CENTRAIS
ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL S. A. (ELETRONORTE)
Empresa
federal criada nos termos da Lei nº 5.824 de 14 de novembro de 1972 e
constituída em 20 de junho de 1973. Integra o quadro de empresas controladas
pela Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás)
Criação
A
Eletronorte foi constituída como subsidiária da Eletrobrás, empresa holding
federal, responsável desde 1962 pela execução da política governamental de
energia elétrica. Sua criação representou um marco importante no processo de
expansão da Eletrobrás que passou a atuar, operacionalmente, em todo o
território nacional, através de quatro subsidiárias de âmbito regional. A
Eletronorte daria início à produção de eletricidade em grande escala na região
amazônica, assumindo papel similar ao desempenhado nas demais regiões do país
pelas empresas Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), Furnas
Centrais Elétricas e Centrais Elétricas do Sul do Brasil (Eletrosul),
integrantes do grupo Eletrobrás.
A
criação da Eletronorte foi recomendada pelo Comitê Coordenador de Estudos
Energéticos da Amazônia (Eneram), organismo instituído em dezembro de 1968 pelo
Ministério das Minas e Energia (MME) que empreendeu, sob a supervisão da
Eletrobrás, um trabalho pioneiro de reconhecimento do potencial hidrelétrico de
ampla área da região Norte. Os estudos do Eneram foram realizados em meio a uma
renovada preocupação do governo com a significação geopolítica da Amazônia, em
face da descoberta de sua extraordinária riqueza mineral, especialmente em jazidas
de ferro e bauxita. Em setembro de 1972, o relatório final do comitê foi
aprovado pelo ministro das Minas e Energia, Antonio Dias Leite.
Em
14 de novembro, o presidente Emílio Médici sancionou a Lei nº 5.824, garantindo
recursos para a subscrição e o aumento de capital da Eletronorte. Para esse
fim, a Eletrobrás foi autorizada a utilizar até 10% do montante do Empréstimo
Compulsório cobrado em benefício da holding pelas concessionárias de
energia elétrica de todo o país junto aos consumidores industriais e
comerciais.
A
empresa foi oficialmente constituída em 20 de junho de 1973 sob a presidência
do coronel e engenheiro Raul Garcia Llano, que havia participado do inventário
dos rios amazônicos ao tempo do Eneram. Autorizada a funcionar como concessionária
de energia elétrica em 30 de julho pelo Decreto nº 72.548, a Eletronorte foi instalada no Rio de Janeiro, transferindo-se para Brasília dois anos
depois.
Sua
área de atuação inicial abrangia os estados do Amazonas, Pará, Acre, Mato
Grosso (ao norte do paralelo 18º sul) e Goiás (ao norte do paralelo 15º sul) e
os territórios do Amapá, Roraima e Rondônia que, à época, ainda não haviam
passado à condição de estados. Essa área seria ampliada em março de 1980 com a
inclusão do Maranhão e também de todo o estado do Mato Grosso, em conseqüência
do desmembramento do Mato Grosso do Sul.
Tucuruí
e os sistemas isolados
Em
1972, o parque gerador de energia elétrica na região Norte era composto
exclusivamente por pequenas unidades térmicas a diesel e óleo combustível,
somando 276 megawatts (MW) de potência, correspondentes a menos de 2% do total
nacional. Funcionando precariamente, os serviços públicos de energia elétrica
eram mantidos por prefeituras e empresas estaduais e federais, cabendo destacar
a presença da União nos serviços de distribuição de Manaus. O relatório do
Eneram demonstrou a existência de um vasto potencial hidráulico, mas em pontos
afastados das capitais e principais centros consumidores.
Em
seu primeiro ano de atividades, a Eletronorte realizou estudos sobre as
necessidades energéticas mais urgentes do Pará e do Amazonas. Em 1974, decreto
federal encampou os bens e instalações da hidrelétrica Coaracy Nunes que estava
sendo construída no rio Araguari (AP) pela Companhia de Eletricidade do Amapá
(CEA), passando-os para a Eletronorte que ficou encarregada da conclusão da
obra. A usina foi inaugurada em novembro de 1975 com 39 MW de potência,
marcando a entrada em funcionamento da primeira hidrelétrica na região Norte e
o início da fase operacional da Eletronorte.
O segundo empreendimento na geração de
energia hidrelétrica foi a construção da usina de Tucuruí, em trecho paraense
do rio Tocantins, distante 300 km de Belém. Com seu enorme potencial de 8.000
MW, a usina despontou como a maior hidrelétrica inteiramente brasileira, só
inferior à usina de Itaipu, de responsabilidade conjunta do Brasil e do
Paraguai. A primeira etapa do projeto consistiu na instalação de 12 unidades
geradoras com 4.200 MW de capacidade total. A usina foi planejada para atender
ao mercado energético polarizado por Belém, levando em conta um projeto global
de desenvolvimento regional que incluía incentivos tarifários e fiscais, em
especial para a instalação de indústrias eletro intensivas de alumínio. Também
foi considerado o suprimento de energia elétrica à região Nordeste mediante a
implantação de um conjunto de linhas de transmissão com 1.700km de extensão
entre Tucuruí e a usina de Sobradinho, no rio São Francisco, pertencente à
Chesf.
As
obras iniciadas em 1975 chegaram a mobilizar 40 mil trabalhadores. A usina foi
inaugurada com atraso em novembro de 1984 no final do governo João Batista
Figueiredo. Além da influência direta sobre o meio físico, a formação do
reservatório de Tucuruí com área de 2.430 km2 provocou forte impacto
social e econômico e o deslocamento de aproximadamente 25 mil pessoas,
incluindo duas reservas indígenas.
O
sistema de transmissão de Tucuruí foi composto inicialmente por 700km de linhas
de 500kV que ligaram a usina às subestações de Vila do Conde, Marabá, ambas
localizadas no Pará, e de Imperatriz, no Maranhão, ponto de interligação com o
sistema da Chesf. A entrada em operação da interligação Norte-Nordeste ocorreu
em 1981, viabilizando de imediato o abastecimento de Belém e do canteiro de
obras de Tucuruí com energia hidrelétrica gerada pela Chesf no rio São
Francisco. Posteriormente, a Eletronorte incorporou diversas instalações da
Chesf no estado do Maranhão, como a linha de 500kV entre Imperatriz e
Presidente Dutra. A interligação dos sistemas elétricos Norte e Nordeste
determinou a inclusão da empresa no Grupo Coordenador para Operação Interligada
(GCOI), organismo colegiado dirigido pela Eletrobrás, composto pelas principais
concessionárias de energia elétrica do país. A Eletronorte também ingressou no
Comitê Coordenador da Operação Norte-Nordeste (CCON), órgão encarregado do
relacionamento operativo e comercial entre as supridoras regionais e as
concessionárias estaduais integrantes do sistema interligado Norte-Nordeste.
A
progressiva motorização de Tucuruí e a expansão do sistema de transmissão
associado à hidrelétrica conferiram à Eletronorte um posição proeminente entre
as grandes empresas de energia elétrica do país. A usina assegurou o
abastecimento do mercado próprio da companhia na parte oriental do Pará, no
Maranhão e na área de Goiás que deu origem ao estado do Tocantins em 1988,
permitindo a desativação de diversas termelétricas de pequeno porte e o
intercâmbio de energia com a Chesf.
Passando
de importadora a exportadora de energia já no primeiro ano de funcionamento da
usina, a Eletronorte acumulou um crescente superávit nas trocas de energia com
a companhia nordestina. A produção de Tucuruí contribui decisivamente para
amenizar o racionamento de energia que atingiu milhões de consumidores dos
estados atendidos pela Chesf e da própria Eletronorte entre março de 1987 e
janeiro de 1988. A instalação do conjunto de máquinas da primeira etapa do
aproveitamento de Tucuruí foi concluída em 1992.
A
Eletronorte não construiu um sistema único, contínuo e interligado em
decorrência dos elevados custos de transmissão na Amazônia e das próprias
características do mercado na região, marcado por população dispersa e pequenas
cargas. Os sistemas isolados mais importantes abrangeram as capitais Manaus,
Porto Velho, Rio Branco, Macapá e Boa Vista.
Seu
parque gerador hidrelétrico passou a contar em 1989 com mais duas usinas:
Balbina e Samuel, situadas respectivamente nos rios Uatumã e Jamari, nos
estados do Amazonas e Rondônia.
O
aproveitamento de Balbina foi projetado para suprimento de Manaus,
complementando o parque termelétrico da capital amazonense. Com capacidade de
250 MW, a hidrelétrica tornou-se um dos empreendimentos mais polêmicos no campo
da geração de energia no Brasil. As obras iniciadas em 1981 consumiram quase 1
bilhão de dólares, valor superior em três vezes o custo de uma usina com a
mesma potência. O reservatório de Balbina inundou uma área de 2.360km2,
causando um impacto ambiental desastroso. Além disso, a usina apresenta baixa
eficiência em épocas de estiagem, comprometendo o abastecimento de Manaus, como
ocorreu em 1997.
A
usina de Samuel foi planejada para o atendimento de Porto Velho e outras
localidades de Rondônia, além de Rio Branco, no Acre. Os trabalhos no local do
aproveitamento foram iniciados em 1982. Sete anos depois, a primeira unidade
geradora entrou em operação. A instalação das demais máquinas foi bastante
demorada. Somente em 1996, Samuel atingiu a capacidade final de 216MW.
A
Eletronorte assumiu o comando dos sistemas de geração térmica de todas as
capitais da região Norte. Numerosas termelétricas de pequeno e médio porte
foram instaladas pela companhia nos estados da região geoelétrica de sua
responsabilidade, com exceção do Mato Grosso. A empresa construiu diversas
linhas e subestações no Mato Grosso, mas o suprimento de energia elétrica a
Cuiabá e aos principais centros consumidores do estado permaneceu a cargo de Furnas.
Eletronorte
Além
de grande supridora de energia das concessionárias e indústrias eletrointensivas
na Amazônia Legal, a companhia tornou-se responsável pelos serviços de
distribuição de Manaus e Boa Vista. Os consumidores industriais passaram a
responder por cerca de 90% da energia vendida pela Eletronorte. Entre os mais
importantes, figuravam a Albrás (alumínio), a Alunorte (alumina), a Camargo
Corrêa Metais (silício metálico) e a Companhia Vale do Rio Doce no Pará, a
Alcoa (alumínio e alumina) no Maranhão e a Icomi (manganês) no Amapá. Esses
consumidores firmaram contratos de fornecimento e tarifação de longo prazo,
sendo que para as indústrias de alumínio e a de silício metálico, as tarifas
levaram em conta os preços de seus produtos no mercado internacional.
A
Eletronorte deu continuidade na década de 1980 ao levantamento do potencial
hidrelétrico da Amazônia e aos estudos de viabilidade de novos aproveitamentos
nos rios Xingu, Tocantins, Araguaia e Trombetas. Os estudos na bacia do rio
Xingu levaram a empresa a projetar a construção da hidrelétrica de Cararaô,
depois denominada Belo Monte, no estado do Pará, com 11 mil MW de potência
final, considerada de vital importância para o abastecimento de longo prazo das
regiões Sudeste Nordeste. A empresa também concluiu o projeto básico da usina
de Manso, no rio de mesmo nome em Mato Grosso, contratando inclusive a execução
das obras civis. Em decorrência da redução dos investimentos do setor de
energia elétrica nos anos 1980 e também por causa de restrições ambientais,
Belo Monte, Manso e outros projetos foram postergados.
A
política governamental de contenção das tarifas de energia elétrica afetou
seriamente a Eletronorte e as demais empresas do setor. No caso da Eletronorte,
a questão tarifária incidiu de forma ainda mais aguda, em virtude de seu
mercado esparso, dos subsídios aos produtores de alumínio e das características
de suas instalações, compostas por obras ainda não amortizadas e sistemas
térmicos com alto custo de manutenção.
O
primeiro presidente da Eletronorte, Raul Garcia Llano, permaneceu à frente da empresa
durante dez anos, falecendo em 1982 no exercício do cargo. O engenheiro Douglas
Souza Luz, nomeado para o lugar de Llano, foi substituído em 1984 pelo
engenheiro Miguel Rodrigues Nunes que comandou a companhia até o final do
governo José Sarney em 1990.
Reforma setorial
O
agravamento da crise econômico-financeira do país no começo da década de 1990
obrigou a Eletronorte a adiar a execução de várias obras e a paralisar
trabalhos de inventários e estudos de viabilidade de novos aproveitamentos. As
tarifas foram novamente utilizadas como instrumento de combate à inflação no
governo Fernando Collor de Mello, baixando a patamares insuficientes para fazer
frente ao custo do serviço. Nos sistemas isolados da Eletronorte, o suprimento de
energia foi bastante prejudicado por falta de recursos para investimentos e
manutenção, recorrendo-se mesmo a um racionamento velado. A empresa também
acumulou vultosos débitos com empreiteiros e fornecedores de bens e serviços.
Os
primeiros passos para a reorganização institucional do setor foram dados no governo
Itamar Franco (1992-1994), em conformidade com uma política mais ampla de
redução da presença do Estado na economia e de abertura à participação do
capital privado em atividades virtualmente monopolizadas por empresas públicas.
Em março de 1993, a Lei n.º 8.631 estabeleceu um novo regime tarifário,
determinando a extinção do serviço pelo custo com remuneração garantida, o fim
da equalização tarifária e a assinatura obrigatória de contratos de suprimento
entre geradoras e distribuidoras.
Em maio de 1995, já no
primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, a Eletronorte e as demais empresas
de âmbito regional da Eletrobrás foram incluídas no Programa Nacional de
Desestatização (PND) pelo Decreto nº 1.503. O Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), órgão gestor do PND, assumiu a condução dos estudos
para modelagem de venda da companhia.
A Eletronorte perdeu dez concessões
de aproveitamentos hidrelétricos nos rios Tocantins, Araguaia e Trombetas, em
decorrência da legislação sobre as concessões dos serviços públicos aprovada em
fevereiro de 1995. Em julho do mesmo ano, a Lei n.º 9.074 fixou regras
específicas para as concessões dos serviços de eletricidade, reconhecendo a
figura do produtor independente de energia, liberando os grandes consumidores
do monopólio comercial das concessionárias e assegurando livre acesso aos
sistemas de transmissão e distribuição.
O
processo de privatização do setor começou com a venda das duas empresas
distribuidoras pertencentes ao grupo Eletrobrás: a Espírito Santo Centrais
Elétricas (Escelsa) e a Light, leiloadas em julho de 1995 e maio de 1996
respectivamente. Também em 1996, o MME iniciou os estudos do chamado Projeto
de Reestruturação do Setor Elétrico (RE-SEB) com a participação de consultores
internacionais e de técnicos da Eletrobrás, BNDES e outras empresas públicas e
privadas. Outro passo importante para a reforma do setor foi a criação da
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), instituída por lei em dezembro de
1996. A agência começou a funcionar como órgão regulador e fiscalizador dos
serviços de eletricidade do país um ano mais tarde.
Seguindo
recomendação do grupo de consultores internacionais, o governo federal iniciou
em 1997 um intrincado processo de reestruturação das empresas do grupo Eletrobrás,
tendo em vista a privatização de seus ativos de geração. Em novembro, as usinas
da Eletrosul foram transferidas para uma nova empresa, denominada Centrais
Geradoras do Sul do Brasil (Gerasul). Em dezembro, a Eletronorte também foi
cindida com a criação das subsidiárias Manaus Energia e Boa Vista Energia, que
receberam a parcela do patrimônio correspondente à geração e distribuição de
energia elétrica nas capitais do Amazonas e Roraima, respectivamente.
A
reestruturação da Eletrobrás e de suas controladas foi aprovada pelo Congresso
em maio de 1998. Assim, a Lei nº 9.648 autorizou o desmembramento da
Eletronorte em seis empresas, sendo duas para geração e transmissão de energia
elétrica relativamente aos sistemas Manaus e Boa Vista, uma para geração pela
hidrelétrica de Tucuruí, uma para geração nos sistemas elétricos do Acre e
Rondônia, uma para geração no estado do Amapá e outra para transmissão de
energia elétrica.
Peça básica da reforma
setorial, a Lei nº 9.648 instituiu o Mercado Atacadista de Energia Elétrica
(MAE) com a função de intermediar e registrar todas as transações de compra e
venda de energia nos sistemas interligados e o Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) como organismo sucessor do GCOI nas atividades de coordenação e
controle da operação das instalações dos sistemas interligados. A Aneel foi
incumbida de estabelecer a regulamentação do MAE, coordenar a assinatura do
acordo de mercado entre os agentes do setor e definir as regras de organização
do ONS.
A
nova legislação também determinou a assinatura dos chamados contratos iniciais
entre geradoras e compradores de energia com nove anos de duração. Os volumes
de energia dos contratos iniciais deveriam ser reduzidos gradualmente entre
2003 e 2006, com o objetivo de permitir a completa liberação do mercado ao
final do período. Qualquer diferença entre o montante produzido pela geradora e
o contratado com a distribuidora deveria ser compensado por transações no
mercado de curto prazo (mercado spot).
A
Eletronorte acrescentou cerca de 1.200 MW de potência instalada em seus
diversos sistemas na década de 1990. O crescimento da capacidade geradora foi
assegurado em grande parte pela conclusão da primeira etapa do aproveitamento
de Tucuruí, com a entrada em operação de mais duas unidades de 350 MW. As obras
da segunda etapa da usina foram iniciadas em 1998, tendo em vista a duplicação
de sua potência instalada e a conclusão do sistema de transposição da barragem
por meio de duas eclusas.
A
empresa também cuidou da ampliação do sistema elétrico associado a Tucuruí. A
implantação da linha de 230 kV entre Imperatriz e a subestação de Porto Franco
(MA) viabilizou o suprimento de energia da hidrelétrica ao estado de Tocantins
em 1993. Um extenso sistema de transmissão em 230 kV foi construído para levar
a energia de Tucuruí a diversas localidades do oeste do Pará, como Altamira e
Santarém. Concluídas em 1999, as obras do sistema conhecido como Tramoeste
foram realizadas em parceria com Centrais Elétricas do Pará (Celpa).
A
Eletronorte firmou contratos com produtores independentes para reforçar o
suprimento de energia a vários sistemas. Em 1997, ano marcado por cortes
diários de fornecimento de energia em Manaus, a empresa norte-americana El Paso
foi contratada para instalar três plantas termelétricas na capital amazonense.
Em Rondônia, a presença da companhia foi consolidada com o término das obras da
hidrelétrica de Samuel e a implantação da linha de 230 kV entre a usina e as
cidades de Ariquemes e Ji-Paraná. O atendimento à capital do Acre continuou
dependendo exclusivamente de fontes térmicas devido ao adiamento da linha de
transmissão Acre-Rondônia. A oferta de energia ao Amapá foi ampliada com a
entrada em operação da terceira unidade geradora da usina de Coaracy Nunes e a
instalação da termelétrica de Santana.
Em
1996, foi firmado acordo com a empresa venezuelana Electrificación del Caroni
(Edelca) para o atendimento de Boa Vista e outras localidades de Roraima com
energia do complexo hidrelétrico Guri/Macágua. O acordo previu o fornecimento
de 200MW de energia firme da Edelca e a construção de extenso sistema de
transmissão. A Eletronorte cuidou da implantação da linha de 230 kV até a
cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén. A interligação Brasil-Venezuela
entrou em operação em 2001, com dois anos de atraso, em decorrência de
problemas ambientais e com populações indígenas no lado venezuelano.
A
Eletronorte dividiu com Furnas a responsabilidade pela construção do sistema de
transmissão Norte-Sul, obra fundamental para integração elétrica do país. A
empresa foi incumbida da implantação das linhas de 500 kV entre Imperatriz e
Miracema (TO), somando 517km de extensão. Tendo como pontos terminais as
subestações de Imperatriz e Samambaia (DF), a linha Norte-Sul entrou em
operação comercial em março de 1999, propiciando a constituição do Sistema
Interligado Nacional (SIN).
No
ano seguinte, a empresa celebrou acordo de cooperação com a Eletrobrás para a
complementação dos estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental do
complexo hidrelétrico de Belo Monte. A retomada dos estudos sobre Belo Monte
levou em conta novas premissas para o desenvolvimento do projeto, em especial,
a significativa redução da área do reservatório.
O
posto de presidente da Eletronorte nos governos Collor e Itamar Franco foi
ocupado sucessivamente pelos engenheiros Armando Ribeiro de Araújo, Afonso
Tiago Pinto Simas e Ricardo Pinto Pinheiro. Demitido do cargo em dezembro de 1995,
por suspeita de irregularidade em um acordo envolvendo dívidas da estatal com a
construtora Andrade Gutierrez, Ricardo Pinheiro foi substituído pelo engenheiro
Mario Fernando de Melo Santos. Diretor de Operação da Eletrobrás, Mario Santos
exerceu a presidência da Eletronorte em caráter interino por seis meses. Em
1996, o engenheiro José Antonio Muniz Lopes assumiu o comando da empresa,
permanecendo à sua frente até o final do segundo mandato do presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Racionamento
de 2001
A
reforma do setor de energia elétrica empreendida pelo governo Fernando Henrique
Cardoso teve como pano de fundo o aumento dos riscos de déficit de energia em
virtude dos investimentos insuficientes em geração e transmissão e do uso
excessivo da água nos principais reservatórios das usinas do sistema elétrico
brasileiro. A venda de numerosas empresas estatais de energia elétrica gerou
uma receita de US$ 22,2 bilhões, modificando a estrutura de propriedade do
setor, em especial no segmento de distribuição. Entretanto, o governo não
conseguiu implantar um ambiente regulatório adequado para a pretendida expansão
do setor pelo capital privado. A par disso, restringiu os recursos financeiros
para obras das empresas estatais, que já estavam atrasadas.
O
programa de privatização das geradoras federais foi praticamente interrompido
após a venda da Gerasul, em setembro de 1998. Além das dificuldades no plano
econômico decorrentes da desvalorização cambial de janeiro de 1999, o governo
Fernando Henrique deparou-se com forte resistência política contra a privatização
da Eletronorte, Furnas e Chesf. Contestada por governadores e parlamentares da
própria base de apoio do governo, a venda dessas empresas ficou ainda mais
comprometida com a irrupção da crise energética de 2001.
O
ponto mais polêmico da proposta de privatização da Eletronorte era a forma de
viabilização econômico-financeira dos sistemas isolados da região Amazônica. Esses
sistemas eram deficitários e dependentes de aporte de recursos provenientes de
Tucuruí, sem contar vários subsídios como a Conta de Consumo de Combustível
(CCC), fundo setorial destinado à cobertura dos gastos com aquisição de
combustível para geração termelétrica. Em março de 1999, o ministro de Minas e
Energia, Rodolpho Tourinho, admitiu rever a idéia de desmembramento da
Eletronorte, acenando com a possibilidade da venda integral, e não em separado,
de seus ativos de geração e transmissão. O governo tentou formular, sem êxito,
uma nova proposta de modelagem de venda das empresas do sistema Eletrobrás.
Também
fracassaram as diversas tentativas para aumentar a oferta de energia elétrica
no curto prazo, em especial o Programa Prioritário de Termelétricas (PPT),
lançado em fevereiro de 2000.
As
condições hidrológicas bastante desfavoráveis nas regiões Sudeste e Nordeste em
2001 acabaram precipitando a maior crise de energia elétrica já ocorrida no
Brasil. Em função da gravidade da situação, o governo criou a Câmara de Gestão
da Crise de Energia Elétrica (GCE), em maio de 2001, e implantou um rigoroso
programa de racionamento em grande parte do território nacional. Ficaram de
fora apenas os estados da região Sul e as localidades atendidas pelos sistemas
isolados.
O
racionamento começou em 1º de junho nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e
Nordeste e em 15 de agosto nos estados do Pará, Maranhão e Tocantins, atendidos
pela usina de Tucuruí. Graças à redução do consumo nesses estados, a
hidrelétrica da Eletronorte pôde exportar uma parcela significativa de sua
produção para as regiões Nordeste e Sudeste. O racionamento terminou no final
de dezembro no Norte do país, perdurando mais dois meses nas demais regiões.
Mudanças no governo Lula
A
crise energética de 2001 teve grande impacto sobre o setor de energia elétrica e
a vida econômica e social do país, suscitando intenso debate sobre as reformas
liberalizantes do governo Fernando Henrique Cardoso. Em 2003, o novo governo
presidido por Luís Inácio Lula da Silva propôs mudanças no marco regulatório do
setor com o objetivo de garantir o abastecimento de energia do país, assegurar
a adequação das tarifas para o consumidor e permitir a retomada dos
investimentos. O novo modelo foi aprovado em março de 2004 com a promulgação
das Leis nº 10.847 e 10.848, regulamentadas por cinco decretos publicados entre
maio e agosto do mesmo ano.
A
Lei nº 10.847 criou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), entidade vinculada
ao MME, com a missão principal de desenvolver os estudos necessários ao
planejamento da expansão do sistema elétrico. A Lei nº 10.848 tratou das regras
de comercialização de energia, instituindo: a competição na geração mediante a
realização em separado dos leilões de energia de empreendimentos existentes (a
chamada “energia velha”) e de novos empreendimentos (“energia nova”) pelo
critério de menor tarifa, a coexistência de dois ambientes de contratação de
energia, um exclusivo para os geradores e as empresas distribuidoras e outro para
as transações entre consumidores livres, comercializadores e geradores. A
Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) foi criada em substituição
ao MAE, como entidade privada encarregada da administração dos contratos de
compra e venda de energia no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e a
contabilização e liquidação das diferenças contratuais no Ambiente de
Contratação Livre (ACR).
A Eletrobrás, a Eletronorte
e as demais empresas geradoras do grupo federal foram retiradas do Programa
Nacional de Desestatização, conforme proposto no programa de governo que Lula
havia defendido como candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições
de 2002.
Em maio de 2004, a Eletronorte renovou os contratos de fornecimento de energia com a Albrás e a Alumar, grandes
fabricantes de alumínio atendidos pela estatal desde meados da década de 1980.
Os contratos com vinte anos de duração garantiram uma receita global de US$ 7,4
bilhões e adiantamento de recursos para as obras de ampliação da hidrelétrica
de Tucuruí e de seu sistema de transmissão. Em dezembro do mesmo ano, a empresa
participou do primeiro leilão de empreendimentos existentes realizado sob a
égide do novo modelo setorial, fechando contratos para entrega de energia nos
três anos seguintes com preços considerados baixos pelo mercado.
As obras de construção da
segunda casa de força de Tucuruí foram concluídas em abril de 2007,
consolidando a posição da Eletronorte como terceira maior geradora do país. Com
o acréscimo de 11 unidades geradoras, colocadas em operação a partir de 2003, a hidrelétrica atingiu a capacidade final de 8.370MW. Novos circuitos de 500kV foram
implantados por empresas privadas e pela Chesf para reforçar o sistema de
transmissão associado à Tucuruí e à interligação Norte-Nordeste.
Em parceria com outras
empresas, a Eletronorte assumiu a responsabilidade pela construção e exploração
de novos empreendimentos de geração e transmissão. Vencedora de leilão
promovido pela Aneel em 2003, a Amazônia Eletronorte Transmissora de Energia
(Aete), consórcio formado com mais cinco empresas, implantou e colocou em
operação dois anos depois a linha Coxipó-Cuiabá-Rondonópolis em 230 kV, no
estado do Mato Grosso. Em 2005, juntamente com a Chesf e um fundo de investimentos
privado, a Eletronorte participou do leilão das linhas e subestações do
terceiro circuito da Interligação Norte-Sul, arrematando a concessão do longo
trecho entre as subestações de Colinas e Serra da Mesa, nos estados Tocantins e
Goiás. O empreendimento foi levado a cabo pelo consócio Integração
Transmissora de Energia, entrando em operação em 2008.
Em
junho de 2006, o consórcio formado pela Eletronorte, Chesf e Odebrecht S.A.
obteve a concessão para implantar e explorar o aproveitamento hidrelétrico de
Dardanelos, no rio Aripuanã (MT), com capacidade de 261MW e entrada em operação
prevista para 2010.
A Eletronorte realizou uma
série de investimentos para integração dos estados do Acre e Rondônia ao
Sistema Interligado Nacional, efetivada em outubro de 2009, tendo sido
responsável pela implantação da linhas de 230 kV entre Vilhena, Pimenta Bueno e
Ji-Paraná, em Rondônia..
A
estatal federal assegurou participação nos empreendimentos de transmissão para
escoamento da energia gerada pelas usinas de Santo Antônio e Jiraus,
integrantes do Complexo do rio Madeira, em Rondônia, e da interligação
Tucuruí-Manaus-Macapá. Os dois empreendimentos foram licitados pela Aneel em
2008. Três dos sete lotes das linhas de transmissão do Madeira foram
arrematados pelo consórcio Integração Norte Brasil, liderado pela Eletronorte com
24,5% de participação, em parceria com a Eletrosul, a Abengoa Brasil e a Andrade
Gutierrez. O consórcio ficou responsável pela implantação de várias estações
conversoras e retificadoras e da linha Porto Velho-Araraquara (SP) com 2.375km
de extensão. A interligação Tucuruí-Manaus-Macapá será composta por 3 mil
quilômetros de linhas e vinte subestações. A Manaus Transmissora de Energia, na
qual a Eletronorte tem 30% das ações, ficou responsável pela construção e
operação das linhas decorrente alternada em 500 kV entre Oriximiná, no Pará, Itacoatiara
e Cariri, no Amazonas, e respectivas subestações.
A
presidência da Eletronorte no governo Lula foi confiada inicialmente ao
engenheiro Silas Rondeau Cavalcanti Silva, indicado para o cargo pelo senador peemedebista
José Sarney. Em maio de 2004, Silas Rondeau assumiu o comando da Eletrobrás e
seu lugar na Eletronorte foi ocupado pelo economista Roberto Garcia Salmeron,
ligado ao deputado federal Roberto Jefferson, presidente do Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). Salmeron pediu demissão em junho de 2005, em meio à crise
política provocada pelas denúncias do parlamentar petebista sobre a existência
de um esquema de corrupção no governo federal, que ficou conhecido como
Mensalão. Nomeado para o lugar de Salmeron, o engenheiro Carlos Raimundo Albuquerque
Nascimento permaneceu à frente da empresa até maio de 2008, quando foi
substituído pelo engenheiro Jorge Nassar Palmeira, nome indicado pelo deputado federal
peemedebista Jader Barbalho.
A
Eletronorte registrou, em 2008, resultado financeiro negativo de R$ 1.508
milhões. No mesmo exercício, a Manaus Energia, atual Amazonas Energia, passou
ao controle acionário da Eletrobrás. Seu parque gerador contava com quatro
hidrelétricas, incluindo a usina de Curuá-Una (PA), adquirida da Celpa em 2005,
e sete termelétricas, totalizando 9.293 MW de capacidade instalada. Seu sistema
de transmissão era composto por linhas com 10.573km de extensão.
FONTES:
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panorama da energia elétrica. s. l., 1966; BRASIL. Ministério das Minas e
Energia. Eletrobrás. GCPS. Plano decenal de expansão 1996-2005. Rio de
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d.; ELETROBRÁS. Sistema de Informações Empresariais do Setor de Energia
Elétrica (Siese). Relatório estatístico do setor de energia elétrica
(1970/1984). s. n. t. ELETROBRÁS. Sistema de Informações Empresariais do Setor
de Energia Elétrica (Siese). Sumário das usinas ativas (19/02/1988), Cadastro
nacional de subestações (26/02/ 1998), Cadastro nacional de linhas de
transmissão (26/02/1998); ELETROBRÁS. Séries econômico-financeiras de
empresas de energia elétrica (1996). Rio de Janeiro, agosto de 1997;
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Relações Públicas. “10 anos depois” (folheto). Brasília, 1983; FEARNSIDE,
Philip Martin. “Balbina: lições trágicas da Amazônia”. In: Ciência Hoje,
vol. 11, nº 64, junho-julho de 1990; GAZETA MERCANTIL. Panorama setorial.
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1997; GAZETA MERCANTIL. “Usina polêmica é a melhor da região”. 19/06/1997;
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Fronteira, 1996; MEMÓRIA DA ELETRICIDADE. Panorama do setor de energia
elétrica no Brasil. Rio de Janeiro, Centro da Memória da Eletricidade no
Brasil, 1988; ROSA, Luiz Pinguelli & RODRIGUES, Manoel Gonçalves &
FREITAS, Marco Aurélio Vasconcelos de. Planejamento energético e impactos
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História da operação do sistema interligado nacional: depoimentos. Rio
de Janeiro: Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, 2003.
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O planejamento da expansão do setor de energia elétrica: a atuação da
Eletrobrás e do Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Elétricos. Rio
de Janeiro: Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, 2002.
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Panorama do setor de energia elétrica no Brasil. 2. ed. Rio de
Janeiro: Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, 2006.
Artigos
de jornal e revistas
PRESIDENTE
da Eletronorte é demitido por pagar valor indevido a empreiteira. O Estado
de S. Paulo, São Paulo, 6 dez. 1995.
GOVERNO
afasta presidente da Eletronorte. Folha de S. Paulo, São Paulo, 6 dez.
1995
ELETRONORTE
investe com receita adiantada. Valor Econômico, São Paulo, 17 jun. 2004.
GOVERNO
desiste de ‘fatiar’ Eletronorte. Folha de S. Paulo, São Paulo, 29 mar.
1999.
AMIGO
de Jefferson deixa Eletronorte. O Globo, Rio de Janeiro, 7 jun. 2005.
AFILHADO
de Jefferson na Eletronorte pede demissão. O Estado de S. Paulo, 7 jun.
2005
ELETRONORTE
e Chesf derrubam preços de leilão. Valor Econômico, São Paulo, 9 dez.
2004.
LEILÃO
de energia frustra geradoras. Valor Econômico, São Paulo, 8 dez. 2004.
A
UM PASSO do SIN. Brasil Energia. Rio de Janeiro, novembro 2007.
Relatórios
Eletronorte.
Relatório anual. Anos 2007, 2008. (Disponíveis
no site da empresa)
Eletrobrás.
Demonstrações contábeis 2008. Publicado em O Globo, 9. abr. 2009.
Sites
Energia
Sustentável do Brasil
http://www.energiasustentaveldobrasil.com.br/pop_noticia.asp?id=173
Eletronorte
http://www.eln.gov.br/opencms/opencms/
Eletrobrás
http://www.eletrobras.gov.br
Canal
Energia
http://www.canalenergia.com.br/zpublisher/secoes/home.asp
Operador
Nacional do Sistema Elétrico
http://www.ons.org.br/home/