GLOBO, O
Jornal carioca inicialmente vespertino, mais tarde matutino,
fundado por Irineu Marinho em 29 de julho de 1925.
Lançamento
Após deixar a direção de A Noite, no início de 1925, Irineu Marinho viajou para a Europa, onde
permaneceu algum tempo. Ao voltar ao Brasil, uniu-se a Herbert Moses e a Justo
de Morais para fundar um jornal que “renovasse os padrões dominantes na
imprensa carioca”. O nome da nova folha — O Globo — foi proposto pelo jornalista Elói Pontes e consagrado
através de concurso popular.
Em
seu primeiro número, O Globo
traçava as diretrizes
pelas quais pretendia pautar sua atuação. Irineu Marinho destacou “o dever
ineludível em que nos vimos de continuar a consagrar-nos, tanto quanto nos
consinta a nossa reduzida capacidade, à defesa das causas populares que nos
empolgaram e nos dominam há bem mais de duas décadas”. O novo jornal
declarava-se ainda totalmente independente, na medida em que não desejava a
intervenção de nenhuma força externa a seus próprios quadros: isento de
“afinidade com governos”, livre de “interesses conjugados com os de qualquer
empresa”, o jornal tampouco se ligaria “a grupos capitalistas ou a plutocratas
isolados”.
Fundado
no fim do governo Artur Bernardes, O
Globo preocupou-se em seus
primeiros números em demonstrar interesse por questões populares. O jornal
defendia o aumento nos vencimentos do funcionalismo público, combatia a
carestia, criticava o abandono em que se encontravam certas ruas da cidade e
acompanhava passo a passo as ações da Central do Brasil e da Light. Segundo o
próprio jornal, as “entidades que exploravam os serviços públicos viviam sob a
mira fiscalizadora de O
Globo”.
Paralelamente
à defesa dos interesses de ordem popular, O Globo
logo iniciou uma campanha
em favor de Henry Ford, “o grande industrial arquimilionário norte-americano”
que viera ao Brasil investir capital com vistas ao restabelecimento da antiga
escala de produção de borracha da Amazônia. Segundo o jornal, Henry Ford viera
ao Brasil “para combater o preço extorsivo da borracha”, cujo mercado estava
predominantemente em mãos inglesas. Desde o início, portanto, o jornal
mostrou-se favorável ao ingresso do capital estrangeiro — sobretudo
norte-americano — no país. Além disso, defendeu a importação de automóveis, que
crescia vertiginosamente, considerando-a sinônimo de progresso.
Vinte
e um dias depois da fundação de O Globo,
entretanto, Irineu Marinho
morreu. Francisca Marinho, sua viúva, tornou-se a principal proprietária do
periódico e entregou sua direção ao secretário do jornal, Euricles de Matos. Na
parte administrativa permaneceram Herbert Moses, no cargo de
diretor-tesoureiro, e Antônio Leal da Costa, como gerente.
No período que se seguiu, O Globo foi contra a candidatura de Washington Luís à presidência da
República e mostrou-se simpático aos tenentes e à Coluna Prestes.
A Revolução de 1930
Em
1929, ao se iniciarem os debates em torno da sucessão de Washington Luís na
presidência da República, o compromisso estabelecido entre as oligarquias
mineira e paulista relativo à alternância de representantes no Catete foi
rompido. Washington Luís, eleito pelo Partido Republicano Paulista, indicou
para seu sucessor outro paulista, Júlio Prestes de Albuquerque, frustrando
assim as esperanças dos mineiros. Contra a candidatura oficial, e procurando em
última análise romper a hegemonia paulista sobre os demais estados da União,
articularam-se Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, formando a Aliança
Liberal. A frente oposicionista lançou as candidaturas de Getúlio Vargas à
presidência e de João Pessoa à vice-presidência da República.
O
Globo, que, num segundo momento,
passara a mostrar reservas em relação ao movimento tenentista, assumiu de
início posição reticente diante dos princípios aliancistas. À medida que a
Aliança Liberal adquiriu expressão nacional, contudo, o jornal se aproximou de
seus postulados. A despeito da afirmação contida na edição comemorativa do 30º
aniversário do jornal, de que desde o início a candidatura liberal teria sido
aceita sem ressalvas, Ricardo Marinho afirma que O Globo
apoiou a candidatura
Vargas apenas em sua fase final.
Após a vitória de Júlio Prestes nas eleições de 1º de março
de 1930, O Globo manifestou decidida oposição à degola das bancadas mineira e
paraibana eleitas para a Câmara e não reconhecidas pela Comissão de Verificação
de Poderes. Em julho, o jornal denunciou o assassinato de João Pessoa como um
ato ordenado pelo governo federal. Considerou também como ato intervencionista
a subseqüente concentração de tropas federais em Princesa, hoje Princesa Isabel,
na Paraíba, a pretexto de controlar a situação.
A eclosão da Revolução de 1930 a 3 de outubro não foi noticiada pelo jornal: a partir de 4 de outubro, a imprensa foi submetida
a censura na capital federal. Nesse dia, o editorial de O Globo condenou moderadamente as medidas tomadas pela polícia em
relação a alguns jornais cariocas, cujos diretores foram presos. Dizia o texto:
“As notícias relativas às perturbações da ordem, que circularam desde ontem,
puseram em movimento as autoridades. Nada mais justo e natural do que as
providências e cautelas do governo, uma vez que há motivos para tanto.
Aconteceu, porém, que a polícia, pelos seus agentes, achou que podia e devia
prender diversos colegas que dirigem o Diário Carioca, O Jornal e A Batalha, levando a sua ação até mesmo aos extremos de deter os
auxiliares das oficinas daqueles jornais. Hoje de manhã nenhum deles circulou.
Cogita-se de uma arbitrariedade que, até virem esclarecimentos, dispensa
demonstrações. O chefe de polícia tem recomendado aos jornais que evitem
notícias alarmantes. Nada mais alarmante do que o ato da polícia, detendo todos
os que trabalham naqueles jornais, conduzindo-os de cambulhada e pondo-os sob
custódia, como se eles tivessem cometido delito.”
Por
fim, com a deposição de Washington Luís, em 24 de outubro, e a conseqüente
formação da junta militar composta pelos generais Tasso Fragoso e João de Deus
Mena Barreto e pelo almirante Isaías de Noronha, O
Globo declarou em editorial que
“a ação das forças pacificadoras da guarnição militar da capital da República
consagrou na manhã de hoje, desoprimindo a população atormentada, a vitória da
revolução que empolgou o país de Norte a Sul”.
O Governo Provisório
O
apoio de O Globo à
Revolução de 1930 jamais foi irrestrito. Segundo a edição comemorativa de 1955,
o jornal “não se deixou contagiar pelos que viram na revolução o remédio eficaz
para os problemas nacionais”. No período seguinte, segundo a mesma fonte, o
jornal teria defendido a aceleração do processo de redemocratização, colaborando
dessa forma “para que a nova ordem de coisas produzisse seus frutos”. Os
editoriais da época procuravam alertar a opinião pública para a necessidade da
“restauração do clima constitucional”, através da eleição de uma assembléia
constituinte. As principais críticas ao Governo Provisório visavam à extrema
arbitrariedade dos interventores. Euricles de Matos, que se mantinha à frente
do jornal, se teria gradualmente afastado da situação, “como defensor da ordem
jurídica”.
Entretanto, em 5 de maio de 1931, morreu o segundo diretor de
O Globo. Três dias depois Roberto Marinho, filho mais velho de Irineu
Marinho, passou a dirigir o jornal, sendo mais tarde assessorado por seus
irmãos Rogério e Ricardo Marinho.
Segundo
o próprio jornal, decorrido o primeiro ano do Governo Provisório, faltava um
programa aos revolucionários: “Nas incertezas deste primeiro ano escoado com as
inquietações financeiras, com as dívidas políticas e com as impaciências, o
novo regime precisa firmar os seus objetivos.” Em junho de 1932, O Globo
considerou como fato da
maior gravidade a deposição do general Leite de Castro da pasta da Guerra: “A
nação não pode mais transigir com os caprichos do governo.” Em 11 de julho do
mesmo ano, noticiou a eclosão de um “movimento armado contra o Governo
Provisório”, em São Paulo, chefiado pelo general Isidoro Dias Lopes. A chamada Revolução Constitucionalista de São Paulo foi amplamente noticiada
pelo jornal, que realizou cobertura completa dos dois lados da luta através de
correspondentes. Procurando rebater o argumento do governo de que se tratava de
um movimento separatista, o jornal publicou editoriais tentando mostrar que os
revoltosos visavam apenas à reconstitucionalização do país.
Por
fim, após terem sido realizadas as eleições para a Assembléia Nacional
Constituinte (ANC), em 1933, e ter sido promulgada a Constituição, em 16 de
julho de 1934, O
Globo afirmou que estava
“extinto o regime discricionário”.
Segundo Ricardo Marinho, entretanto, o jornal não se teria
manifestado expressamente a favor da Constituição de 1934, que permitira a
Getúlio Vargas eleger-se presidente indiretamente. Fazendo na ocasião um
balanço dos anos decorridos desde a Revolução, o jornal concluía em editorial
que, apesar de o chefe do Governo Provisório ter tido à sua disposição todas as
forças imagináveis, não lograra “resolver um só dos problemas nacionais”,
bastando “lembrar apenas que, a despeito de todas as fiscalizações, métodos e
estatísticas das finanças públicas, não tivemos nenhuma vez orçamentos em dia,
não soube nunca o país quanto nem como se gastou, nem quais os créditos
abertos”. O “único orgulho da revolução foi o de dizer que não fez empréstimos
sem ter a coragem de confessar que não os fez porque não teve crédito em nenhum
mercado monetário, como foi a sua única e exclusiva vaidade a de reduzir, negar
ou discutir parte de suas dívidas com o estrangeiro ou explorar, na aquisição
de títulos, a cuja margem se realizaram as mais tristes negociatas, o próprio
descrédito nacional”.
Em
1935, as forças oposicionistas mais radicais concentraram-se de um lado na
Aliança Nacional Libertadora (ANL), movimento lançado em março de 1935, que
abrigava propostas antiimperialistas e contrárias à concentração da propriedade
territorial, e, de outro, na Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento
liderado por Plínio Salgado que encampava os princípios
sindical-corporativistas. O Globo
mostrou-se radicalmente
contrário a ambas as tendências, considerando-as de cunho extremista e
“perigosas ao funcionamento da democracia”.
A decretação, em abril de 1935, da Lei de Segurança Nacional,
instrumento de poder do Estado contra a oposição radical representada pela ANL
e pela AIB, foi nesse sentido aceita pelo jornal. Segundo depoimento de Ricardo
Marinho, contudo, O Globo teria feito algumas restrições, na medida em que a nova lei
não faria mais do que fortalecer Getúlio Vargas. A posição contrária à lei,
ainda que não expressa com clareza, transparecia mais nas omissões cometidas
nos editoriais. Por sua vez, a dissolução da ANL, em julho de 1935, foi
considerada por O Globo como o desfecho de uma das mais ruidosas campanhas em que o
próprio jornal se empenhara desde a sua fundação. E uma vez fechada a ANL, o
jornal comprometeu-se a não poupar esforços “no combate aos extremismos verde e
vermelho”.
A
deflagração da Revolta Comunista no Nordeste em novembro de 1935 foi noticiada
por O Globo na
edição no dia 25, que deu especial atenção aos eventos ocorridos em Olinda e
Natal. Dois dias depois, a rebelião eclodiu no Rio de Janeiro, através do levante
do 3º Regimento de Infantaria, sediado na Praia Vermelha, e de uma companhia de
Escola de Aviação Militar do Campo dos Afonsos. O
Globo cobriu amplamente o
acontecimento, tirando sucessivas edições à medida que seu corpo de repórteres,
enviado para diversos pontos nas vizinhanças da Praia Vermelha, obtinha novas
informações. O levante foi sufocado ainda em 27 de novembro e no dia seguinte O
Globo declarava em editorial que
“sobre as cabeças de seus criminosos” cairiam as “maldições da sociedade brasileira”.
Após
o colapso do levante, Roberto Marinho recomendaria diariamente a seus
repórteres vigilância aos comunistas e integralistas. As perseguições
desencadeadas pelo governo contra os comunistas foram do inteiro agrado do
jornal, para quem “o combate à ideologia vermelha com seu rosário de
inconveniências para um povo da nossa formação moral e religiosa continuava
como um dos objetivos mais sérios”. O jornal procuraria “advertir as
autoridades quanto aos perigos que o comunismo representava”.
Em
1937, estando próximo o fim do mandato de Getúlio Vargas e iniciando-se os
debates em torno da sucessão presidencial, O
Globo apoiou a candidatura de
Armando de Sales Oliveira, que concorria contra o candidato oficial, José
Américo de Almeida. Armando de Sales seria “o candidato das correntes
democráticas nacionais”, portador de uma “mensagem progressista mais elevada”,
em contraposição aos “traços demagógicos” de José Américo.
O Estado Novo
Com
o golpe perpetrado em 10 de novembro de 1937, estabeleceu-se o Estado Novo,
período em que Getúlio Vargas governou ditatorialmente. O novo regime, através
da criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), afetou toda a
imprensa, que a partir de então foi submetida a censura. Em edição especial, em
10 de novembro de 1937, O
Globo noticiou a outorga da nova
Constituição e a dissolução do Senado e da Câmara, bem como das assembléias
legislativas e das câmaras municipais. A censura fez com que o jornal
preferisse “muitas vezes omitir a notícia a divulgá-la sob a forma recomendada,
com flagrante desvirtuamento do fato, pelo interesse dos governantes e pela
determinação dos censores”. Segundo Ricardo Marinho, O
Globo sofreu intervenção do DIP
e Roberto Marinho chegou a ser chamado a prestar depoimento.
De
modo geral, durante o Estado Novo o jornal passou a dar maior destaque à seção
de esportes, divulgando com maior cuidado, igualmente, o noticiário
internacional. Entretanto, O
Globo criticou a medida
governamental que instituiu impostos indiretos sobre o consumidor, vendo aí
sérias possibilidades de aumento do custo de vida. Mais adiante, o jornal
apoiou a reforma da legislação criminal, cujo projeto havia sido elaborado por
José de Alcântara Machado de Oliveira. Internacionalmente, O
Globo mostrou-se favorável à
política externa de Franklin Roosevelt, presidente dos Estados Unidos,
preocupado em conclamar as nações para um esforço conjunto em prol da
reconstrução da ordem mundial, sob o argumento de que “nenhum grupo de nações
pode gozar de prosperidade enquanto outra parte se debate em terrível e
desagregante crise”.
Em
1938, o movimento integralista articulou um golpe que contou com o apoio de
setores oposicionistas liberais e pretendia depor Vargas. O chamado putsch
integralista (11/5/1938),
que redundou em fracasso, foi veementemente condenado por O
Globo. O editorial referente ao
episódio afirmava: “Contra esse estado de coisas... sempre protestamos,
timbrando em não diferençar nos seus intuitos e técnicas os amantes do credo
verde dos de Moscou”.
A
vigilância do governo sobre a imprensa não impediu O
Globo de, embora mantendo-se
favorável à construção da usina siderúrgica de Volta Redonda, fazer pequenas
críticas ao fato de esta ter sido construída no estado do Rio, cujo
interventor, Ernâni Amaral Peixoto, era genro de Vargas. Contudo, em relação à
política social de Getúlio, O Globo
não fez restrições,
apoiando o desenvolvimento da legislação trabalhista. Da mesma forma, a
aproximação de Getúlio Vargas com o Eixo, manifestada por essa ocasião através
do incremento das relações comerciais entre Brasil e Alemanha, não foi
criticada pelo jornal. Também passou despercebido ao crivo de O
Globo o discurso pronunciado por
Getúlio Vargas em julho de 1940 a bordo do Minas
Gerais, considerado
simpático ao fascismo. Nesse pronunciamento, Getúlio manifestou-se partidário
das mudanças sociais, econômicas e políticas, devido à época turbulenta que se
atravessava, afirmando que “passou a época dos liberalismos imprevidentes” e
que “à democracia política substitui a democracia econômica”.
Por
outro lado, desde o início da Segunda Guerra Mundial, O Globo
se colocou a favor dos
Aliados, mostrando-se decididamente contra a neutralidade brasileira e
expressando em editorial sua esperança de que os ideais pan-americanistas
“abroquelassem cada vez mais as nações do continente contra incursões do
imperialismo distante”. Em dezembro de 1941 os norte-americanos entraram na
guerra e, em janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações com o Eixo. Por fim, em
agosto de 1942, O
Globo considerou “traiçoeira selvageria”
a agressão de navios brasileiros por submarinos alemães, publicando o editorial
“Desafio e ultraje ao Brasil”, em que defendia o ingresso do Brasil na Guerra.
A partir daí, O Globo
faria ampla cobertura da
Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, lançando o tablóide O
Globo Expedicionário, dirigido
por Pedro Mota Lima, destinado a manter elevado a moral dos pracinhas
brasileiros que combatiam na Itália. O tablóide foi publicado de 7 de julho de 1944 a 23 de maio de 1945, semanalmente. Além disso, O
Globo fez apelo ao voluntariado.
Por essa ocasião, também em dezembro de 1944, nascia a Rádio Globo.
Durante
os últimos anos do Estado Novo, O
Globo uniu-se às correntes
políticas que buscavam reintegrar o país ao processo democrático. Em função do
que chamava de espírito continuísta de Getúlio, o jornal considerava inevitável
a deposição do presidente. Nesse sentido, apoiou e deu ampla cobertura ao
chamado Manifesto dos mineiros, lançado
em outubro de 1943 com as assinaturas de importantes nomes da política mineira.
O documento, que reivindicava a democratização do país, é considerado a
primeira manifestação ostensiva da oposição ao Estado Novo, partida de
lideranças políticas liberais e conservadoras.
À medida que se enfraquecia o regime, O Globo assumia posições favoráveis à anistia, às eleições livres e à
eleição de uma constituinte que elaborasse uma nova carta para substituir a
Constituição de 1937. A organização da sociedade civil e a conseqüente criação
de partidos foi acompanhada cuidadosamente pelo jornal, que, se inicialmente
não se definia por nenhum programa de maneira integral, mantendo uma seção onde
se debatiam os mais diversos princípios partidários, acabou por apoiar a União
Democrática Nacional (UDN) e a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República. Contra Eduardo Gomes, disputavam o cargo o general Eurico Dutra, do Partido Social Democrático (PSD), Iedo Fiúza, apoiado pelo
Partido Comunista Brasileiro (PCB) e contra quem o jornal desencadeou campanha
sob a acusação de corrupção na prefeitura de Petrópolis, e Plínio Salgado, pelo
Partido de Representação Popular (PRP). Por essa ocasião, O Globo publicou uma entrevista de Góis Monteiro em que este
declarava ter regressado de Montevidéu para “acabar com o Estado Novo”. Logo em
seguida, a anistia concedida aos inimigos do regime foi aplaudida pelo jornal,
que entretanto não a desejava irrestrita e ampla. O jornal foi contrário às
últimas medidas econômicas de Vargas, como a lei de repressão ao abuso do poder
econômico, a chamada Lei Malaia, decretada em junho de 1945.
De 1945 a 1964: a reconstitucionalização
Por fim, a deposição de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de
1945, foi do inteiro agrado de O Globo, que se mostrara durante o mês de agosto decididamente contrário
à marcha dos trabalhadores queremistas e à proposta da “Constituinte com
Getúlio”. Entretanto, o jornal demonstrou expectativa diante do governo do
presidente José Linhares, não o apoiando incondicionalmente.
O período imediatamente posterior ao Estado Novo era
considerado por O Globo como de redemocratização lenta, em que a vida política
nacional se recompunha, “somente perturbada pela ação subversiva dos comunistas
que, através de sua atividade partidária e parlamentar, mantiveram a nação
permanentemente agitada... com a fomentação de greves e outras provocações”. As
greves eram desencadeadas “por conta dos asseclas de Luís Carlos Prestes”,
líder do então legalizado PCB.
O Globo não fez oposição sistemática ao governo do marechal Eurico
Dutra, vitorioso nas eleições de 2 de dezembro de 1945. Durante esse período, o
jornal solidarizou-se com o lançamento do PCB na ilegalidade (1947) e fez
campanha para que fossem cassados os mandatos dos representantes comunistas,
tanto na Câmara dos Deputados, onde chegavam a 14, quanto na Câmara do Distrito
Federal, onde ocupavam 18 cadeiras, num total de 50. O Globo apoiou igualmente o rompimento das relações diplomáticas com
a União Soviética.
Nos
debates em relação à estratégia do desenvolvimento econômico a ser seguida, O Globo
era o principal porta-voz
da linha neoliberal, que tinha como teórico Eugênio Gudin. O jornal defendia a
fórmula que, segundo Thomas Skidmore, baseava-se na suposição de que o
mecanismo de preços deveria ser respeitado como principal determinante da
economia. As medidas fiscais e monetárias, bem como a política de comércio
exterior, deveriam seguir os princípios ortodoxos estabelecidos pelos teóricos
e praticantes da política de banco central dos países industrializados. Os
orçamentos governamentais deveriam ser equilibrados e as emissões, severamente
controladas. O capital estrangeiro deveria ser bem recebido e estimulado como
ajuda indispensável para um país carente de capitais. As limitações impostas
pelo governo ao movimento internacional do capital, do dinheiro e dos bens
deveriam ser reduzidas ao mínimo. Essa autodisciplina aumentaria ao máximo a
mobilidade dos fatores e relegaria o Brasil a seu papel econômico natural,
inevitável e inapelável, sob a lei inexorável da vantagem comparativa.
Ainda
durante o governo Dutra, O
Globo fez campanha contra os
jogos de azar, procurando gratificar os anseios moralistas das camadas urbanas
e assim garantir uma quantidade cada vez maior de leitores. O movimento
resultou num decreto governamental que proibiu o jogo.
Os
debates relativos à sucessão de Dutra se articularam em torno das candidaturas
de Getúlio Vargas, lançado pela coligação do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) com o Partido Social Progressista (PSP); do brigadeiro Eduardo Gomes, novamente indicado pela UDN; e de Cristiano Machado, do PSD. O
Globo, o primeiro órgão de
imprensa a levantar, já em 1949, a possibilidade de retorno de Vargas ao poder,
apoiou mais uma vez o brigadeiro, o que se deveu, segundo Ricardo Marinho, “à
sua figura de grande democrata e patriota”. Ainda assim, a edição comemorativa
do 30º aniversário do jornal declarava que, “durante a campanha eleitoral que
se desdobrou intensa não só na capital da República como em todo o país, O
Globo manteve uma linha de
conduta de real imparcialidade. Procurava esclarecer a opinião pública e
trazê-la bem informada, sem manifestar-se favorável a esta ou àquela corrente em luta. Dentro de tal propósito, ofereceu ampla cobertura de todos os setores, com reportagens,
entrevistas de candidatos e completo noticiário, fartamente ilustrado”.
Com a vitória de Vargas desencadeou-se o debate em torno da
legitimidade de sua vitória, levantado pelo líder oposicionista Carlos Lacerda
sob a alegação de que o candidato não havia obtido maioria absoluta nas
eleições. Segundo Ricardo Marinho, O Globo omitiu-se diante da questão, uma vez que não desfrutava de
base política para apoiar um movimento de caráter inconstitucional. Após a
posse de Vargas, no entanto, o jornal fez intensa oposição a seu governo.
Durante esse período, a discussão em torno da estratégia
econômica a ser adotada partia de três posições fundamentais: a neoliberal,
cujo principal teórico continuava a ser Gudin; a desenvolvimentista,
preconizada pela Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL); e a
nacionalista radical, encampada pelo PCB. O Globo permaneceu fiel aos princípios neoliberais, apoiando também o
Plano Lafer, plano qüinqüenal elaborado por Horácio Lafer, então ministro da
Fazenda, que pretendia investir um bilhão de dólares nas indústrias de base e
nos setores estrangulados de transportes e energia. O Globo se mostraria outra vez favorável a Lafer, mais tarde, no
momento em que sua política antiinflacionária de contenção de crédito se chocou
com a política de crédito fácil preconizada por Ricardo Jafet, presidente do
Banco do Brasil.
Em janeiro de 1952, O Globo manifestou-se contra o decreto presidencial que limitava em
10% a remessa de lucros. Segundo Ricardo Marinho, O Globo jamais se posicionou contra o capital estrangeiro, cujo
ingresso era considerado benéfico na medida em que concorria para o crescimento
do país. Em março do mesmo ano, o jornal apoiou a substituição, no Ministério
da Guerra, do general Newton Estillac Leal, considerado “simpatizante do credo
de Moscou”, pelo general Ciro do Espírito Santo Cardoso. Logo em seguida, nas
eleições para a presidência do Clube Militar, o jornal apoiou a candidatura do
general Alcides Etchegoyen, representante do grupo favorável à íntima
cooperação entre o Brasil e os EUA, que acabou por derrotar Estillac Leal.
Durante 1953, O Globo manifestou-se contra a Instrução nº 70 da Superintendência da
Moeda e do Crédito (Sumoc), que instaurou uma política cambial mais flexível,
estabelecendo categorias múltiplas para diversos tipos de exportações,
importações e movimentos de capital. O jornal desencadeou também violenta
campanha contra a Petrobras, cuja criação foi aprovada nesse ano pelo
Congresso. Ainda em 1953, o aumento em 100% do salário mínimo, decidido pelo
ministro do Trabalho, João Goulart, foi considerado nefasto pelo jornal, que
viu aí a principal causa do aumento do custo de vida.
À medida que se intensificava a crise política do governo
Vargas, O Globo acirrava a oposição ao presidente encampando a tese do impeachment proposta pela UDN e participando da intensa campanha que a
imprensa movia contra o jornal situacionista Última Hora, de Samuel Wainer. Segundo Ricardo Marinho, O Globo justificava sua atitude contra um governo eleito
constitucionalmente em função dos “desmandos” que cometera.
O
Globo fez ampla cobertura do
chamado atentado da Toneleros, em 5 de agosto de 1954, contra Carlos Lacerda,
cuja vítima foi seu acompanhante, o major-aviador Rubens Vaz. O jornal cobriu
igualmente o inquérito policial-militar instaurado pela Aeronáutica para apurar
os responsáveis. O inquérito, instalado na Base Aérea do Galeão, dispôs de
amplos poderes para convocar autoridades suspeitas de envolvimento no crime e
constituiu importante elemento no quadro do acirramento da campanha contra Vargas.
O Globo
publicou todo o relatório
do inquérito num tablóide sob o título O
livro negro de corrupção.
O suicídio de Vargas, 19 dias após o atentado da Toneleros,
em 24 de agosto de 1954, determinou o apedrejamento da sede de O Globo e a queima de caminhões de entrega do jornal. Em conseqüência
disso, o jornal evitou tecer comentários sobre o episódio, limitando-se a
noticiá-lo. O governo de João Café Filho, vice-presidente de Getúlio e seu
substituto imediato, foi contudo apoiado pelo jornal por causa da sua
aproximação política com a UDN. Café Filho chegou a nomear Eugênio Gudin
ministro da Fazenda.
Com
o início dos debates sobre a sucessão presidencial, articularam-se as
candidaturas de Juscelino Kubitschek e João Goulart, pela coligação entre
PSD-PTB, e de Juarez Távora, pela UDN. O
Globo permaneceu fiel aos
princípios udenistas que o orientavam. Durante esse período, aproximou-se
igualmente de elementos do Exército ligados à UDN, identificando-se sobretudo
com o general Canrobert Pereira da Costa e acreditando na veracidade da chamada
Carta Brandi. O documento, divulgado em julho de 1955, seria endereçado a João
Goulart pelo deputado argentino Antônio Jesus Brandi e aludiria a supostas
articulações com o governo peronista para a deflagração de um movimento armado
no Brasil. Um inquérito instaurado no mesmo ano comprovou tratar-se de um
documento forjado por falsários argentinos para ser vendido aos opositores de
Goulart.
Com a vitória de Juscelino Kubitschek, O Globo encampou a tese da maioria absoluta novamente lançada pela
UDN e seguiu identificado com as propostas desse partido ao longo dos episódios
que se sucederam, culminando no movimento do 11 de Novembro de 1955. Esse
movimento militar, liderado pelo general Henrique Lott com o objetivo de barrar
uma conspiração contra a posse de Juscelino, que supostamente se preparava no
governo, acabou por provocar o impedimento do presidente interino, Carlos Luz,
substituto de Café Filho, que se havia licenciado por motivo de saúde.
Ao longo do governo de Juscelino Kubitschek, O Globo manteve-se na oposição, apoiando a política do Fundo
Monetário Internacional (FMI), que preconizou maior combate à inflação e
restrição ao crédito, com o qual o presidente acabou rompendo. Em editoriais e
mesmo através de colaboradores, o jornal criticava a construção de Brasília,
atribuindo a inflação que se verificava aos excessivos gastos de Juscelino. Na
questão desencadeada entre Lucas Lopes, ministro da Fazenda, que procurava
conciliar-se com o FMI, e Pais de Almeida, presidente do Banco do Brasil, O Globo apoiou o primeiro. Viu, contudo, com bons olhos, a
implantação da indústria automobilística.
A despeito da oposição movida por O Globo, Juscelino Kubitschek nomeou Roberto Marinho secretário da
Comissão Nacional da Ordem do Mérito. Ainda durante a gestão Juscelino, o
jornal desencadeou uma campanha contra o recém-fundado Instituto Superior de
Estudos Brasileiros (ISEB), considerado como um “pedante ninho algo luxuoso de
agitadores comunistas”. Além de ataques pessoais ao diretor Roland Corbisier, O Globo chamou a atenção para a “indisfarçável e curiosa coincidência
de linhas políticas que se constata nos movimentos dos rapazes isebianos —
agindo na superestrutura — e as Ligas Camponesas no Nordeste — agindo junto às
camadas mais sensíveis de nosso povo”.
Por
ocasião dos debates em torno da sucessão de Juscelino, O Globo
apoiou irrestritamente a
candidatura Jânio Quadros, que com o apoio da UDN venceu o pleito, derrotando o
candidato petebista, o marechal Henrique Lott. O vice-presidente de Jânio,
contudo, seria João Goulart, filiado ao PTB.
Durante o governo de Jânio Quadros, o jornal recebeu com
perplexidade algumas das medidas presidenciais, sobretudo as relativas à
política externa. A condecoração de Ernesto “Che” Guevara, ministro das
Relações Exteriores de Cuba, e o projeto de reatamento de relações diplomáticas
com os países socialistas foram violentamente combatidos. Ainda assim, O Globo considerava inoportuna a campanha que Lacerda, então
governador da Guanabara, desencadeara contra o presidente.
A renúncia de Jânio, em 25 de agosto de 1961, foi igualmente
recebida com perplexidade. De imediato, O Globo foi contra a posse de João Goulart, apoiando, no entanto, a
opção parlamentarista, adotada pelo Congresso em setembro de 1961, como forma
conciliatória para propiciar a posse do vice-presidente. Durante o governo João
Goulart, O Globo permaneceu na oposição, defendendo os interesses do capital
estrangeiro e atacando as reformas de base propostas pelo presidente.
O
jornal declarou-se contrário à reforma agrária, mesmo se esta fosse feita com
indenização, afirmando considerar o minifúndio economicamente prejudicial.
Manifestou-se contra o plebiscito de janeiro de 1963, que promoveu o retorno ao
regime presidencialista, alijando o parlamentarismo do cenário político.
Condenou igualmente a desapropriação dos bens da American and Foreign Power
Company (Amforp) em abril de 1963, permanecendo ao lado das proposições do FMI,
que dera parecer desfavorável à política econômica levada a efeito por João
Goulart. O Globo
pronunciou-se também
contra a Lei de Remessa de Lucros, cuja regulamentação foi emitida em janeiro
de 1964.
Por fim, a eclosão do movimento militar de março de 1964, que
derrubaria o governo João Goulart, foi prontamente apoiada por O Globo.
De 1964 ao Governo Geisel
No
início de abril de 1964, O
Globo declarava que “agora o
Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o país
continue a sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos
individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que
o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de
tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo”. Posteriormente,
no editorial 50
anos,
publicado por ocasião do 50º aniversário do jornal, o movimento militar de 1964
era visto como o reencontro da Nação: “Os tenentes, então generais reformados,
os expedicionários, então responsáveis pela chefia das forças armadas, e os
líderes políticos herdeiros de tradições de várias décadas de luta pela
democracia uniram-se, sob a pressão das grandes marchas populares para uma nova
revolução”.
O Globo deu apoio ao governo do marechal Castelo Branco, presidente
eleito pelo Congresso em 11 de abril de 1964. Contudo, tendo rompido com Carlos
Lacerda em 1963, nas eleições de outubro de 1965 Roberto Marinho apoiou a
candidatura oposicionista de Negrão de Lima ao governo da Guanabara contra o
candidato de Lacerda, Flexa Ribeiro. A despeito do apoio a Negrão de Lima, O Globo permaneceu identificado com Castelo Branco, encampando as
renegociações do governo com o FMI, o Plano de Ação Econômica organizado por
Roberto Campos e o programa de austeridade mon etária, e não se manifestando
contra as diversas cassações perpetradas pelos primeiros atos institucionais.
Ainda em 1965, o jornal opôs-se à Frente Ampla, movimento articulado por
elementos descontentes com o governo Castelo Branco, entre os quais Lacerda e
políticos cassados pelo movimento de 1964, como os ex-presidentes Juscelino
Kubitschek e João Goulart.
Ainda
durante o governo Castelo Branco, em 1965, Lacerda denunciava “infiltração de
capital forasteiro” na televisão. Na verdade, referia-se a “acordos ilegais”
firmados entre a TV Globo — fundada em abril daquele ano — e o grupo
norte-americano Time-Life. A denúncia fora efetuada através do depoimento de
Alberto Hernandes Catá, assessor de Roberto Marinho na TV Globo. Catá teria
vínculo trabalhista apenas com Time-Life, que lhe pagava em dólares, e denunciava
a subordinação do grupo brasileiro ao estrangeiro em face da situação
econômico-financeira das empresas e a orientação ministrada através da
assessoria técnica, decorrente do contrato firmado. Catá referiu-se também à
conferência pronunciada pelo vice-presidente de Time-Life, Weston Pullen Jr.,
sobre a ampliação de suas atividades nos países sul-americanos e de comentários
publicados pelo órgão especializado Television
Age sobre a aquisição pelo
Grupo Marinho-Time-Life de mais uma emissora em São Paulo. Alegou, finalmente, a violação do artigo 160 da Constituição e do artigo 28 §2º,
item II, do Regulamento dos Serviços de Radiodifusão (Decreto nº 52.795, de 31
de outubro de 1963), que dizia: “Proibição de ser firmado qualquer convênio,
acordo ou ajuste relativo à utilização das freqüências consignadas e exploração
do serviço, com outras empresas ou pessoas, sem prévia autorização do Conselho
Nacional de Telecomunicações (Contel).”
Enquanto
a questão era levada ao conhecimento do Contel, o deputado Eurico de Oliveira
apresentava requerimento à Câmara pedindo instauração de uma comissão
parlamentar de inquérito para apuração das denúncias. À campanha desencadeada
contra O Globo
aderiram os Diários Associados, através de João Calmon, presidente da
Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão, e mais adiante O
Estado de S. Paulo.
A favor de Roberto Marinho
permaneceu o Jornal
do Brasil, que
considerava a campanha “jacobinismo provinciano”.
Acusava-se O Globo de ter recebido em dólares importância superior a cinco
bilhões de cruzeiros e de ter vendido o prédio da TV Globo ao Time-Life,
alegando-se a existência de contratos que provariam o vínculo societário,
proibido pela Carta Magna e pelo Código Brasileiro de Telecomunicações. Uma vez
instalada a CPI, obteve-se de início as cópias dos contratos celebrados entre
as empresas nacional e estrangeira (contrato da sociedade em conta de
participação, contrato de assistência técnica e escritura de cessão de direitos
e promessa de compra e venda do prédio da TV Globo) e na Junta de Registro de
Comércio apurou-se extravio do processo da TV Globo Ltda., que lá deveria se
encontrar arquivado, o mesmo ocorrendo no 11º Ofício de Notas, onde se
constatou o desaparecimento da folha correspondente ao instrumento da escritura
da cessão de direito e promessa de compra e venda do prédio da TV.
Depuseram Roberto Marinho e alguns ex-diretores da TV Globo e
José Tomás Nabuco de Araújo, representando o grupo Time-Life. Roberto Marinho
contestou as acusações argumentando que “o contrato denominado principal, a que
se refere o mesmo ofício, foi celebrado em Nova Iorque em 22 de junho de 1962, não tendo sido remetidos para o Brasil os respectivos
originais. Esse contrato só entraria em vigor cumpridas condições previstas em
sua cláusula II, e antes que isso se verificasse foi ele revogado por acordo
mútuo, havendo sido convertido em financiamento sob forma de conta de
participação, em um contrato de cessão de promessa de venda do terreno à rua
Von Martius s/nº, bem como do edifício nele construído”. Mais adiante, Roberto
Marinho afirmava que “confirmamos assim os dizeres do nosso ofício anterior, no
qual esclarecemos que o contrato denominado principal não chegou a ter
existência legal no Brasil, pois embora rubricada a respectiva minuta pelas
partes em 1962, foi enviado aos Estados Unidos para ser celebrado lá, não tendo
voltado jamais ao Brasil sob a forma definitiva para início das relações
contratuais”.
Contudo,
em 21 de janeiro de 1966 Roberto Marinho concordou em enviar ao Contel cópias
dos contratos da TV Globo com o Time-Life. No mesmo dia, o presidente Castelo
Branco determinou a instalação de uma comissão de alto nível para investigar as
denúncias de infiltração estrangeira na imprensa, que seria constituída cinco
dias depois por Gildo Ferraz, Bruno Negreiros e Celso Silva. As conclusões a
que chegou a comissão, assinadas por Gildo Ferraz, declaravam reconhecer a
ingerência estrangeira nos negócios da empresa e que a expansão do domínio de
Time-Life poria em risco a própria segurança nacional, “pois já se encontram
sob o seu controle, nas mesmas condições da TV Globo, os bens adquiridos pelo
sr. Roberto Marinho à Organização Victor Costa, compreendendo entre outros a TV Paulista e a TV Bauru”. O parecer de Gildo Ferraz finalizou advertindo para
“o perigo da propagação pelo país... dado que o sr. Roberto Marinho possui em
tramitação no Contel pedido de concessão de 36 emissoras de rádio, algumas com
canal de televisão, nas capitais e cidades mais populosas”. Contudo, segundo Ricardo
Marinho, Roberto Marinho desligou-se do grupo Time-Life, indenizando-o para
“evitar pretextos que viessem a afetar a empresa”.
O
Globo foi favorável à
prorrogação do mandato de Castelo Branco. Durante o governo do marechal Costa e
Silva, empossado em 15 de março de 1967, o jornal, embora seguisse em seu apoio
às principais teses do movimento militar de 1964, mostrou algumas reservas. Já
o governo do general Garrastazu Médici recebeu total adesão. Transformado
gradualmente no mais governista dos jornais, O Globo
deixou lentamente sua
posição favorável à privatização das empresas, encampando, a partir do governo
Ernesto Geisel, a política de estatização, num momento em que órgãos da
imprensa liberal, como o Jornal
do Brasil e O
Estado de S. Paulo,
lhe faziam restrições e
combatiam a Petrobras. O
Globo, ao contrário, embora fosse
um tradicional inimigo da Petrobras, passou a apoiá-la durante o governo
Geisel.
O
editorial comemorativo do 50º aniversário do jornal, em 1975, reafirmou o
propósito de O
Globo de dar “firme combate à
subversão”, declarando ao mesmo tempo que o crescimento econômico do país
criara “condições de trabalho profícuo, ensejando que, embora sempre
vigilantes, possamos partir para a implantação do desenvolvimento político e
social”.
Abertura política
O projeto de distensão “lenta, gradual e segura”, apresentado
pela facção liberal do regime militar, foi tratado nas páginas de O Globo como um processo contínuo de transição para a democracia.
Momentos conturbados como o Pacote de Abril, que redundou no fechamento do
Congresso, em abril de 1977, para a aprovação de um conjunto de leis com o
intuito de fortalecer o partido governista, foram vistos pelo jornal como
momentos de intransigência por parte da oposição, capazes de impedir a “boa
evolução do problema institucional brasileiro”.
Em
1979, quando foi aprovada a lei da anistia, permitindo a libertação de presos
políticos e a volta do exílio de personagens como Luís Carlos Prestes e Leonel
Brizola, O Globo elogiou
o encaminhamento dado à questão e procurou encontrar na atitude do presidente João Figueiredo um sentido de conciliação e compromisso com os princípios de liberalização do
regime. A escalada de atos terroristas promovidos por grupos militares de
direita, iniciada logo após a aprovação da anistia, recebeu imediata
desaprovação do jornal. Todos os principais atentados a bomba foram listados na
edição de 2 de maio de 1981, como parte da cobertura do caso Riocentro. Nessa
ocasião, uma bomba explodiu durante um show em comemoração ao Dia do Trabalho,
atingindo dois militares num automóvel estacionado naquele centro de convenções
localizado no Rio de Janeiro. A reportagem de O
Globo divulgou a explosão de uma
segunda bomba, meia hora depois, na casa de força, contrariando a versão
oficial de que os militares seriam vítimas, e não autores.
Da reforma partidária à
eleição de Tancredo
O fim do bipartidarismo e a extinção dos partidos governista
e oposicionista, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), em dezembro de 1979, deram origem a um novo
sistema partidário, acirrando a competição entre os partidos. O ano de 1982
seria fundamental para testar esse sistema, com os governadores passando a
receber o voto direto da população. No Rio de Janeiro, a candidatura de Leonel
Brizola chamou especial atenção pelo que representava seu passado de líder
trabalhista, sendo tratada por O Globo como um “fenômeno populista”, soma de oposicionismo
generalizado e habilidade política para explorar as dificuldades econômicas do
povo. Nessa eleição, O Globo apoiou o candidato do Partido Democrático Social (PDS),
Moreira Franco, ex-prefeito de Niterói, considerando-o mais bem preparado
intelectualmente em relação aos seus adversários e também o único portador de
uma real experiência administrativa.
Durante
os três primeiros dias da apuração dos votos das eleições para governador, as
empresas Globo foram acusadas de participação em uma tentativa de fraude. Os
dados da Proconsult, empresa de computação contratada pelo TRE (Tribunal
Regional Eleitoral), apontavam então a vitória de Moreira Franco. Esse
resultado era também confirmado pelas pesquisas divulgadas então pela Rede
Globo. Na verdade a emissora
reproduzia, por medida de economia, os resultados do jornal O
Globo, que vinha divulgando
mais lentamente os dados e começara pelas urnas do interior. Esses dados
contrastavam fortemente, porém, com todas as pesquisas de boca de urna então
divulgadas e que acabaram sendo confirmadas pela recontagem dos votos.
O governo Brizola foi duramente criticado pelo jornal como
centralizador e ineficiente. Seu principal projeto ligado à educação, a
construção dos CIEPs, foi tratado como dispendioso e movido por objetivos de
promoção política. Na data em que se completaram cem dias de mandato, O Globo anunciou uma crise administrativa, com reflexos na segurança
pública e na discussão do aumento do funcionalismo, cuja natureza estaria no
estilo personalista do governador.
A
sucessão do presidente João Figueiredo foi marcada pela tentativa de promulgação da emenda Dante de Oliveira, que propunha, de imediato, a eleição direta
para presidente da República. O
Globo não apoiou a campanha
nacional a favor da emenda, iniciada no fim de 1983. Entretanto, a cobertura
dos últimos comícios ganhou destaque, tendo sido considerado o comício da
Candelária, no Rio de Janeiro, a maior concentração política da história da
cidade. Porém, quando o governo do presidente João Figueiredo decidiu encaminhar uma proposta que mantinha o Colégio Eleitoral e definia as
bases das eleições diretas, adiadas para o próximo pleito, O
Globo enfatizou: “O
reconhecimento pelo governo de uma vontade nacional de mudança, na direção
única da abertura política, confere ao projeto de reforma constitucional do
presidente Figueiredo uma índole democrática que nenhuma imperfeição ou omissão
tópica da emenda pode desmerecer”.
As
medidas de exceção impostas em Brasília para evitar concentrações públicas de
apoio às diretas também receberam aprovação do jornal, sendo consideradas
perfeitamente de acordo com a ordem constitucional vigente. Na data da votação
da emenda Dante de Oliveira, O
Globo conclamou o Congresso a
votar afastado do apelo das ruas, cumprindo seu papel específico. Após a
derrota da emenda, em 25 de abril de 1984, o jornal passou a defender ainda
mais enfaticamente a proposta do presidente Figueiredo, entendendo-a como a
única possibilidade de negociação entre o governo e a oposição.
Em 7 de outubro de 1984, no editorial “O julgamento da
revolução”, publicado na primeira página, Roberto Marinho fez um balanço da
atuação de seu jornal durante os anos do autoritarismo e concluiu: “Não há
memória de que haja ocorrido aqui, ou em qualquer país, que um regime de força,
consolidado há mais de dez anos, se tenha utilizado de seu próprio arbítrio
para se autolimitar, extinguindo os poderes de exceção, anistiando os
adversários, ensejando novos quadros partidários, em plena liberdade de
imprensa. É esse o maior feito da Revolução de 64.”
Meses mais tarde, a escolha de Tancredo Neves para concorrer
com Paulo Maluf na disputa pela presidência da República pela via indireta
recebeu apoio do jornal. Trazendo o lema da conciliação, a candidatura Tancredo
foi vista como uma garantia de transição sem riscos. Após a confirmação de seu
nome pelo Colégio Eleitoral, O Globo chamou-o de “O mensageiro da conciliação”, homem público
capaz de reconhecer, apesar de sua militância oposicionista, “o relevante papel
do presidente Figueiredo e das Forças Armadas no feliz encaminhamento da
sucessão presidencial e da transição para a plenitude democrática”.
A Nova República e as
eleições de 1989
Com a morte de Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, e a
posse de seu vice José Sarney, O Globo passou a considerar o novo presidente um continuador da obra
de Tancredo, “timoneiro munido das credenciais necessárias” para manter a
sustentação política da Nova República.
O segundo ano do governo Sarney foi marcado pela euforia do
Plano Cruzado, havendo uma resposta popular intensa de apoio às medidas
econômicas por ele implementadas. O Globo deu total apoio ao plano, visto como a “reforma mais
importante da história do país”, e rebateu as críticas de Leonel Brizola, de
que seria apenas fruto do desespero de “um projeto de poder pessoal desalojado
pelo programa de estabilização econômica”.
As
eleições para os governos estaduais, em novembro de 1986, representaram um
capítulo a mais nas desavenças entre Roberto Marinho e Leonel Brizola. Em nota
oficial, divulgada pouco antes das eleições, o governador acusou o
ex-presidente João Figueiredo, o presidente José Sarney e as Organizações Globo
de estarem conspirando juntos contra o seu governo. Como resposta, O
Globo publicou, em 10 de
novembro de 1986, um editorial que tratava essas acusações como uma fábula
narrada por alguém “que não dispõe de um mínimo de argumentos para justificar o
dramático fracasso de sua administração”, além de pedir à população um voto de
repúdio ao governo do PDT. Dias depois, em 13 de novembro, ao focalizar o
último comício do candidato apoiado por Brizola, o vice-governador Darci Ribeiro, no editorial “O terrorismo moreno”, afirmava o jornal : “No desfile organizado
pelos banqueiros do bicho, na avenida Rio Branco, para encerramento da campanha
eleitoral a que ora se dedicam no sentido de organizar o continuísmo da sua
impunidade, não poderia faltar um carro alegórico. Uma elefanta, com um cartaz
em que se lia o número 12 — que corresponde ao do animal no jogo do bicho e ao
do candidato Darci Ribeiro na cédula eleitoral — constitui-se no símbolo da
grande aliança entre a marginalidade e o governo estadual.”
Durante
os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, iniciados em 1º de fevereiro
de 1987, O Globo criticou
a “prodigalidade nociva” dos capítulos referentes aos direitos sociais.
Procurou demonstrar o quanto esses benefícios poderiam implicar a elevação dos
custos da produção industrial, na medida em que “a Constituinte preocupa-se
mais com benesses e favores trabalhistas excessivos e menos com medidas que
impulsionem nossa economia”. Também acusou os parlamentares de colocarem o
Brasil na “contramão da história”, ao dificultar a entrada do capital
estrangeiro.
Outros
pontos de atrito com a Constituinte foram a questão tecnológica e a reserva de
mercado para a informática, os monopólios das empresas estatais, o tabelamento
dos juros em 12% ao ano e a proposta parlamentarista, considerada golpismo,
conforme o editorial de 19 de novembro de 1987, onde se lê: “Os atuais
congressistas foram eleitos para exercer funções legislativas, mas não para
eleger e depor, de forma indireta, o chefe do Poder Executivo.”
Contudo,
em 5 de outubro de 1988, O
Globo enfatizou que a nova
Constituição que se promulgava naquele dia exprimia a recuperação da cidadania,
parabenizando-a por ter sido “moldada sobre a soberania popular”. Nessa data,
as únicas críticas do jornal recaíram sobre o deputado Ulisses Guimarães, cuja
autoridade teria ultrapassado os limites da presidência dos trabalhos
constituintes para servir aos seus interesses futuros, rumo à presidência da
República.
Nos primeiros meses da campanha sucessória de 1989, o
noticiário do jornal tinha em pauta o problema do grande número de greves,
ocorridas no vazio da não-regulamentação desse direito pela Constituição de 1988. A greve nacional dos bancários recebeu destaque em diversos editoriais, com ênfase na sua
natureza política e irresponsável. Questionou-se a violência das greves,
principalmente após o movimento dos vigilantes de transportadoras de valores,
quando vários carros-fortes foram apedrejados por grevistas em piquetes. Por conta disso, O Globo apoiou a medida provisória que regulamentava o direito de
greve e definia os serviços considerados essenciais, pois, na sua opinião,
“quando os locais de trabalho são depredados e as empresas são lançadas à
insolvência, o trabalhador perde tanto quanto seu empregador”.
No
campo internacional, iniciava-se a cobertura da crise do socialismo, com o
noticiário sobre o massacre dos estudantes chineses que protestavam contra o
regime comunista na praça da Paz Celestial, em Pequim, ocupando as manchetes
principais por diversos dias. A repercussão dessa cobertura permitiu o jornal
repudiar “uma ideologia que perdeu fascínio e credibilidade, um regime despido
de lógica e coerência”. Em novembro de 1989, a queda do Muro de Berlim seria o ponto alto dessa cobertura, pois naquele momento registrava-se o fim do
“socialismo de incubadeira — o socialismo que mantém a uma distância
profilática outros regimes, povos e nações, o socialismo do confinamento a
instâncias burocráticas, pretensamente ungidas de pureza ideológica”.
O
descontrole da economia, provocado pelo insucesso dos planos Cruzado (fevereiro
de 1986), Bresser (junho de 1987) e Verão (janeiro de 1989), e denunciado
através da elevação dos índices inflacionários, foi outra preocupação
constante, por parte de O
Globo, na cobertura das
eleições de 1989. Na edição de 3 de agosto, a manchete principal assegurava:
“Inflação derruba Maílson”. Era um furo jornalístico feito a partir de fontes
inexistentes, que demonstrava a indisposição do jornal com o então ministro da
Fazenda, Maílson da Nóbrega. A proximidade das eleições fez com que as críticas
à má condução da política econômica ganhassem cada vez mais espaço. O perigo da
avalanche inflacionária influir sobre a escolha dos candidatos em 15 de
novembro levou o jornal a acusar o governo de agir com “negligência criminosa”,
nada fazendo para impedir a chegada da inflação à marca dos 50% ao mês.
Os
últimos meses da campanha revelaram o tratamento diferenciado do jornal aos
principais concorrentes à eleição presidencial, que seria a primeira a contar
com o voto popular após 21 anos de regime militar. Em outubro de 1989, O
Globo divulgou uma foto de um
depósito clandestino de armas e munições, onde teria sido encontrado um pôster
do então candidato do PDT à presidência da República, Leonel Brizola, abraçado
a um suposto traficante conhecido por Eureka. Tratava-se de uma falsificação,
pois a pessoa da foto era um líder comunitário, em nada envolvido com o tráfico
de drogas. Enquanto isso, a trajetória do candidato do Partido da Reconstrução
Nacional (PRN), Fernando Collor de Melo, era registrada nas páginas do
periódico com notícias que enfatizavam o crescimento de seu desempenho nas
pesquisas de opinião e o apoio dado pelos eleitores em todos os lugares por ele
visitados.
Com
a vitória de Collor no primeiro turno, O
Globo posicionou-se ao seu lado,
ressaltando os aspectos positivos de sua personalidade, tais como patriotismo e
espírito de liderança. Defendeu suas idéias principais, resumidas no interesse
pela abertura comercial e na redução do tamanho do Estado, em detrimento das
propostas acolhidas pelo Partido dos Trabalhadores (PT), consideradas
simplificadoras e retrógradas.
As acusações de Mirian Cordeiro, ex-namorada de Luís Inácio Lula da Silva, de ter sofrido pressões do candidato petista para abortar a filha
Luriam, feitas no horário gratuito do PRN, às vésperas do último debate
eleitoral, receberam grande destaque, ao lado de notícias sobre o envolvimento
da Igreja progressista na campanha da coalizão de partidos que apoiava a
candidatura de Lula, a Frente Brasil Popular, e de invasões de terras incitadas
por militantes petistas.
No
editorial “O teste decisivo”, publicado após o debate final entre os
candidatos, O
Globo fez um apelo em prol do
voto “em quem revelou o discernimento, a segurança e a capacidade de liderança
indispensáveis ao próximo presidente da República: Fernando Collor de Melo”.
Conhecido
o resultado das urnas, após o pleito de 17 de dezembro, fez-se uma avaliação da
eleição, vista como a “mais limpa e livre jamais levada a efeito no Brasil”. A
vitória de Fernando Collor foi avaliada por O
Globo de maneira positiva: “Ele
prega o restabelecimento da eficácia de um Estado mais magro e mais ágil como a
única via para alcançar a justiça social. Quer abrir os portos, dinamizar as
trocas, aumentar a produção e a produtividade com base na maior liberdade em
empreender e pretende encontrar saídas para os pontos de estrangulamento pela
via do diálogo e da inserção do país na comunidade das grandes potências
econômicas.”
Governo Collor
A posse de Fernando Collor, em 15 de março de 1990, e a
subseqüente apresentação de seu plano econômico mantiveram a expectativa
positiva trazida por O Globo desde o encerramento das eleições. A despeito dos aspectos
recessivos do plano e da polêmica causada pela brutal redução do meio
circulante, feita através da limitação dos saques da poupança, conta corrente e
aplicações de curto prazo, houve uma tendência de valorizar a ênfase dada pelo
novo governo ao processo de privatizações e à reforma administrativa.
A repercussão internacional do Plano Collor foi acompanhada
com bastante interesse por O Globo, que chamou atenção para os novos investimentos feitos no
Brasil após conversações entre a ministra Zélia Cardoso de Melo e as agências
de crédito no exterior. Anunciava-se uma nova visão sobre o desenvolvimento
econômico nacional, com ampla participação do capital estrangeiro, na qual
Collor estava perfeitamente engajado.
No
decorrer de 1990, entretanto, a ação do Executivo através de medidas
provisórias, em conflito com as decisões emanadas do Supremo Tribunal Federal,
especialmente nos casos relativos à redução de salários de servidores federais
postos em disponibilidade, e a dificuldade de compor uma maioria estável para o
governo passaram a formar a maior parte do noticiário da imprensa. Mesmo não
tendo conseguido realizar boa parte de seu programa, segundo O
Globo o presidente Collor
detinha no mês de setembro um índice de popularidade de 79%.
A edição do Plano Collor II, em fevereiro de 1991, criticada
por lideranças empresariais, devido à sua opção de manter o congelamento de
preços e salários, contou com o apoio de O Globo, que criticou as previsões feitas na época, em vista das
novas conseqüências recessivas do plano, como a queda da produção, dos salários
e do emprego.
As
denúncias de corrupção que começaram a freqüentar o noticiário da grande
imprensa a partir do caso S.O.S. Rodovias, em junho de 1990, só tiveram
repercussão em O Globo a
partir de outubro de 1991, quando o jornal denunciou a compra superfaturada de
fardas e lençóis pelo Exército. As denúncias divulgadas em 24 de maio de 1992
por Pedro Collor, em entrevista à revista Veja,
sobre a existência de um esquema de corrupção montado no interior do governo, e
a posterior instalação de uma CPI no Congresso para investigar a veracidade
dessas acusações, também foram timidamente recebidas, limitando-se O
Globo a divulgar as notícias
relativas ao caso, sem publicar sua opinião em editoriais. Apenas a partir da cobertura das manifestações públicas de repúdio ao presidente,
iniciadas em agosto de 1992, com uma grande participação dos jovens, conhecidos
como “caras-pintadas”, passou o jornal a abordar diretamente o assunto em seus
editoriais. Dias após a conclusão dos trabalhos da CPI, em 1º de setembro de
1992, O Globo manifestou-se
dizendo: “Caso vingue o processo de impeachment,
o Brasil não poderá voltar as costas aos avanços significativos que já fizemos
na direção de um país moderno, eficiente e, por isso, justo. O atual programa
de governo, em suas linhas gerais, representa mais que uma opção correta: ele é
a única escolha para uma sociedade que não se conforma com a estagnação e a
miséria. Portanto transcende as pessoas e os partidos.”
A defesa das reformas
A
defesa do projeto de modernização, via abertura comercial e atração de
investimentos externos para o Brasil, através da venda de empresas estatais,
abraçada por O
Globo desde fins do governo
Sarney, fez o jornal apoiar com reservas o governo Itamar Franco, iniciado em
outubro de 1992, após o afastamento de Collor. As primeiras notícias referentes
a esse governo demonstravam o desentendimento entre as forças que o apoiavam.
Na pasta da Fazenda, a rápida mudança de nomes dos titulares causava apreensão.
Nada se sabia quanto às possibilidades do programa de privatizações, ao passo
que Itamar acenava com propostas consideradas extravagantes, como a recuperação
da indústria automobilística, através da produção de carros populares, com a volta
ao mercado do modelo da Volkswagen popularmente conhecido como Fusca. Em abril
de 1993, a convocação de um plebiscito sobre forma e sistema de governo, em que
se discutiu o parlamentarismo, o presidencialismo e a monarquia parlamentar,
não chegou, na opinião de O
Globo, a empolgar a população,
que preferiu aproveitar o dia da votação para o lazer, em muitos casos
justificando sua ausência nas agências dos correios, onde as filas foram
maiores que nas seções eleitorais. As razões do desinteresse pelo plebiscito,
levantadas no editorial “O voto da desconfiança”, seriam resultado da desilusão
produzida pelos políticos nos últimos anos, pela frustração de expectativas
provocada com o fracasso dos muitos planos econômicos e pela falta de novas
idéias no cenário político. A recusa ao voto foi encarada por O
Globo como uma forma de
manifestação política normal, havendo nessa oportunidade espaço para a defesa
do voto facultativo: “Desta vez não houve disfarce possível. O que aconselharia
antes de mais nada a liberação dessa forma civilizada de protesto. Sendo um
direito, o voto não deveria ser nunca uma obrigação.”
No segundo semestre de 1993, entretanto, uma nova série de
denúncias de corrupção, dessa vez levantadas contra o Legislativo, reacendeu a
corrida pelo jornalismo investigativo, que marcara a atitude da grande imprensa
no ano anterior. Uma CPI instalada para averiguar as possíveis fraudes na
apresentação de emendas ao orçamento da União conseguiu provar o envolvimento
de diversos parlamentares, conhecidos como os “anões do orçamento”, que
negociavam verbas para prefeituras em suas áreas de influência. O Globo apoiou a iniciativa do Congresso de proceder a uma devassa
nas suas próprias atividades, só chamando a atenção para o perigo de se
interromper, em nome da CPI, os trabalhos de revisão constitucional que se
iniciavam.
Ao
encerrarem-se as investigações da CPI do Orçamento, O
Globo afirmou estar o
Legislativo redimido de seus vícios históricos e pronto para o estabelecimento
de procedimentos mais austeros no trato dos recursos públicos. Para o jornal,
daí por diante estaria aberto o caminho das reformas constitucionais,
consideradas o desdobramento natural do salto qualitativo dado pelos
parlamentares após a aprovação dos expurgos na Câmara e no Senado.
O
insucesso do esforço realizado em fevereiro de 1994 para acelerar a aprovação
dessas reformas fez com que O
Globo protestasse contra a falta
de interesse da maioria dos políticos em participar efetivamente dos trabalhos
legislativos, o que teria facilitado a resistência da oposição, através da
obstrução das propostas de revisão constitucional, por conta da falta de quórum
no plenário do Congresso.
Ainda nesse mês, O Globo iria saudar a implementação da segunda fase do plano de
estabilização econômica, elaborado pela equipe do ministro Fernando Henrique
Cardoso, após um período inicial de ajuste das contas públicas no fim de 1993.
Segundo o periódico, a chegada, em 28 de fevereiro, da URV (Unidade Referencial
de Valor), diferentemente dos planos anteriores, teria sido submetida a uma
ampla discussão, revelando, assim, a sua natureza inovadora e democrática.
De acordo com o jornal, as condições econômicas no começo de
1994 eram bastante favoráveis, “os mercados e a sociedade é que na verdade
determinarão a fase de transição. A discussão prévia sobre as regras de
conversão e a postura não-intervencionista do governo devem contribuir para que
esse período seja breve e a URV possa rapidamente se transformar na moeda
nacional”.
A
fase final do plano, com a adoção do real como moeda corrente, em 1º de julho,
contou com a confiança de O
Globo, que mais uma vez frisou
a distância entre essas medidas e os antigos pacotes econômicos, sobretudo o
Plano Cruzado. Também foi ressaltado que o real não possuía qualquer característica
de mistificação ou arbitrariedade, contava com a autoria de uma equipe de
técnicos experientes e com a aprovação de especialistas estrangeiros. Contudo,
a condição essencial para a manutenção da estabilidade econômica residiria
ainda “nas grandes reformas modernizadoras que deveriam ter sido feitas na
revisão constitucional”.
Para
O Globo,
a autoridade do presidente Itamar Franco saiu renovada com o plano, pois esse
garantia as condições ideais para a realização da maior eleição já realizada no
Brasil desde 1950. O país saía naquele momento do “quadro de calamidade
pública” deixado pela inflação.
A
confirmação do nome de Fernando Henrique Cardoso para concorrer à presidência
logo iria torná-lo o principal concorrente de Luís Inácio Lula da Silva, até
então o mais bem colocado nas pesquisas de opinião. Daí por diante, o debate
entre os dois candidatos marcou-se pela crítica e pela defesa do Plano Real.
Fatos marcantes da campanha presidencial de 1994, como a conversa informal
entre Rubens Ricupero e o jornalista Carlos Monforte, nos estúdios da Rede
Globo de Televisão, captada por antenas parabólicas, quando o ministro da
Fazenda afirmou não ter escrúpulos para “faturar” politicamente com o real, e
as acusações do deputado petista Chico Vigilante, de uso indevido da máquina do
governo na campanha de Fernando Henrique, não receberam maior atenção por parte
de O Globo,
que preferiu se fixar no acompanhamento das pesquisas de opinião, no
crescimento da economia e na Operação Rio, desencadeada no fim de 1994,
destinada a combater o contrabando de armas e o tráfico de drogas no Estado do
Rio.
A falta de segurança que se instalou na cidade do Rio de
Janeiro recebeu críticas contundentes de O Globo durante todo o ano de 1994. Em fevereiro, uma de suas edições
registrava na primeira página: “Zona Sul tem madrugada de Bósnia”. Todo esse
caos, segundo o jornal, teria sido provocado durante o segundo mandato do
governador Leonel Brizola, cuja administração falhara nos mais diversos campos,
evidenciando-se sua “incompetência”, através da “desmoralização da autoridade
que chegou ao ponto dramático de exigir uma intervenção branca das Forças
Armadas no combate ao crime organizado”.
Em 3 de outubro, O Globo anunciava o resultado da pesquisa de boca de urna do IBOPE (“FH
será presidente”), indicando, assim, a definição da eleição presidencial já no
primeiro turno. Em entrevista com o diretor desse instituto, o jornal deixou
claro que a expressiva votação alcançada por Fernando Henrique havia se dado em
conseqüência do sucesso do Plano Real, observando, porém, ser esse apenas o
“primeiro passo” entre as muitas reformas necessárias, “no sentido de um país
moderno e socialmente justo”.
Durante 1995, O Globo apoiou de maneira incondicional o esforço do governo Fernando
Henrique Cardoso para realizar as chamadas reformas estruturais, que atingiriam
a ordem econômica e social, com a flexibilização dos monopólios, a extinção de
determinados privilégios contidos em aposentadorias especiais e a reforma
administrativa, que acabaria com a estabilidade dos funcionários públicos.
A partir de março de 1996, O Globo começou a publicar uma série de reportagens revelando fatos,
inéditos até então, sobre a chamada guerrilha do Araguaia, na qual militantes
do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em oposição ao regime militar iniciado
em 1964, enfrentaram o Exército e foram derrotados, no início da década de
1970. O Globo divulgou testemunhos de ex-combatentes, laudos técnicos de
peritos legistas, arquivos secretos e fichas com anotações feitas por
militares, que revelaram as circunstâncias em que foram mortos os
guerrilheiros, assim como os locais onde seus corpos foram enterrados. As
reportagens se concentraram também na cobertura do comportamento do governo e
das chefias militares diante das novas descobertas, em meio aos processos de
indenização às famílias de vítimas de ação repressiva, naquele período, que se
encontravam sob tutela do Estado.
Em seguida, em julho de 1996, O Globo voltou a divulgar informações polêmicas sobre o período mais
duro da repressão política durante o regime militar. Foi o caso da divulgação
do laudo da necropsia do líder guerrilheiro Carlos Lamarca, morto em setembro
de 1971 no interior da Bahia. O laudo desmentia a versão oficial segundo a qual
teria havido um diálogo entre Lamarca e seu captor, o então major Nílton
Cerqueira. Pelo laudo, após levar três tiros no coração, Lamarca não teria
condições de travar o diálogo, conforme descrito no relatório oficial sobre o
cerco em que morreu (a Operação Pajussara).
O
Ministério do Exército reagiu duramente à reabertura do caso Lamarca, após a
publicação em O Globo do
laudo cadavérico que indicava a execução do guerrilheiro. Para os militares,
Lamarca morrera em combate, e por isso sua família não teria direito à indenização.
O representante da Câmara na Comissão Especial de Desaparecidos Políticos,
deputado Nilmário Miranda, do PT de Minas Gerais, porém, deu parecer favorável
à concessão de indenização aos parentes de Lamarca, incluindo no seu relatório
o dossiê publicado por O
Globo.
Ainda neste ano o jornal divulgou revelações sobre a morte,
em 20 de agosto de 1971, de Iara Iavelberg, companheira de Lamarca. Segundo
testemunhas ouvidas pelo jornal, Iara teria sido morta a tiros, e não se
suicidado, conforme a versão que os órgãos de segurança da ditadura forjaram e
que fora aceita até pela própria família da guerrilheira.
Aspectos internos
Em sua fase inicial, O Globo contou com a colaboração, entre outros, do barão de Itararé e
de Raul Bopp. Posteriormente, tornar-se-iam colaboradores do jornal, escrevendo
sobre diversos assuntos, Eugênio Gudin, Gustavo Corção, Oto Lara Resende,
Nélson Rodrigues, Davi Nasser, Edmar Morel, Franklin de Oliveira, Luís Alberto
Bahia, João Antônio Mesplé, Evandro Carlos de Andrade e Francisco Alves Pinheiro. Em 1954, Ibrahim Sued iniciou no jornal sua coluna social, que
impulsionaria esse tipo de jornalismo.
O jornal, inicialmente vespertino e circulando diariamente
com duas edições, em 1935 acrescentou mais uma edição vespertina e outra matutina,
a qual, no entanto, deixou de circular em 1937. A partir de 1962, tornou-se exclusivamente matutino.
A
primeira sede do jornal, na rua Bittencourt Silva, foi desapropriada pela
Prefeitura do Distrito Federal. Em outubro de 1954, o jornal transferiu-se para
a rua Irineu Marinho, onde permanece até hoje. A rotativa Hoe, que adquiriu
então, foi substituída em 1978 por rotativas Goss Metrolines Rockwell, em off-set.
O
Globo foi o primeiro jornal
brasileiro a utilizar o flash
nas máquinas fotográficas,
assim como o flash
eletrônico, a teleobjetiva
e as máquinas de 35mm com filme ultra-sensível. Em junho de 1959, o jornal
publicou a primeira radiofoto colorida da imprensa da América do Sul,
reproduzindo a visita da rainha Elizabeth II ao Canadá. O
Globo adotou igualmente
máquinas Unifax para a recepção de fotografias de qualquer ponto do planeta por
rádio ou telefone e o sistema de fotocomposição em substituição ao de linotipos
com composição a chumbo.
Em
1995, passou por uma série de alterações gráficas e editoriais, que culminaram
com o “redesenho” do jornal, projetado pelos designers americanos Milton Glaser
e Walter Bernard. Entre as mudanças, que tiveram início com a edição de 20 de
dezembro, incluem-se a criação de um logotipo, uma hierarquia na disposição das
notícias e um espaço maior para as fotos na primeira página. Houve também a
preocupação de ampliar o espaço editorial do jornal, que passou a ter duas
páginas diárias de opinião. Os suplementos e cadernos especiais foram
reformulados, procurando-se torná-los mais próximos do formato de revistas. Foi
criado um suplemento literário, “Prosa e verso”, com circulação aos sábados. Ao
completar 70 anos, O
Globo entrou definitivamente na
era digital, implantando o sistema Hyphen de editoração eletrônica, responsável
pelo controle da redação do jornal.
A chefia de redação também sofreu mudanças nesse ano, com a
saída de Evandro Carlos de Andrade, que após 20 anos passou ao comando do
jornalismo da Rede Globo, sendo substituído por Merval Pereira Filho.
Em dezembro de 1998 O
Globo inaugurou seu
novo Parque Gráfico, à época o maior da América Latina. Neste mesmo ano foi lançado novo jornal do Grupo Infoglobo, o Extra, voltado para o público das classes B e C. Esse movimento de diversificação foi estendido a São Paulo, com o lançamento, em setembro de 2001 do jornal Diário de São Paulo, também direcionado para a mesma faixa de mercado do Extra.
Em dezembro de 2004, O
Globo foi agraciado com o Prêmio Esso de Jornalismo pela série de reportagens "Bastidores do Poder - Os Homens
de Bens da Alerj (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro)", de autoria
dos repórteres Angelina Nunes, Alan Gripp, Carla Rocha, Dimmi Amora, Flávio Pessoa, Luiz Ernesto Magalhães e Maiá Menezes, e que expôs a
variação patrimonial de setenta parlamentares da Alerj entre 1996 e 2001. A premiação, porém, criou polêmica entre diretores de redação de outros grandes veículos, como
a Folha e o Estado de S.Paulo, que antes mesmo do anúncio do vencedor criticaram os
organizadores do prêmio, questionando a representatividade dos jurados e suspeitando de favorecimento às empresas Globo. Também a revista Veja contestou a premiação.
Em julho de 2005, O
Globo comemorou seus 80 anos com uma exposição das suas primeiras páginas no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.
No ano seguinte foi
promovida uma renovação do site do Globo Online, em comemoração aos seus primeiros dez anos de vida, com mudanças no layout, investimento em multimídia, ênfase no chamado jornalismo participativo e criação de uma editoria somente para a publicação de material enviado pelos eleitores. O site contava então com mais de 2,5 milhões de usuários cadastrados.
A estratégia de expansão
de mercados do Infoglobo teve prosseguimento em 2007, com o lançamento do jornal Expresso, direcionado para as faixas C e D do mercado carioca.
Neste mesmo ano O
Globo foi objeto de ataques do presidente
venezuelano Hugo Chávez,
em longo discurso proferido por aquele chefe de Estado
ao ser homenageado no dia 19 de
janeiro de 2007 pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro,
com a medalha Tiradentes. Chávez
reagira à cobertura internacional de O
Globo sobre a difícil
relação do presidente venezuelano com setores
da mídia
de seu país.
Em setembro de 2008, foi lançada pelo O
Globo a campanha "Muito além do papel de um jornal”. O objetivo era ampliar a interação dos internautas com o Globo Online, levando os leitores a participar no debate sobre a cidadania, através, inclusive, do envio de material sob a forma de vídeos, fotos, textos, e críticas. Neste mesmo mês veio a público a série de reportagens
“Favela S/A”, que dariam a O
Globo, o prêmio do “Every Human Has Rights Media Awards”, concedido às melhores reportagens sobre direitos humanos publicadas em todo o mundo.
Em seu balanço de 2008, a Infoglobo, que publicava os jornais O Globo, Extra, Expresso da Informação e Diário de S. Paulo, além co-editar o Valor Econômico com o Grupo Folha de S.Paulo, divulgou que a receita bruta do grupo fora de 1,027 bilhão de reais e o lucro líquido registrado, de R$ 172,9 milhões, com crescimento significativo em relação aos números do ano
anterior: R$ 1,006 bi de recita bruta e R$ 92,2 milhões de lucro líquido. Também em 2008, segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC) O
Globo era o segundo jornal de maior circulação diária do país, com média de 293 mil exemplares por dia.
Em 2009 O
Globo também sentiu os efeitos
da crise econômica mundial, deflagrada ao final do ano anterior, e sofreu uma queda de 8% de circulação no primeiro semestre. Somente no primeiro trimestre deste ano o jornal enfrentou uma queda significativa em relação ao começo do Século XXI, quando a média era de 334 mil exemplares por dia, fechando o trimestre com uma média de 260 mil, resultado que só fora inferior, nos últimos dez anos ao ocorrido em momentos de 2003 (258 mil), e de 2004 (250 mil).
Carlos Eduardo Leal/Sérgio Montalvão
FONTES: Acordo; Almanaque
Abril (1995); ARQ. CENTRO DOC.
REDE GLOBO; CARONE, E. Terceira; CASTELO BRANCO, C. Introdução; CONFERÊNCIA NAC.
CLASSES PRODUTORAS. Carta; CORTÉS, C. Homens; COUTINHO, A. Brasil; Diário de
Notícias, Rio (4/9/56); DREIFUSS, R. Conquista; Encic. Mirador; ENTREV. GONÇALVES,
M.; ENTREV. MARINHO, R.; ENTREV. PINHEIRO, F.; Estado de S. Paulo (12/6/66); FICHÁRIO
PESQ. M. AMORIM; Folha de Goiás (24/4/66); Globo (24, 25, 26 e
27/8/66 e 4/5/75, 28 e 31/3/77, 23/8/79, 1 e 2/5/81, 13 a 16/11/82, 21/6/83, 11, 15, 18, 20, 25 e 26/4 e 7/10/84, 15 a 17/1 e 23/4/85, 7/3, 10, 13 e 18/11/86, 18/11/87, 22/3, 5 e 6/8, 6 e 7/10/88, 21 e 27/4, 10/6, 11, 15 e 16/11,
14, 15, 16, 19, 20 e 21/12/89, 15/1, 16/3, 23/4, 21 e 27/10/93, 3, 4, 22 e
28/2, 21/4, 1, 3 e 8/7, 2, 3 e 5/10/94, 2 e 5/1, 15, 16 e 20/12/95); Grande encic.
Delta; HIRSCHOWICZ, E. Contemporâneos; LATTMAN-WELTMAN, F.
Imprensa; MACEDO, R. Efemérides; Movimento, SP (19/7/76);
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COMERCIAL. Quem; TAVARES, J. Radicalização; VÍTOR, M. Cinco; Who’s who in Brazil; Portal Infoglobo (http://www.infoglobo.com.br;
acessado em 10/10/2009); Portal Imprensa (http://portalimprensa.uol.com.br; ;
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