidatou-se mais uma vez a
prefeito de Campo Grande, pelo PT. No primeiro turno, obteve 101.657 votos, ou
38,72% dos votos válidos, posicionando-se na primeira colocação e seguindo para
o segundo turno. Nele, enfrentou André Puccinelli, candidato pelo Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Foi derrotado na ocasião, recebendo
130.713 votos, ou 49,92% dos votos válidos. Tendo perdido por estreita margem
(apenas 411 votos), chegou a pedir sem sucesso a anulação da eleição. O
candidato derrotado afirmou na ocasião que “nós não perdemos, fomos
roubados (...). Houve compra de votos e retenção de títulos [eleitorais]”.
Nas eleições de 1998, candidatou-se a governador do estado do
Mato Grosso do Sul, pelo PT. No primeiro turno, obteve 263.350 votos, ou 32,77%
dos votos válidos, posicionando-se na segunda colocação. Com isso, obteve o
direito de disputar o segundo turno, contra Ricardo Augusto Bacha, do Partido
da Social Democracia Brasileira (PSDB). No segundo turno, Zeca do PT elegeu-se
com 548.040 votos, ou 61,26% dos votos válidos.
Após as eleições, se encontrou com o presidente da República
Fernando Henrique Cardoso, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB),
ao qual o PT fazia oposição. No encontro, o presidente afirmou que os projetos
do governo federal no estado seriam mantidos (como o gasoduto Brasil-Bolívia e
o Projeto Pantanal). Por sua parte, o governador eleito declarou que os
recursos seriam utilizados exatamente para a finalidade destinada (insinuando
que isso não ocorreria até então), e que estabeleceria uma relação “franca e
amistosa com o presidente”.
No governo de Mato Grosso do Sul
Zeca do PT assumiu o governo do estado do Mato Grosso do Sul
em 1º de janeiro de 1999. Procurou sanear as contas do estado, implantando um
programa de reorganização administrativa e de combate à sonegação fiscal
(obtendo com isso um crescimento da arrecadação). Estimava-se que no governo
anterior o estado recolhia menos impostos devido à sonegação e à corrupção. Decidiu
não aumentar por um ano seu salário e os dos secretários estaduais. Por fim,
baixou diversos decretos com o objetivo de cortar gastos e sanear finanças.
Afirmou na posse que “a farra com o dinheiro público acabou hoje
no estado”.
Anunciou ainda que no início de sua administração os
pagamentos a fornecedores e a empreiteiras, bem como da dívida pública
estadual, seriam paralisados, para que os salários atrasados dos servidores
públicos fossem pagos. Mais tarde voltou atrás na decisão de não pagar a dívida
pública do estado, mas afirmou que iria lutar para renegociá-la, pois segundo
ele o estado comprometia 15% de seu orçamento com o pagamento, e não havia mais
possibilidade de novos cortes. Neste contexto, chegou a engajar-se em
articulações com outros governadores, com o intuito de estabelecer negociações
com o governo federal. Os governadores obtiveram ao longo de 1999 algumas
concessões por parte do governo federal nesta matéria.
Ainda no início do mandato, Zeca do PT foi acusado de ter
empregado diversos parentes na administração. Em dezembro de 1999, anunciou a
demissão de sua esposa, de um irmão e de dois sobrinhos. Em janeiro de 2000,
foi acusado de ter relações suspeitas com um empreiteiro que na ocasião era
responsável por uma importante obra pública no estado. A suspeita derivou do
fato do governador ter passado férias, acompanhado de familiares, em uma casa
de praia pertencente ao empreiteiro. Zeca do PT afirmou então que eles eram
amigos, que não havia imoralidade no ato, e que ele poderia repeti-lo quando
quisesse.
Em abril de 2001, foi divulgado o desvio de verbas do Fundo
de Amparo ao Trabalhador (FAT), repassadas pelo Ministério do Trabalho ao
governo estadual. Por suspeita de envolvimento com os desvios, o governador
exonerou o secretário de Estado do Trabalho, Agamenon do Prado, e a
superintendente de Comunicação, Sandra Recalde.
O governador procurou manter boas relações com o governo
federal e com o PSDB, chegando a defender uma aliança do PT com o PSDB nas
eleições presidenciais de 2002. Tomou iniciativas na direção do equilíbrio
fiscal defendidas por aquele partido, afirmando que “ajuste
das finanças, das contas públicas não tem ideologia, não é neoliberal nem é de
esquerda”.
Em 2001, chegou a oferecer uma secretaria a um membro do
Partido da Frente Liberal (PFL), Saulo Queiroz, abrindo uma crise no PT. O
governador admitiu em seguida que havia cometido um erro, ao mesmo tempo em que Queiroz recusou a oferta. Mais tarde, o PFL local passou a integrar a base de sustentação
do governo, além de setores do PMDB e do PSDB. No mesmo ano, Delcídio Amaral,
que teria proximidade com o PFL, passou a integrar o secretariado do governo
estadual, e se filiou ao PT. Em setembro, setores de esquerda do PT
sul-mato-grossense deixaram o governo, alegando que a máquina pública havia
sido utilizada na disputa pela presidência estadual do partido, a favor de
Vander Loubet, sobrinho do governador e vitorioso na eleição interna.
Ao longo de seu governo, Zeca do PT investiu na
infraestrutura sul-mato-grossense, em especial na recuperação da malha
rodoviária sul-mato-grossense, através da criação do Fundo
de Desenvolvimento Rodoviário de Mato Grosso do Sul (Fundersul).
Na
área social, implantou programas sociais “focalizados”, que naquele momento já
estavam se tornando marcas das administrações do PT, e que vinham sendo
implantados em diversos municípios e estados governados pela legenda. Entre
eles, o Bolsa Escola, que oferecia uma renda mensal às famílias de baixos
recursos que garantissem a presença de seus filhos na escola. Implantou também
um programa de Segurança Alimentar, com o objetivo de combater a fome, mediante
a distribuição de alimentos.
Instituiu
ainda o Banco do Povo, voltado para o oferecimento de microcrédito a indivíduos
de baixa renda, mediante taxas e exigências menores que as praticadas comumente
pelo mercado financeiro. No entanto, um dos projetos mais caros ao PT, o
Orçamento Participativo, foi implantado nos primeiros anos da administração sem
grande sucesso, e terminou sendo cancelado em 2001. Por fim, nessa área o
governador obteve da Assembleia Legislativa a aprovação do Fundo de
Investimentos Sociais, que garantia por lei um gasto mínimo anual com os programas
sociais. Gilda Maria dos Santos, esposa do
governador, foi escolhida a responsável pela área social do
governo.
Nas eleições de 2002, Zeca do PT se candidatou à reeleição
para o cargo de governador do estado do Mato Grosso do Sul, pela legenda do PT.
Na ocasião, obteve o apoio de outras sete legendas, entre as quais o Partido
Liberal (PL) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B). No primeiro turno,
obteve 509.843 votos, ou 48,33% dos votos válidos. Posicionou-se em primeiro
lugar, seguindo para a disputa do segundo turno com Marisa Serrano, do PSDB. No
segundo turno, foi reeleito com 581.545 votos, ou 53,74% dos votos válidos.
Na
ocasião, o governador foi denunciado pela alegada compra de votos, uso da
máquina pública e participação de funcionários do governo na campanha. A
candidata derrotada não aceitou o resultado, e pediu ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) a cassação do mandato do governador por suposto abuso de poder
econômico e político e por uso irregular dos meios de comunicação durante a
campanha. O pedido foi recusado pelo TSE, por falta de provas.
Enquanto
isso, o governador reeleito negou as acusações, e afirmou que sua prioridade
seria renegociar a dívida estadual com o governo federal e exigir repasses
federais atrasados, estabelecendo imediatamente negociações nesse sentido com o
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Zeca do PT iniciou seu segundo mandato como governador do
estado do Mato Grosso do Sul em 1º de janeiro de 2003. Em sua segunda
administração, ele seguiu em linhas gerais os eixos de seu primeiro mandato.
Procurou seguir investindo na modernização da administração estadual, com o
intuito de simplificar o funcionamento da máquina estatal e reduzir os gastos.
Investiu também em infraestrutura, tendo por meta aumentar a industrialização,
a exploração de minérios e o turismo no estado.
Os projetos de industrialização e mineração foram
questionados por ambientalistas durante o segundo mandato de Zeca do PT,
principalmente os investimentos na instalação de um pólo mineiro siderúrgico em
Corumbá (MS) e de uma termelétrica. Ambientalistas denunciaram que o apoio a
esses setores aumentava, enquanto o financiamento de projetos ambientais e de
desenvolvimento sustentável estaria sendo progressivamente reduzido.
O governador foi contestado também por apoiar a instalação de
usinas de álcool e de açúcar no entorno do Pantanal. Na ocasião, argumentou que
as usinas não representavam qualquer risco de dano ambiental. Devido à forte
oposição sofrida (inclusive por parte do governo federal), o projeto foi
arquivado em 2005. No entanto, em 2006, o governo estadual obteve finalmente a
aprovação na Assembleia Legislativa de projeto do mesmo teor, com pequenas
modificações em relação ao apresentado anteriormente.
Zeca do PT deu continuidade aos programas sociais implantados
no primeiro mandato, principalmente o Bolsa-Escola e distribuição de alimentos,
buscando ampliá-los e unificá-los com os do novo governo federal. A responsável
pela área social da administração (aí incluída a gestão do Fundo de
Investimentos Sociais) seguiu sendo a esposa do governador. Isso gerou
polêmica, pois iria contra a lei de nepotismo aprovada no estado durante o
mandato anterior. Por conta dessa lei, o governador demitiu a esposa,
readmitindo-a em seguida como presidente do Conselho Estadual das Políticas
Sociais, sem remuneração (o que, para o governador, não caracterizaria
nepotismo).
Uma decisão de 2003 gerou polêmicas e contestações na justiça
ao longo dos anos seguintes. Uma empresa ligada a parentes de Zeca do PT
recebeu a partir daquele ano a concessão do terminal portuário de Porto
Murtinho, que até então era estatal. Isso derivou na acusação de favorecimento,
e mais tarde de enriquecimento ilícito de parentes do governador.
Durante as discussões acerca da reforma tributária em 2003,
Zeca do PT, mediante negociações com o governo federal, garantiu a cobrança do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a entrada do
gás natural boliviano, que ocorre através de Corumbá. A cobrança de ICMS na
origem vinha sendo questionada pelo governo do estado de São Paulo. Segundo o
governador sul-mato-grossense, com a manutenção da cobrança o estado garantiu
uma receita anual que então era da ordem de R$ 180 milhões de reais.
Procurou
ainda combater a febre aftosa (doença viral que
afeta diversas espécies de animais), que poderia afetar fortemente a economia
do Mato Grosso do Sul, responsável então por quase metade da exportação de
carne bovina do país. Buscou controlar a fronteira do estado com o Paraguai
(que seria o foco de expansão da doença), para evitar que a enfermidade
continuasse a penetrar no estado, ao mesmo tempo em que prometeu vacinar o
rebanho local. No entanto, em 2005 a carne bovina sul-mato-grossense chegou a
sofrer um embargo nacional devido à doença.
Ao
final da administração de Zeca do PT, constatou-se uma melhoria nos indicadores
sociais do estado, como a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e
a redução do número de famílias consideradas em situação de miséria. Por outro
lado, o governador foi contestado ao longo de seu segundo mandato por não
repassar os recursos mínimos anuais para saúde e educação previstos por lei
federal.
Nas eleições de 2006, Zeca do PT cogitou se
desincompatibilizar do cargo para se candidatar a uma vaga no Senado Federal.
No entanto, acabou desistindo do projeto. Em seguida, o então senador Delcídio
Amaral (do PT) foi lançado pelo partido para sucedê-lo no cargo de governador.
No entanto, o governador e o senador estavam naquele momento rompidos
politicamente devido a disputas pelo controle do PT estadual, e por isso o
governador não teria oferecido um apoio decidido ao candidato. Amaral foi
derrotado já no primeiro turno por André Puccinelli, candidato pela legenda do
PMDB.
Zeca do PT deixou o governo do estado do Mato Grosso do Sul
em 1º de janeiro de 2007. Na ocasião, seu sucessor o acusou de ter deixado o
estado com vultosas dívidas.
Nos anos seguintes, o Ministério Público sul-mato-grossense
propôs mais de uma dezena de ações contra o ex-governador. Até o momento, a
maioria delas foi arquivada. Em outubro de 2007, foi acusado de um suposto
esquema de desvio de verbas durante o governo. A denúncia se originou em meio à
investigação de supostas irregularidades durante o governo do petista realizada
pelo Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul, durante a qual foi
apreendido um suposto livro-caixa associando nomes de políticos e empresas com
valores financeiros.
Após deixar o cargo, Zeca do PT retomou seus estudos em direito. Visando as eleições de 2010, lançou sua pré-candidatura ao governo do estado de Mato
Grosso do Sul. Como parte da composição, declarou apoio a Delcídio Amaral, em
sua intenção de se candidatar de novo ao Senado Federal, superando as disputas
do PT sul-mato-grossense.
Casado com Gilda Maria Gomes dos Santos, teve três filhas. Seu irmão, Heitor Miranda dos Santos, foi
prefeito de Porto Murtinho de 1989 a 1993 e seu primo (e adversário político),
Waldemir Moka, foi deputado federal pelo Mato Grosso do Sul a partir de 1999.
Fabricio
Pereira da Silva
Fontes:
Folha
de São Paulo (18/11/96, 28 e 29/10/98, 2 e 8/1/99,
27/02/00, 26/03, 1º/8, 18/9/01, 12/4, 1º/9, 28/10/02, 8/3, 26/8, 21/10/03,
22/2, 22/8/05, 31/3, 20/12/06, 5/3/08, 5/10/09).