ISTOÉ
Revista
de circulação nacional editada em São Paulo pela Encontro Editorial Ltda., a
partir de maio de 1976. Publicada com periodicidade mensal nos seus dez
primeiros números, em março de 1977 IstoÉ
passou a circular semanalmente. Desde o seu lançamento, apresentou-se como uma
revista de variedades, ocupando-se de política, economia, ciência,
comportamento, artes, esportes e outros assuntos.
A primeira diretoria de IstoÉ foi composta por Mino Carta, Luís Carta, Cátia Alzugaray e
Domingo Alzugaray. Chefiada por Mino Carta, sua redação apresentava ainda
Armando Salem, Fernando Sandoval e Tão Gomes Pinto. Anteriormente, Mino Carta
já se havia destacado como fundador da revista Veja, cuja direção deixou em 1974 por conta de pressões exercidas
pela censura federal sobre a Editora Abril, responsável pela publicação daquele
semanário. Para lançar IstoÉ, Carta associou-se a Domingo Alzugaray, nessa época
envolvido também com as atividades da Editora Três, de sua propriedade. Uma
outra publicação dessa última editora, a revista Senhor, afirmaria anos mais tarde que a operação de lançamento de IstoÉ só foi possível com “os recursos da Editora Três”.
Desde
sua origem, a revista distinguiu-se por apresentar um amplo e prestigiado corpo
de colaboradores, modificado e ampliado com o decorrer dos anos, mas contando
sempre com personalidades da área acadêmica e do jornalismo brasileiros, tais
como Raimundo Faoro, Vilas Boas Correia, Francisco Weffort, Cláudio Abramo,
Bolívar Lamounier, Henfil, Millôr Fernandes, Luís Fernando Veríssimo, Elio
Gaspari, Marcos Sá Correia, Plínio Marcos, Paulo Sérgio Pinheiro, Edmar Bacha, Carlos Guilherme Mota, Antônio Calado, Maurício Kubrusly, Clóvis
Rossi, Maria Vitória Benevides, Paulo Caruso, Pietro Maria Bardi, Ferreira
Gullar, Luís Gonzaga Belluzzo, Fernando Pedreira, Carlos Castelo Branco e
Zuenir Ventura, entre outros.
No momento em que IstoÉ foi lançada, o governo Geisel dava prosseguimento ao seu
projeto de redemocratização do país, que segundo palavras do próprio presidente
deveria se realizar por meio de uma “distensão lenta, gradual e segura”. Nesse
contexto, IstoÉ procurou ocupar os espaços disponíveis para a crítica
política. Na apresentação que Mino Carta fez da revista, em seu primeiro
número, afirmou que em suas páginas “cada um escreve com franqueza e com as
suas próprias palavras, sendo que uma harmoniosa desunião serviria como prova,
entre outras, de amor pela tolerância, pelo diálogo, pela democracia”. Durante
a fase em que circulou mensalmente, IstoÉ priorizou a publicação de grandes reportagens e matérias de
análise.
O posicionamento contrário ao regime vigente era
freqüentemente explicitado pela revista, ainda que de forma sutil. Em artigo
sobre as eleições municipais que se realizariam em novembro de 1976, também
publicado no primeiro número da revista, o jornalista Marcos Sá Correia afirmou, com ironia, que a eleição anterior — realizada em 1974, e que
resultara na derrota do governo — havia tornado os pleitos seguintes mais
estimulantes, já que, segundo ele, nas eleições precedentes a única dúvida
existente era sobre se seriam ou não realizadas, dada a certeza da vitória da
Arena, o partido governista. Em agosto de 1976, Vilas Boas Correia questionou o
projeto político democratizante do presidente Geisel, afirmando que se ele
“realmente existe é o mais bem guardado segredo do país”.
IstoÉ
sofreu uma significativa reestruturação a partir de seu décimo-primeiro número,
de março de 1977, quando passou a ser publicada semanalmente. Ao apresentar a
nova fase da revista, Mino Carta afirmou que seriam mantidos o mesmo “espírito
e algumas peças mais alentadas, tais como ensaios, grandes entrevistas,
pesquisas em profundidade”, mas ressaltou que o propósito primeiro do órgão
passava a ser “o de colher a realidade ainda mais quente”, como convinha a uma
publicação semanal.
Foram introduzidas, porém, alterações também na própria
disposição política da revista, que passou a apresentar uma postura mais
claramente antigovernista. Em sua nova fase, ampliou-se de modo significativo o
próprio espaço destinado aos temas políticos, que ocupavam agora, na grande
maioria das vezes, a própria capa da revista. Foram definidas, então, três
editorias fixas: política, cultura e economia; a primeira delas, sempre maior
que as outras duas, era invariavelmente apresentada por Mino Carta. Data de
março de 1977, também, o início da colaboração do cartunista Henfil, que seria
uma das características mais marcantes da revista nos anos seguintes, com a
bem-humorada crônica política do país que fazia em sua “Carta à mãe”.
Ainda nesse período, IstoÉ veiculou críticas contundentes a determinadas figuras de
destaque do regime, como o líder do governo na Câmara, deputado José Bonifácio
Lafayette de Andrada. Setores conservadores da sociedade brasileira, ainda que não
vinculados diretamente ao governo, como a ala conservadora do clero católico,
também foram criticados.
Em
abril de 1977, o presidente Geisel decretou o recesso do Congresso após o veto
da bancada do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) na Câmara dos Deputados a
um projeto de reforma do Poder Judiciário enviado pelo governo. Nos 14 dias em
que o Legislativo esteve fechado, o governo não só impôs a pretendida reforma
do Judiciário como também editou uma série de medidas de exceção, que ficaram
conhecidas como o “Pacote de Abril”. Diante de tais medidas, o posicionamento
de IstoÉ
foi cauteloso. Mino Carta enfatizou, então, o fato de o país estar ainda muito
longe do regime democrático, mas não deixou de criticar a posição, a seu ver
intransigente, do MDB. Ressaltou mesmo que “nos últimos três anos muita coisa
mudou, e mudou para melhor”, e que a luta pela democracia deveria priorizar “a
composição em lugar da ruptura”.
Ainda em 1977, IstoÉ se destacou pela cobertura feita às manifestações de
protesto contra o regime, que começavam a ser realizadas pelos estudantes nas
principais cidades brasileiras. Em maio, as manifestações estudantis foram o
tema de capa da revista, que elogiou o movimento e ressaltou a maturidade com
que era conduzido.
Em
junho, IstoÉ manifestou-se
contra a cassação dos mandatos dos deputados do MDB Marcos Tito e Alencar
Furtado, esse último líder da bancada oposicionista na Câmara Federal. Na mesma
ocasião, o jornalista Tão Gomes Pinto se perguntava sobre que tipo de diálogo o
governo pretendia estimular e classificava a cassação dos parlamentares como
uma “marcha à ré no aperfeiçoamento democrático”.
Apesar de incidentes como esse, o processo de
redemocratização avançava e IstoÉ procurava se colocar à frente desse processo. A revista começou
a dar amplo destaque às manifestações do movimento social, que, além dos
estudantes, passava a envolver também operários fabris e outros grupos. Luís
Inácio da Silva, o Lula, foi entrevistado pela revista ainda em setembro, meses
antes, portanto, de ocorrerem as greves no ABC paulista que o celebrizariam
como principal liderança do novo sindicalismo brasileiro que emergiu no final
da década de 1970. Em 1º de fevereiro de 1978, ainda antes do início das
greves, Lula foi destaque da revista, que apresentou uma foto sua na capa e uma
longa entrevista.
Em
7 de dezembro de 1977, a revista publicou uma capa com a inscrição “Abaixo o
AI-5”. Em fevereiro de 1978, foi publicada uma reportagem sobre as perspectivas
de decretação da anistia aos presos e banidos políticos. Em 22 de março, uma
grande manifestação popular contra a alta do custo de vida, promovida em São Paulo pelas comunidades católicas, recebeu destaque em matéria de capa, que trazia a
chamada “O povo se organiza”. Nesse mesmo número, o jornalista Clóvis Rossi
afirmava que “a periferia começa a erguer a sua voz”, e completava dizendo que
o movimento contra a carestia “é apenas a parte visível de um iceberg
de movimentos populares, embrionários, é verdade, mas capazes de, em futuro
talvez não distante, exercerem um papel político fundamental no Brasil que se
transforma”. Em 27 de setembro, a revista publicou matéria de capa sobre os
mortos e desaparecidos por culpa do regime e apresentou um dossiê sobre a
repressão. Enquanto isso, a eleição do arenista Paulo Maluf ao governo do
estado de São Paulo, por via indireta, era duramente criticada na edição de 14
de junho.
O
ano de 1979 iniciou-se com a extinção do Ato Institucional nº 5, o AI-5. Sobre
isso, Mino Carta escreveu: “é claro que estamos longe do estado de direito
democrático. (...) O fim do AI-5 não significa o começo da democracia. (...) O
fim do AI-5 liquida apenas com uma forma de prepotência. Outras permanecem.”
Em março, o general João Batista Figueiredo assumiu a
presidência da República prometendo dar continuidade ao projeto
redemocratizante de Geisel. Em sua edição de 21 de março, a revista ressaltava
em sua capa que a posse do novo presidente coincidia com a deflagração de um
nova greve no ABC paulista, que atingia proporções bem maiores que a do ano
anterior. No número seguinte, Mino Carta criticava a intervenção do Ministério
do Trabalho nos sindicatos de metalúrgicos do ABC e a cassação de seus
dirigentes, afirmando que essa era uma decisão que “respeita o desejo da
minoria”. O ministro do Trabalho, Murilo Macedo, foi então criticado por cuidar
“dos interesses do capital”, ao invés de “cuidar dos interesses do trabalho”,
enquanto Lula era classificado como um dirigente “equilibrado, honesto, arguto
e corajoso”.
No
decorrer do ano de 1979, ganhou corpo o debate sobre a anistia aos presos e
exilados políticos. Na primeira semana de junho, IstoÉ
defendeu uma anistia geral, “sem adjetivos”, em sua manchete de capa. O projeto
de anistia do governo, porém, excluía os acusados de terrorismo e os condenados
pela Justiça Militar, o que gerou protestos da revista. Mino Carta, mesmo
admitindo a contribuição de Geisel e Figueiredo para que os brasileiros
tivessem uma “atmosfera bem mais respirável” do que a de tempos antes,
ressaltava que a anistia, “para merecer esse nome, tem de representar um corte
nítido na história de uma nação, para ganhar a força de ato que encerra
irremediavelmente uma época e irremediavelmente inaugura outra, distinta e
duradoura”. Para Raimundo Faoro — que assumira naquele mês de junho o cargo de
diretor-presidente da revista e passara a redigir seus editoriais — a anistia
do governo era apenas um “remendo”, não se constituindo no esperado “lance de
criadora audácia e grandeza, capaz de corporificar um passo decisivo na transição”.
Faoro afirmava ainda que a paz atingiria a nação não pelo caminho da “outorga
ou da concessão”, mas pela força da sociedade civil. Em agosto, em novo
editorial sobre o assunto, Faoro classificaria a anistia aprovada pelo
Congresso como “impura”, estando a exigir “correção imediata”.
Na última semana de janeiro de 1980, Mino Carta anunciou a
associação dos jornalistas de IstoÉ com Fernando Moreira Sales — apresentado como um “empresário liberal” — com o objetivo de fortalecer a revista. A partir de 13 de
fevereiro, IstoÉ passou a ser apresentada como uma publicação da Caminho
Editorial Ltda. Fernando Moreira Sales assumiu, então, o cargo de
diretor-presidente do órgão, cuja diretoria foi composta ainda por Antônio
Fernando de Franceschi, Armando Salem e Mino Carta. Raimundo Faoro passou a
ocupar o posto de presidente do conselho editorial.
Em maio de 1981, quando do atentado ao show em comemoração ao Dia do Trabalho no Riocentro, o jornalista
Tão Gomes Pinto escreveu um duro artigo contra o governo, a quem acusava de
passividade diante do terrorismo de direita, que já se havia manifestado
anteriormente. Gomes Pinto não hesitava em afirmar que os atentados terroristas
eram provocados por setores que contestavam o processo de abertura política a
partir do interior do próprio regime, e que o governo, se quisesse, poderia
identificá-los. Por sua vez, a reportagem apresentada sobre o episódio dizia
textualmente que os militares envolvidos no atentado eram vinculados ao
DOI-CODI.
Logo
em seguida, em sua edição de 13 de maio, a revista apresentaria novas
alterações em sua direção. Mino Carta, seu fundador e maior animador até então,
deixou a publicação, sendo substituído no cargo de diretor de redação por Tão
Gomes Pinto. Raimundo Faoro também deixou a presidência do conselho editorial.
No mesmo número em que essa mudança foi anunciada, o novo diretor de redação
comparava a firmeza de Geisel com a dubiedade de Figueiredo “no trato de
questões militares”.
IstoÉ
esteve entre os primeiros órgãos da grande imprensa a apoiar a campanha das
diretas e, já na última semana de novembro de 1983, a capa da revista estampava: “Pelas diretas: o país todo empunha esta bandeira.” Na semana
seguinte, Antônio de Franceschi escreveu um artigo intitulado “A hora das
ruas”, no qual reafirmava que as eleições presidenciais diretas eram uma
unanimidade nacional e advertia sobre os riscos de essa campanha popular acabar
morrendo “no ar rarefeito dos gabinetes”.
Em janeiro de 1984, Fernando Moreira Sales e Antônio de Franceschi anunciaram a associação da revista com o jornal Gazeta Mercantil, “num projeto que, mantendo a identidade e as
características de cada um dos veículos, permita o fortalecimento de ambos e o
melhor aproveitamento de seus respectivos potenciais de mercado”. Na verdade, IstoÉ estava sendo incorporada pela Gazeta Mercantil. Por conta disso, os cargos de diretor-presidente e diretor
de redação da revista foram transferidos a Luís Fernando Levy, acionista
majoritário do jornal. Durante o período em que IstoÉ esteve
sobre o controle da Gazeta Mercantil, a sua direção esteve a cargo do jornalista Mílton Coelho da
Graça.
Apesar
da mudança em sua direção, a revista manteve a defesa da campanha das diretas.
A capa da edição de 1º de fevereiro apresentou uma foto de um grande comício
pelas diretas na praça da Sé, em São Paulo. Na ocasião, Levy qualificou o ato como “uma grande manifestação cívica”, afirmando ainda que “qualquer solução
duradoura para a nossa problemática política, econômica e social passa,
inequivocamente, pelo processo de legitimação que lhe confere o voto livre dos
cidadãos”.
A emenda parlamentar que restabelecia a eleição presidencial
direta ainda para o ano de 1984 não conseguiu, contudo, os 2/3 dos votos
necessários para ser aprovada na Câmara dos Deputados, não sendo sequer
apreciada pelo Senado. Em 2 de maio, a revista explicitou a sua insatisfação
com o resultado da votação na Câmara, apresentando uma capa na qual se lia a
frase “A luta continua”, inscrita sobre uma camiseta amarela, símbolo da
campanha. Logo em seguida, IstoÉ começou a defender com insistência a convocação de uma
Assembléia Nacional Constituinte, argumentando que a superação definitiva do
regime autoritário deveria passar necessariamente pela negociação política.
Ainda em março de 1984, IstoÉ publicou uma longa entrevista com José Anselmo dos Santos, o
cabo Anselmo, que liderou a chamada revolta dos marinheiros deflagrada em 25 de
março de 1964, e que, após ter participado da resistência armada contra o
regime militar no final da década de 1960, delatou vários dirigentes das
organizações de esquerda aos órgãos de repressão, passando a viver no exterior
com identidade falsa. A reportagem com o cabo Anselmo obteve enorme repercussão
e manteve o prestígio da revista na área do jornalismo investigativo.
No
segundo semestre de 1984, com a proposta de eleições presidenciais diretas
definitivamente derrotada, o debate sobre a sucessão do presidente Figueiredo
passou a se polarizar em torno dos nomes do governador mineiro Tancredo Neves e
do ex-governador de São Paulo, deputado Paulo Maluf. As candidaturas de
Tancredo e Maluf haviam sido as únicas a se viabilizar para a disputa indireta
no Colégio Eleitoral, corpo formado por deputados federais, senadores e
representantes das assembléias legislativas estaduais, com a finalidade de
escolher o novo presidente da República. Em 15 de agosto de 1984, em editorial,
IstoÉ demonstrava
ainda a sua insatisfação com a evolução do processo sucessório, quando dizia:
“O povo, que acelerou a roda da história durante a campanha pelas eleições
diretas no começo deste ano, terá agora — praticamente sem ter como interferir
— um curso de alta graduação sobre manobras de bastidores.”
Ao
iniciar-se o ano seguinte, porém, IstoÉ
já se referia ao quadro político em um tom mais conciliador. A eleição de
Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, a 15 de janeiro de 1985, foi saudada pela
revista, que então já não fazia qualquer reparo sobre o fato de a disputa
ter-se dado por via indireta. Para IstoÉ,
a democracia colocava o Brasil em festa e a opinião pública, “inspirada por uma
grande dose de confiança em Tancredo”, sustentava o governo eleito.
Tancredo Neves, porém, morreu pouco antes de assumir a
presidência, tomando posse em seu lugar o vice-presidente José Sarney, um
político oriundo do regime militar. Em fevereiro de 1986, após ver o
crescimento da oposição ao seu governo no decorrer do ano anterior, Sarney
decretou o Plano Cruzado, com o qual objetivava controlar a inflação por meio
do tabelamento e congelamento de preços. IstoÉ recebeu as medidas do governo com um apoio discreto. Para
seus editores, tais medidas só produziriam o efeito desejável se concentrassem
esforços no controle do déficit público, no fim das emissões monetárias e na
manutenção do valor real dos salários, que não deveriam diminuir nem aumentar
além dos ganhos em produtividade. Sarney, por outro lado, era elogiado pelas
importantes decisões tomadas no primeiro ano de governo, e citado como um dos
grandes presidentes do país.
Em novembro, foram realizadas eleições para a Assembléia
Nacional Constituinte, bandeira que a revista vinha defendendo havia já algum
tempo. Os trabalhos da Constituinte transcorreram por todo o ano seguinte. No
balanço político feito ao final do ano de 1987, IstoÉ chamava a atenção para a movimentação dos setores
“conservadores”, que, descontentes com uma série de decisões preliminarmente
adotadas pela Comissão de Sistematização da Constituinte, se rearticulavam num
grande bloco que se autodenominava “Centrão”. Para IstoÉ, esse grupo ameaçava paralisar a elaboração da nova Carta. Em
março de 1988, a decisão dos deputados de manter o sistema presidencialista no
texto constitucional foi criticada pela revista. Por outro lado, a avaliação de
IstoÉ sobre o governo Sarney se alterou decisivamente no decorrer
dos trabalhos constituintes. Para a revista, o presidente havia deixado
“escapar chances preciosas para fazer uma gestão que encerrasse com final
feliz” a sua passagem pelo Planalto.
Em
julho de 1988, logo após a publicação de sua edição de número seiscentos,
concretizou-se uma grande mudança em IstoÉ,
que passou por um processo de fusão com a revista
Senhor. Nasceu então uma nova
publicação: IstoÉ
Senhor. O controle acionário de IstoÉ
foi transferido para a Editora Três,
de propriedade de Domingo Alzugaray, primeiro diretor comercial da revista.
Mino Carta retornou, então, à direção de redação, enquanto Raimundo Faoro
também voltou ao órgão com uma coluna semanal. Outras novidades foram as
presenças do economista Luís Gonzaga Belluzzo e do cartunista Paulo Caruso. A
primeira edição da nova revista, datada de 11 de julho de 1988, recebeu o
número 982, resultado da soma dos números dos dois antigos órgãos que se
fundiam.
Já
em sua primeira edição, IstoÉ
Senhor explicitou o seu
posicionamento diante do governo Sarney, que se aproximava de seu fim. Para a
revista, a transição política havia “negado suas premissas” e Sarney “mostrava
seus limites”. Constatava ainda que, “ao atingir o poder, a oposição portou-se
como a situação anterior”.
Em novembro, o jornalista Mino Carta assinou um manifesto de
apoio ao candidato do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) à
prefeitura paulistana, João Leiva, o que fez com que o jornal Folha de S. Paulo insinuasse que tal apoio era uma decorrência do fato de o governo
do estado de São Paulo, então sob o comando do também peemedebista Orestes
Quércia, ser um dos anunciantes de maior peso da revista. Mino Carta negou
veracidade à insinuação, afirmando que tomara aquela decisão apenas como
cidadão, não havendo qualquer vínculo entre a sua opção política pessoal e os
rumos da revista. Anos mais tarde, em junho de 1993, Domingo Alzugaray,
proprietário da Editora Três, em entrevista à revista Imprensa, afirmou que IstoÉ dava “apoio ostensivo” ao ex-governador paulista por
acreditar na “solução Quércia para o país”, assim como havia acreditado em seu
nome para o governo de São Paulo, ajudando inclusive em sua eleição.
Durante
o ano de 1989, as atenções políticas estiveram voltadas para a realização da
primeira eleição presidencial direta no país desde 1960. A revista dedicou enorme espaço à disputa eleitoral, sem contudo explicitar apoio a qualquer um
dos candidatos. No mês de julho, diante do enorme crescimento da candidatura do
ex-governador alagoano Fernando Collor de Melo, IstoÉ
Senhor constatava, em tom
pessimista, que o deslumbramento do país com Collor era uma prova de
“imaturidade”. Realizado o primeiro turno da eleição, porém, a revista
reconheceu que o povo soube cumprir o seu exercício cívico com consciência. Na
reta final do segundo turno, quando se enfrentaram Collor e Lula, do Partido
dos Trabalhadores (PT), IstoÉ
Senhor voltou a criticar Collor
por baixar o nível da campanha e utilizar-se de “golpes abaixo da cintura” para
derrotar seu adversário. Definida a vitória de Collor, a revista afirmou que a
campanha do novo presidente apostara “no medo dos abastados e na ignorância dos
grotões, conforme um modelo conservador e populista”.
Em
16 de março de 1990, no dia seguinte ao de sua posse, Collor decretou um novo
plano econômico de combate à inflação, recorrendo a medidas polêmicas como o
confisco de cadernetas de poupança e de contas correntes. Diante da
perplexidade que inicialmente tomou conta do país, IstoÉ
Senhor emitiu alguns elogios às
medidas tomadas, ressaltando a importância de se ter uma moeda forte e de se
procurar combater o déficit público. Destacava ainda que apesar de conter
“falhas e até injustiças”, as medidas eram compensadas pela “coragem de
enfrentar problemas a partir da raiz e de confrontar-se com interesses
poderosos”. Embora ressaltasse o “autoritarismo” que presidiu a implantação do
plano econômico, a revista afirmou que ele “merece o apoio geral da nação”. Já
Raimundo Faoro preferiu caminhar em sentido oposto, ao destacar em seu artigo semanal
que “o chamado plano agride a Constituição”. Nas edições posteriores, o
posicionamento da revista iria deslocar-se nitidamente para a oposição, com
matérias freqüentes ressaltando os efeitos recessivos da política econômica
adotada.
Na primeira semana de abril de 1992, foram promovidas novas
alterações na revista, que voltou a se denominar simplesmente IstoÉ. Continuou, porém, a ser publicada pela Editora Três e
dirigida por Mino Carta. Segundo seus editores, após “triplicar sua tiragem e
seu faturamento publicitário”, IstoÉ podia finalmente “prescindir” do apoio de Senhor. Sobre esta última, comunicava-se apenas a intenção de
relançá-la no futuro.
Nesse
momento, o governo Collor vivia já um período de crises sucessivas, agravadas a
partir do mês de maio, quando seu irmão Pedro Collor denunciou a existência de
um poderoso esquema de corrupção no governo, comandado pelo tesoureiro da
campanha de Collor, o empresário Paulo César Farias. IstoÉ
passou a defender, então, a apuração das denúncias.
Em sua edição de 1º de julho, quando uma comissão parlamentar
de inquérito (CPI) já se instalara no Congresso para apurar as denúncias contra
Collor, IstoÉ trouxe a público o depoimento de Francisco Eriberto Freire,
motorista da secretária do presidente, Ana Acióli, que confirmava as denúncias
de Pedro Collor. Logo convocado para depor na CPI, Eriberto cumpriu papel
decisivo nos rumos do trabalho daquela comissão ao apresentar provas concretas
de que o empresário Paulo César Farias manipulava contas bancárias ilegais,
pertencentes a pessoas fictícias, para pagar as despesas da residência de
Fernando Collor. Ficava assim comprovado que o presidente não só tinha
conhecimento do esquema de corrupção montado no interior de seu governo como
também se beneficiava dele. Paralelamente, os artigos semanais de Raimundo
Faoro em defesa do impeachment obtinham grande repercussão. Na última semana de setembro, a
revista qualificou o afastamento de Collor como “o fim de um pesadelo”,
afirmando ter chegado a hora de se reconstruir o país.
Afastado
Collor, IstoÉ
recebeu o novo presidente, Itamar Franco, com elogios. Segundo seus editores,
Itamar realizou “obra de engenheiro” ao compor a sua equipe de governo com
habilidade. Passados alguns meses, porém, voltou a predominar um tom crítico ao
governo nas páginas da revista, motivado pelos altos índices de inflação que
então vigoravam no país.
Em abril de 1993, os editores de IstoÉ anunciaram uma grande reformulação gráfica e editorial na
revista. Inspirada em sua congênere norte-americana Time, a reformulação baseava-se em um texto mais ágil, que
exigisse do leitor um tempo menor de leitura. Em agosto, Mino Carta deixou
novamente a direção de redação de IstoÉ, sendo acompanhado por Raimundo Faoro. Como da vez anterior,
foi substituído por Tão Gomes Pinto.
Ao
iniciar-se o ano de 1994, os editores de IstoÉ
defendiam a realização da revisão constitucional inscrita nas disposições
transitórias da Carta de 1988 e prevista para aquele ano. Segundo os editores,
sem as reformas constitucionais o país não conseguiria superar a sua crise.
Em
março, foi lançado pelo governo mais um plano de ajuste econômico, tendo mais
uma vez o combate à inflação como seu ponto central. Conduzido pelo então
ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, o novo plano foi elogiado por
IstoÉ, que, em sua edição de 2
de março, ressaltava o fato de ele ter sido implantado após intensa negociação
com o Congresso, envolvendo amplas forças políticas e, por isso, se
diferenciando dos planos anteriores, todos decretados de forma autoritária.
Nessa
ocasião, a revista afirmava ser inconveniente que Fernando Henrique deixasse o
ministério para disputar a eleição presidencial marcada para outubro seguinte,
já que o ministro era o principal “fiador do plano”. Na semana seguinte, porém,
IstoÉ
já alterava o seu posicionamento diante dessa questão, considerando “natural”
que Fernando Henrique deixasse o ministério para reassumir a sua cadeira no
Senado com a finalidade de coordenar o esforço em favor das reformas
constitucionais no Congresso, e mesmo para preparar a sua candidatura ao
Planalto. Paralelamente, intensificava-se na revista o tom crítico dispensado à
candidatura presidencial de Lula, que até então liderava com folga as pesquisas
eleitorais.
Iniciada
a campanha, logo polarizada entre Lula e Fernando Henrique, evidenciou-se a
oposição de IstoÉ
ao candidato do PT. Em agosto, a revista denunciou o envolvimento do Partido
dos Trabalhadores com o doleiro Najum Turner, que dois anos antes tivera seu
nome vinculado ao esquema Collor-P.C. Farias. O PT então reivindicou e obteve
na justiça o direito de resposta nas páginas da revista, a quem acusava de
manipulação eleitoral. Publicada na última semana de setembro, a resposta
petista rechaçava as acusações e afirmava que IstoÉ
recorria com freqüência a “calúnias e difamação para não deixar a campanha de
Lula sem ‘denúncias’ negativas um dia sequer”.
Em 1995, após a posse de Fernando Henrique na presidência da
República, IstoÉ voltou a insistir na necessidade das reformas
constitucionais. Em julho, a revista comemorou o fim do monopólio estatal sobre
a exploração do petróleo, bem como a adoção de outras medidas econômicas de
teor liberalizante.
Em abril de 1996, Tão Gomes Pinto deixou a direção da
revista, sendo substituído por Hélio Campos Melo.
No dia 19 de julho de 2005, a Editora Três, responsável pela revista IstoÉ, foi condenada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a pagar R$
200 mil a cada uma das três pessoas envolvidas no caso da Escola Base. Em março
de 1994 a IstoÉ , assim como outros veículos de comunicação noticiaram denúncias,
com base em informações policiais, laudos médicos e depoimentos de pais de
alunos, acerca de abuso sexual de crianças na Escola Base, no bairro da
Aclimação, na capital paulista. A grande repercussão do caso levou à depredação
e ao fechamento da escola e a ameaças aos donos, até que afinal se comprovou a falsidade das acusações, as falhas
da investigação policial e o os erros da cobertura jornalística, com o arquivamento do processo.
Em de setembro de 2008, a IstoÉ inovou seu projeto gráfico. Neste mesmo ano a revista era a terceira colocada na disputa por
circulação com suas principais rivais de setor: Veja (a líder), Época e Carta Capital.
André Couto
FONTES: Imprensa (jun. 1993); IstoÉ (1976-); Portal M&M (http://www.mmonline.com.br; ;
acessado em 10/10/2009); .