DIÁRIO
DE NOTÍCIAS (Rio de Janeiro)
Jornal carioca diário e matutino fundado em 12 de junho de
1930 por Orlando Ribeiro Dantas. Saiu de circulação em 1974.
“O jornal da revolução”
Após as eleições presidenciais de março de 1930, que deram a
vitória ao candidato situacionista Júlio Prestes, acentuou-se a oposição ao
governo de Washington Luís. Nesse contexto de intensa agitação e abertura para
os debates políticos surgiu o Diário de Notícias, sob a orientação de
Orlando Dantas, Nóbrega da Cunha e Figueiredo Pimentel; jornalistas
recém-saídos de O Jornal.
Desde seu lançamento, a posição do Diário de Notícias
foi definida claramente. Sua proposta básica era lutar contra “a estrutura
oligárquica” da República Velha, colocando-se como porta-voz de um “espírito
revolucionário” que visava a transformação da sociedade. No seu entender,
entretanto, espírito revolucionário não tinha uma conotação de modificação
profunda da sociedade, mas significava a reforma, a substituição e o
aperfeiçoamento, vistos como uma forma de superar os métodos políticos
antiliberais então em vigor.
Assim, em sua declaração de princípios, ainda que sem se
comprometer com os partidos existentes, o jornal sustentou as teses da Aliança
Liberal, movimento oposicionista que apoiara a candidatura derrotada de Getúlio
Vargas à presidência da República e cujas principais reivindicações eram a
anistia, o voto secreto e reestruturação da justiça.
A seqüência dos acontecimentos que antecederam a Revolução de
1930 foi acompanhada dia a dia pelo Diário de Notícias, através da
coluna “Movimento revolucionário”, que pretendia esclarecer a opinião pública
quanto aos desencontros do governo.
De
maneira coerente com suas propostas oposicionistas e liberais, o jornal também
manifestou-se no plano econômico e social. Sua principal crítica recaiu sobre a
política de valorização do café, à qual foi atribuída a responsabilidade pela
crise de superprodução. Favorável à predominância do livre jogo da oferta e da
procura como reguladores do mercado e dos preços, o jornal combatia ainda a
monocultura, considerada responsável pela crise econômica, e defendia a
necessidade de diversificar a produção, apresentando como sugestão o incentivo
à cultura do algodão.
Ainda pautando-se em princípios do liberalismo, o Diário
de Notícias pronunciou-se contrário à existência de tarifas aduaneiras,
pois assim o Brasil não ganharia mercados, que não se abririam em represália a
essas tarifas altas. Na sua concepção, a política econômica do país devia
“fomentar as forças agrárias, organizar e lançar as diretrizes de um
industrialismo equilibrado que se alimentasse nas fontes legítimas do meio
agrícola nacional”.
Outra
preocupação importante do Diário de Notícias nessa fase inicial foi a
questão trabalhista. Contrariamente à política oficial, o jornal mostrava-se
favorável à elaboração de uma legislação trabalhista que melhorasse a situação
dos operários, garantindo-lhes salário mínimo, jornada de horas, legislação
sobre os acidentes de trabalho e aposentadoria. Entretanto, o Diário de
Notícias sempre fez questão de separar a solução desses problemas sociais
do bolchevismo, que combatia violentamente e acusava ser um regime em que a
liberdade era suprimida.
A atuação crítica do jornal logo o tornou alvo da repressão
governamental: suas matérias foram submetidas à censura e seu proprietário
Orlando Dantas foi chamado a depor na polícia quando começaram os primeiros
boatos sobre a eclosão da Revolução de 1930. Esse fato, contudo, não alterou a
linha editorial do matutino, que seguiu informando a respeito dos
acontecimentos pré-revolucionários recebendo o título de “O jornal da
revolução”. Em 24 de outubro, dia da deposição de Washington Luís, o Diário
de Notícias alcançou a tiragem de 168 mil exemplares, publicando como
manchete: “O Brasil despertou de um grande pesadelo — o Brasil está livre da
politicalha de ódios e vinganças.”
Contudo,
ao mesmo tempo que celebrou o decisivo acontecimento, deixou explícitas suas
reservas a respeito da junta revolucionária que assumiu o governo do país. No
seu modo de ver, os membros da junta eram revolucionários de última hora, pois
“os verdadeiros arquitetos da revolução foram aqueles que tingiram de rubro com
seu sangue generoso a areia de Copacabana”. Ficava assim manifesta a simpatia
do jornal pelos “tenentes”, principalmente Juarez Távora, a quem o Diário de
Notícias sugeria que fosse entregue a chefia do novo governo.
A despeito dessa desconfiança, o jornal deu um crédito a
Vargas quando este assumiu a chefia do Governo Provisório, no sentido de
esperar para ver seu desempenho. Atribuiu-se, no entanto, um papel de fiscal do
governo revolucionário, enviando elementos de sua confiança para proceder a um
levantamento da atuação dos interventores indicados pelo governo no exercício
de suas funções. Paralelamente, lançou um programa que no seu entender deveria
ser posto em prática pelo governo, composto de 19 itens, propondo a execução de
uma reforma administrativa, educacional e jurídica que estabelecesse de fato
princípios democráticos e liberais no país.
Na oposição a Vargas
Comprometido com essas propostas, o Diário de Notícias
logo levantou a bandeira da reconstitucionalização e em torno desse objetivo
surgiu a sua primeira grande dissensão com o governo. A não convocação de uma
assembléia nacional constituinte que trouxesse de volta a legalidade ao país
levou o matutino de Orlando Dantas a encetar uma campanha cerrada contra os
setores do governo que retardaram esse processo.
Assim,
a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932 contou com total apoio do
Diário de Notícias, que justificou a revolta como legítima, já que sua
reivindicação representava os anseios essenciais do povo brasileiro, de
concretização de uma ordem democrática. Essa postura lhe valeu uma censura
rígida por parte do governo, o que a seguir só fez acirrar sua luta sem tréguas
contra a “ditadura” de Vargas.
A
instalação da Assembléia Nacional Constituinte (ANC) em maio de 1933 foi
recebida com entusiasmo pelo Diário de Notícias, que se sentiu vitorioso
por ter sido o primeiro jornal a reclamar a reconstitucionalização. Na ocasião,
declarou: “Sursum corda! Erguei-vos, alegrai-vos corações! O velho grito
exultante se impõe nessa hora feliz para a nacionalidade sedenta!”
Uma vez promulgada a nova Constituição, o jornal se empenhou
em combater a candidatura de Vargas à presidência da República, com o objetivo
de evitar seu continuísmo, e deu seu apoio a outro concorrente, o gaúcho
Antônio Augusto Borges de Medeiros. A vitória esmagadora de Getúlio sobre seu
opositor deixou o jornal decepcionado, levando-o a ver “os destinos do país irremediavelmente
perdidos para a ditadura”.
Esse
ponto de vista aprofundou-se com a radicalização do processo político que
colocou em antagonismo aberto as forças de direita e de esquerda através do
confronto entre a Ação Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional
Libertadora (ANL). Na concepção do Diário de Notícias, esses movimentos
deveriam ser duramente criticados e reprimidos, pois além de suas propostas
ameaçarem os valores liberais, serviam de pretexto para Vargas justificar o
fechamento do regime em nome da ordem.
A proximidade das eleições presidenciais de 1938 e a
indicação dos candidatos à sucessão vieram dinamizar a luta do Diário de
Notícias contra o governo. Como candidato oposicionista, Armando de Sales
Oliveira recebeu o apoio do jornal, que, através dos seus editoriais, exaltou a
figura do ex-governador de São Paulo em detrimento do candidato governista,
José Américo de Almeida. Durante essa fase, temendo que o acirramento dos
conflitos sociais provocassem um adiamento das eleições, o Diário de
Notícias desencadeou uma luta pela manutenção do calendário eleitoral.
Contudo, a 10 de novembro de 1937, confirmando os temores do
Diário de Notícias e sob a alegação de falência dos partidos e de
infiltração comunista, Getúlio Vargas outorgou ao país uma nova Constituição e
implantou o Estado Novo. Ao Diário de Notícias, após a abolição das
liberdades públicas, só cabia fazer a divulgação do discurso presidencial e do
texto da nova Constituição. Entretanto seu passado de crítico ferrenho de
Vargas custou de imediato uma ordem de prisão a Orlando Dantas, a título de
advertência.
Nos anos seguintes, ainda que sofrendo forte censura,
exercida diariamente dentro da redação, o jornal procurou se manter
independente, negando-se a tratar dos assuntos sugeridos pelo Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), que tinham como objetivo divulgar os atos do
governo. Nessas circunstâncias, sua postura era buscar alternativas para burlar
a censura e centrar sua atuação no noticiário internacional.
Nesse
quadro, o jornal teve sua situação financeira agravada, envolvendo-se cada vez
mais num contínuo de dívidas que se acumulavam desde sua fundação. Se, por um
lado, a sua linha oposicionista lhe trazia incômodos à medida que o Estado Novo
se prolongava, por outro, o Diário de Notícias se firmava como principal
órgão oposicionista, chegando em 1939 a ocupar o primeiro lugar em circulação
entre os matutinos.
Em
1941, com o agravamento da Segunda Guerra Mundial, o Diário de Notícias
combateu os países do Eixo e deu ampla cobertura às agitações populares que
reivindicaram o ingresso do Brasil na guerra ao lado dos Aliados. A declaração
de guerra feita pelo Brasil em agosto de 1942 abriu algumas brechas no cerco da
censura, possibilitando no ano seguinte o lançamento do Manifesto dos
mineiros, manifestação ostensiva de oposição ao Estado Novo. O
Diário de Notícias, ainda que sem poder se expressar com clareza,
demonstrou simpatia pelo documento, já que suas reivindicações de
redemocratização assemelhavam-se às propostas do jornal.
Na redemocratização
Ao se iniciar o ano de 1945, com o avanço do processo de
abertura, o Diário de Notícias encontrou mais espaço para apresentar
suas idéias, publicando o editorial “Momento político”, onde fazia uma
avaliação da conjuntura política vigente e levantava dúvidas e temores em
relação à idoneidade do governo para encaminhar a redemocratização do país.
Partindo desse ponto de vista, o jornal marcou uma posição de vigilância junto
ao governo, de forma a desmistificar qualquer tentativa de adiamento das
eleições.
Com o lançamento das candidaturas à presidência da República
no início de 1945, o Diário de Notícias apoiou Eduardo Gomes, indicado
pela União Democrática Nacional (UDN), e denunciou o movimento “queremista”,
que advogava a Constituinte com Getúlio.
A
atuação das forças armadas na deposição de Vargas em outubro de 1945 e na
entrega do poder ao presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares,
satisfizeram os anseios do jornal, pois no seu entender o Poder Judiciário era
o menos corrompido pela ditadura.
A realização das eleições presidenciais em dezembro de 1945
deu ao Diário de Notícias a oportunidade de fornecer seu apoio integral
a Eduardo Gomes. O editorial do dia das eleições conclamava todos os eleitores:
“Votai em Eduardo Gomes!” Porém, as esperanças e expectativas do jornal logo se
diluíram com a vitória do general Eurico Gaspar Dutra, do Partido Social
Democrático (PSD), e a explicação para a derrota do candidato udenista foi “o
despreparo do povo para a democracia”.
Iniciado o novo governo, o jornal manteve uma posição
crítica, pois na sua concepção, Dutra nada mais era que o herdeiro de Getúlio.
Entretanto, várias das realizações do governo mereceram o apoio do jornal, tais
como o combate às forças esquerdistas e a proibição da prática do jogo do
bicho, além de várias medidas de ordem econômica. Em relação à política externa
o Diário de Notícias defendia uma efetiva cooperação continental,
enfatizando, entretanto, suas predileções por uma política especial de
aproximação com os EUA.
Novamente contra Vargas
Se, durante o mandato de Dutra, o jornal manteve uma linha de
moderação, a proximidade da sucessão presidencial e as negociações em torno de
uma nova candidatura de Vargas reacenderam seu antigo ódio pelo “ditador”.
Assim, em 29 de outubro de 1949, o Diário de Notícias publicou o
seguinte texto: “Getúlio Vargas, o inimigo número um da democracia brasileira.
Resumo histórico do governo mais discricionário e mais degradante que ainda
houve no Brasil. Incompetência, erros e crimes. Rasgou o ex-ditador duas
constituições; não cumpriu a sua própria portaria fascista de 1937 e se recusou
a assinar a Constituição atual. Pretende agora o queremismo? escravizar, de
novo o país.”
Devotando
a Vargas tais sentimentos, o jornal se empenhou em apoiar a candidatura
oposicionista do brigadeiro Eduardo Gomes. Novamente suas pretensões foram
frustradas, já que Getúlio foi o candidato vitorioso. Evidentemente o jornal
não aceitou de forma passiva a derrota e atribuiu o resultado das eleições a
atos de fraude e corrupção. Por fim, o jornal negou a validade da eleição sob a
alegação de que Vargas não tinha obtido maioria absoluta de votos. Entretanto,
a despeito de todas as tentativas da oposição, encabeçada pela UDN e na qual se
incorporava a voz do Diário de Notícias, visando impedir a posse do
candidato eleito, Vargas foi empossado em janeiro de 1951.
O início do novo governo contou com a mais ferrenha oposição
do Diário de Notícias, que denunciava os “enganos” da política econômica
de Vargas e “as articulações corruptas” daqueles que cercavam o presidente.
Em
fevereiro de 1953 o Diário de Notícias inaugurou uma nova fase que,
segundo o depoimento de muitos jornalistas, marcou o começo do seu longo
declínio. Nesse momento morreu seu proprietário e fundador Orlando Dantas,
sendo seu lugar ocupado por sua mulher, Ondina Portela Ribeiro Dantas, e seu
filho, João Ribeiro Dantas. Essa mudança não significou em princípio uma
alteração da linha do jornal, que manteve sua característica básica, atuando
como um órgão de oposição a Getúlio.
A partir dessa época, o assunto único e permanente nas
páginas do Diário de Notícias foi o ataque a Vargas, colocado como o
único responsável por todos os males que atingiam o Brasil. Dentro dessa
perspectiva foi enfocado o atentado da Toneleros, desfechado em agosto de 1954
contra o líder oposicionista Carlos Lacerda, e que resultou na morte de seu
acompanhante, o major-aviador Rubens Vaz.
Imediatamente as oposições se aproveitaram do caso para
acusar Vargas como o responsável pelo crime. À medida que as investigações se
aprofundavam e Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getúlio, era
incluí- do entre os acusados, abriam-se maiores possibilidades para os
oposicionistas. O Diário de Notícias publicava diariamente noticiários
agressivos exigindo a punição dos assassinos e a renúncia de Vargas, por ser
ele o responsável, em última instância, pelo crime.
Essa campanha ganhou seu ponto alto quando foram divulgados
os inquéritos e interrogatórios efetuados na Base Aérea do Galeão, deixando vir
a público inúmeras arbitrariedades cometidas pelos assessores de Getúlio. Em 20
de agosto, o Diário de Notícias lançou um editorial com o título “O
protetor dos criminosos”, exigindo a renúncia do presidente.
Essa onda crescente de pressões resultou no suicídio de
Getúlio no dia 24 de agosto. A divulgação da carta-testamento foi encarada pelo
jornal como uma “exploração macabra”.
A morte de Getúlio Vargas conduziu ao poder o vice-presidente
João Café Filho. Através do editorial “O novo governo”, o Diário de Notícias
ofereceu um voto de confiança ao presidente recém-empossado e mostrou-se
confiante no “restabelecimento da ordem e recuperação do país”.
O
desaparecimento de Vargas do cenário político não arrefeceu, entretanto, os
ânimos do matutino, que continuou a cerrar fileiras contra seus herdeiros
políticos. Por ocasião das eleições presidenciais de 1955, novamente o jornal
se armou para combater Juscelino Kubitschek, candidato do PSD e do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), entregando seu apoio em contrapartida a Juarez
Távora, lançado pela UDN.
Mais uma vez o resultado das eleições desapontou as
expectativas do jornal, uma vez que Juscelino foi o vencedor. Não se
conformando com mais uma vitória dos “herdeiros do getulismo”, o Diário de
Notícias se engajou na campanha para impedir a posse do candidato eleito,
sob a alegação de que este não tinha obtido maioria absoluta de votos e de que
as eleições haviam sido fraudadas. O jornal encampou assim as declarações
políticas do coronel Jurandir Bizarria Mamede advogando a anulação das eleições
presidenciais, declarações essas que constituiriam o estopim para a intervenção
militar do general Henrique Teixeira Lott visando garantir a posse dos
candidatos eleitos. Nessa ocasião o Diário de Notícias ficou muito
entrosado com os militares e passou a dar grande cobertura a todos os eventos
ligados às forças armadas, chegando a criar uma coluna especializada, um
noticiário de interesse dessa categoria.
Diante da deposição em 11 de novembro de 1955, de Carlos Luz,
que ocupava interinamente a presidência, pelas tropas do Exército, o Diário
de Notícias declarou que fora “implantada no país uma situação legal.
Revelavam-se golpistas efetivos os que nos acusavam de golpistas potenciais”.
No governo Kubitschek
A despeito de tantas dificuldades, Juscelino tomou posse em
janeiro de 1956. O Diário de Notícias, durante seu governo, manteve sua
postura oposicionista, acusando o presidente de aventureirismo, de corrupção e
de promover uma desastrosa política econômico-financeira que conduzia o país a
uma espiral inflacionária. Dentro dessa visão, a construção de Brasília era
encarada como supérflua, já que tantos outros setores possuíam maior urgência
no recebimento de recursos. Contudo, a principal acusação feita contra
Juscelino era o seu comprometimento com os elementos que haviam participado
efetivamente da “ditadura do Estado Novo”, o que demonstrava a ausência de uma
renovação dos quadros políticos e da estrutura da sociedade brasileira.
Assim,
na concepção do Diário de Notícias, era necessário criar condições de
renovação do país. Visando contribuir para esse objetivo, em junho de 1958, por
ocasião do seu 28º aniversário, o jornal lançou um manifesto intitulado “Um
estudo sobre a revolução brasileira”. A partir da publicação desse documento, o
matutino passou a apresentar novas propostas em relação ao ideário que sempre
norteara sua conduta política. Dentre os vários tópicos colocados, começou a
ser delineada uma linha política nacionalista que consistia na articulação de
três pontos: limitações para o capital estrangeiro, eliminação da clemência
para com as finanças internacionais e industrialização independente.
Paralelamente, o jornal lançava uma proposta de modernização do campo através
de uma reforma agrária que permitisse a integração das populações rurais e
tornasse viável a criação de uma classe média rural.
Para a concretização dessas propostas, o Diário de
Notícias não sugeria caminhos ou fórmulas políticas, limitando-se ao seu
tradicional antigetulismo ferrenho. Assim, a despeito dessas novas
preocupações, o jornal manteve sua combatividade frente ao governo de Juscelino
e em especial ao seu ministro da Guerra, Henrique Lott.
Em novembro de 1958, por ocasião da posse de Lott no
Ministério da Aeronáutica em caráter interino, motivada pelo afastamento do
titular da pasta, Francisco de Assis Correia de Melo, o Diário de Notícias
publicou uma matéria com o título “Crise na FAB”, relatando que oficiais
daquela corporação haviam enviado uma carta aos brigadeiros que não haviam
comparecido à cerimônia em protesto pela indicação de Lott. Como conseqüência, Lott
enviou um aviso ao ministro da Justiça solicitando providências para que o
Diário de Notícias fosse processado “por estar a serviço de um motim que
visa a subversão armada, através de um noticiário de deturpação sistemática e
interessada dos fatos”. Pouco depois, sob a invocação da Lei de Segurança
Nacional, foi aberto um processo contra o jornal. Depois de vários meses o
Supremo Tribunal Federal se pronunciou contra a inaplicabilidade da Lei de
Segurança ao caso e pouco depois o processo foi prescrito.
Apoio a Jânio Quadros
A
proximidade das eleições presidenciais e as articulações para a candidatura de
Jânio Quadros à presidência significaram para o Diário de Notícias a
oportunidade de um caminho para a concretização de suas propostas contidas em
“Um estudo sobre a revolução brasileira”. Jânio seria, do ponto de vista do
jornal, o candidato ideal para realizar as mudanças necessárias ao país, uma
vez que estava fora dos esquemas políticos tradicionais.
Partindo dessa posição, João Dantas se tornou praticamente
cabo eleitoral de Jânio, dando integral apoio à sua campanha. Assim, durante o
ano de 1959, acompanhou-o na viagem que fez à URSS, Iugoslávia, alguns países
da Europa e do Oriente, visando estabelecer as bases para a ampliação das
relações comerciais do Brasil. O Diário de Notícias deu total cobertura
a essa viagem, advogando de forma veemente a necessidade de uma abertura
comercial para os países comunistas. A esse respeito afirmava: “O reatamento de
relações diplomáticas com a URSS não só atendia aos interesses econômicos
nacionais como também nos libertava de um só mercado e de organismos de crédito
como o Fundo Monetário Internacional (FMI).”
Ainda nessa linha, o jornal manifestou-se com relação à
Conferência Internacional de Cúpula, realizada em novembro de 1959, denunciando
a posição dos países em desenvolvimento, sempre representados pelas grandes
potências. Através do editorial “Os povos devem falar”, advogou uma maior
participação dos povos do Terceiro Mundo nas grandes decisões da política
mundial.
Com
a vitória de Jânio e sua posse em 31 de janeiro de 1961, o Diário de
Notícias apresentou algumas divergências com o governo recém-instalado,
criticando a escolha do novo ministério, por não exprimir o pensamento do novo
presidente, nem corresponder aos anseios e esperanças do Brasil. A despeito
dessa divergência, o jornal encampou e defendeu as grandes questões propostas
pelo governo, como a política externa independente, a política
econômico-financeira e a condecoração de Ernesto “Che” Guevara.
Com a renúncia de Jânio em agosto de 1961, o Diário de
Notícias defendeu a posse do vice-presidente João Goulart, o que resultou
na apreensão de alguns de seus números pelo então governador do estado da
Guanabara, Carlos Lacerda.
Por essa época, o matutino tinha sua situação financeira
agravada, principalmente pelos gastos com a construção de uma nova sede, e sua
linha política já estava definitivamente alterada. Contrariando sua anterior
tradição antigetulista, o jornal deu apoio a várias medidas propostas por
Goulart, entre elas as chamadas reformas de base.
Porém,
quando eclodiu o movimento político-militar de março de 1964, o jornal se
afastou das forças janguistas para apoiar os militares. “Podemos ter agora o
que perdemos há três anos, um governo. Governo para cumprir e fazer cumprir a
Constituição e não para rasgá-la em praça pública a pretexto de reclamar
reformas de base.” Quanto à luta pelas reformas de base, esclarecia porém o
jornal, “não há porque temer o seu destino. A necessidade dessas reformas não
foi deposta com o sr. João Goulart”.
Pós-1964
A
expectativa do jornal em relação aos governos militares instalados a partir de
1964 acabou por não se concretizar, levando o Diário de Notícias a
aproximar-se da oposição. A partir de então, sua história confundiu-se com a
trajetória da decadência absoluta de uma empresa. Inúmeros foram os boatos
sobre a sua venda a diversos grupos econômicos, sem que nenhuma transação fosse
efetivada.
Em julho de 1974 o jornal passou às mãos de Olímpio de
Campos, apontado na época como representante do grupo econômico TAA. O novo
proprietário tentou a recuperação do Diário de Notícias, rearticulando
uma linha de apoio ao movimento político-militar de 1964. Suas intenções,
entretanto, não obtiveram êxito e o Diário de Notícias foi fechado ainda
no mesmo ano.
Marieta
de Morais Ferreira
FONTES: Folha
de S. Paulo (6/1/79); LEITÃO, C. Apontamentos; Tribuna da Imprensa (10/2/73);
Veja (15/4/70 e 24/7/74); VÍTOR, M. Cinco.