JORNAL DAS TRINCHEIRAS
JORNAL
DAS TRINCHEIRAS
Órgão de divulgação da Revolução Constitucionalista de 1932
publicado pela Liga de Defesa Paulista por incumbência do Comando Supremo do
Exército Constitucionalista. Com um formato de 32 por 23,5cm dos números um a
três, composto e impresso nas oficinas da Tipografia Garraux, passou, a partir
do nº 4, a apresentar um formato maior, de 47 por 32cm, com quatro páginas por
exemplar. Essa ampliação foi motivada pela necessidade de “ampliar a matéria
fornecida à leitura dos homens que se acham nas trincheiras e introduziu na
mesma a variedade que era de desejar” (Jornal das Trincheiras, nº 4). A partir
de então o jornal passou a ser editado nas oficinas de O Estado de S. Paulo.
Circulou de 14 de agosto até 25 de setembro de 1932, poucos dias antes da
rendição paulista, ocorrida a 1º de outubro do mesmo ano. Durante esse período
foram editados 13 números.
Histórico
O jornal era “fartamente distribuído nas áreas de combate e
no Rio de Janeiro”. O primeiro número trazia o manifesto do general Bertoldo
Klinger, comandante-em-chefe do Exército Constitucionalista, e na apresentação
do referido manifesto, seus redatores desejavam “que cada um dos soldados que,
nas várias frentes de combate, lutavam pela causa sagrada da Constituição,
relesse e meditasse as palavras de seu general”.
A linha editorial do Jornal das Trincheiras restringia-se a
esclarecer o motivo da Revolução Constitucionalista, bem como as razões que
levaram os paulistas a resistir. A seu ver, o motivo da revolução de 1932
residia na necessidade da “restauração da lei”, do primado constitucional, da
restauração da franquia e do direito constitucional. As razões da resistência
eram o Brasil como pátria comum de todos os brasileiros, livre, gozando da
liberdade. Ao cidadão e à imprensa cabia a responsabilidade de zelar pela lei e
pela ordem. Segundo os editorialistas do Jornal das Trincheiras a revolução de
1932 não era regionalista, mas nacional. Não era tampouco separatista, nem
militarista, nem partidária: “O movimento é brasileiro e visa reimplantação no
país do regime da lei.”
O nº 2 do jornal continha veemente resposta do general
Klinger à acusação do general Pedro Aurélio de Góis Monteiro segundo o qual o
movimento paulista visava à secessão: “Não há nem nunca houve intuitos
secessionistas; desafiamos confronto ao nosso unionismo. É do lado de você
[Góis Monteiro] que está o separatismo, pois que pretender esmagar um membro do
corpo é buscar a mutilação desse corpo.” A par dessas matérias, o jornal não
descurava de outras que encorajavam os soldados nas trincheiras, e exortavam
seus espíritos de resistência e solidariedade grupal.
A partir do quinto número inaugurou-se uma nova coluna,
“Opiniões que valem”, que tinha por função apresentar excertos de jornais
paulistas favoráveis à Revolução Constitucionalista. Eram assim transcritos
textos do Correio de São Paulo, do Diário de São Paulo, de A Gazeta, do Diário
da Noite e de A Platéia. A opinião do Diário Popular era transcrita na edição
de 1º de setembro, a da Folha da Manhã na edição do dia 4 e a de O Estado de S.
Paulo na edição do dia 8. Todos esses jornais apoiaram a Revolução
Constitucionalista em oposição à ditadura Vargas, defendendo o estado de
direito, expresso no slogan “Pela lei e pela ordem”.
Finalmente,
as edições de 15, 18 e 22 de setembro (respectivamente edições de nº 10, 11 e
12) já revelavam o enfraquecimento ofensivo e defensivo das forças
constitucionalistas de São Paulo. Esse recuo do ímpeto paulista era chamado de
“retração tática de guerra”. Até que a edição de 25 de setembro, número 13 e
última, afirmou que em todas as frentes de batalha as forças
constitucionalistas mantinham suas posições, apesar das batalhas violentas e da
“ofensiva desesperada do inimigo”. A última notícia militar referia-se à data
do dia 23 de setembro. No dia 27 desse mês iniciou-se a negociação do
cessar-fogo.
Amélia Cohn/Sedi Hirano colaboração especial
FONTES: Jornal das
Trincheiras; NOGUEIRA FILHO, P. Ideais; São Paulo.