CORREIO
PAULISTANO
Jornal lançado no dia 26 de junho de 1854 em São Paulo, tendo por fundador o proprietário da Tipografia Imparcial, Joaquim Roberto de
Azevedo Marques. Foi seu primeiro redator Pedro Taques de Almeida Alvim.
Primeiros tempos
Nascido liberal, o jornal, segundo José Freitas Nobre, em
pouco tempo tornou-se conservador: premido “por uma série de circunstâncias,
especialmente as de caráter financeiro... teve que ceder à pressão política do
Partido Conservador, a ele aderindo de maneira pública, perdendo um pouco do
prestígio que conquistara na sua orientação independente”. Em fins da década de
1860, entretanto, rompida a conciliação entre liberais e conservadores, a linha
editorial do jornal optou por aqueles.
Fundado
o Partido Republicano Paulista (PRP), o periódico tornou-se seu órgão de
divulgação e em 1874 foi comprado por Leôncio de Carvalho, adotando uma linha
reformista. Em 1882 assumiu a direção editorial Antônio Prado, que imprimiu ao
jornal a orientação de defesa do abolicionismo, e posteriormente de defesa da
ordem republicana. Nascido portanto como um órgão de imprensa liberal e
independente, logo a seguir conservador e dependente do poder político
oficial da província de São Paulo, novamente adepto da trilha liberal,
abolicionista e republicana, o Correio Paulistano tornou-se mais uma vez
oligárquico e conservador depois do advento da República, atingindo neste
período sua maioridade e prestígio juntamente com o PRP, então dirigido pelos
oligarcas paulistas Manuel Ferraz de Campos Sales, Prudente de Morais, Antônio
Prado e Francisco de Paula Rodrigues Alves, entre outros.
Porta-voz do PRP
O
Correio Paulistano, como órgão oficial do PRP, lançou, após o advento da
República, a campanha pela constitucionalização, lutando contra as intervenções
federais, notadamente em São Paulo. Também como porta-voz do PRP, veiculou os
ideais das oligarquias locais, apoiando seus líderes mais proeminentes. O ano
de 1928 foi assim comentado: “O ano que ontem decorreu em São Paulo, como para o Brasil inteiro, num ambiente de perfeita ordem, assinalando uma das
nossas fases de maior e mais intensa prosperidade... Governa o Brasil um homem
de têmpera, do civismo e da honestidade inquebrantáveis do sr. Washington Luís.
Governa São Paulo um homem de patriotismo, de esclarecida visão e da autoridade
moral do sr. Júlio Prestes” (1/1/1929). O editorial ressalta ainda o clima de
“ordem, tranqüilidade e trabalho”, destacando a estabilização cambial que
aumentava o volume de negócios e o intercâmbio comercial: “A nossa lavoura
prosperou. Prosperaram as nossas indústrias.”
O Partido Democrático (PD) de São Paulo era seu alvo
principal de crítica, dela não escapando também Joaquim Francisco de Assis
Brasil, líder do Partido Libertador (PL) do Rio Grande do Sul (24/1/1929). Em
julho desse mesmo ano, embora achasse prematura a busca de nomes para a
presidência da República, foi levado a apoiar, já desde o início de agosto, a
candidatura de Júlio Prestes para aquele cargo. Obviamente os candidatos da
Aliança Liberal não mereceram nenhum destaque em suas páginas, sendo assim
comentadas as eleições de 1930: “Os democráticos não reelegeram seus deputados
por falta de votos. E quem não dispõe de elementos eleitorais não pode ter a
pretensão de conquistar cargos eleitorais. Acusar-se o PRP porque os venceu,
sem esforço, elegante e brilhantemente, numa luta leal em que nada foi negado
ao adversário, nem mesmo a licença de descer à agressão insólita à autoridade
constituída, é imperdoável injustiça” (5/4/1930).
A partir dos primeiros dias do mês de setembro, porém, o
presidente eleito Júlio Prestes praticamente deixou de ocupar com destaque o
noticiário do jornal. E nas vésperas da Revolução de 1930, publicaram-se
notícias, ocupando duas colunas do jornal, sobre a manobra militar da 2ª Região
Militar e da 2ª Divisão de Infantaria. Na página 3 do Correio Paulistano da
edição de 4 de outubro de 1930 noticiavam-se os boatos referentes ao movimento
revolucionário, com o seguinte título, que se repetiria nos dias subseqüentes:
“Movimento contra o crédito e a honra do Brasil”. Dizia a matéria: “Circularam,
ontem à noite, veiculados por estações radiotelegráficas clandestinas,
localizadas em pontos diferentes, boatos anunciando que em Minas se teria
verificado um movimento perturbador da ordem. Não queremos dar crédito a
semelhantes notícias, mas se fato for verdadeiro, devemos, todos, ter a
segurança de que as forças do Exército, da Armada e da polícia da maioria das
unidades da Federação marcharão prontamente contra os agitadores, jugulando qualquer
manobra sediciosa na defesa da República, da lei e das autoridades
constituídas.”
Em conseqüência dos acontecimentos de outubro de 1930, assim
como os jornais que apoiaram a situação ligada à oligarquia rural e urbana do
PRP, o Correio Paulistano deixou de ocupar papel relevante na história
da imprensa política do país, passando a ter uma existência secundária.
Assim é que depois de outubro de 1930 o jornal teve sua
oficina desapropriada, reaparecendo somente em 1934, como propriedade da
Sociedade Anônima Correio Paulistano, sem perder sua função de órgão do PRP.
Este reaparecimento veio com a marca de oposição ao governo de Getúlio Vargas.
A eleição indireta de Vargas pelo Congresso Nacional foi assim interpretada:
“Consumou-se o atentado contra o espírito republicano e as nossas tradições
democráticas” (18/7/1934). Por coerência, contrário à interventoria paulista, o
jornal foi sempre desfavorável ao comunismo, ou mesmo a qualquer mudança na
legislação com medidas inovadoras ou renovadoras, e sempre favorável à
autonomia dos estados. E assim permaneceu no decorrer do período
estado-novista.
Pós-1945
Quando do processo de redemocratização, em novembro de 1945,
o Correio Paulistano publicou o seguinte editorial: “Precisamos
regressar à normalidade da vida institucional... Justamente porque se supôs, ou
se tem mesmo razões para crer, que alguma força se preparava para opor
obstáculos à realização do regresso pleno à vida institucional, fez-se um
movimento com apoio nas classes armadas. Esse movimento foi vitorioso, em nome
da idéia de que era mister a existência de um governo sinceramente empenhado em
realizar o pleito de 2 de dezembro. Em boa análise dos fatos, essa é a missão
desse governo.”
Quanto às conquistas trabalhistas, eram irreversíveis: “É
fora de dúvida que a ação de um governo, mais ou menos inclinado a atender a
essas realizações, pode realizá-las mais ou menos rapidamente, facilitá-las ou
não, ampliá-las ou não. Mas nunca revogar o que já está feito, ou pensar em
deter a marcha normal da transformação político-social que se operou no Brasil”
(4/11/1945).
A partir de novembro mudou a direção do jornal, aparecendo
como diretor João Sampaio e como redator-chefe Luís Antônio da Gama e Silva. No
pleito de 1950 o jornal apoiou as candidaturas de Cristiano Machado, do Partido
Social Democrático (PSD), em nível federal, e de Francisco Prestes Maia,
apresentado pela União Democrática Nacional (UDN), em nível estadual.
Na edição de 25 de agosto de 1954 o Correio Paulistano afirmou
que “abatido pela grave crise política, suicidou-se na capital do país o
presidente Getúlio Vargas”. A notícia era discreta, ocupando pouco espaço no
jornal.
Em 1955 o jornal assistiu a nova mudança, passando a ocupar o
cargo de diretor João de Scantimburgo. O slogan “órgão do Partido
Republicano” foi substituído por “O jornal mais antigo de São Paulo”, reflexo
da pequena expressão do antigo PRP na nova constelação partidária. O jornal
então passou a assumir uma linha editorial independente do aval partidário.
Tanto assim é que em 1955 realizou apenas a análise das candidaturas à
presidência da República, sem se definir claramente por nenhum dos pleiteantes,
embora em setembro daquele mesmo ano afirmasse que os antigos perrepistas
apoiavam a candidatura de Juarez Távora.
A 29 de outubro de 1955, quando boatos de oposição militar e
comentários de golpe militar para impedir a posse dos candidatos eleitos
circulavam por toda parte, o jornal defendeu a legalidade, apesar de o “sr.
João Goulart não ter qualidades para o exercício da vice-presidência: foi porém
eleito, e deve ser empossado, devendo, outrossim, sua posse ser garantida”
(29/10/1955).
Nas
eleições de 1960 o diretor do jornal, João de Scantimburgo, em comentário
assinado, divulgou a candidatura do marechal Henrique Teixeira Lott à
presidência da República. Coincidiu com a derrota do candidato o fato de o
diretor do jornal deixar o cargo, assumindo em seu lugar Péricles Eugênio da
Silva Ramos como diretor e redator-chefe. O Correio Paulistano apresentou
então um novo slogan: “O bandeirante da imprensa paulista.” E foi com
esse slogan que, após deixar de circular durante dois meses no decorrer
de 1963, retornou a público divulgando a figura de João Goulart e criticando
Carlos Lacerda. Finalmente, o periódico deixou definitivamente de ser editado
em meados do segundo semestre de 1963.
Amélia
Cohn
colaboração
especial
FONTES: