NOTÍCIAS
POPULARES
Jornal diário lançado em São Paulo em 15 de outubro de 1963, e
extinto em janeiro de 2001.
A edição de apresentação do jornal assim o definia: “São
Paulo tem a partir de hoje mais um jornal... Não procure nestas páginas
intenções políticas. Isto o cansaria sem resultado. Outro intuito não há, senão
o de dar a V. a visão cotidiana de São Paulo, do Brasil, do mundo em que
vivemos.” O jornal foi fundado pela família de Herbert Levy, presidente da
União Democrática Nacional (UDN), figura ligada basicamente ao capital financeiro. Mais que isso, Levy à época foi um dos líderes da ofensiva
empreendida contra o governo João Goulart. Formalmente, foi Luís Fernando Levy,
seu filho, quem mais se vinculou à criação de Notícias Populares.
Notícias Populares surgiu em contraposição direta a outro jornal, a Última Hora. Segundo as palavras de Luís Fernando Levy, “na verdade a
idéia de fazer Notícias Populares nasceu quando, neste trabalho assim de contra-ofensiva, nós
verificamos que um dos instrumentos de ação perigosos, porque pegavam uma
população completamente desprevenida e desorientada no sentido de formação de
opinião, era a Última Hora,... que ao lado da alimentação... que dava ao povo — que era
sexo, crime, sindicatos... —, dirigia a opinião da população e dos
trabalhadores”.
O
aparecimento de
Notícias Populares,
porém, não se resume a uma questão de concorrência. Embora não seja e nem tenha
se identificado como um jornal da UDN, o periódico foi sim um jornal montado
por significativos militantes daquele partido. Esses militantes eram
representantes da classe empresarial, que se encontrava em vias de acesso às
classes populares, numa conjuntura de crescente efervescência política: “Nós,
em contrapartida, não tínhamos acesso ao populismo, não só porque na verdade o
sistema de comunicação com o povo do pessoal empresarial é sempre mais
complicado e mais difícil, como também porque nós não tínhamos aquilo que eles
queriam beber, que era um jornal popular.”
Daí
o esforço na busca de um tom popular. Para garantir tal característica, foi
dada a Jean Mellé, ,colunista
da Última Hora, a
tarefa de montar o jornal. O capital inicial da empresa vinha basicamente da
família Levy, contando com pequena participação de outros empresários. A partir
da constituição da Editora Notícias Populares S.A., publicada no Diário
Oficial do estado de São Paulo em
20 de julho de 1963, a questão mais premente que a edição se colocou foi a da
conquista do público: o lançamento do jornal foi feito com grande promoção, o
horário de circulação foi bem estudado (quando os trabalhadores saíam para o
trabalho já encontravam o jornal à venda), a vendagem também era feita por
jornaleiros ambulantes (forma de fazer frente ao boicote promovido por
proprietários de outros jornais), e, finalmente, o preço era cerca de metade do
preço de outros jornais. Foram, pois, empreendidos todos os esforços para que o
jornal se impusesse ao público de baixa renda.
Jornal que se caracteriza pelo exagero das manchetes e por um
conteúdo de cunho policial cada vez mais explícito, Notícias Populares nasceu como um periódico antijanguista e foi situacionista
durante o governo do marechal Humberto Castelo Branco, para nos anos
subseqüentes perder gradativamente qualquer nuance política e assumir de vez as
características de um jornal “sensacionalista”.
Na trajetória da linha editorial de Notícias Populares os acontecimentos de 1964 constituíram um marco: com eles,
deixaram de existir as razões que levaram à sua criação, empreendimento
deficitário. Em 1965 a empresa foi comprada pelo grupo Frias-Caldeira, que
controlava à época cerca de 50% do mercado jornalístico de São Paulo.
A partir de então, Notícias Populares passou a ser um jornal sem editorial, sem comentarista
político ou de qualquer outra especialidade. Passou a apresentar e noticiar
somente fatos e eventos pertinentes ao cotidiano das classes populares, como
mortes, crimes, roubos, eleições sindicais, aumentos salariais, concursos
públicos, problemas e dificuldades previdenciárias etc. E apesar da linguagem escandalosa
e contundente, sublinhada por manchetes, o jornal se exime de aprofundar e
analisar a matéria noticiada, ou mesmo de tomar partido sobre ela.
Na década de 1980, o jornal Notícias Populares passou por uma reestruturação gráfica e editorial. Manteve-se
o apelo sensacionalista, porém a valorização das ocorrências policiais e
tragédias cedeu espaço às manchetes apelativas, em que notícias irrelevantes do
cotidiano urbano eram supervalorizadas por chamadas garrafais, com certa dose
de humor, como na famosa “Cachorro fez mal a moça”.
Como
um dos jornais do grupo Folha da Manhã, que passou por uma fase recente de
grande expansão, Notícias
Populares manteve
a especificidade de uma linha editorial voltada para o público leitor de origem
popular, apresentando-se como “o jornal do trabalhador”. Quanto às temáticas
abordadas, a banalização da violência foi substituída pela valorização das
questões da “economia popular”. Segundo o editor-chefe do jornal, Ebrahim
Ramadam, em declaração de 1988 à revista Imprensa:
“a violência não provoca mais aquele impacto, virou coisa cotidiana. Ela foi
substituída pela violência econômica, a questão do salário, do Fundo de
Garantia. A economia popular é o que interessa mais ao nosso leitor hoje em
dia.”
Após a abertura política, o jornal passou a ser um
pouco mais abrangente, aumentando a cobertura sindical e contratou uma série de colunistas
importantes como Luís Inácio Lula da Silva, dom Paulo Evaristo Arns,
Franco Montoro, entre outros. A partir de 1983, o jornal
passou a dar espaço para as minorias, fossem elas religiosas ou étnicas. Foi
então criada uma seção para o público de
orientação homossexual. Os jornalistas também
fizeram questão de destinar um espaço para a "Coluna do Machão". Na
mesma página, ficava a também pioneira coluna "Tudo sobre sexo".
A reestruturação da década de 1980 foi de tal forma
bem-sucedida que o jornal passou a vender, em média, cem mil exemplares em
banca, de terça a domingo, chegando inclusive a lançar um sistema de
assinaturas, fato raro para um veículo dirigido ao leitor popular. Com o
crescimento da vendagem, o jornal que foi na origem deficitário passou a gerar,
nesses anos, uma receita superavitária.
No início da década de 1990, contava com uma diretoria
composta por Renato Castanhari, Pedro P. Júnior, Otávio Frias de Oliveira Filho
e Luís Frias de Oliveira. Nesse período houve uma reestruturação em seu parque gráfico e o jornal passou a ser impresso em cores.
Durante sua história, o Notícias Populares foi alvo de processos
judiciais polêmicos, como o de um grupo de promotores que pretendiam obrigá-lo
a circular lacrado. Em maio de 1991, três
promotores da Infância e da Juventude promoveram uma ação para envelopar o
"NP". Alegavam que a exposição do jornal seria danosa a crianças e
adolescentes. Em agosto de 1991, o juiz Daniel Peçanha de Moraes Jr. determinou
que o jornal fosse envelopado, independentemente do conteúdo. O "NP" só não
circulou com lacre porque o próprio juiz Daniel Peçanha suspendeu sua sentença
até decisão de instância superior, no caso, o Tribunal de
Justiça (TJ) de São Paulo. Em novembro de 1993, a Câmara Especial do TJ alterou em parte a primeira sentença e determinou que a iniciativa de
envelopar deveria ser dos próprios editores, não do Judiciário.
O jornal Notícias Populares circulou pela última vez no dia 20 de janeiro de
2001. Ele tinha uma circulação de
110 mil exemplares no início da década anterior, e quando do seu
fechamento, vendia apenas cerca de 20
mil. A idéia do grupo Folha foi concentrar seus esforços no jornal Agora, que tinha uma tiragem
média de 118 mil exemplares. Segundo Adriano de Araújo,
diretor-geral do Agora e do Notícias Populares no momento do fechamento,
“houve um esgotamento do modelo do ‘NP’, simultaneamente ao acerto da fórmula do
‘Agora”.
Amélia
Cohn/Sedi Hirano/ colaboração especial
FONTES:
Anuário brasileiro de
mídia (1991-1992); GOLDENSTEIN,
G. Jornalismo; Imprensa
(1988); ABREU,
M. A curiosa história do
jornal Notícias Populares. Jornal da Rede Alfredo de Carvalho, Ano 2, Nº 17 - 2 de maio de 2002
(Disponível: http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/boletins/jornal17.htm#13/
acessado 21/11/2009)
DIAS,
A. R. F. O discurso da violência –
as marcas da oralidade no
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Paulo: EDUC/Cortez, 1996.
LOPES,
L. A imprensa do bebê-diabo.
Revista Espaço Aberto, n.12, setembro, 2001. (Disponível em: http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2001/espaco12set/0perfil.htm/
acessado em 20/11/2009)
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(http://www.observatoriodaimprensa.com.br/circo/cir310120015.htm/
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Folha
On Line (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u14022.shtml/
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