GRUPOS
EXECUTIVOS
Órgãos surgidos durante o governo de Juscelino Kubitschek
(1956-1961). Nesse momento, ligavam-se ao Conselho do Desenvolvimento,
organismo central de planejamento diretamente subordinado à Presidência da
República, e tinham por função elaborar e coordenar os programas setoriais
definidos pela política econômica do governo. Após o período Kubitschek, os
grupos executivos perderam sua autonomia, vinculando-se progressivamente aos
ministérios.
Implantação
A política econômica do governo Kubitschek, consubstanciada
no Plano de Metas, tinha como objetivo básico a expansão industrial, com o
aumento da produção de bens de consumo duráveis, de bens intermediários e de
bens de capital. Visava além disso à expansão da infra-estrutura econômica
existente, especialmente nos setores viário e energético, destacando a execução
de um plano rodoviário e a produção de energia hidrelétrica.
A execução do Plano de Metas gerou a necessidade de se
criarem órgãos administrativos especiais, de tipo colegiado, que formulassem a
política aplicável a cada atividade industrial. Foram assim formados os
primeiros grupos executivos, integrados por administradores públicos e
industriais do setor privado, responsáveis pela concessão e a manipulação dos
incentivos necessários à implantação do Plano de Metas tanto em termos de
tecnologia como em termos de recursos financeiros, predominantemente
estrangeiros.
A vinculação direta dos primeiros grupos executivos à
Presidência da República, além de garantir sua autonomia em relação aos
ministérios e ao Poder Legislativo — ou seja, em relação ao jogo
político-partidário —, trouxe-lhes a vantagem de poder operar com maior
agilidade. De fato, um mesmo grupo congregava muitas vezes diretores de
diversas agências governamentais responsáveis pela aprovação dos diferentes
projetos econômicos.
Durante
o governo Kubitschek, foram criados os grupos executivos da Indústria
Automobilística (GEIA), o mais importante e de maior rendimento da Indústria de
Construção Naval (Geicon), da Indústria Mecânica Pesada (Geimape) e de
Assistência à Média e Pequena Empresa (GEAMPE). Ainda no mesmo governo, o
Geicon foi substituído pelo Conselho Coordenador da Indústria de Construção
Naval (Cocicon).
Entre
janeiro e agosto de 1961, durante o governo Jânio Quadros, foram criados os grupos
executivos da Indústria de Máquinas Agrícolas e Rodoviárias (GEIMAR), da
Indústria Metalúrgica (Geimet) e da Indústria Cinematográfica (Geicine). O
Cocicon foi substituído pelo Grupo Executivo da Indústria Naval (GEIN) pelo
Decreto nº 50.520, de 3 de maio de 1961.
Os grupos executivos da Indústria Farmacêutica (Geifar) e o
da Indústria de Fertilizantes (Geiferc) foram criados nos meses de setembro e
outubro de 1963 respectivamente, durante o governo de João Goulart. Em
fevereiro do ano seguinte, foram criados os grupos executivos da Indústria
Têxtil (Getec) e da Indústria de Calçados (Gecal).
Foram ainda criados, entre os anos de 1956 e 1964, os grupos
executivos de Minérios de Ferro (GEMF) e da Indústria de Material Ferroviário
(GEIMF).
Os grupos executivos foram reorganizados pelo Decreto nº
53.975, de 19 de junho de 1964, que os subordinou à Comissão de Desenvolvimento
Industrial e os colocou sob a direção de secretários-executivos designados pelo
ministro da Indústria e Comércio. Dos grupos existentes, o decreto manteve
apenas o Geicine e o Geimet, e criou os grupos executivos das Indústrias
Mecânicas (Geimec), das Indústrias de Tecidos, Couros e seus Artefatos
(Geitec), da Indústria Química (Geiquim), da Indústria de Material Eletrônico e
Telecomunicações (Geitel) e da Indústria de Produtos Alimentícios (Geipal).
Enquanto o Geimec absorveu os antigos GEIA, Geimape e GEIMAR, o Geitec reuniu o
Getec e o Gecal e o Geiquim fundiu o Geifar e o Geiferc.
Em 18 de novembro de 1966, o Geicine foi extinto pelo
Decreto-Lei nº 43.
O
Decreto nº 60.347, de 9 de março de 1967, criou os grupos executivos da
Indústria de Materiais de Construção Civil (Geimac), das Indústrias de Papel e
das Artes Gráficas (GEIPAG) e das Indústrias Elétrica e Eletrônica. Foram
mantidos o Geimec, o Geimet, o Geiquim e o Geipal. O Getec foi substituído pelo
Grupo Executivo das Indústrias de Fiação e Tecelagem (Geitex), enquanto o Grupo
Executivo das Indústrias de Couros e seus Artefatos (Geitec) substituiu o
Gecal.
Os
vários outros grupos executivos criados a partir de junho de 1964 não mais se
constituíram como órgãos de administração paralela.
O GEIA
Em
25 de junho de 1954, no final do segundo governo de Getúlio Vargas, foi criada
pelo Decreto nº 35.729 a Comissão Executiva da Indústria de Material
Automobilístico (CEIMA), com a função de elaborar planos industriais para as
diversas linhas de fabricação de material automobilístico. Diretamente
subordinada ao ministro da Fazenda e dotada de amplos poderes para interferir
em todas as instâncias administrativas, a CEIMA deveria também prestar
assistência aos órgãos de controle do câmbio e do comércio exterior, fixando os
critérios para importação do material indispensável à execução do programa
industrial automobilístico brasileiro. Entretanto, a morte de Vargas dois meses
após a criação do novo órgão provocou seu esvaziamento.
Durante o governo de João Café Filho, foram elaborados alguns
relatórios sobre a questão do desenvolvimento da indústria automobilística no
país que não chegaram a mobilizar os diferentes ministros, sobretudo o ministro
da Fazenda, Eugênio Gudin.
Durante a campanha para as eleições presidenciais de outubro
de 1955, o comandante Lúcio Martins Meira, que havia sido representante da
Marinha na Comissão de Desenvolvimento Industrial e diretor da Subcomissão de
Jipes, Tratores, Caminhões e Automóveis no governo Vargas, sugeriu ao candidato
Juscelino Kubitschek que um dos pontos de seu programa de governo fosse a
implantação da indústria automobilística no país. A vitória de Kubitschek e a
escolha de Lúcio Meira para o ministério da Viação e Obras Públicas fez assim
com que entre as metas da nova política econômica figurasse o desenvolvimento
da indústria automobilística.
Em
maio de 1956, o Grupo de Estudos da Indústria Automobilística — formado no mês
anterior por Lúcio Meira, o engenheiro Eros Orosco e o diretor-superintendente
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), Roberto Campos, entre
outros — apresentou um relatório propondo a criação de um grupo executivo com o
objetivo de centralizar todas as decisões e estudos referentes à implantação da
indústria automobilística no país.
O GEIA foi finalmente criado pelo Decreto nº 39.412. de 16 de
junho de 1956, que regulou também as diretrizes básicas relativas à indústria
automobilística brasileira. Coube ao novo órgão elaborar e submeter à aprovação
do presidente da República os planos para as diversas linhas de fabricação de
autoveículos, adaptando-as às contingências da situação econômica nacional.
Além disso, o GEIA deveria examinar, negociar e aprovar privativamente os
projetos singulares referentes à indústria automobilística.
Ainda de acordo com o Decreto nº 39.412, o GEIA seria
constituído por cinco membros natos: o ministro da Viação e Obras Públicas
(presidente), o diretor-executivo da Superintendência da Moeda e do Crédito
(Sumoc), o diretor-superintendente do BNDE, o diretor da Carteira do Comércio
Exterior do Banco do Brasil (Cacex) e o diretor da Carteira de Câmbio do Banco
do Brasil. O GEIA seria ainda assessorado por um conselho consultivo
constituído por representantes dos institutos oficiais de tecnologia, dos
sindicatos patronais, da indústria de autopeças, dos fabricantes de automóveis,
dos produtores de aço e do comércio de veículos automóveis. O primeiro
secretário executivo do GEIA foi Eros Orosco.
Ao
invés de atuar de forma direta na fabricação de veículos, o governo procurou
incentivar a participação de empresas privadas nacionais e preferencialmente
estrangeiras, oferecendo-lhes estímulos fiscais, cambiais, creditícios e
comerciais. Enquanto os investimentos estrangeiros deveriam ser encaminhados
principalmente para a fabricação de veículos, caberia às empresas nacionais o
subsetor de autopeças, devido à menor necessidade de capitais e à existência de
vários produtores brasileiros operando no setor. O subsetor de autopeças, no
entanto, veio a sofrer posteriormente uma forte tendência à desnacionalização.
A
partir de julho de 1956, o Plano Nacional de Fabricação de Veículos a Motor
passou a ser implantado com a promulgação de uma série de decretos referentes à
fabricação de diversos tipos de veículos. Os decretos nº 39.568 e nº 39.569, de
12 de julho de 1956, nº 39.676-A, de 30 de julho do mesmo ano, e nº 41.018, de
26 de fevereiro de 1957, definiram a fabricação de caminhões, jipes,
camionetas, caminhões leves, furgões e automóveis de passageiros. Esses
decretos disciplinaram um programa de nacionalização gradual, a que se deveriam
submeter as indústrias que quisessem gozar das vantagens oferecidas pelo GEIA
em termos de importação de equipamentos, peças e partes complementares, e em
termos de empréstimos fornecidos pelos bancos oficiais. Em troca desses
incentivos, as empresas deveriam cumprir as normas estabelecidas, notadamente
os severos prazos para a consecução dos índices de nacionalização. Em 5 de
agosto de 1957, o Decreto nº 41.986 determinou a inclusão de um representante
do Ministério da Guerra no quadro de membros do GEIA.
Ao
final desse mesmo ano, havia 17 projetos aprovados, sendo 12 deles implantados
para a produção de 27 tipos de veículos. As empresas responsáveis pela execução
dos projetos foram a Fábrica Nacional de Motores, a General Motors, a Ford, a
International Harvester, a Karman-Ghia, a Mercedes-Benz, a Scania Vabis/Vemag,
a Simca do Brasil, a Toyota do Brasil, a Vemag, a Volkswagen e a
Willys-Overland.
O
Decreto nº 43.715, de 19 de maio de 1958, incluiu no quadro de membros do GEIA
o presidente do Conselho de Política Aduaneira.
Pelo Decreto nº 50.386, de 28 de março de 1961, o GEIA passou
à subordinação da Presidência da República, sendo transferido pelo Decreto nº
751, de 19 de março do ano seguinte, para a jurisdição do Ministério da
Indústria e Comércio.
Nesses
primeiros anos da década de 1960, o GEIA iniciou uma série de contatos com
países da América do Sul para a venda de veículos desmontados e de peças para
reposição. Nenhum acordo no entanto se realizou devido à pressão dos grandes
fabricantes internacionais.
O Geicon
Criado
pelo Decreto nº 43.899, de 13 de junho de 1958, o Geicon tinha o objetivo de
“estudar, propor e estabelecer as normas e critérios gerais a serem observados
pelos diversos órgãos governamentais para a execução das metas da construção
naval”. Além disso, cabia-lhe “estudar, coordenar, aprovar e propor as medidas
necessárias à realização dos projetos de estaleiros de construção naval,
previstos nas metas estabelecidas pelo governo.
Segundo
o Decreto nº 43.899, o Geicon deveria ser integrado pelo ministro da Viação e
Obras Públicas, pelo presidente da Comissão de Marinha Mercante, pelos
diretores da Cacex e da Carteira de Câmbio do Banco do Brasil e pelo diretor
dos Portos e Costas do Ministério da Marinha, além do diretor-geral do
Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais, do diretor-superintendente do
BNDE e do diretor-executivo da Sumoc. O decreto estipulava ainda que todos os
órgãos da administração federal deveriam cooperar com o Geicon, inclusive sob a
forma de trabalhos técnicos.
Os programas relativos ao transporte marítimo e fluvial — ao
contrário do programa de transporte rodoviário — não mereceram grande destaque
no Plano de Metas. Estava prevista ainda assim a construção de dois estaleiros
adequados à produção de grandes unidades e o reaparelhamento de 14 estaleiros
já existentes. Isso representava um esforço de dinamização do setor, já que até
1955 a indústria de construção naval havia contado com poucos estaleiros para a
produção de pequenas embarcações e para reparos de menor vulto.
Assim
como a indústria automobilística, a construção naval recebeu vários incentivos
governamentais sob a forma de favores cambiais e tributários, com o objetivo de
atrair investimentos de grupos estrangeiros. Com isso, instalaram-se no Brasil
grandes estaleiros pertencentes a firmas estrangeiras, como a Ishikawajima
(japonesa) e a Verolme (holandesa).
Até 1960, o Geicon aprovou 12 projetos, sendo dois relativos
à implantação de grandes estaleiros.
O Geimape
Criado pelo Decreto nº 46.753, de 26 de agosto de 1959, o
Geimape tinha por objetivo “elaborar e submeter à aprovação do presidente da
República os planos, esquemas e programas para as diversas linhas de fabricação
ligadas à indústria mecânica pesada”. Cabia-lhe também coordenar as atividades
industriais ligadas ao subsetor de produção de máquinas e equipamentos para a
fabricação de material elétrico pesado.
Segundo o Decreto nº 46.753, seriam membros natos do Geimape
o presidente do BNDE, o presidente da Comissão de Tarifas, o diretor-executivo
da Sumoc, o diretor da Cacex, o diretor da Carteira de Câmbio do Banco do
Brasil e o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Base.
O Decreto nº 50.522, de 3 de maio de 1961, consolidou o
anterior, retificando no entanto alguns itens. Diretamente subordinado à
Presidência da República, que passou a nomear livremente seu presidente, o
Geimape passou a incluir um representante do Ministério da Guerra. O novo
decreto previu ainda uma série de incentivos à área da mecânica pesada, como a
isenção de impostos de importação para os equipamentos de produção considerados
essenciais ao processo de desenvolvimento econômico do país.
O GEAMPE
Criado
pelo Decreto nº 48.738, de 4 de agosto de 1960, o GEAMPE tinha por objetivo
“coordenar medidas de adequado estímulo à média e pequena empresas industriais”,
visando à “melhoria da produtividade e ao fortalecimento de sua estrutura
econômico-financeira”. Todos os órgãos da administração federal, autarquias e
sociedades de economia mista deveriam prestar cooperação ao órgão, que
receberia dotações provenientes da União.
Ainda
segundo o Decreto nº 48.738, seriam membros natos do GEAMPE o secretário-geral
do Conselho do Desenvolvimento (presidente), o presidente do Banco do Brasil
(vice-presidente), o presidente do BNDE, o diretor da Carteira de Crédito
Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, o diretor-executivo da Sumoc, o
diretor da Carteira de Câmbio do Banco do Brasil, o diretor da Cacex e o
presidente do Conselho de Política Aduaneira.
Mônica Kornis
FONTES: BENEVIDES,
M. Desenvolvimento; COSTA, J. Planejamento; FRANCO, W. Nacionalização; HOFFMAN,
H. Como; LATINI, S. Meta; LESSA, C. Quinze; NASCIMENTO, B. Formação; Visão
(22/11/76).