HORA DO POVO
Jornal de periodicidade irregular, publicado pela Empresa
Jornalística Hora do Povo S.A., a partir de 31 de agosto de 1979, no Rio de
Janeiro. Transferiu sua redação para São Paulo em abril de 1981. Formalmente, o jornal dividia-se em várias seções: política
nacional; cultura; internacional e esportes. Seus títulos destacavam a
proximidade com as camadas populares, como exemplo, “Fala do Povo” e “Bolso do
Povo”. Contou, em seus primeiros tempos, com colaboradores de destaque como João Saldanha, Aldir Blanc e Fernando Morais, entre outros.
Na fundação, a diretoria do jornal era composta por Cláudio
Cardoso, João Urbano de R. Costa e Pedro de Camargo. No início dos anos 90, os
diretores eram Cláudio Campos, Sérgio Rubens, Nélson Chaves e Maria A. Z.
Monteiro. Em 1999 seu editor-geral era Clóvis Monteiro Neto.
Hora do Povo esteve, desde a sua fundação, associado ao Movimento
Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Em seu primeiro editorial proclamava “o
compromisso de ser um jornal popular, um jornal a favor dos que vêm sendo há 15
anos massacrados por um regime cuja política econômica e social só tem como
objetivo encher a panela dos ricos”.
O jornal procurou sustentar esta linha de intervenção popular
em dois campos. Por um lado, afirmava a origem de esquerda de sua linha
editorial, através de um discurso de críticas ao governo militar. Por outro
lado, buscava ser popular também na forma, adotando a linguagem coloquial como
norma e investindo nas manchetes sensacionalistas, como os veículos da grande imprensa
voltados para o leitor popular já o faziam. O primeiro número trazia a
manchete: “Tem gente comendo rato e barata.”
Durante
os primeiros anos de circulação, Hora
do Povo manteve-se na linha de
oposição aberta ao governo militar, na gestão do general João Batista
Figueiredo à frente da presidência da República. Na oposição, o jornal usava as
manchetes sensacionalistas contra Figueiredo e sua equipe, como em dezembro de
1979, quando referindo-se a um pronunciamento do presidente em cadeia nacional,
estampou a seguinte manchete: “Vampiro surge na TV e exige mais sangue” ou
ainda no Carnaval do ano seguinte, quando comentou uma redistribuição de cargos
públicos com a chamada: “No Carnaval, cochilou, cachimbo cai: Figueiredo é
Ali-Babá e os ministros, 40 ladrões.” Ganhavam destaque as coberturas de greves
e manifestações populares.
Em abril de 1980, em meio à onda de atentados terroristas
cometidos por grupos de militares de direita contrários ao processo de abertura
política, duas bombas explodiram na sede de Hora do Povo, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Na edição em que denunciava o atentado, o jornal comentava
como “conversa fiada” as declarações de repúdio ao atentado feitas pelo
presidente e seus ministros e afirmava em manchete: “Figueiredo é cúmplice de
terroristas.” Exatamente um ano depois, quando os mesmos grupos terroristas de
militares de direita tentaram explodir bombas em um show comemorativo do 1º de Maio no Riocentro (no Rio de Janeiro), o jornal defendeu a prisão para os terroristas, a demissão de seus
superiores no Exército e a dissolução do DOI-CODI.
Fiel à linha política do MR-8, o jornal pautava-se pela
defesa do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), como organização partidária
capaz de viabilizar o projeto de “união nacional contra a dependência imposta
pelo imperialismo”. Com o fim da ditadura, abriu espaço para o apoio aos
governos do PMDB — ou apoiados pelo partido — em especial o governo estadual de
Orestes Quércia em São Paulo (1987-1991) e a gestão de José Sarney na presidência
da República (1985-1990).
Quando
Fernando Collor assumiu a presidência, em 1990, após a primeira eleição direta
para o mais alto cargo executivo do país desde 1960, Hora
do Povo passou para a oposição,
estampando, no seu estilo editorial, manchetes do tipo “Presidente quer levar
as calças dos descamisados” , publicada em 21 de março de 1990, em referência
ao Plano Collor, como ficou conhecido o pacote de medidas econômicas que o novo
governo colocou em vigor logo após a sua posse e que causou grande impacto pelo
confisco de depósitos bancários.
Em seus primeiros anos, o jornal circulou com periodicidade
semanal, passando, a partir do número 144, a ter periodicidade quinzenal, embora em alguns momentos circulasse diariamente. Sempre foi vendido em bancas de
jornais.
Sua redação foi transferida para São Paulo, em abril de 1981,
mantendo-se uma sucursal no Rio e correspondentes em vários estados.
O Hora do Povo passou a ser editado pelo Instituto Brasileiro de Comunicação
Social, com uma edição que saía às bancas a cada dois dias. A linha editorial do periódico
manteve-se de esquerda, com apoio irrestrito às políticas adotadas pelo governo
do presidente Luis Inácio Lula da Silva, ao longo de seus dois mandatos (2003-2011). O jornal manteve também o seu alinhamento irrestrito a regimes internacionais antiamericanos, como o cubano, de Fidel Castro e, mais recentemente, o do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Muza Clara Chaves
Velasquez
FONTES: Anuário brasileiro
de mídia (1991-1992); GENRO FILHO, A. & WEIGERT, G. Hora; Hora do Povo (1979-1983, 1990);
SILVA, A. História das
tendências.