Partido Comunista
Revolucionário (PCR)
Partido político formado por um grupo de ex-militantes do
Partido Comunista do Brasil (PCdoB), do Nordeste, após uma cisão ocorrida em
1966.
Abrangia antigos militantes das ligas camponesas, como Amaro
Luís de Carvalho (o Capivara), e ativistas do movimento estudantil, que estavam
concentrados na faixa canavieira de Alagoas à Paraíba.
O PCR lançou em maio de 1966 a Carta de 12 pontos aos comunistas revolucionários, na qual a direção do PCdoB era apontada
pelos militantes do PCR como oportunista e mantenedora da mesma linha de ação
seguida pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) na fase anterior a 1962. Entre
os pontos de divergência tinha posição de destaque a preparação da luta armada,
tarefa diante da qual o PCdoB era acusado de omissão.
Em
fevereiro de 1968, já com estrutura própria, o PCR definiu um sintético
programa político e os estatutos do partido, com uma simplificada organização
interna de conselhos: nacional, regionais, de luta operária, de luta estudantil
etc.
O PCR, de caráter regional, tinha como estratégia a defesa da
“guerra popular prolongada” com “cerco das cidades pelo campo” a partir de um
“exército revolucionário” cuja área fundamental de estruturação seria o
Nordeste brasileiro, por ser a região onde as contradições sociais seriam mais
agudas. Para o partido, o Nordeste devia ser entendido como o “campo” onde se
prepararia o cerco à “cidade”, representada pelo Centro-Sul industrializado.
Nesse sentido, a sua teorização sobre a guerra revolucionária no Brasil encontraria
todas as características observadas no processo chinês: longa duração, cerco
das cidades pelo campo, avaliação do campo como elo mais fraco de dominação de
classe, e a afirmação de um exército popular de base rural.
No entanto, o programa político do PCR seguia as premissas
básicas do PCdoB, isto é, necessidade de aliança com a “burguesia nacional”
para a luta contra o inimigo fundamental: o imperialismo e o latifúndio.
O PCR defendia a necessidade da existência de um partido em
moldes leninistas para conduzir a guerra revolucionária no Brasil e rejeitava a
linha defendida pela Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS),
classificada como aventureira, recusando em 1968 uma proposta de ligação com a
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), tentada por Ricardo Zaratini,
engenheiro paulista que mantinha vínculos com ambos os grupos. Embora
defendesse a luta armada, a sua linha revolucionária tinha como referência
revolucionários e teóricos como Ernesto Che Guevara e Régis Debray.
O partido publicou A Luta, como órgão oficial para
veiculação de suas concepções políticas, e a Luta Operária, voltado para
o trabalho no meio operário de Recife e outras capitais regionais.
Em novembro de 1969, o PCR sofreu um golpe por parte da
repressão, que atingiu um dos mais importantes quadros do partido: Amaro Luís
de Carvalho, o Capivara, que foi apontado pela imprensa como responsável por
inúmeros incêndios de canaviais ocorridos na época. Sua morte ocorreu na Casa
de Detenção de Recife, sendo anunciada em agosto de 1971 por meio de uma nota
oficial eivada de contradições, que tentava atribuir aos demais presos
políticos a autoria do crime.
Nos anos seguintes, o PCR se voltou para a sua implantação
nos estados de Alagoas e Rio Grande do Norte. Nesse período, o partido
desenvolveu o trabalho de propaganda armada através de panfletagem em portas de
fábricas, esporádicas ações para apropriação de armas de militares, obtenção de
recursos financeiros, incêndio de canaviais e outras ações com vistas à
desorganização da produção açucareira na Zona da Mata.
Em setembro de 1973, a organização sofreu um novo golpe dos órgãos de repressão, em conseqüência do assassinato de alguns de seus
principais dirigentes e da prisão de uma parte expressiva de seus efetivos. De
acordo com os jornais da época, o PCR estava iniciando um processo de fusão com
a tendência leninista da Ação Libertadora Nacional (ALN), um pequeno e efêmero
grupo dissidente formado a partir de 1971.
Em 1978, foi preso Edval Nunes da Silva, o Cajá, militante do
partido vinculado à Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Recife.
O PCR teve o mesmo destino da maioria das organizações
revolucionárias de esquerda que se formaram nesse período: foi dizimado pela
repressão.
Núbia
Regina Moreira
FONTES: Proj.
Bras. Nunca Mais; GORENDER, J. Combate; SILVA, A. História das
tendências.