DIÁRIO DE
PERNAMBUCO
Jornal pernambucano diário fundado como folha de anúncios a 7
de novembro de 1825, em Recife. É hoje o mais antigo jornal em circulação na
América Latina.
Império
O primeiro proprietário do Diário de Pernambuco, jornalista Antonino José de Miranda Falcão, participou em
1826 da Confederação do Equador e, em 1846, iria se tornar administrador da Gazeta Oficial, no Rio de Janeiro. Embora em 1827 o jornal tenha
classificado Pedro I de “soberano liberal e respeitador da Constituição”, aprovou
a abdicação do imperador, noticiando em abril de 1831: “Temos a satisfação de
dar a saber aos nossos caros concidadãos os felizes sucessos da capital do
Império: triunfou a opinião pública. Parabéns, pernambucanos.”
Em fevereiro de 1835, o jornal foi vendido à firma Pinheiro e
Faria, de propriedade de Manuel Figueroa de Faria, que o transformou em órgão
oficial dos governos da província (essa posição seria mantida até 1911, com
alguns pequenos períodos de exceção). Na Revolução Praieira, em 1848-1849, o Diário de Pernambuco deu ampla cobertura informativa durante os cinco meses que
durou o movimento e acusou os revoltosos de espalharem “o susto e o terror”. Ao
eclodir a Guerra do Paraguai, divulgou proclamação oficial que pedia ao povo
para se alistar no batalhão dos Voluntários da Pátria. Antiescravista já na
década de 1850, o jornal exaltou a assinatura da Lei Áurea, em maio de 1888,
dando cinco dias de férias aos empregados para que todos comemorassem as
“festas da liberdade”.
República
Velha
Dois
meses antes da proclamação da República, em 1889, o
Diário de Pernambuco
afirmava em editorial que a revolução seria a “conseqüência fatal da origem
suspeita” do gabinete do visconde de Ouro Preto e que a paz só viria com “o
concurso dos elementos libertadores”. A partir da edição de 19 de novembro,
retirou do cabeçalho o emblema das armas imperiais. A República não alterou a
linha situacionista do jornal, que continuou a justificar as atitudes do
governo estadual como, por exemplo, através da série de artigos que defendia,
em abril de 1891, a ajuda financeira oficial para a criação de usinas de
açúcar, amplamente criticada pelo oposicionista
Jornal do Recife.
Na decretação do estado de sítio por Floriano Peixoto, em
1892, o matutino não se manifestou contra a junta nomeada para o governo local,
porém manteve-se numa posição moderada, chegando mesmo a polemizar com A Província e o Estado de Pernambuco, que apoiaram abertamente a atitude florianista. Dois
acontecimentos mereceram destaque em março de 1896: a chegada a Recife do
conselheiro Francisco de Assis Rosa e Silva, já considerado pelo diário como
chefe local do Partido Republicano Federal, e a substituição do governador
Barbosa Lima por Joaquim Correia de Araújo, ficando José Marcelino da Rosa e
Silva como vice-governador.
Assumindo cada vez mais a posição de órgão oficial, e com sua
tiragem e número de páginas decaindo progressivamente, sobretudo desde a morte
de seu diretor, Miguel de Figueroa Faria (agosto de 1896), o Diário de Pernambuco passou a se caracterizar no final do século pela publicação
de atos do governo, notas fúnebres e anúncios. Suspendeu a circulação em 24 de
março de 1901 para ressurgir no mês seguinte com novo proprietário: Francisco
de Assis Rosa e Silva.
Sob
a direção do jornalista e mais tarde deputado Artur Orlando, o matutino
reapareceu em nova feição gráfica, embora ainda com quatro páginas. Em agosto,
transcreveu artigos de jornais cariocas e discursos de parlamentares que
denunciavam o arrendamento das estradas de ferro do Norte do país a grupos
estrangeiros, antigo plano do presidente Campos Sales. Nesse período, muitos
intelectuais passaram pela redação do
Diário de Pernambuco,
entre eles o escritor Gilberto Amado, que começou como repórter e, nos anos de
1907-1908 publicou a crônica diária “Golpes de vista”, sob o pseudônimo de
Áureo. A partir de 1908, quando completou 83 anos de existência, o matutino
anexou ao título o
slogan: “Jornal mais antigo em
circulação na América Latina.”
O
jornal atravessou uma crise iniciada com o lançamento, em fevereiro de 1911, da
candidatura do ministro da Guerra de Hermes da Fonseca, general Dantas Barreto,
ao governo de Pernambuco pelo Partido Republicano Conservador, em oposição a
Rosa e Silva. Num clima tenso e de acusações mútuas, as eleições se realizaram
a 5 de novembro e, já dois dias após, o
Diário de Pernambuco
apontava a vitória de seu proprietário, Rosa e Silva, desprezando as denúncias
de fraude feitas pelo grupo de Dantas Barreto. Durante todo o mês de novembro,
Recife foi palco de manifestações populares, que provocaram choques com a
polícia e culminaram com a renúncia do governador Estácio Coimbra, diante da
recusa de intervenção do governo federal e do Exército. Pelo estreito vínculo
com a candidatura Rosa e Silva, o
Diário de Pernambuco
teve sua sede apedrejada e invadida e, por isso, não circulou durante 14 dias.
Voltou a 25 de novembro para, em seguida, fechar suas portas até janeiro,
quando reapareceu dirigido pelo ex-chefe de polícia Elpídio de Figueiredo.
Nesse ínterim, foram anunciados os resultados oficiais das eleições, dando a
vitória a Dantas Barreto. Mas esse período oposicionista do matutino durou
pouco porque, em fevereiro, o jornal acabou empastelado em definitivo pelo novo
governo, permanecendo fechado dois anos.
Em
janeiro de 1913, o jornal foi comprado pelo coronel Carlos Benigno Pereira de
Lira, industrial e fazendeiro em Alagoas e Pernambuco, que transformou seu
filho, Carlos Lira Filho, em redator-chefe e secretário-gerente da empresa.
Logo na primeira edição vinha a promessa do desinteresse pelas lutas
político-partidárias: “Estamos e estaremos na maior imparcialidade para encarar
os fatos que se desenrolam em nosso meio, quer em relação à política geral do
país, quer na do estado.” No entanto, a ligação do
Diário de Pernambuco
com Rosa e Silva ainda parecia tão forte aos olhos do povo que, nas eleições
para o Senado em 1915, a sede do jornal foi novamente apedrejada por pessoas
revoltadas com o fato de o Congresso ter dado posse ao antigo líder e não ao
candidato eleito, José Bezerra.
Na
campanha para o governo estadual de 1922, o jornal procurou se manter neutro
entre as duas candidaturas: a situacionista, de José Henrique Carneiro da
Cunha, apoiado pela coligação Manuel Borba-Rosa e Silva, e a oposicionista, do
coronel Eduardo de Lima Castro, lançada através de um acordo entre Dantas
Barreto, Estácio Coimbra e Pessoa de Queirós. Duas semanas antes das eleições,
a coluna “Várias”, de comentários políticos, propôs como solução conciliatória
que as duas facções indicassem um terceiro candidato para evitar “o ódio, a
intolerância e o apelo à violência”. A sugestão foi prontamente recusada pelos
dois grupos. Fez-se o pleito a 27 de maio e, como previra o
Diário de Pernambuco, a
oposição não aceitou a vitória do situacionista José Henrique Carneiro da
Cunha. Somente depois de dois meses de conflitos armados e articulações de
gabinete, as duas facções concordaram em anular as eleições e escolheram o juiz
Sérgio Loreto como candidato único.
O
período 1930-1945
Como
jornal tradicionalmente ligado à República Velha, o
Diário de Pernambuco
não estava entre os maiores interessados na queda do regime, mas 12 dias depois
de desencadeado o movimento revolucionário de outubro de 1930, registrava em
editorial que “o país ia de mal a pior e sem esperança de remédio”, e defendia
a revolução como “a única saída possível, diante da fraude eleitoral
absolutamente arraigada e dominante no país inteiro”.
Após uma série de negociações, o jornal foi novamente vendido
em junho de 1931, desta vez aos Diários Associados, por seiscentos contos de
réis. A troca de elogios entre o comprador, Francisco de Assis Chateaubriand, e
o vendedor, Carlos de Lira Filho, devidamente transcrita em algumas edições,
não impediu que três anos mais tarde o antigo proprietário requeresse um pedido
de falência da empresa, sob a alegação de que o comprador não cumprira todos os
compromissos assumidos. Seguiu-se uma troca de acusações, igualmente transcrita
nos jornais da época e, por fim, a Justiça considerou improcedente o pedido de
falência, decidindo pela manutenção da empresa em poder do grupo Associados,
onde permanece até os dias de hoje. Enquanto a causa esteve na Justiça,
Gilberto Freire e Ismael Ribeiro dirigiram a empresa.
A
partir de 1931 o matutino sofreu grandes alterações, aumentando o número de
páginas e o material informativo e adotando a reforma ortográfica. Tornaram-se
colaboradores Austregésilo de Ataíde, Azevedo Amaral, Álvaro Lins, Osvaldo
Orico, Gustavo Barroso, Lindolfo Collor, Afrânio Peixoto, Gilberto Osório de
Andrade, Medeiros e Albuquerque, Mário Sete e Cumplido Santana. Também a partir
de 1931 o Diário de Pernambuco passou
a criticar os rumos da revolução e, sobretudo, a atuação do interventor Carlos
de Lima Cavalcanti, acusado de oportunista e conivente com as torturas a presos
políticos. Com diversos pseudônimos, o redator Aníbal Fernandes assinou muitos
dos ataques ao governo estadual, logo respondidos pelo
Diário da Manhã,
de propriedade da família Lima Cavalcanti.
No
levante do 21º Batalhão de Caçadores, em outubro de 1931, gráficos, jornalistas
e dois diretores do jornal — José dos Anjos e Salvador Nigro — foram presos sob
suspeita de participação no movimento militar. O prédio do jornal foi invadido
e revistado pela polícia e, em seguida, o matutino foi fechado temporariamente.
Dias depois, o interventor revogou as prisões e a suspensão do matutino, uma
vez que era difícil fazer acreditar que o porta-voz da República Velha tivesse
ligações com um levante mais radical que a Revolução de 1930.
Apesar
da censura e das perseguições policiais, o
Diário de Pernambuco
demonstrou simpatia pela Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, e colocou-se ao lado do ministro da Viação, José Américo de Almeida, no
desentendimento entre este e Lima Cavalcanti quanto às verbas destinadas à seca
no estado. Esta última posição do jornal custou-lhe nova invasão na noite de 13
de setembro de 1932, quando dois policiais armados ameaçaram bater em todo
aquele que voltasse a falar bem do ministro José Américo, considerado “inimigo
de Pernambuco”. O episódio mereceu o protesto da Associação Brasileira de
Imprensa (ABI), obrigando o governo estadual a suspender a censura aos jornais.
Entre as várias proibições até então em vigor incluíam-se: “Não permitir
afixação de placards
com notícias e telegramas sem prévio visto da polícia nos originais; não
permitir nenhuma informação ou comentário derrotista ofensivo às autoridades
constituídas; não permitir exploração em torno de acordos com a paz; não
permitir referências a movimento subversivo do Sul do país, e sim de São Paulo;
não permitir chamar de revolucionários os políticos reacionários em armas, a
fim de evitar confusão; não permitir, sem prévia autorização da interventoria,
informação ou comentário sobre rompimentos políticos, em qualquer estado da
Federação ou sobre divergências entre chefes de forças militares do Governo
Provisório, para evitar intranqüilidade no espírito público; não permitir
informações ou comentários que possam dificultar o alistamento e incorporação
de reservistas e voluntários para defesa do Governo Provisório; não permitir
alarde sobre providências da interventoria quanto à manutenção da ordem pública
no interior, e não permitir quaisquer comentários desfavoráveis à ação da
interventoria no sentido de acautelar o governo e a população contra a
investida dos especuladores do comércio.”
Em agosto de 1936, em plena véspera da decretação do Estado
Novo, a censura voltou a freqüentar as redações, embora mais comedida. Numa
reunião no dia 10 com os diretores de todos os jornais de Recife, o secretário
de Segurança Pública, capitão Frederico Mindelo, advertiu que, a partir daquele
momento, caberia às próprias empresas a responsabilidade pelo cumprimento das
proibições, respondendo os diretores pelas desobediências às recomendações do
governo estadual. Pretendia-se impedir a publicação de notícias e artigos que
atingissem a ordem pública ou envolvessem críticas às autoridades militares do
Exército e da Brigada Militar. Comentar temas administrativos seria permitido,
mas sem uso de linguagem considerada desrespeitosa ou ofensiva à autoridade
pública.
Com ou sem censura, o Diário de Pernambuco sempre que possível procurou manifestar-se sobre as
articulações políticas durante a maior parte da década de 1930, até o Estado
Novo. Na edição de 27 de novembro de 1932, a coluna “Várias”, de Aníbal Fernandes, elogiou o aparecimento do integralismo, afirmando tratar-se de “um
movimento de idéias que pode ser o ponto de partida para uma verdadeira
renovação cívica do Brasil”. Pouco depois, a mesma coluna criticou a
participação do governo provisório pernambucano na formação do Partido Social
Democrático (PSD), “de fundo marxista e anticristão, afagando correntes
extremadas”. Em junho de 1936, o jornal passou a dedicar uma página diária à
matéria “Pela dignidade e pelos interesses de Pernambuco”, por iniciativa de
parlamentares dissidentes do PSD, onde o alvo principal era a administração
Carlos de Lima Cavalcanti. Na opinião dos responsáveis pela coluna —
transferida em setembro para a recém-fundada Folha da Manhã — a Revolução de 1930 “em nada contribuiu para o melhoramento
das condições político-sociais, econômicas e financeiras de Pernambuco”.
O
golpe do Estado Novo mereceu edições a 10 e 11 de novembro de 1937, onde se
anunciava a dissolução do Congresso, a outorga de uma nova carta constitucional
e a intervenção federal no estado, exercida inicialmente pelo coronel Azambuja
Vila Nova e, em seguida, por Agamenon Magalhães. Com a intensificação da
censura à imprensa a partir de 1937, o
Diário de Pernambuco
reduziu o noticiário político à publicação de atos oficiais e discursos
laudatórios de autoridades. Numa das poucas vezes em que se expressou sobre um
assunto polêmico, o jornal defendeu o ingresso do Brasil na Segunda Guerra
Mundial ao lado dos Aliados e chegou até a patrocinar uma lista de subscrição
popular para doar uma ambulância à Força Expedicionária Brasileira. Em abril de
1943, aproveitou o engajamento do país para lançar um suplemento de quatro
páginas sobre a guerra. Também estimulado pelo conflito mundial, o matutino
ampliou o noticiário internacional contratando em 1944 correspondentes
especiais em Londres e no Mediterrâneo, e os serviços de quatro agências
estrangeiras, entre elas a United Press e a Reuters.
Logo
que começou o ano de 1945, o
Diário de Pernambuco
colocou-se ao lado da candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República. Num comício realizado na noite de 3 de março, enquanto
oradores discursavam da sacada do primeiro andar do prédio do jornal, a Polícia
Militar resolveu dispersar a multidão, provocando a morte de um comerciante e
do estudante de direito Demócrito de Sousa Filho, além de ferimentos em dez
pessoas. No dia seguinte os policiais ocuparam a sede do matutino e ainda prenderam
o repórter Hélio Pinto e o redator-chefe Aníbal Fernandes. Apoiado em um
mandado de segurança, o jornal só voltou a circular no mês seguinte em edição
extraordinária, na qual se enxertou uma página da edição empastelada de 4 de
março, que não havia sido confiscada pela polícia. A página trazia críticas e
informações sobre a repressão ao comício, acusando o governo estadual pelas
duas mortes. Antes, a congregação da Faculdade de Direito havia feito a mesma
acusação à Polícia Civil.
Em setembro de 1945, o redator-chefe Aníbal Fernandes foi
agredido de madrugada por dois desconhecidos, quando voltava para casa.
Finalmente, a partir de 30 de outubro, o Diário de Pernambuco não mais precisou combater a campanha “queremista”,
favorável à permanência do presidente Getúlio Vargas no poder, pois este fora
deposto no dia anterior.
O
período 1945-1964
Realizadas as eleições presidenciais em dezembro de 1945,
saiu vitorioso o candidato do PSD, Eurico Gaspar Dutra. Empossado o novo
presidente, o Diário de Pernambuco viu com simpatia o novo governo.
Nas
eleições estaduais de 1947, o jornal apoiou a candidatura ao governo de Manuel
Neto Campelo Júnior, lançada pela coligação constituída pela União Democrática
Nacional (UDN), o Partido Democrata Cristão (PDC) e o Partido Libertador (PL)
em oposição à candidatura pessedista de Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho.
Derrotado seu candidato, o
Diário de Pernambuco
manteve-se na oposição durante todo o governo de Barbosa Lima. Por essa época,
deu ampla cobertura ao movimento cultural literário de emancipação intelectual
do Nordeste, liderado por Mauro Mota. Seu suplemento literário semanal abriu
sua coluna para os jovens escritores da região, estimulando assim o
aparecimento de novos talentos.
Ao
se aproximarem as eleições de 1950, o
Diário de Pernambuco
mais uma vez reafirmou seu antigetulismo, apoiando as candidaturas de Eduardo Gomes à presidência da República e de Manuel Neto Campelo Júnior ao governo do estado,
lançada esta pela UDN, o PDC e o PL. A derrota de ambos colocou o jornal em
aberta oposição tanto ao governo federal, chefiado por Getúlio Vargas, quanto
ao estadual, chefiado por Agamenon Magalhães. O governo federal, embora
criticado, era mais poupado, já que a ótica do jornal era privilegiar o
noticiário relativo ao Nordeste, relegando a segundo plano a cobertura da
política nacional.
Com a súbita morte de Agamenon Magalhães em 24 de agosto de
1952, tiveram início as articulações partidárias para a eleição em outubro do
mesmo ano de um sucessor que completasse seu mandato. Lançada pelo PSD, a
candidatura de Etelvino Lins contou com o apoio de praticamente todos os
partidos de Pernambuco, inclusive a UDN. Nessas circunstâncias, o Diário de Pernambuco, que sempre se posicionava contra o PSD, viu com simpatia a
indicação de Etelvino. Esse apoio entretanto teve curta duração, pois, uma vez
eleito, o novo governador passou a sofrer a oposição do Diário de Pernambuco.
Na esfera nacional, a oposição ao governo de Getúlio Vargas
crescia, passando o Diário de Pernambuco a acompanhar as posições da UDN, responsabilizando o
presidente pelos desmandos do país. Com o suicídio de Vargas e a posse do
vice-presidente João Café Filho, o jornal manteve sua orientação de dar pouca
cobertura aos acontecimentos nacionais, centrando sua atenção no pleito para o
governo do estado que seria realizado em outubro de 1954. O Diário de Pernambuco, mantendo seu apoio à UDN, manifestou-se favorável ao
candidato desse partido, João Cleofas, em oposição ao candidato lançado pelo
PSD, Osvaldo Cordeiro de Farias.
A
vitória de Cordeiro de Farias colocou o
Diário de Pernambuco
mais uma vez na oposição. Em 1957, por ocasião da aprovação do novo Código
Tributário do estado, que desencadeou um
lockout generalizado, paralisando
desde as grandes indústrias até as bancas de jornal, o matutino capitaneou a
oposição, dando amplo apoio às reivindicações dos grevistas.
Ainda nessa linha oposicionista, o jornal apoiou as Oposições
Coligadas, formadas pelo Partido Social Trabalhista (PST), o Partido Socialista
Brasileiro (PSB), o Partido Social Progressista (PSP), o Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) e a UDN, que lançaram a candidatura de Cid Sampaio ao governo
do estado nas eleições de 1958, contra o candidato pessedista Jarbas Maranhão.
Com a vitória de Cid Sampaio, o Diário de Pernambuco passou a dar seu apoio ao novo governo. Em 1959, nas
eleições para a prefeitura de Recife, novamente o jornal viu eleger-se o
candidato de sua preferência, Miguel Arrais, lançado pela aliança entre PST,
PSB, PSP, PTB e UDN. Porém, com o desenrolar do governo Arrais e sua
aproximação das forças de esquerda, o Diário de Pernambuco desencadeou intensa campanha contra a sua gestão, sempre
mantendo o apoio ao governador Cid Sampaio.
Na esfera federal, embora tivesse apoiado o candidato
udenista à presidência da República Juarez Távora, que foi derrotado por
Juscelino Kubitschek (PSD-PTB), o Diário de Pernambuco não fez oposição ao novo presidente, chegando a dar discreta
cobertura a seu plano desenvolvimentista.
Com a aproximação do novo pleito presidencial de outubro de
1960, o Diário
de Pernambuco, coerente com sua postura udenista, viu com simpatia a
candidatura de Jânio Quadros em oposição ao candidato do PSD-PTB, marechal
Henrique Teixeira Lott. Eleito Jânio Quadros, o noticiário do jornal, mais
voltado para as questões locais e regionais, não acompanhou os principais fatos
desse governo.
Com a renúncia de Quadros e a posse do vice-presidente João
Goulart em meio a uma profunda crise político-militar, o Diário de Pernambuco, acreditando estar o país ameaçado pelo comunismo, assumiu
uma posição marcadamente oposicionista em relação ao governo federal. Na esfera
estadual, com a radicalização política no Nordeste, intensificou a campanha
contra a administração de Miguel Arrais na prefeitura de Recife. Essa
orientação foi acentuada a partir da eleição de Arrais para o governo de
Pernambuco em 1962, quando o jornal passou a desencadear uma luta sistemática
contra toda e qualquer medida ensaiada pelo Executivo estadual.
Com
essa perspectiva, o jornal apoiou o movimento político-militar de 31 de março
de 1964, que depôs o governo Goulart e em Pernambuco foi o responsável pelo
afastamento de Miguel Arrais do governo do estado. A partir do estabelecimento
do novo regime, o
Diário de Pernambuco manteve-se
identificado com os governos revolucionários, vendo com simpatia os governantes
estaduais oriundos da Aliança Renovadora Nacional (Arena) e posteriormente do
Partido Democrático Social (PDS).
O
Diário de Pernambuco
entre 1964 e 1998
No
período entre 1964 e 1968 o
Diário de Pernambuco
deu ampla cobertura aos governos militares. Por essa época o jornal não teve
problemas com a censura, devido a sua proximidade e apoio explícito ao regime.
No plano estadual, apoiou o governo de Paulo Guerra e a sua política de
aproximação com as classes produtoras. As solenidades militares e a opinião dos
militares que serviam em Pernambuco, tendo à frente o general Justino Alves
Bastos, comandante do IV Exército, figuram entre os principais assuntos
abordados pelo jornal na época.
O
ano de 1964 foi o da vinda de dom Hélder Câmara para a arquidiocese de Olinda e
Recife. O Diário de Pernambuco
registrou a sua chegada a Recife e o início das suas funções. Todavia, após
1965 e durante boa parte dos anos seguintes dom Hélder Câmara foi
deliberadamente esquecido pelo noticiário do jornal, preocupado em não fazer
referências a pessoas que não fossem benquistas pelo regime militar. Este era o
caso do próprio dom Hélder, do ex-presidente João Goulart e do ex-governador
pernambucano Miguel Arrais, na condição de exilados.
Com
a edição do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, o
Diário de Pernambuco,
bem como toda a grande imprensa nacional, sofreu os efeitos da censura. No
Diário de Pernambuco a
censura processou-se de diversas formas: ora havia censores do Departamento de
Operações Internas-Centro de Operações para a Defesa Interna (DOI-CODI), que se
instalaram na própria redação, ora havia uma espécie de índex de temas e
pessoas proibidos de serem abordados nas matérias jornalísticas. O mais comum,
contudo, foi a vigência de ambas as formas de censura. Alguns jornalistas foram
presos e após a sua soltura não mais retornaram à redação do jornal.
No início do anos 1970 ocorreram algumas das alterações mais
significativas no processo de editoração e produção do Diário de Pernambuco. O antigo sistema de impressão gráfica, o chamado sistema “a
quente”, através de grandes prensas de linotipo de chumbo, foi gradativamente
substituído pelo sistema offset. O Diário de Pernambuco passou a circular de segunda a sexta com 64 páginas,
divididas em quatro cadernos específicos. Foi nesse período que o jornal
contratou os serviços das grandes agências de notícias internacionais, como
France Press, Reuters, Associated Press, e, no plano nacional, da Agência
Globo, da Agência Estado e da Agência Folha. Nos anos 1970, o jornal chegou a
manter sucursais em várias capitais do Nordeste, posteriormente abolidas.
No
fim dos anos 1970, teve inicio o processo de distensão do regime militar. Nessa
época encontrava-se no governo de Pernambuco José Francisco de Moura
Cavalcanti, eleito indiretamente em 1974. Em 1978 o Ato Institucional nº 5 foi
revogado pelo governo do general Ernesto Geisel e foi suspensa a censura prévia
aos jornais e à televisão. Em agosto de 1979, já no governo do general João Figueiredo (1979-1985), foi assinada a lei da anistia. O
Diário de Pernambuco
fez ampla cobertura desses acontecimentos. Assumiu, contudo, a postura de
noticiar sem procurar partidarizar a discussão em torno da retomada da
democracia. Por exemplo, publicou uma entrevista com Miguel Arrais marcando a
sua volta do exílio na Argélia, registrando a anistia ao ex-governador cassado
pelo regime militar, mas eximiu-se de dar maior destaque ao assunto.
O ano de 1981 foi marcado pela eleição ao governo estadual.
Disputaram o pleito o advogado Marcos Freire pelo Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB) e o professor da Faculdade de Direito do Recife e
advogado Roberto Magalhães, pelo PDS. Roberto Magalhães venceu as eleições. O Diário de Pernambuco, apesar de não publicar em editorial o seu apoio à campanha
do candidato do PDS, mostrou-se simpático à sua vitória e procurou cobrir com
destaque as ações do seu governo que se estenderia até 1985.
Em dezembro de 1983, o jornal noticiou o lançamento em todo o
país da campanha das Diretas Já. Em Recife, políticos como Miguel Arrais,
Cristina Tavares, Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Egídio Ferreira Lima e
Fernando Lira desencadearam a campanha em prol das eleições diretas para a
presidência da República. O Diário de Pernambuco acompanhou com atenção esses acontecimentos, registrando a
mobilização política em Recife e os comícios realizados na avenida Dantas
Barreto. Apesar de não ter garantido a eleição presidencial pelo voto direto,
seu maior objetivo, a campanha das Diretas, conseguiu uma ampla mobilização
político-partidária no intuito de inserir o país novamente num ambiente
democrático. A cobertura dada pelo Diário de Pernambuco, ainda temendo represálias por parte da censura oficial do
regime militar, manteve-se relativamente discreta, considerando a campanha como
mais um dos eventos políticos do período.
Em janeiro de 1985 ocorreram as eleições indiretas para
presidente da República. O ex-governador de Minas Gerais, Tancredo Neves —
candidato da Aliança Democrática, constituída basicamente pelo PMDB e
dissidentes do PDS — foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, derrotando o
político e empresário paulista Paulo Maluf, apoiado pelo último presidente do
ciclo militar, general João Batista Figueiredo. O noticiário do Diário de Pernambuco nesse período seguiu a tendência da grande imprensa nacional
de acompanhar e registrar esses fatos políticos, mas manteve a orientação
editorial de não tomar partido político na questão. Em novembro de 1986, Arrais
venceu as eleições para o governo de Pernambuco, derrotando o candidato do
Partido da Frente Liberal, o empresário José Múcio Monteiro. Apesar de
simpático à candidatura pefelista, o Diário de Pernambuco manteve sempre relações amistosas com o governo Arrais,
cobrindo as suas principais ações administrativas, sendo inclusive o governo um
dos principais contratadores dos seus serviços publicitários.
O
fim dos anos 1980 foi politicamente marcado pela expectativa da realização da
primeira eleição com voto direto para presidente da República. Em Pernambuco
tivera início também a corrida sucessória ao governo do estado. O
Diário de Pernambuco
apoiou discretamente a candidatura do advogado Joaquim Francisco de Moura
Cavalcanti, sobrinho do ex-governador Moura Cavalcanti, que derrotou o
candidato do PMDB o ex-prefeito do Recife Jarbas Vasconcelos. O jornal informou
também que Arrais fora eleito deputado federal com a maior votação do país,
mais de quatrocentos mil votos. O governo de Joaquim Francisco procurou
intensificar as obras do porto de Suape no litoral sul do estado, construir e
restaurar estradas e incentivar o turismo. Essas entre outras ações
administrativas foram registradas pelo noticiário do
Diário de Pernambuco.
No cenário político nacional, foi sensível à candidatura de Fernando Collor de
Melo em detrimento da de Luís Inácio Lula da Silva, lançado pelo Partido dos
Trabalhadores (PT), nas eleições presidenciais de novembro-dezembro de 1989. A exemplo dos demais órgãos da grande imprensa nacional, deu ênfase ao combate à corrupção e à
caça aos “marajás” do serviço público, mote da campanha do ex-governador de
Alagoas. Collor e Lula passaram para o segundo turno, tendo o primeiro saído
vitorioso.
Também no final dos anos 1980 ocorreram inovações na produção
e administração do Diário de Pernambuco. O jornal iniciou a informatização da redação, com terminais
de computadores ligados às centrais das grandes agências de notícias do Brasil
e do mundo. A colorização dos principais cadernos de notícias tornou-se
rotineira em todas as edições do jornal. Foi igualmente nessa época que iniciou
a terceirização do serviço denominado lojas de classificados (até então, o Diário de Pernambuco dispunha de funcionários para a coleta dos anúncios
classificados). Atualmente, a maior parte desses serviços foi repassada para
lojistas associados ao jornal. Em 1992 o Diário de Pernambuco foi arrendado pelo grupo Diários Associados ao empresário
local Armando Monteiro Filho, voltando a fazer parte do grupo em 1996.
Os
anos 1990 foram inicialmente marcados pela promoção pessoal do presidente
Collor. Sua performance como desportista e seu carisma pessoal levaram-no a
conquistar rapidamente a simpatia popular. No entanto, em 1992 complicações
envolvendo os fundos de sua campanha à presidência e as acusações de tráfico de
influência do advogado alagoano Paulo César Farias levaram-no a responder a um
processo de impeachment.
Todo esse processo foi acompanhado de perto pelo
Diário de Pernambuco.
Em todo o país as passeatas de jovens estudantes de rostos pintados, os
“caras-pintadas”, revelavam a aprovação popular à iminente saída de Collor da
presidência. O jornal destacou as grandes passeatas de “caras-pintadas”
ocorridas em Recife, que tomavam boa parte das principais avenidas do centro da
cidade.
Após
a autorização pela Câmara dos Deputados, em 29 de setembro de 1992, da abertura
do processo de
impeachment
de Collor, assumiu a presidência da República o vice-presidente Itamar Franco.
Em seu governo, foi lançado um plano econômico de estabilização financeira
elaborado pela equipe econômica do ministro da Fazenda Fernando Henrique
Cardoso, que ficou conhecido como Plano Real. A redução dos preços de vários
produtos da cesta básica de alimentos e a queda da inflação foram registrados
com entusiasmo pelo
Diário de Pernambuco
através de matérias especiais sobre os preços dos produtos antes e depois do
plano.
Nas
eleições de outubro de 1994, saíram vencedores, no plano estadual, Miguel
Arrais que, lançado pelo PSB, pela terceira vez assumia o governo pernambucano,
e, no plano federal, Fernando Henrique Cardoso que, embalado pelo sucesso do
Plano Real, derrotou o petista Luís Inácio Lula da Silva. O
Diário de Pernambuco
mostrou-se simpático ao governo Fernando Henrique Cardoso, apesar de manter a
orientação editorial de não apoiar politicamente nenhum governo. A presença dos
pernambucanos Marco Maciel, como vice-presidente da República, e Gustavo
Krause, como ministro do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, foi reconhecida
pelo jornal como favorável a Pernambuco.
Ainda no ano de 1994, o Diário de Pernambuco passou a ser propriedade do Condomínio Associados. Nesta ocasião, o Diário de Pernambuco iniciou as obras do seu novo parque gráfico, localizado na
zona norte de Recife. Em 1998, dispunha de novas máquinas informatizadas e
produção em larga escala, contando com cerca de 320 funcionários, entre
jornalistas e técnicos gráficos.
Em julho de 2004, a redação do Diário de Pernambuco mudou da sede onde permaneceu por 101 anos, para o prédio dos
Diários Associados, em Santo Amaro, devido a problemas de acesso ao centro da
cidade. O governo do Estado de Pernambuco adquiriu o antigo prédio da redação do
Diário, a fim de transformá-lo em um Memorial do Diário, com peças e documentos que
contariam a sua trajetória.
João Batista de
Abreu Júnior/Marieta de Morais Ferreira/Ricardo Lima Bezerra colaboração
especial
FONTES: Diário de
Pernambuco; JAMBO, A. Diário; JAMBO, A. Diário de
Pernambuco; NASCIMENTO, L. História; Portal da Fundação
João Nabuco. Diário de Pernambuco; disponível em:
http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=301&textCode=2869&date=currentDate;
acesso em: 17/12/2009.