NOVOS
RUMOS
Jornal carioca semanal, distribuído nacionalmente, criado
pelo Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), em
fevereiro de 1959 e extinto em 19 de abril de 1964.
Criação
A crise por que passou o PCB em 1956 deixou marcas profundas.
Após o desligamento de vários militantes, começaram a se criar condições para
que se efetuassem mudanças significativas dentro do próprio partido. Essas
transformações seriam estimuladas pelas novas condições políticas nacionais e
internacionais, marcadas respectivamente pelo clima de liberdades democráticas
do governo de Juscelino Kubitschek e pela coexistência pacífica entre os blocos
capitalista e socialista.
A
conjugação de todos esses fatores levou a direção do partido a divulgar a
chamada Declaração de março de 1958, uma declaração política que representou
uma alteração substancial em sua linha de ação. Sublinhando o caráter
progressista do desenvolvimento capitalista nacional, a cúpula do PCB pregava a
necessidade de se formar uma frente única nacionalista para lutar contra o
imperialismo e para instaurar um governo nacionalista e democrático. Essa nova
posição acarretou por outro lado o desligamento de um número considerável de militantes,
entre os quais vários intelectuais ligados à imprensa comunista.
Ainda dentro desse contexto de alteração da linha do partido,
tornou-se necessário rever a política de imprensa até então adotada. Segundo
Luís Mário Gazzaneo, a avaliação mais detida dos jornais comunistas da época
deixa claro que “a política de imprensa não era correta, não só diante do
produto que oferecia, mas também diante dos recursos que o partido tinha para
manter jornais com uma taxa de insuficiência altíssima”.
Assim, no decorrer de 1958 e no início de 1959, foram
fechados os jornais do PCB Imprensa Popular e Voz Operária. Em fevereiro de
1959, o partido fundou um novo jornal, que recebeu o nome de Novos Rumos.
A direção de Novos Rumos era integrada por Mário Alves e
Orlando Bonfim, que tinham como chefe de redação Luís Mário Gazzaneo. Além
desses elementos, colaboravam no jornal Fragmon Carlos Borges, Roberto Morena,
Apolônio de Carvalho, Beatriz Bandeira, Leandro Konder, Ana Montenegro e
outros.
Atuação
Novos Rumos era editado legalmente, e chegou a alcançar
tiragens de 60 mil exemplares. De início, era composto de dois cadernos de 12
páginas cada. Depois, reduziu-se a um único caderno. Eventualmente, nos
momentos de crise, quando a conjuntura exigia informações mais regulares, como
por exemplo nas greves gerais do país em 1962, transformava-se de semanário em
diário.
O novo jornal surgiu como órgão semi-oficial do PCB, com a
dupla função de apresentar as discussões do partido para seus próprios quadros
e de servir de porta-voz dos anseios e das lutas das massas. Segundo Luís Mário
Gazzaneo, entretanto, este último objetivo era na prática sacrificado ao
primeiro, tendo o jornal voltado seu noticiário muito mais para as elites
políticas de esquerda do que para os trabalhadores.
Ainda assim, Novos Rumos distinguia-se de seus antecessores
na medida em que se apresentava mais aberto ao debate e à discussão. Essa
postura era possibilitada pela existência do debate dentro do próprio PCB, o
que abria um espaço para uma relativa autonomia do jornal em relação à cúpula
partidária.
Em
várias ocasiões Novos Rumos se adiantou à direção do partido publicando
notícias antes que houvesse sido adotada uma posição oficial. Como exemplos,
Gazzaneo cita as reportagens sobre a construção de Brasília e a indústria
automobilística brasileira, em que foram ressaltados os aspectos positivos
desses empreendimentos antes do pronunciamento oficial do PCB. Esses episódios
teriam aliás suscitado várias polêmicas e divergências no interior do partido.
Outro
exemplo citado por Gazzaneo foi a edição do jornal comemorativa do VII
Congresso da Internacional, em que se iniciou a publicação em folhetim do livro
de Alexander Soljenitzin, Um dia na vida de Ivan Denissovitch. A escolha dessa
obra, que mais do que qualquer outro documento retratava o que havia sido o
stalinismo, obedecia a uma clara intenção crítica da parte do jornal. Embora
tivesse provocado inúmeras divergências dentro do partido, sua publicação não
foi suspensa.
A despeito dessa relativa liberdade de ação e de opinião na
análise de questões importantes, Novos Rumos refletia em seus editoriais a
orientação do partido, e enfocava os assuntos nacionais sob a ótica comunista.
Em 1960, o jornal publicou uma seção intitulada
“Tribuna de debates”, para discutir as teses a serem examinadas no V Congresso
do PCB. Nessa seção demarcaram-se as posições divergentes de Pedro Pomar,
Diógenes Arruda, Maurício Grabois e João Amazonas, que dois anos depois
fundariam o Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Em março de 1964, Novos Rumos circulou com a seção “Teses
para discussão”, visando o VI Congresso do PCB, convocado para aquele ano. Em
virtude da deflagração do movimento militar de 31 de março, contudo, o jornal
teve sua circulação suspensa.
Marieta de Morais Ferreira
FONTES: ENTREV.
GAZZANEO, L.; ENTREV. MIRANDA, H.; Novos Rumos; Tempo (18 a 24/10/79).