DIÁRIO
DA NOITE
Vespertino carioca fundado em 1929 como parte do grupo de
jornais que começava a constituir, à época, o conglomerado de Assis
Chateaubriand.
Os recursos necessários para a fundação foram conseguidos por
meio de João Neves da Fontoura, com o apoio da Aliança Liberal. No fim do mesmo
ano já vendia mais de 120 mil exemplares diários.
O Diário da Noite carioca e o Diário da Noite
paulista, também de Assis Chateaubriand e dirigido por seu irmão Osvaldo, logo
ficaram conhecidos como Os Diários.
O
jornal apoiou a candidatura de Getúlio Vargas à presidência, contra Júlio
Prestes, candidato apoiado pelo presidente Washington Luís, com a publicação do
satírico encarte semanal A Manhã, escrito por Aparício Torelli. O
encarte tornou-se um jornal independente e seu autor adotou a alcunha de barão
de Itararé.
Em 29 de maio de 1930, Os Diários publicavam, em
primeira página, o documento “O manifesto do chefe revolucionário ao povo
brasileiro — o capitão Luís Carlos Prestes define a sua atitude atual”,
entregue a Rafael Correia de Oliveira, repórter do Diário da Noite
paulista. Prestes expunha suas idéias sobre a revolução que vinha sendo forjada
pela Aliança Liberal, desde que o processo eleitoral presidencial de março de
1930 passara a ser acusado de fraudulento pela oposição. Para que Os Diários
não se comprometessem em relação à Aliança Liberal, os jornais traziam, na
mesma edição, artigos que condenavam o conteúdo do manifesto.
Com apenas um ano de vida, o vespertino carioca já aparecia,
entre os jornais que formavam a ainda pequena rede de Assis Chateaubriand, como
o de maior tiragem, chegando a vender quase 150 mil exemplares diários.
Em 27 de julho de 1930, quando do assassinato de João Pessoa,
político da Paraíba e ex-candidato da Aliança Liberal a vice-presidente, o
Diário da Noite carioca estampava a manchete: “João Pessoa assassinado. O
criminoso: João Duarte Dantas. O responsável: o governo federal.”
A reportagem “Um movimento revolucionário em Minas e no Rio
Grande do Sul”, em 4 de novembro de 1930, noticiava a marcha da Revolução de
30. Desde então, até o fim do período revolucionário, em 24 de novembro de 1930, a imprensa permaneceu sob censura decretada por Washington Luís.
No fim do processo revolucionário, poucos dias depois da
posse de Getúlio Vargas, o Diá- rio da Noite passou a publicar
reportagens, entrevistas e artigos feitos no “front revolucionário”,
durante o período da censura. Ofereceu até um gigantesco churrasco aos três mil
soldados gaúchos acampados na Quinta da Boa Vista. O vespertino publicou também
uma longa entrevista com Getúlio Vargas, na qual o presidente explicitava os 17
pontos de sua plataforma de governo.
No início de 1931, o prestígio do Diário da Noite
carioca era tão grande que, no Carnaval, o compositor Noel Rosa fez um samba e
o dedicou ao jornal, levando à redação o manuscrito com a letra de Com que
roupa?.
Com o crescimento da influência do grupo dos tenentes no novo
governo, aumentaram as pressões políticas, as prisões e perseguições aos
adversários da Revolução.
Opondo-se
à criação e atuação do Tribunal Especial — tribunal de exceção, constituído
pelo Governo Vargas para julgar crimes políticos —, o Diário da Noite do
Rio de Janeiro passou a publicar artigos de Assis Chateaubriand que acusavam o
tribunal por arbitrariedades e prisões clandestinas. Além disto, artigos do
Diá- rio da Noite carioca, durante 1931, abordaram temas proscritos do
vocabulário da ala tenentista do Governo Provisório de Vargas, como a defesa da
instalação de uma assembléia constituinte, da redemocratização e as
dificuldades de relação entre o governo central e São Paulo.
Como
forma de equilibrar sua tendência crítica ao Governo Vargas, o Diário da
Noite, ao mesmo tempo em que apresentava artigos, editoriais e entrevistas
com as alas constitucionalistas de São Paulo e Rio Grande do Sul, cobria os
atos do governo central, o que, no entanto, não impediu o aumento da censura.
Ainda
no fim do mesmo ano, durante algumas semanas o jornal divulgou estar fazendo
uma pesquisa cuja pergunta principal visava definir o tipo ideal para ocupar o
cargo de presidente.
Antes
que pudesse ser publicado o resultado da pesquisa, o chefe de polícia, Batista
Luzardo, determinou o recolhimento de todas as planilhas, proibindo qualquer
menção ao assunto.
Em
1932, com a deflagração da Revolução Constitucionalista, em São Paulo, o governo de Getúlio Vargas aumentou a pressão sobre os jornais. Chateaubriand
sofreu, inclusive, o confisco da sede e da maquinaria de O Jornal, órgão
líder dos Diários Associados, e recebeu ordem de deportação. Escapou,
entretanto, no navio japonês Havai maru, que o levaria para o exílio.
A tiragem do Diário da Noite ao longo do conflito,
porém, quadruplicou em função da iniciativa de Arnon de Melo, seu
correspondente no front, de obter bilhetes, destinados pelos soldados às
suas famílias, para publicação no jornal, dando início assim à coluna “Correio
do Front”, que, inclusive, foi também depois reproduzida em O Cruzeiro.
A partir de 1937, com o transcorrer do Estado Novo, o
Diário da Noite, assim como o conjunto dos Diários Associados, voltou a
apoiar o governo de Getúlio Vargas.
Com a morte de um dos seus diretores, Gabriel Bernardes, o
jornal passou a ser dirigido por Dario de Almeida Magalhães, tendo Vítor do
Espírito Santo como redator-chefe. Nesse período o jornal tinha entre seus
colunistas regulares Rubem Braga e Ari Barroso.
Em
meados da década de 1950, o jornal Última Hora, fundado por Samuel
Wainer, que havia trabalhado em O Jornal, passou a competir e conquistar
parte do espaço de vendagem do Diário da Noite carioca. Assis
Chateaubriand associou-se então a Carlos Lacerda — político proprietário do
jornal Tribuna da Imprensa — e ambos começaram uma campanha de
desmoralização de Wainer. Os dois jornais passaram a explorar e denunciar a
negociação feita entre Samuel Wainer e o Banco do Brasil, autorizada pelo
governo de Getúlio Vargas e que possibilitou a abertura do jornal.
As pressões de Chateaubriand e Lacerda, através de seus
jornais, levaram à formação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) com
o objetivo de investigar Última Hora. Aprovada pelo presidente Getúlio
Vargas, confiante na maioria governista no Congresso, a CPI estendeu-se por
vários meses alimentando as ofensivas entre os três jornais.
Em
12 de julho de 1953, surgiu nova denúncia contra Samuel Wainer, afirmando sua
nacio- nalidade estrangeira, o que impossibilitaria que fosse proprietário de
um jornal, além de acusá-lo de falsidade ideológica por portar falsa
identidade, caracterizando-o como brasileiro.
No
começo de 1954, sob a forte pressão resultante dos dois processos contra Samuel
Wainer, Getúlio Vargas determinou que a dívida de Última Hora, fosse
executada pelo Banco do Brasil. No entanto, ao contrário do que pensavam
Chateaubriand e Lacerda, Última Hora conseguiu saldar a tempo seu
débito. Ainda que continuassem as investigações da CPI no Congresso, Os
Diários e a Tribuna da Imprensa centraram seus ataques no processo
de acusação contra a nacionalidade de Wainer.
Com
o suícidio de Getúlio Vargas em 1954, a revolta contra os Diários Associados
por sua campanha antigetulista, levou o povo do Rio de Janeiro a apedrejar e
incendiar os carros de reportagem e distribuição do Diário da Noite.
Em
outubro de 1955, em meio à campanha para a sucessão presidencial, o Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro condenou Samuel Wainer a um ano de prisão por
falsidade ideológica.
Preocupado em dar continuidade, após sua morte, ao império
jornalístico que havia construído, Assis Chateaubriand instituiu o condomínio
acionário das Emissoras e Diários Associados, em setembro de 1959, distribuindo
49% das ações e quotas que possuía dentro de toda a cadeia a 22 de seus
auxiliares.
Em
fevereiro de 1960 Chateaubriand foi acometido de uma dupla trombose que lhe
provocou uma paralisia quase total. No mesmo ano Alberto Dines foi convidado
por João Calmon, vice-presidente dos Diários Associados, para dirigir o jornal.
Foi nesse período que se cunhou, na redação do vespertino, a expressão “imprensa
marrom”, utilizada para designar revistas especializadas em chantagens. O Diário da Noite moveu uma campanha contra esse tipo de
publicação, que se valia do envolvimento de policiais para localizar suas vítimas.
No fim da década de 1950, a crise financeira do grupo dos Diários Associados tornou-se insustentável. Em fevereiro de 1961, afetado por
dívidas colossais, saía de circulação o Diário da Noite carioca, que, em
vários momentos, batera recordes de vendagem e que contava, ainda, com
expressivos colaboradores como Nélson Rodrigues, Antônio Maria e Sérgio Porto —
o Stanislaw Ponte Preta.
Maria
Ester Lopes Moreira
FONTES:
CONTI, M. S. Notícias; JORDÃO, F. Dossiê; MORAIS, F. Chatô;
SKIDMORE, T. Brasil: de Getúlio; WAINER, S. Minha.