JORNAL DA TARDE
Jornal diário e vespertino lançado em São Paulo em 3 de janeiro de 1966 por Rui Mesquita com um grupo de jornalistas sob o comando
de Mino Carta, que até então era responsável pela edição de esportes de O Estado de S. Paulo. Enquanto a edição de esporte tinha como objetivo criar uma
boa alternativa de leitura para o leitor interessado e competir com a Gazeta Esportiva, o Jornal da Tarde surgiu com o objetivo de se constituir numa alternativa para
a Folha de
S. Paulo.
Histórico
Em 1965, definidos os planos para o lançamento de um novo
produto — um vespertino, um jornal graficamente revolucionário, ágil e de
grandes reportagens — Mino Carta iniciou os contatos para a formação da equipe.
Murilo Felisberto, mineiro criado em São Paulo, jornalista com carreira iniciada na Folha de
S. Paulo, foi contratado para o cargo de secretário de redação. Grande
conhecedor do mercado profissional, Murilo Felisberto fez a maioria das
indicações.
Em
3 de janeiro de 1966 foi assim editado o número zero do Jornal
da Tarde e
em 4 de janeiro circulou o primeiro número, no qual era definida a linha
editorial do periódico: “O Jornal
da Tarde é um
produto de O Estado de S.
Paulo... Está dito, portanto,
de onde vem e, assim, é fácil compreender para onde vai. Vai para a mesma luta,
dentro das mesmas normas éticas de intransigência e de responsabilidade. Mas
entra na luta com seus próprios meios, com seu estilo próprio, o estilo
vibrante, irreverente de um vespertino moderno que visa atingir um público
diferente daquele que, normalmente, lê apenas os matutinos, cujo estilo deve
ser, forçosamente, mais pesado e mais prolixo.”
Surgindo também como uma retomada de O Estadinho, que circulou entre maio de 1915 e fevereiro de 1921 e
setembro de 1939 e março de 1940, o Jornal da Tarde pretendia ser um vespertino vivo e com abundância de
noticiário. Já na primeira edição podia-se ler: “Será um jornal
fundamentalmente paulista, mas nem por isso deixará de seguir, com a máxima
atenção, a vida do país.”
Voltada
para a vida do país e o destino da nação, a linha editorial continuou seguindo
a de O Estado
de S. Paulo. Aliás,
a intenção não era outra. O Jornal
da Tarde não
se propôs uma linha editorial independente, nasceu e se preocupou, isto sim, em
ser uma alternativa de leitura mais leve para poder competir nas bancas com a Folha
de S. Paulo.
Seus objetivos eram
expressos claramente: “Compreendendo a extrema delicadeza do momento que a
nação atravessa, e surgindo quando longe está ainda o 31 de março de atingir os
seus fins, o Jornal
da Tarde colocar-se-á
decididamente a serviço daquela nobre causa, juntando a sua voz à de todos
aqueles que por ela se bateram. Os objetivos do grande movimento serão os seus
objetivos, e na defesa deles verá a sua razão de ser. Nesse empenho,
acompanhará, embora com autonomia e perfeita independência, o O
Estado de
S. Paulo” (4/1/1966).
Mino
Carta deixou a direção do jornal em 1968, assumindo o cargo Murilo Felisberto.
A partir de então o jornal passou por profunda reformulação gráfica, adquirindo
a feição que até hoje mantém. A seção “Divirta-se” foi ampliada, e foram
criadas “Modo de vida”, “Caderno de programas e leituras”, entre outras.
A
linha editorial do jornal definida explicitamente era a mesma de O
Estado de S. Paulo,
sem haver tensões e discordâncias entre ambos os periódicos. Por exemplo, ambos
foram favoráveis à candidatura do general Artur da Costa e Silva à presidência
da República, interpretada pelo Jornal
da Tarde como
“mais do que um protesto. É um revide dos verdadeiros revolucionários que continuam
exigindo que a revolução seja feita” (10/1/1966). A coincidência da linha
editorial de ambos os jornais, de que o exemplo acima é uma ilustração,
dispensa o acompanhamento da trajetória editorial da Folha
da Tarde, “graficamente
revolucionária, ágil e de grandes reportagens”.
Após
o Ato Institucional nº 5
Com o recrudescimento da censura imposta pelo AI-5 em 1968, o
Jornal da
Tarde passou
a substituir as notas censuradas por sugestivas “receitas culinárias”, que se
tornaram grande sucesso em suas páginas no final da década, como por exemplo o
“Intragável Lauto Pastel”, em referência ao governador de São Paulo à época,
Laudo Natel.
Com
a crise do petróleo e a recessão econômica em meados da década de 1970, o Jornal
da Tarde
enfrentou séria escassez de recursos, o que limitou as grandes reportagens (que
exigiam um maior investimento financeiro, tempo e pessoal) e levou à opção por
uma ênfase maior para a cobertura de notícias econômicas.
Durante
o processo de luta pela anistia, o Jornal
da Tarde
acompanhou o retorno de exilados e a libertação de presos políticos. Em relação
à Lei de Anistia, aprovada pelo Congresso em 22 de agosto de 1979, considerou-a
a “Anistia das dúvidas”, pela falta de clareza do documento.
Após
a saída do jornalista Fernando Mitre, durante a década de 1980, Rodrigo
Mesquita (filho do fundador do jornal) e Ivan Ângelo assumiram a direção da
redação do Jornal da Tarde,
dando continuidade a sua linha editorial.
Durante os anos 1980, o Jornal da Tarde já estava consolidado como referência de inovação na área da
imprensa. Uma de suas marcas encontrava-se na força de suas primeiras páginas.
Em sua edição de 26 de abril de 1984, sua primeira página foi chapada de preto
em repúdio à não aprovação pelo Congresso da emenda das eleições diretas. No pé
da página, em corpo miúdo, apenas uma legenda: “O país inteiro está
decepcionado. Mas há um caminho: a negociação.”
Como
resultado dos investimentos do Jornal
da Tarde
no constante aprimoramento de sua programação visual, em fevereiro de 1986, o
Museu de Artes de São Paulo (MASP) organizou a exposição comemorativa “Uma obra
de arte e jornalismo: 20 anos de Jornal
da Tarde”.
Segundo o presidente do museu à época, Pietro Maria Bardi, mais de 30 mil
pessoas foram assistir a exposição, durante os quase 30 dias em que lá ficou.
Até então o museu nunca tinha recebido um público tão numeroso.
Durante os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte
(1987-1988), o Jornal da Tarde manifestou-se contrariamente às inovações de cunho social
introduzidas na primeira fase do processo de elaboração da Carta e acompanhou
com simpatia editorial os movimentos da frente parlamentar conservadora
intitulada “Centrão”, que se organizou para o combate de boa parte das
inovações e diretrizes formuladas no primeiro momento dos trabalhos e acolhidas
pela Comissão de Sistematização. Nas eleições presidenciais de 1989 — as
primeiras eleições diretas após quase 30 anos —, mantendo um perfil editorial
conservador, o Jornal da Tarde posicionou-se abertamente, podendo ser tomado como um bom
indicador do comportamento político das elites brasileiras durante aquele
processo eleitoral. No primeiro turno, seus editoriais destacavam o perigo
representado pelos candidatos de esquerda, em especial por Luís Inácio Lula da
Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), comparando sua candidatura aos
regimes socialistas em queda no leste europeu. Consolidada a disputa entre Lula
e Fernando Collor de Melo, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), no
segundo turno das eleições, o jornal aprofundou sua linha de intervenção,
denunciando presumidas irregularidades na gestão do PT à frente da prefeitura
de São Paulo e noticiando com entusiasmo a campanha de Collor. No editorial de
15 de dezembro de 1989, foi além da simples opinião, traçando cenários de um
futuro tranqüilo com Collor presidente e de um desastre econômico e social em
caso de vitória do candidato do PT: “Se Fernando Collor for o próximo
presidente, haverá todas as condições para que o setor privado da economia
continue comportando-se com a mesma eficiência demonstrada até agora (...) Se o
próximo presidente for Luís Inácio Lula da Silva, o desastre econômico será
inevitável, com todo o seu cotejo de desemprego e revolta popular...”
Eleito Fernando Collor, sua posse foi noticiada com entusiasmo
pelo jornal, que classificou como “boa” a escolha dos ministros e “moderno” o
discurso de posse, destacando o sentimento de “esperança” que teria tomado
conta do país. Três dias após a posse, em março de 1990, diante das explicações
sobre o pacote de medidas econômicas conhecido como Plano Collor, cujo ponto
mais marcante foi o confisco de depósitos bancários, inclusive da poupança
popular, o editorial do Jornal da Tarde passou a tratar o presidente como “ditador” e “arrogante”.
Em
1992, o jornal deu cobertura ao processo de denúncias de corrupção que levaria
ao impeachment
de Fernando Collor — em função dos esclarecimentos sobre um esquema de
corrupção organizado pelo tesoureiro de campanha do presidente, Paulo César
Farias —, noticiando as manifestações estudantis e populares que caracterizaram
o segundo semestre daquele ano, em seqüência à apuração do “esquema PC” por uma
comissão parlamentar de inquérito. Em editoriais, o Jornal
da Tarde
reconhecia a perda “de autoridade política e moral” do presidente, mas
recomendava cautela para evitar-se uma deposição que pudesse servir à ascensão
política da oposição de esquerda, o PT em especial. Para a superação da crise política o jornal defendia também a proposta de formação
de um governo de “união nacional”. Nesta fase, além do noticiário político
nacional e da cobertura à área econômica, o Jornal
da Tarde
manteve ainda, como estratégia de conquista de um público leitor mais amplo, um
espaço valorizado para o noticiário esportivo.
No início de 2004 o Jornal da Tarde passou a distribuir uma edição especial para a Baixada Santista e o
litoral sul de São Paulo, além de circular, diariamente, com três edições
diferentes regionais. À época o jornal já contava, além da edição dedicada à
Capital e à Grande São Paulo, com a do Interior, que abrangia regiões como as de
Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba, São José do Rio Preto, São Carlos e
Piracicaba.
Dois anos mais tarde foi
finalizada a reformulação gráfica e editorial do Jornal da Tarde.
Amélia Cohn/Sedi
Hiranocolaboração
especial
FONTES: GABRIEL, R.
Jornal; Jornal da Tarde (1977-1990); Portal M&M
Online (http://www.mmonline.com.br;
acessado em 21/12/2009).