JORNAL DE DEBATES
JORNAL
DE DEBATES
Jornal carioca semanal fundado em 28 de junho de 1946 por
João Augusto de Matos Pimenta e extinto por volta de 1951. Durante a década de
1970, o título foi usado em outra publicação dirigida por Fernando Gasparian.
Dirigido inicialmente por Matos Pimenta, Plínio Cantanhede e
Mário de Brito, o Jornal de Debates pretendia ser uma tribuna livre, aberta a
“toda e qualquer idéia manifestada com proficiência sobre assuntos políticos,
econômicos e sociais, não importando a cor política, a escola filosófica e o
credo religioso dos autores”. Cada número trazia no alto a frase “Não concordo
com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de
dizê-lo”, de Voltaire.
Nascido durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, o Jornal de
Debates surgiu em pleno processo de redemocratização, ocupando o espaço que se
abrira para o confronto de opiniões políticas divergentes. O jornal refletia o
panorama ideológico do período pós-Estado Novo, traduzindo o conflito entre as
diferentes correntes de opinião e publicando matérias em que uma mesma posição
era alternadamente defendida e atacada. Acusado de comunista por setores
conservadores, Matos Pimenta definiu em editorial sua linha política,
confessando-se católico, favorável às franquias democráticas e contrário tanto
ao capitalismo privado, “intrinsecamente ateu e materialista”, como ao “ateísmo
comunista”. Declarou porém que, malgrado sua fé cristã, apoiaria sempre os
comunistas em tudo que fosse do interesse dos trabalhadores. Mário de Brito e
Plínio Cantanhede teriam por seu turno pensamentos políticos próprios.
Os principais debates desencadeados ao longo da existência do
jornal versaram sobre os partidos políticos criados em 1945 e sobre a questão
do petróleo. Em outubro de 1946, o jornal publicou um artigo do engenheiro
Fernando Lobo Carneiro examinando as diferentes possibilidades de financiamento
da exploração do petróleo no país. Poderiam ser utilizados capitais nacionais,
capitais estrangeiros ou capitais mistos. O capital nacional poderia ser
privado ou estatal. O artigo de Lobo Carneiro lançou as bases para um inquérito
que o jornal promoveu, ouvindo a opinião de várias pessoas ligadas ao assunto.
A
partir de 1947, a direção do Jornal de Debates defendeu abertamente o monopólio
estatal do petróleo, criticando o recém-aprovado Estatuto do Petróleo, que
permitia ao capital estrangeiro explorar o subsolo brasileiro. O jornal
questionava não apenas a intensidade com que os investimentos externos
entrariam no Brasil, mas sua própria validade, uma vez que o Estado poderia
fornecer os recursos necessários. Ao menos, o Estado acabara de avalizar um
vultoso empréstimo para a empresa Brazilian Traction Light and Power.
O Jornal de Debates recebeu a colaboração de inúmeras figuras
da vida pública e dos meios intelectuais brasileiros. Os colaboradores que mais
se aproximaram da direção foram Rafael Correia de Oliveira, Osório Borba e
Álvaro Moreira.
O Jornal de Debates não recebia nenhuma espécie de subsídio e
só aceitava publicidade da Bolsa de Imóveis do Rio de Janeiro, entidade a que
estava ligado Matos Pimenta. A partir de dezembro de 1947, Matos Pimenta passou
a dividir a direção e as despesas do jornal com Gentil Fernando de Castro,
presidente da Bolsa de Imóveis. Gentil de Castro, sob o pseudônimo de Gil de
Miranda, escrevia pequenas narrativas ironizando os defensores de uma política
antinacionalista.
As dificuldades financeiras que o jornal enfrentava por não
ter fins lucrativos acabaram por determinar seu fechamento, no início da década
de 1950.
Carlos Eduardo Leal
FONTE: Jornal de
Debates.