HOJE
Jornal diário fundado em São Paulo em 5 de outubro de 1945
para divulgação da linha doutrinária do Partido Comunista Brasileiro, então
Partido Comunista do Brasil (PCB).
Desapareceu com as crises político-doutrinárias que tiveram
origem no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS),
realizado em 1956. A rigor, a origem desse periódico remonta ao ano de 1938, na
forma de uma revista mensal ilustrada, fundada por Otávio Mendes Cajado e dirigida
por Sílvio Mendes Cajado. A revista persistiu até o ano de 1945, quando foi
comprada por uma sociedade anônima composta por membros do PCB, e
transformou-se num periódico diário.
Atuação
O
jornal surgiu no bojo do processo de “redemocratização” no Brasil, do qual faz
parte o reconhecimento e a volta à legalidade do PCB. Com a libertação de Luís
Carlos Prestes e o registro do partido nos termos da legislação partidária
vigente, no final de 1945, seus dirigentes iniciaram o processo de difusão
doutrinária, centralizando o discurso político-ideológico em torno do tema da
“união nacional”, “união com os partidos populares”, e defesa da união da
classe operária com outras classes. Foi exatamente com o objetivo de promover e
difundir sua linha partidária que o PCB fundou, no Rio de Janeiro, a Tribuna
Popular Editora S.A., e em São Paulo, a Hoje Editora S.A.
Após
uma campanha popular para arrecadação de recursos para viabilizar o
empreendimento, o jornal Hoje começou a circular tendo como primeiros diretores
Mílton Caires Brito, dirigente do PCB em São Paulo, seu irmão Nabor Caires
Brito, jornalista de projeção na imprensa paulista, Caio Prado Júnior e Jorge
Amado. Ocupava o cargo de redator Elias Chaves Neto. Mas devido à orientação
excessivamente partidária e, portanto, sectária impressa pelo dirigente máximo
do jornal, Mílton Caires de Brito, pouco tempo depois Caio Prado Júnior e Nabor
Caires de Brito afastaram-se do jornal.
Foi Elias Chaves Neto quem afirmou que “o Hoje nunca
conseguiu se libertar completamente desta orientação sectária”, tornando-se
praticamente “um órgão oficial do partido, uma espécie de diário oficial, do
qual era publicado o seu expediente”.
E aí reside, segundo esse mesmo autor, um dos fatores que
explicam o fato de o jornal nunca ter deixado de ser lido exclusivamente pelos
comunistas, bem como o de ter desaparecido com as crises internas do partido
que sucederam ao XX Congresso do PCUS.
A
história do jornal Hoje confunde-se com a história da ascensão do PCB na
legalidade, como também acaba por ser a história das suas vicissitudes na
ilegalidade decretada pelo cancelamento de seu registro em maio de 1947. No dia
3 de janeiro de 1948, dia em que se estava preparando uma edição comemorativa
dos 50 anos de Luís Carlos Prestes, o jornal recebeu a visita da polícia.
Deixou de ser editado nesse dia, passando a circular em seu lugar o jornal
Popular, dirigido por Elias Chaves Neto. O Popular também foi apreendido pela
polícia por ter publicado um manifesto contra uma possível intervenção do governo
federal em São Paulo. Quando voltou a circular, apresentou com destaque a
seguinte denúncia: “O governador Ademar de Barros, que foi eleito com o apoio
dos comunistas, ao invés de defender a autonomia do Estado prefere engraxar as
botas de Dutra.” A partir de então o diretor do jornal foi vítima de um novo
processo, enquanto o jornal Hoje passava a ter uma circulação intermitente até
1949. Nesse ano Hoje reconquistou sua liberdade, após entendimentos com o
governador do estado.
Em
agosto de 1950 o PCB modificou sua linha político-doutrinária, deixando de lado
a política de aliança de classes e de união nacional (“ordem e tranqüilidades”)
para defender abertamente a derrubada do governo Dutra (marcado pela brutal
repressão aos comunistas) bem como a luta armada a ser conduzida pela Frente de
Libertação Nacional com a formação de um exército popular (manifesto de agosto
de 1950). Na sucessão de Dutra, o PCB não apoiou nenhum candidato à presidência
da República, e o jornal Hoje, de conformidade com a linha do partido, defendeu
o voto em branco. Com o suicídio de Vargas, porém, “de um dia para outro o Hoje
teve que fazer uma mudança de 90 graus na sua orientação política e se colocar
ao lado das forças que, herdeiras da Carta-Testamento de Getúlio Vargas, faziam
do nacionalismo o seu objetivo político”.
Nas eleições de 1960, o PCB e conseqüentemente o jornal
apoiaram a candidatura do general Henrique Teixeira Lott.
O
jornal Hoje acompanhou, assim, as marchas e contramarchas das linhas
político-partidárias do PCB, tanto nacionais quanto internacionais. Nesse
sentido, foi decisivo o XX Congresso do PCUS, a partir do qual teve início a
luta contra o stalinismo. Essa orientação provocou profundas cisões no PCB a
partir de 1957 e, com isso, o jornal Hoje deixou de circular como órgão
representativo da opinião unitária do partido.
Amélia Cohn/Sedi Hirano colaboração especial
FONTES: BARATA, A.
Vida; BASBAUM, L. História; BASBAUM, L. Vida; CHAVES NETO, E. Minha; CRUZ, J.
Pequena; FRANCO, A. História; FREITAS, J. Nobre; LINHARES, H. Contribuição;
SEGATTO, J. Breve; WERNECK, N. História.