CLUBE
DA LANTERNA
Organização
civil fundada em 28 de agosto de 1953, no Rio de Janeiro (então Distrito
Federal) pelo jornalista Carlos Lacerda para combater o governo do presidente
Getúlio Vargas. Congregava diversos parlamentares, principalmente da União
Democrática Nacional (UDN), maior partido da oposição. Seu órgão oficial era a
revista O Maquis; o diário Tribuna da Imprensa, de propriedade de
Lacerda, também dava cobertura às suas atividades. Foi fechado em 24 de
novembro de 1956 por decreto do presidente Juscelino Kubitschek.
Carlos Lacerda era o presidente de honra da organização, o
jornalista Fidélis Amaral Neto, seu presidente efetivo, e Alcides Carneiro, seu
orador oficial.
Atuação
A primeira reunião oficial do clube realizou-se na sede da
Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em 19 de maio de 1954. Nela foi
proclamada a finalidade imediata da organização: concentrar esforços nas
eleições legislativas e para o governo de 11 estados brasileiros, fixadas para
outubro daquele ano, levando o povo a votar “nos bons candidatos que estão
combatendo a oligarquia de Getúlio”.
Participaram da assembléia, entre outros, o senador Hamilton
Nogueira e os deputados federais Raimundo Padilha, José Eduardo Prado Kelly,
Olavo Bilac Pinto, Odilon Braga, Maurício Joppert e Heitor Beltrão — todos da
UDN; os deputados federais Raul Pilla e José Pereira Coelho de Sousa, do
Partido Libertador (PL); Anésio Frota Aguiar, do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), e Hermes Pereira de Sousa, do Partido Social Democrático (PSD), além de
Lacerda, Amaral Neto, Alcides Carneiro e dois estudantes do Centro Acadêmico XI
de Agosto, de São Paulo.
Em
agosto de 1954, o clube — como toda a oposição civil e militar a Vargas —
conferiu grande importância ao chamado atentado da Toneleros, ocorrido no dia 5
daquele mês, no qual foi assassinado o major-aviador Rubens Vaz e saiu ferido
Carlos Lacerda. O desenvolvimento do inquérito sobre o episódio revelou o
envolvimento de membros da guarda pessoal de Getúlio no crime. No dia 19, o
Clube da Lanterna dirigiu um apelo ao ministro da Guerra, Euclides Zenóbio da
Costa, para que as forças armadas promovessem a renúncia do presidente. A crise
teve um desfecho dramático, com o suicídio de Vargas em 24 de agosto.
A orientação seguida pelo novo presidente, João Café Filho,
concedendo a parlamentares udenistas e a homens ligados a esse partido pastas
ministeriais e cargos importantes em órgãos públicos, foi naturalmente bem
recebida pelo Clube da Lanterna.
A organização teve finalmente uma participação ativa nas
eleições de 3 de outubro de 1954, apoiando candidatos no então Distrito
Federal, no estado do Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas Gerais, no Ceará,
na Paraíba, no Rio Grande do Norte, no Rio Grande do Sul e na Bahia. Em sua
grande maioria, os nomes endossados pelo clube eram de políticos que concorriam
pela legenda da UDN. No Distrito Federal, o Clube da Lanterna promoveu os
candidatos da Aliança Popular contra o Roubo e o Golpe, coligação partidária
liderada pelos udenistas. Nesse pleito, Carlos Lacerda foi o deputado federal
mais votado.
No ano de 1955, alinhando-se com os udenistas e os militares
do grupo do brigadeiro Eduardo Gomes e do general Juarez Távora, o Clube da
Lanterna se opôs às candidaturas de Juscelino Kubitschek e João Goulart às
eleições presidenciais de outubro, julgando-as demasiadamente comprometidas com
o getulismo. Em 26 de abril, a comissão executiva e o conselho nacional do
clube solidarizaram-se com a candidatura de Etelvino Lins, homologada dois dias
depois pela convenção nacional da UDN, e apoiada por setores dissidentes do
PSD. Em 10 de maio, o clube endossou oficialmente o nome de Etelvino Lins.
Em 12 de maio, a direção da organização distribuiu nota à
imprensa reafirmando seu apoio à candidatura Etelvino Lins, desmentindo assim
as especulações sobre uma possível adesão a Juarez Távora, já então candidato
pelo Partido Democrata Cristão (PDC). No final de junho, entretanto, depois que
Etelvino desistiu de concorrer às eleições, o Clube da Lanterna passou a apoiar
Juarez Távora, que nesse momento já tivera sua candidatura homologada pela UDN.
No
final de outubro, quando os resultados do pleito presidencial já estavam
praticamente definidos a favor de Juscelino e Goulart, o vereador Nílton Leite
Passos, ligado ao Clube da Lanterna, leu na Câmara de Vereadores do Distrito
Federal um manifesto da organização. Devido ao teor do documento, que foi
considerado um atentado contra as instituições democráticas, o coronel Geraldo
de Meneses Cortes, chefe de polícia do Distrito Federal, abriu inquérito contra
o clube no dia 25 daquele mês.
Em
11 de novembro de 1955, o general Henrique Lott chefiou um movimento militar
que afastou do poder o presidente interino Carlos Luz, acusado de envolvimento
numa conspiração tramada pela UDN e pelos setores mais conservadores das forças
armadas com o objetivo de impedir a posse de Juscelino e Goulart. Na ocasião,
agentes do Departamento de Polícia Política e Social (DPPS) invadiram a sede do
Clube da Lanterna, apreendendo o arquivo e documentos da organização.
Em 9 de dezembro de 1955, Amaral Neto, presidente do clube,
prestou depoimento no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
Reafirmando sua posição contrária à posse dos candidatos eleitos, fez pesadas
críticas a Juscelino e Goulart, acusando-os de não reunirem condições morais e
legais para assumir o governo. Afirmou também que o PSD e o PTB tinham
concluído “uma aliança clandestina com o extinto Partido Comunista Brasileiro
(PCB), que se abrigou sob a legenda do Movimento Nacional Popular Trabalhista”
e que a carta-testamento de Getúlio Vargas era uma carta falsificada para
provocar conflitos”.
No decorrer de 1956 — primeiro ano de governo de Juscelino —
o Clube da Lanterna pautou sua atuação por ataques sistemáticos ao general
Lott, então ministro da Guerra. Em setembro, O Maquis teve sua
edição apreendida por ordem do general Augusto Magessi Pereira, chefe de
polícia do Distrito Federal, que considerou a capa da revista ofensiva ao
general Odílio Denis, comandante do I Exército. Em seguida, porém, Kubitschek,
preocupado em preservar a imagem democrática de seu governo, liberou os
exemplares apreendidos, o que levou Magessi a pedir demissão.
No
início de novembro, após as comemorações do primeiro aniversário do Movimento
do 11 de Novembro, parlamentares oposicionistas e militares manifestaram-se
publicamente contra a presença ao lado de Lott, durante a homenagem que lhe foi
prestada em frente ao Ministério da Guerra, de líderes sindicais e do
vice-presidente João Goulart. No dia 19, o governo anunciou que os militares da
ativa ou da reserva estavam proibidos de fazer pronunciamentos políticos. O
general Juarez Távora não seguiu essa determinação, e no dia 23 foi punido por
Lott com prisão domiciliar por 48 horas.
Identificado
como um dos responsáveis pela crise político-militar que o país atravessava, o
Clube da Lanterna foi fechado por decreto assinado por Juscelino e datado de 24
de novembro de 1956. Outro decreto, também promulgado no dia 24 por pressão de
altos oficiais da Marinha, fechou a Frente de Novembro, organização acusada de
subversiva. Segundo alguns, a proibição das atividades do Clube da Lanterna foi
uma satisfação ao general Lott, descontente com a punição imposta à Frente de
Novembro, que sempre o prestigiara.
Sérgio
Lamarão
FONTES: BENEVIDES,
M. Governo Kubitschek; COSTA, J. Marechal; DULLES, J. Unrest;
Globo; Tribuna da Imprensa.