CRISTIANIZAÇÃO
CRISTIANIZAÇÃO
Termo
utilizado a partir de 1951 para designar a traição de um partido político a seu
candidato a cargo eletivo. A origem do termo está ligada ao nome de Cristiano
Monteiro Machado, candidato à presidência da República em 1950 pelo Partido
Social Democrático (PSD). Embora Cristiano Machado tenha sido indicado como
candidato oficial do PSD em 17 de maio de 1950 e confirmado na convenção nacional
de 9 de junho do mesmo ano, seu partido na realidade apoiou a candidatura de
Getúlio Vargas.
As
razões da atitude do PSD estariam ligadas à dissidência que se abriu dentro do
partido em torno da escolha de um candidato à presidência da República. A ala
getulista do PSD do Rio Grande do Sul, liderada por João Neves da Fontoura e
João Batista Luzardo, era favorável à candidatura de Nereu Ramos. Este nome
recebeu entretanto o veto do general Eurico Gaspar Dutra, então presidente da
República. Por outro lado, Ernâni Amaral Peixoto, genro de Vargas e chefe do
PSD no estado do Rio de Janeiro, junto com João Neves da Fontoura, declarou que
qualquer candidato do PSD deveria ter o apoio de Getúlio Vargas. Ao mesmo
tempo, representantes do Partido Social Progressista (PSP) divulgaram
informações de que Getúlio e Ademar de Barros não apoiariam a indicação de
Cristiano Machado, pois o PSP lançaria a candidatura do próprio Vargas.
Enquanto
Cristiano Machado era finalmente indicado pelo PSD, Vargas era lançado como candidato
do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), recebendo o apoio do PSP e da maioria
do próprio PSD. Cristiano Machado contou por sua vez com o apoio do Partido
Republicano (PR) e do Partido Trabalhista Nacional (PTN).
Realizadas as eleições, em que concorreram Eduardo Gomes e
Odilon Braga, pela União Democrática Nacional (UDN), Getúlio Vargas e João Café
Filho, pelo PTB e PSP, e Cristiano Machado e Altino Arantes, pelo PSD, PR e
PTN, saiu vencedora a chapa de Vargas.
Uma outra explicação para a atitude do PSD é fornecida por
Francisco Pedro do Couto. Segundo este autor, o PSD, ao lançar a candidatura de
Cristiano Machado, estaria na verdade procurando assegurar a vitória e a posse
de Getúlio Vargas. Para os principais dirigentes do PSD, a vitória de Vargas
nas urnas era indiscutível. Sua posse, no entanto, era problemática, na medida
em que, mesmo passados cinco anos, persistiam as restrições daqueles que o
haviam afastado do poder em 1945. Para que Vargas pudesse efetivamente voltar
ao poder, seria indispensável que obtivesse uma grande votação, capaz de
impedir toda tentativa contrária à sua investidura no governo. Desse modo, a
candidatura de Cristiano Machado teria sido lançada a fim de dividir os votos
antivarguistas e a assegurar a Getúlio um sufrágio que vedasse aos setores
militares qualquer intervenção no processo sucessório.
Alzira
Alves de Abreu
FONTE: COUTO, P. Voto.