NAÇÃO,
A
Jornal carioca diário e matutino lançado em 14 de janeiro de
1933 por José Soares Maciel Filho, com o apoio de João Alberto Lins de Barros,
então chefe de polícia do Distrito Federal. Saiu de circulação em 1939.
Criação
Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, foi decretada
a censura prévia à imprensa do Rio de Janeiro, medida que só seria abolida com
a promulgação da Constituição de 1934. Em todo esse período, a esmagadora
maioria dos jornais do Rio era contrária ao Governo Provisório de Getúlio
Vargas. Se a censura conseguia impedir os ataques diretos ao governo, não tinha
poderes, por outro lado, para fazer com que os jornais defendessem ou elogiassem
o chefe da nação.
Preocupado em organizar uma imprensa abertamente favorável a
Vargas, João Alberto tutelou nessa fase a fundação de jornais como O Radical,
de 1932, destinado à classe operária, e A Nação, destinado às classes médias
urbanas. Os fundos mobilizados para esses empreendimentos, segundo Francisco de
Assis Barbosa Hilcar Leite, teriam as origens mais variadas, provindo desde
banqueiros do jogo do bicho, como João Pallut, até uma “verba secreta” do
governo, especialmente destinada à melhoria da imagem de Vargas.
Foi
na sede ocupada de O Jornal que em janeiro de 1933 se instalou A Nação, sob a
responsabilidade de José Soares Maciel Filho e a direção de Artur Neiva. O
redator-chefe era Azevedo Amaral, e a maior parte dos redatores vinha de O
Radical, sendo portanto gente de confiança de João Alberto. Pouco depois o
jornal passaria à propriedade formal de Rodolfo de Carvalho, também dono de O
Radical, mantendo-se porém Maciel Filho à frente da equipe.
Atuação
O
tom leve e diversificado das matérias de A Nação em pouco tempo tornou o jornal
bastante popular. Além disso, o matutino introduziu uma série de inovações
gráficas, sob a orientação de Correia Dias, artista gráfico português. Contou
também com a colaboração do caricaturista Egídio Squeff e de Sotero Cosme, que
ao invés de caricaturas, como era praxe na época, fazia retratos das
personalidades em foco.
A
Nação tinha duas redações: uma para o jornal propriamente dito, e outra para os
suplementos dedicados a diferentes áreas, que saíam todos os dias
alternadamente. Havia um suplemento cultural, um literário, um feminino, um
infantil, um esportivo etc. O secretário do jornal propriamente dito era Miguel
Daddario, meio irmão de José Soares Maciel Filho, e o dos suplementos era
Adolfo Aizen, o introdutor das histórias em quadrinhos no Brasil.
De grande importância e repercussão para o periódico eram os
artigos de Azevedo Amaral, que escrevia principalmente sobre política
internacional. Em relação à política interna, A Nação só publicava críticas de
caráter secundário ao governo. Revelava também uma tendência tenentista,
defendendo sempre reformas antioligárquicas. O jornal era, por exemplo,
violentamente contra a intervenção do Estado no mercado do café, considerada um
protecionismo inexplicável. A Nação defendia ainda os interesses do
funcionalismo público, tendo por isso grande aceitação entre a pequena
burguesia carioca.
Em janeiro de 1935, A Nação sofreu algumas alterações
substanciais. Maciel Filho se afastou da direção do jornal, sendo substituído por
João Alberto, que passou a figurar no cabeçalho como diretor e deu início a uma
campanha contra o projeto da Lei de Segurança Nacional. A permanência de João
Alberto nesse cargo foi entretanto efêmera. No fim do mês de janeiro, com a
liquidação da firma Rodolfo de Carvalho e Cia. Ltda., A Nação foi vendida ao
deputado gaúcho Pedro Vergara.
Sob
a nova direção, o jornal alterou radicalmente sua linha editorial, engajando-se
numa campanha em defesa da aprovação da Lei de Segurança Nacional e de combate
ao comunismo, intensificada principalmente depois da eclosão da Revolta
Comunista de novembro de 1935.
Com a aproximação das eleições presidenciais marcadas para
janeiro de 1938, A Nação apoiou o candidato oposicionista Armando Sales contra
José Américo de Almeida, dando-lhe ampla cobertura e servindo de veículo de
propaganda para sua campanha. O jornal apoiou igualmente a campanha de denúncia
de uma ameaça comunista ao país e comentou amplamente a divulgação, em setembro
de 1937, do Plano Cohen, documento forjado que revelava a existência de uma
conspiração comunista. Embora exigindo que o governo combatesse as forças
subversivas, o jornal não apoiava as instruções de interrupção do processo
eleitoral, defendendo, ao contrário, a manutenção da legalidade constitucional.
Com a implantação do Estado Novo em novembro de 1937, A Nação
sofreu nova mudança. No dia 5 de dezembro Pedro Vergara se afastou do jornal,
sendo substituído por Abellard França e J. de Carvalho e Silva. A partir desse
momento, o matutino passou a se definir como órgão de opinião nacional,
defendendo a concretização de um “Estado forte” e transformando-se assim num
órgão de exaltação da figura de Vargas.
A Nação foi fechada em 1939.
Marieta de Morais Ferreira
FONTES: ENTREV.
BARBOSA, F.; ENTREV. LEITE, I.; ENTREV. PEIXOTO, A.; Nação.