FLEURY, Luís Antônio
*gov.
SP 1991-1994; dep. fed. SP 1999-2007
Luís Antônio Fleury Filho
nasceu em Ribeirão Preto (SP) no dia 30 de março de 1949, filho de Luís Antônio
Fleury e de Maria de Lourdes Coelho Fleury.
Iniciou
o curso primário no Grupo Escolar Cesar Martinez, na capital paulista, e o
completou em São José do Rio Preto, nos grupos escolares Ezequiel Ramos e
Cardeal Leme. O curso ginasial foi iniciado também em Ribeirão Preto, no
Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves, continuado no Colégio Estadual e na
Escola Normal Fernandópolis e finalizado no Colégio Estadual Monsenhor Seckler,
em Porto Feliz. De 1964 a 1966 fez o curso preparatório de formação de
oficiais, na Academia de Polícia Militar de Barro Branco. Em seguida, fez o
curso superior de formação de oficiais na mesma academia, que concluiu em 1968.
Nesse mesmo ano ingressou na Polícia Militar (PM) de São Paulo. Como oficial da
PM, cursou direito nas Faculdades Metropolitanas Unidas, graduando-se em 1972.
Em 1973 fez um curso de especialização em direito processual penal na
Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Em
dezembro de 1973 ingressou por concurso na Promotoria Pública do Estado de São
Paulo. Deixou então a PM e passou a exercer o cargo de promotor em comarcas do
interior até 1980. Nesse ano, voltou à capital como promotor da Vara do Júri,
tornando-se também membro da Associação Paulista de Promotores. Foi
primeiro-vice-presidente da associação de 1980 a 1982 e, nesse ano, elegeu-se
presidente da entidade. Reeleito duas vezes, exerceria o cargo até 1986. De
1981 a 1983 foi também primeiro-vice-presidente da Confederação Nacional do
Ministério Público, exercendo depois, de 1983 a 1987, a presidência da
entidade. Em 1984 foi promovido por merecimento a procurador de Justiça. Deixou
o cargo quando o governador eleito em 1986, Orestes Quércia, do Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o convidou a assumir a Secretaria de
Segurança Pública de São Paulo, um dos postos-chave de sua administração devido
ao crescimento da violência no estado.
Assumiu
a pasta em março de 1987, ocasião em que se filiou ao PMDB. Seu trabalho na
secretaria o projetou, e o levou a querer se candidatar à Câmara dos Deputados
em 1990. No início desse ano, porém, Quércia lhe pediu que permanecesse à
frente da Secretaria de Segurança até o fim de seu mandato, em 1991, e o
projeto de ser candidato a deputado foi abandonado. Pouco depois, Quércia o
lançou como candidato do PMDB à sua sucessão no governo de São Paulo, com o
apoio de uma coligação que envolvia também o Partido Liberal (PL) e o Partido
da Frente Liberal (PFL). Em março de 1990, Fleury desincompatibilizou-se do
cargo de secretário de Segurança para disputar a eleição.
Na
eleição de outubro de 1990, o principal adversário de Fleury foi Paulo Maluf,
apoiado pelo Partido Democrático Social (PDS) e pelo Partido da Reconstrução
Nacional (PRN). Fleury iniciou a campanha com 2% de preferência do eleitorado,
segundo as pesquisas de opinião, mas, com o auxílio de Quércia, que tinha na
época grande influência no estado, principalmente no interior, chegou ao
segundo turno e derrotou Maluf, tendo recebido inclusive a adesão de muitos
eleitores do Partido dos Trabalhadores (PT), que contrariaram a orientação do
partido a favor do voto nulo.
Eleito
governador de São Paulo, Fleury teve que enfrentar, logo nos primeiros meses de
seu mandato, iniciado em março de 1991, denúncias de corrupção e enriquecimento
ilícito que atingiam o ex-governador Orestes Quércia, seu padrinho político, o
que prejudicou sua imagem. Esses fatos e os próprios planos de Fleury em
relação a seu futuro político o deixaram numa situação delicada, fazendo-o
oscilar entre a fidelidade e o rompimento com Quércia durante todo o seu
governo. Da gestão de Quércia, Fleury herdou ainda uma enorme dívida e uma
série de obras paralisadas. Outra dificuldade enfrentada pelo novo governador
foi a recessão econômica causada pelas medidas tomadas pelo governo do
presidente Fernando Collor de Melo (1990-1992). Essa recessão atingia
particularmente São Paulo, o maior centro industrial do país.
Logo
que foi eleito, Fleury declarou que pretendia manter uma postura independente
em relação ao governo federal, embora em 1989 tivesse declarado seu voto em
Collor no segundo turno. Procurou articular forças no Congresso e no estado que
dessem apoio aos planos do governo de combate à inflação e à recessão. Seu
discurso de posse, entretanto, teve críticas duras ao governo federal. Condenou
vários aspectos da política econômica, embora se declarasse favorável ao
programa de privatização de estatais e à abertura da economia, ressalvando que
esta última deveria ser feita de maneira gradual.
Também
no princípio de sua gestão, Fleury criou o Fórum Paulista de Desenvolvimento e
a Companhia Paulista de Desenvolvimento. O fórum tinha como objetivo a
realização de estudos e a formulação de propostas alternativas para a superação
da crise econômica. Suas propostas nem sempre foram bem aceitas pelo presidente
Collor. A companhia, que reunia o governo do estado e três grandes empresários
— Olacir de Morais, do grupo Itamaraty; Antônio Ermírio de Morais, do grupo
Votorantim; e Sebastião Camargo, do grupo Camargo Correia —, visava conseguir
créditos que viabilizassem programas de privatização.
A
gestão de Fleury no governo do estado foi pontuada por denúncias de corrupção e
de nepotismo. Em junho de 1992, deputados petistas da Assembleia Legislativa
divulgaram fitas gravadas no ano anterior em que Fleury, em reuniões com
integrantes do PMDB, admitia a contratação de obras no interior paulista com
fins eleitorais e o uso da máquina do estado, através da Secretaria de
Integração Regional. Nas gravações, o governador também ameaçava cortar verbas
publicitárias de órgãos da imprensa que faziam oposição ao seu governo. Com
essas provas, o PT entrou com uma representação no Tribunal Regional Eleitoral
(TRE) contra o governador por crime eleitoral, que acabou indeferida. Ainda
assim, depois da divulgação das gravações o governador decidiu extinguir a
Secretaria de Integração Regional, que controlava os escritórios de integração
regional, os quais serviam não apenas como engrenagens da máquina eleitoral do
PMDB, mas também como centrais de informações sobre a situação do partido no
interior do estado.
Ainda
em junho de 1992, foi denunciada uma série de contratações irregulares do
governo, através da estatal Banespa Serviços Técnicos e Administrativos
(Baneser), ligada ao Banco do Estado de São Paulo. A Baneser teve sua receita
aumentada pelo governo do estado mediante a contratação de serviços para
tarefas que outros órgãos estaduais deveriam realizar. Entre os mais de quatro
mil contratados do Baneser no governo Fleury até aquela data, encontravam-se
parentes do governador e do ex-governador Quércia. Fleury tentou explicar as
contratações como uma necessidade, visando a não inchar os quadros do serviço
estadual, pois os contratados pelo Baneser poderiam ser dispensados a qualquer
momento, o que não ocorria com funcionários concursados.
No
plano da política nacional, o ano de 1992 trouxe à tona escândalos de amplitude
nacional que acabaram no impeachment do presidente Fernando Collor. A
princípio, Fleury tomou uma posição cautelosa, dizendo que se recusaria a fazer
um prejulgamento e evitando afirmar que o presidente deveria renunciar até que
houvesse provas mais substanciais de seu envolvimento nos atos de corrupção. Em
agosto de 1992, porém, após a divulgação do relatório da comissão parlamentar
de inquérito (CPI) instituída para investigar as acusações, e quando já crescia
o movimento popular pró-impeachment de Collor, Fleury foi a favor do
afastamento do presidente. Em setembro de 1992, garantiu, juntamente com a
prefeita da capital, Luísa Erundina (PT), a infraestrutura para uma grande
manifestação popular no parque Anhanguera a favor da aprovação do impeachment.
Finalmente, em 29 de setembro a abertura do processo de impedimento do
presidente foi votada e aprovada pela Câmara. Assumiu a presidência da
República o vice Itamar Franco, a quem Fleury já garantira apoio no caso da
saída de Collor.
O
ano de 1992 também foi marcado pelas eleições municipais e por uma tragédia que
abalou a imagem do governador paulista. No dia 2 de outubro, véspera do
primeiro turno, houve uma revolta na Casa de Detenção situada no bairro do
Carandiru, reprimida duramente pela PM, que metralhou presos desarmados, o que
resultou na morte de 111 detentos. O massacre foi abafado e escondido da
imprensa pelo governo estadual até que se encerrassem as votações, pois
temia-se que a repercussão do caso afetasse o desempenho dos candidatos do
PMDB. Fleury, que a princípio minimizou o acontecido, terminou por admitir que
tinha havido um massacre e demitiu o secretário de Segurança, Pedro Franco de
Campos, seu amigo, e todo o comando da PM.
Dias depois houve uma rebelião na Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), e a PM negou-se a reprimi-la, exigindo
ordens por escrito. Seus oficiais alegaram que não queriam ser
responsabilizados posteriormente, no caso de alguma morte, como ocorrera no
episódio do Carandiru.
O
resultado das eleições foi positivo para o PMDB em São Paulo. Embora o partido
não tenha vencido na capital e nas maiores cidades, conseguiu eleger prefeitos
em 295 dos 623 municípios do estado. O Partido Social Democrático (PSD) — que
dava apoio a Fleury e cujos candidatos receberam ajuda sua e de Quércia, mesmo
quando concorriam com candidatos do PMDB — obteve vitórias na região de
Ribeirão Preto.
No
ano de 1993 seria realizado, em 21 de abril, o plebiscito por meio do qual o
eleitorado decidiria entre o presidencialismo e o parlamentarismo e entre a
república e a monarquia. Na ocasião surgiu um claro distanciamento de Fleury em
relação a seu padrinho político, Orestes Quércia. Em janeiro, pouco tempo
depois de Fleury ter lançado, em São Paulo, uma frente de apoio ao
parlamentarismo, Quércia organizou uma frente presidencialista no estado. Foram
vencedores no plebiscito, por larga margem, o presidencialismo e a manutenção
do regime republicano.
Ainda
em 1993, Fleury apresentou, por intermédio de deputados que o apoiavam, um
projeto de emenda constitucional propondo alterações no cálculo do número dos
deputados federais eleitos por cada estado, de forma que esse número passasse a
ser estritamente proporcional à população dos estados. A iniciativa teve apoio
de diversas lideranças, tais como o senador Fernando Henrique Cardoso, do
Partido da Social Democracia Brasileira (PDSB); o presidente do PT, Luís Inácio
Lula da Silva; e mesmo de Orestes Quércia, que compareceram ao ato em apoio ao
projeto promovido pelo governador paulista no palácio dos Bandeirantes em fins
de janeiro.
Também
em 1993, Fleury manifestou irritação com a nomeação, por Itamar Franco, da
ex-prefeita petista Luísa Erundina para a Secretaria de Administração Federal.
O governador defendeu que o cargo ficasse com o PMDB e ameaçou romper com o
governo federal. Posteriormente, depois da nomeação do senador tucano Fernando
Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda, articulou um encontro dos
governadores peemedebistas para propor que eles se afastassem e se declarassem
independentes do governo federal. Na reunião, contudo, foi decidido que o PMDB
não faria oposição a Itamar Franco, e Fleury passou, então, a defender que o
partido não abrisse mão dos cargos que tinha no governo federal.
Ao
longo de 1993, as relações do governador com Quércia foram se tornando mais e
mais conflituosas. Contribuíram para isso as constantes denúncias do Ministério
Público (MP), onde Fleury teria influência, contra Quércia. Enquanto isso, os
processos para apurar as irregularidades no governo Fleury, abertos pelo
Tribunal de Contas do Estado (TCE), onde Quércia indicara quatro dos sete
conselheiros, não andavam no MP.
Além
disso, Quércia pretendia reeleger-se presidente do PMDB naquele ano e lançou-se
candidato, mas não obteve apoio suficiente no partido devido ao acúmulo de
denúncias contra seu governo. Fleury não tomou posição no caso, o que foi
considerado por Quércia um ato de traição. Por fim, em abril, o ex-governador
renunciou à candidatura e à presidência do partido.
O
segundo semestre de 1993 foi marcado por especulações e sondagens sobre
possíveis candidatos à presidência da República e pela discussão sobre alianças
partidárias para concorrer à eleição de outubro de 1994. Em agosto, quando se
especulava sobre uma possível aliança entre o PMDB e o Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), Fleury declarou-se contrário a essa
possibilidade. No mês seguinte, com a intenção de tornar-se candidato a presidente
pelo PMDB, propôs na convenção do partido que este se afastasse do governo
Itamar. Seu objetivo era enfraquecer o ministro da Previdência, Antônio Brito,
tido como seu principal concorrente na postulação da candidatura à presidência
dentro do PMDB.
No
plano estadual, o segundo semestre de 1993 foi marcado por uma greve de
professores que durou mais de dois meses e outra no setor de saúde, com duração
superior a um mês. As greves desgastaram a imagem do governador. Na ocasião
também houve uma denúncia de que o PSD estaria comprando filiações de
deputados, com vistas a aumentar seu cacife para lançar um candidato próprio a
presidente. O deputado federal José Dirceu, do PT, pediu a abertura de
inquérito para apurar o envolvimento de Fleury no caso, uma vez que foram
descobertos vários telefonemas entre o palácio dos Bandeirantes, sede do
governo de São Paulo, e a liderança do PSD na Câmara dos Deputados. O PSD, cuja
bancada na Assembleia Legislativa dava apoio ao governo Fleury, prometia
abertamente apoiá-lo caso ele se candidatasse a presidente.
Em
fevereiro de 1994, Quércia assumiu publicamente sua candidatura à presidência,
ironizando a pretensão do governador paulista de disputar a indicação no PMDB.
Fleury, por sua vez, procurava mostrar que seu nome poderia significar a
unidade do partido, mas se preocupava com o prazo de desincompatibilização,
pois só se ele fosse reduzido sua candidatura poderia se tornar viável. Em
março, depois de uma frustrada tentativa de conseguir apoio para sua candidatura
junto à bancada do PMDB no Senado, e tendo como data limite para a
desincompatibização o mês de abril, Fleury desistiu da candidatura. Em abril,
só Quércia, o deputado federal Roberto Requião e o senador José Sarney ainda
permaneciam na disputa dentro do PMDB. Antes das prévias, porém, Sarney retirou
sua candidatura, e na convenção foi escolhido o nome de Quércia. Tendo saído da
disputa, Fleury apoiou a candidatura de seu padrinho político.
Quércia
ficou em quarto lugar na eleição, atrás de Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
Luís Inácio Lula da Silva (PT) e Enéas Carneiro (Partido da Reedificação da
Ordem Nacional — Prona). Depois da derrota, dedicou-se a aumentar sua
influência regional, passando a disputar com Fleury o comando do PMDB paulista.
Na eleição para o governo do estado, Fleury apoiou Barros Munhoz, ex-ministro
da Agricultura. Munhoz, contudo, não chegou ao segundo turno, que foi disputado
por Francisco Rossi (Partido Democrático Trabalhista — PDT) e Mário Covas
(PSDB). Interessado em conseguir espaço no futuro governo Fernando Henrique
Cardoso, nesse momento Fleury apoiou Covas. Depois da eleição, os quercistas
responsabilizaram o governador paulista pela derrota de seu líder na eleição
presidencial, acusando-o de só se empenhar na campanha do candidato ao governo
do estado e abrindo assim mais um ponto de tensão entre os dois grupos dentro
do partido.
Antes
de deixar o governo, Fleury se aposentou no Ministério Público. Conseguiu
também aprovar na Assembleia Legislativa a venda de um terço da Eletropaulo, a
segunda maior estatal de São Paulo. O motivo da venda teria sido a necessidade
de saldar antigas dívidas com empreiteiras que, na ocasião, já chegavam a três
bilhões de dólares. No último dia de seu governo foi realizada a intervenção
federal no Banespa, que tinha uma enorme dívida. Logo após assumir o cargo, em
janeiro de 1995, o novo governador, Mário Covas, acusou Fleury de lhe ter
deixado uma dívida de cerca de 1,5 bilhão de dólares.
Dentro
do PMDB, Fleury continuou a disputa com Quércia. Em março de 1995, contudo, já
admitia a possibilidade de deixar o partido, depois de ter sido derrotado pelo
grupo quercista nas eleições para os diretórios municipais. Quando se
difundiram as primeiras notícias de sua possível retirada, Covas antecipou-se, declarando
que não aceitaria seu ingresso no PSDB. Aventava-se também a possibilidade de
que Fleury fosse para o PSD, o PDT, o PFL ou o PL. Para tomar qualquer decisão,
no entanto, Fleury esperou os resultados das eleições internas do PMDB, nos
níveis estaduais e nacional, tentando um lugar na sua executiva nacional.
Apesar de a executiva paulista, incentivada por Quércia, ter apresentado um
veto formal ao seu nome, Fleury conseguiu a vaga a partir da indicação do
presidente do partido, o deputado Pais de Andrade (CE), que dispunha de alguns
cargos vagos para serem preenchidos por nomes que tivessem perdido espaço em
seus estados.
Mesmo
tendo ido para a executiva nacional do partido, em setembro de 1995 Fleury
afirmou, antecipando a possibilidade de sua saída: “Fico no PMDB até onde o
chão me permitir, mas aqui em São Paulo meu espaço diminui a cada dia.” Em
princípios de dezembro entregou sua carta de desfiliação ao presidente do
partido e, no dia 11 do mesmo mês, filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) em cerimônia na Assembleia Legislativa paulista. Passou, então, a exercer
a profissão de advogado em seu escritório particular. Ainda em 1995 foi
fundador e tornou-se presidente do Centro de Estudos 2000, organização não
governamental (ONG) que tinha sua sede num casarão na capital paulista de
propriedade do senador Gilberto Miranda (PMDB-AM).
Embora
tivesse elogiado alguns pontos do acordo fechado entre o governo estadual e o
Banco Central para resolver o problema da dívida de São Paulo com o Banespa, em
janeiro de 1996, Fleury culpou o governo federal pela perda de credibilidade do
banco paulista e pelo aumento de seis bilhões de dólares na dívida do estado
após a intervenção.
Intimado a depor em fevereiro, na Justiça
Militar de São Paulo, como testemunha arrolada pelos advogados de 18 dos 121
policiais militares indiciados no processo sobre o massacre do Carandiru,
Fleury declarou que não partira dele a ordem para a invasão do presídio pela
PM, pois naquele momento estava viajando de Sorocaba para a capital. Admitiu,
porém, que provavelmente teria autorizado a invasão, se tivesse em mãos as
informações que recebeu depois sobre a rebelião. Assim, considerando acertada a
ordem de invasão dada pelo então coronel da PM e comandante da tropa de choque,
Ubiratan Guimarães, apenas condenou as consequências da operação.
Em
março de 1996, Fleury teve as contas de seu governo nos anos de 1993 e 1994
rejeitadas pela Comissão de Finanças e Orçamento da Assembleia Legislativa, que
derrubou parecer favorável do TCE. Denunciando o que, para ele, era uma manobra
política, Fleury lembrou na ocasião que o parecer contrário do TCE não
implicava um julgamento definitivo, o que só aconteceria depois da votação no
plenário da Assembleia Legislativa. Ainda no mês de março passou a integrar a
executiva nacional do PTB.
Em
depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, no fim de março,
declarou que a intervenção do Banco Central no Banespa fora precipitada por
motivações políticas e pessoais do ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes, que
estava sendo processado por ter declarado em maio de 1994 que o Banespa estava
falido. Segundo Fleury, o Banco Central fraudara o balanço do Banespa de 1994,
pois considerava de difícil liquidação a dívida do estado de São Paulo com o banco,
que estaria apenas 14 dias atrasada, provocando com isso a intervenção federal.
Em
abril de 1996 a Procuradoria Geral do Estado encaminhou representação ao MP
contra Fleury por este ter emitido 1,3 bilhão de reais em títulos do governo do
estado para pagar dívidas judiciais (precatórios) e só ter utilizado oitocentos
milhões de reais para esse fim. No mês seguinte o MP pediu o arresto dos bens
de Fleury, de Orestes Quércia e de mais 105 pessoas ligadas ao Banespa, por
operações irregulares detectadas pela comissão de inquérito do BC. Essas
operações teriam ocorrido entre 1989 e 1994 e provocado um prejuízo de 2,8
bilhões de reais. Fleury também foi processado por envolvimento numa operação
de empréstimo irregular no valor de 111 milhões de reais do Banespa para a
indústria farmacêutica Paraquímica.
Em
depoimento na CPI dos Precatórios no Senado, em fevereiro de 1997, Mário Covas
afirmou que a gestão de Fleury gastou apenas 35% dos recursos autorizados pelo
Senado (cerca de 1,3 bilhão de reais) no pagamento de precatórios. O restante
teria sido desviado para outras finalidades, como pagamento do funcionalismo ou
de dívidas com empreiteiras. Em março, o Tribunal de Justiça do Estado negou,
por unanimidade, a suspensão do arresto de bens de Fleury.
Em
abril de 1997, o procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Luís
Antônio Marrey, entrou com uma ação civil pública contra Fleury por improbidade
administrativa. Segundo Marrey, o ex-governador causara prejuízos de 3,6
milhões de dólares ao estado ao interceder junto ao Banespa para a concessão de
empréstimos a uma fábrica de calçados em estado pré-falimentar, no início de
1994. Negando irregularidade na operação, Fleury declarou que o empréstimo
tinha o objetivo de garantir o emprego de 480 funcionários e acusou o
procurador de estar a serviço do governador Mário Covas. No mês seguinte, a 8ª
Vara de Fazenda Pública de São Paulo determinou o bloqueio de seus bens.
Em
junho, seu irmão, o empresário Frederico Pinto Ferreira Coelho Neto, teve o
sigilo bancário quebrado, a pedido da Procuradoria Geral de Justiça, para que
fosse investigada uma suposta operação, quando era o titular da Secretaria de
Governo, na gestão Fleury, na qual a Companhia Energética de São Paulo (CESP)
teria adquirido 30% das cotas do Shopping D, tornando-se um de seus maiores
acionistas.
O
relatório final da CPI dos Precatórios, apresentado em julho de 1997, registrou
que, no fim do governo Fleury, as emissões de títulos públicos superavam os
pagamentos de precatórios em 1,7 bilhão de reais, tendo esses recursos sido
gastos em outras finalidades. Entre os governadores e prefeitos mencionados no
relatório, Fleury era o recordista do aumento artificial dos valores de dívidas
judiciais para justificar a emissão de títulos públicos. Segundo ele, porém, a
maior prova de inexistência de irregularidades era o fato de que nenhum credor
entrara com pedido de intervenção no estado por falta de pagamento no período
em que fora governador. Devido a uma manobra de senadores governistas na CPI, o
relatório final foi aprovado sem as acusações a Fleury, assim como a outros
políticos e a um banco privado.
Ainda
em julho de 1997, o juiz da 10ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo abriu uma
ação civil contra Fleury, acusando-o de improbidade administrativa. Segundo
denúncia da Procuradoria Geral da Justiça, Fleury teria desviado, entre 1991 e
1993, 945 milhões de reais dos recursos destinados ao pagamento de precatórios.
Em
1998 Fleury tornou-se membro das comissões executivas nacional e estadual do
PTB. Em outubro candidatou-se a uma cadeira na Câmara, na legenda do PTB, e foi
eleito. Assumiu o mandato em fevereiro de 1999.
Reeleito
em outubro de 2002, iniciou seu novo mandato em fevereiro de 2003, tornando-se
corregedor da Câmara dos Deputados. Em março, uma investigação da Polícia
Federal (PF) e do MP, com o apoio do FBI, relativa ao esquema de lavagem de
dinheiro na extinta agência do Banespa em Nova Iorque, revelou documentos que,
somados a outras provas obtidas pela PF em Foz do Iguaçu e em São Paulo, indicavam
que Fleury e empresários a ele ligados teriam enviado, por intermédio do
Banespa, uma soma de aproximadamente 15 milhões de dólares para a Suíça e para
os Estados Unidos no período de 1996 a 1999. Fleury negou todas as acusações e,
ao final do processo, foi absolvido.
Concorreu
novamente nas eleições de 2006, ocasião na qual recebeu 67 mil votos, mas não
obteve êxito no tento. Ao longo dos seus dois mandatos na Câmara dos Deputados,
foi presidente das comissões de Defesa do Consumidor e de Minas e Energia, e
membro titular das comissões de Constituição e Justiça e de Redação, de
Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, e de Trabalho, Administração e
Serviço Público. Presidiu também da CPI do Banespa. Deixou a Câmara dos
Deputados em janeiro de 2007, ao concluir seu mandato.
Afastado
da vida pública, desfiliou-se do PTB em 2011, tendo anunciado que não voltaria
a disputar cargos eletivos. Em seguida, entretanto, atendendo aos pedidos do
vice-presidente da República, Michel Temer, regressou ao PMDB com o objetivo de
reestruturar e reerguer o partido em São Paulo. Desde então, nos pleitos de
2012 e 2014, atuou como colaborador nas campanhas de Gabriel Chalita e Paulo
Skaf, respectivamente, para prefeito da capital e para governador do estado de
São Paulo.
Casou-se
com Nair Passos Fleury, com quem teve três filhos.
Publicou,
entre outros trabalhos, A reforma penal e o júri, Sistema de penas e
sua aplicação e Quatro anos por São Paulo (1996).
Elizabeth
Dezouzart/Lorenzo Aldé/Adrianna Setemy
FONTES: ENTREV. BIOG.; Portal da Câmara dos Deputados.
Disponível em: <http://www2.camara.gov.br>. Acesso em 18/11/2009; Portal Estado de S. Paulo. Disponível em: <http://www.estadao.com.br>. Acesso
em 18/11/2009; Portal Folha de S. Paulo.
Disponível em: <http://www.folha.uol.com.br>. Acesso
em 18/11/2009; Portal Globo.com.
Disponível em: <http://www.globo.com>. Acesso em 18/11/2009; Portal Isto É. Disponível em: <http://www.terra.com.br/istoe>. Acesso em 19/11/2009; Portal Jornal do Brasil. Disponível em: <http://www.jb.com.br>. Acesso em 18/11/2009; Portal do Tribunal Superior Eleitoral.
Disponível em: <http://www.tse.jus.br>. Acesso em 03/12/2014; Portal Valor Econômico. Disponível em: <http://www.valor.com.br>. Acesso em 03/12/2014.