DIÁRIO
DA MANHÃ
Jornal
pernambucano diário e matutino lançado em Recife em 16 de abril de 1927 pela
empresa Lima Cavalcanti e Cia. de propriedade dos usineiros Artur de Siqueira
Cavalcanti, Caio de Lima Cavalcanti, Carlos de Lima Cavalcanti, Fernando de
Lima Cavalcanti e Rui de Lima Cavalcanti. Foi fechado em 31 de dezembro de
1950, mas após algum tempo voltou a circular.
O primeiro diretor-geral do Diário da Manhã foi Carlos
de Lima Cavalcanti, que pouco antes rompera com o Partido Republicano de
Pernambuco para fazer oposição ao presidente estadual Estácio Coimbra através
de uma nova agremiação, o Partido Democrático de Pernambuco. No plano nacional,
os Lima Cavalcanti iriam apoiar o programa do Partido Democrático Nacional
(PDN).
Em seu editorial de apresentação, o Diário da Manhã
descrevia o compromisso que pretendia manter com “o engrandecimento da
nacionalidade, sem preocupações restritas de regionalismo”. Ainda no primeiro
número era publicado um telegrama do gaúcho Joaquim Francisco de Assis Brasil
(um dos articuladores do PDN) saudando o aparecimento do jornal. A mensagem
afirmava que “o Brasil civilizado e pacífico” vinha sendo “levado ao extremo da
revolução pela insolência insensível dos usurpadores de sua soberania” e que,
“sem a doutrinação da imprensa”, “nunca teriam soado os primeiros estampidos
das carabinas libertadoras, cujos saudáveis efeitos são mais eficazes depois
que elas emudecem”.
O
Diário da Manhã começou a circular com oito páginas nos dias úteis e 16 aos
domingos, em dois cadernos de formato padrão. Custava inicialmente duzentos
réis. Seu aspecto gráfico moderno, idealizado por Andrés Guevara — diagramador
da escola argentina de desenho —, chegou a impressionar o jornalismo
pernambucano da época e é hoje considerado um marco na renovação da imprensa do
Nordeste. O cronista João Monteiro, do jornal carioca A Noite, comentou
certa vez como era surpreendente existir em Recife um paginador como o do
Diário da Manhã: “Há gosto em tudo, até nos títulos das seções.” Na
verdade, Andrés Guevara colaborou em vários outros jornais brasileiros, como
A Manhã (1925) e O País (1923-1930). Em 1943, voltaria ao Brasil
para trabalhar na Folha da Semana e, na década de 1950, participaria da
fundação de Última Hora.
Integravam
ainda a primeira equipe do Diário da Manhã, entre outros, José de Sá
(redator-chefe), Cristiano Cordeiro (secretário), Esmaragdo de Freitas, Racine
Guimarães, Domício Rangel (redatores) e Osório Borba (correspondente no Rio de
Janeiro). A gerência era ocupada por Antônio Lumachi do Monte.
Entre os colaboradores mais regulares figuravam Maurício de
Lacerda, Agripino Grieco, Gilberto Amado, Barbosa Lima Sobrinho, Pedro Mota
Lima, Joaquim Pimenta, Vicente Licínio Cardoso, Edgar Teixeira Leite, João
Barreto de Meneses, Luís Cedro, Gastão Cruls e o padre Batista Cabral, além do
próprio Guevara, que fazia charges e caricaturas.
Fundado
para se tornar um veículo atuante de oposição, o Diário da Manhã
publicou logo nos primeiros números o livro inédito de Juarez Távora, Idéias
revolucionárias. Iniciou também uma campanha financeira de ajuda aos membros
da Coluna Prestes, que se encontravam exilados na Bolívia, e dedicou diversas
reportagens à marcha dos revolucionários. Ainda com o intuito de auxiliar os
companheiros de Prestes no exterior, o jornal anunciou a venda do livro
História de uma covardia, de Maurício de Lacerda, sobre o governo de Artur
Bernardes.
Em
28 de maio de 1927, soldados da cavalaria e da infantaria da polícia
pernambucana cercaram a sede do jornal para conter uma manifestação estudantil
contra o reconhecimento de Bernardes como senador da República. A situação
ficou ainda mais tensa no dia seguinte, com a publicação de uma charge
na primeira página do Diário da Manhã em que Artur Bernardes era representado por um camundongo atrás de uma cruz cercada de caveiras.
Embaixo, figurava a legenda “1922-Trindade Clevelândia-1926”, referindo-se aos dois presídios políticos que aterrorizavam os opositores do governo; em cima,
lia-se: “Sou eu o autor de tudo isso.” A charge, de autoria de Caio de
Lima Cavalcanti, fez com que vários redatores do jornal — entre os quais
Cristiano Cordeiro fossem intimados a comparecer à polícia.
Mesmo assim, o Diário da Manhã prosseguiu em sua
campanha de oposição, publicando no dia 16 de julho do mesmo ano um editorial a
favor da anistia, além de declarações de Assis Brasil e de outros líderes
liberais. O jornal realizou ainda outra extensa reportagem saudando Luís Carlos
Prestes como o “Cavaleiro da Esperança”, e chegando a chamá-lo de “homem-lâmpada
do Brasil”.
No
âmbito estadual, o jornal denunciava os favores concedidos pelo governo de
Estácio Coimbra a um certo grupo de usineiros, prejudicando os fornecedores de
cana. Criticava também o ex-presidente do estado, Sérgio Loreto. No mês de
setembro de 1927, foi iniciada uma violenta campanha contra o orçamento
estadual, qualificado de “monstro”. No mês de dezembro, foi amplamente
noticiada a agressão do chefe de polícia, Eurico de Sousa Leão, a um dos
diretores do jornal, Fernando de Lima Cavalcanti. Esse episódio deu início a
uma polêmica entre o Diário da Manhã e A Província.
Em abril de 1928, no primeiro aniversário do jornal,
comemorado com uma edição de dez cadernos, Carlos de Lima Cavalcanti assinou um
editorial prometendo manter a linha oposicionista de seu periódico: “Sejam
quais forem as hostilidades que se antepuserem à existência do Diário da
Manhã, prosseguiremos, impavidamente, dentro do nosso programa de reação
aos politiqueiros desonestos e aos déspotas que meteram o país no bolso.”
Sobre
essa edição comemorativa, o Diário de Pernambuco, que apoiava o governo,
comentou tratar-se de “uma interessante expressão da corrente revolucionária
nacional, de que o ilustre colega Carlos de Lima Cavalcanti se fez aqui
ardoroso paladino”. Dois dias depois, o Diário da Manhã negou sua
natureza revolucionária, acusando o Diário de Pernambuco de insinuar
“uma das mais terríveis perfídias que uma folha já terá feito a outra colocada
em campo contrário”. O jornal dos Lima Cavalcanti também atacou O País,
do Rio de Janeiro, que havia publicado artigos favoráveis a Estácio Coimbra.
Em maio de 1928, o jornalista Esmaragdo de Freitas, que
substituíra Cristiano Cordeiro na secretaria de redação meses antes, deixou
Recife. Em princípio, seu cargo foi acumulado por Carlos de Lima Cavalcanti,
mas pouco depois foi entregue a Jarbas Peixoto.
Ao
se iniciarem os debates em torno da sucessão de Washington Luís na presidência
da República, o Diário da Manhã mais uma vez afirmou sua linha
oposicionista. Quando a caravana da Aliança Liberal chegou a Recife, em 27 de
janeiro de 1930, o jornal intensificou sua campanha contra o governo e passou a
reclamar da censura a seu serviço telegráfico. Em 1º de março de 1930,
entretanto, a Aliança Liberal, através de seus candidatos Getúlio Vargas e João
Pessoa, foi derrotada nas urnas.
Em 30 de junho de 1930, o Diário da Manhã deu grande
cobertura à prisão, no Rio, de Carlos de Lima Cavalcanti, acusado de ser um
emissário do movimento revolucionário no Norte. Quando do assassinato de João
Pessoa, em 26 de julho, o jornal publicou editoriais violentos acusando o
governo de encobrir o crime. Em conseqüência disso, uma semana depois, ao ser rezada
a missa de sétimo dia, o jornal foi submetido à censura prévia, saindo com
vários espaços em branco. Suspensa a censura, foram publicadas na íntegra todas
as matérias anteriormente proibidas.
Três dias após a eclosão no Rio Grande do Sul da Revolução de
3 de Outubro, Caio de Lima Cavalcanti assumiu a direção do Diário da Manhã
em lugar de Carlos, designado para a interventoria provisória em Pernambuco. A partir de então, o Diário da Manhã tornou-se o porta-voz dos governos
estadual e federal, mantendo constantes polêmicas com o Diário de Pernambuco
e O Jornal, folha carioca pertencente a Francisco de Assis
Chateaubriand, que passou a criticar a política social do novo governo e os erros
da revolução.
Em relação ao Governo Provisório de Getúlio Vargas, as
críticas do Diário da Manhã eram raras e visavam sempre atos isolados.
Os dois recursos mais utilizados pelo jornal nesses casos eram o das fontes
indeterminadas (“soube-se”, “comenta-se”) ou da transcrição de matérias de
jornais oposicionistas, como o Correio da Manhã e O Globo.
Em
relação ao governo estadual, o jornal evitava noticiar as dissensões internas
ao situacionismo, negando ou minimizando todos os desentendimentos no interior
da administração Lima Cavalcanti. Tanto o rompimento de João Alberto Lins de
Barros com Carlos de Lima Cavalcanti, por exemplo, como a cisão entre o
interventor e seu secretário de Agricultura, João Cleofas, foram negados pelo
Diário da Manhã apesar de largamente noticiados por outros jornais. Mesmo
tendo-se transformado em sociedade anônima em 1932, o jornal manteve-se na mão
dos Cavalcanti, que passaram o cargo de diretor-presidente a Renato Carneiro da Cunha e conservaram José de Sá na chefia de redação.
A partir de 1935, entretanto, os desentendimentos entre
Carlos de Lima Cavalcanti — já então governador do estado — e Agamenon
Magalhães, ministro da Justiça de Vargas, iriam de alguma maneira refletir-se
no jornal. Iniciando-se como uma disputa pessoal pelo poder no estado de
Pernambuco, a divergência entre os dois políticos culminaria em novembro de
1937 com a decretação do Estado Novo. Nesse momento, Lima Cavalcanti foi
afastado do governo, enquanto Agamenon Magalhães era nomeado interventor.
A
partir daí, o Diário da Manhã passou a sofrer toda sorte de
perseguições. Em junho de 1938, Renato Carneiro da Cunha, que ainda havia tentado uma aproximação com Agamenon Magalhães, deixou o cargo de
diretor-presidente do jornal, sendo a seguir deportado juntamente com o redator
Luís de Barros. Os Cavalcanti perderam assim o controle do jornal, cuja direção
foi entregue a Rubens Pereira de Araújo.
Em
3 de fevereiro de 1939, Pedro de Sousa tornou-se diretor-presidente do
Diário da Manhã. Adotando uma posição de apoio ao Estado Novo, o novo
diretor declarou que o jornal se tornara um órgão de colaboração com os poderes
públicos para o engrandecimento nacional e a defesa dos interesses coletivos. A
partir desse momento, o jornal reduziu gradativamente seu número de páginas e
sua tiragem, até se transformar em semanário, em julho de 1941.
O Diário da Manhã manteve uma atuação inexpressiva na
imprensa pernambucana até 1946, quando foi adquirido por um grupo ligado à ala
dissidente do Partido Social Democrático (PSD), que pretendia lançar a
candidatura de Manuel Campelo Júnior ao governo do estado. Nesse momento,
voltou a circular diariamente com 12 páginas.
Mesmo
desvinculado de seu fundador, que na época articulava a criação da União
Democrática Nacional (UDN) de Pernambuco, o Diário da Manhã reassumiu
com seus novos proprietários uma posição mais democrática, publicando, a
propósito do Estado Novo, um editorial que dizia: “Após experiências em
desacordo com os impulsos de nossa índole, o país retoma, agora, a normalidade
constitucional, abrindo-se assim nova fase à cooperação construtiva entre a
imprensa e os órgãos do Estado, estruturados em bases legítimas, sob a autoridade
emanada das fontes puras da soberania popular.”
Com a derrota de Campelo Júnior nas eleições para governador
e a vitória de Costa Porto, diretor do Diário da Manhã, nas eleições
para deputado, o jornal foi novamente vendido, em dezembro de 1947, passando
por várias mãos até fechar suas portas por algum tempo em 1950.
João
Batista de Abreu Júnior
FONTES:
CAVALCANTI, P. Caso; LIMA FILHO, A. China; NASCIMENTO, L.
História.