PARTIDO DEMOCRÁTICO
TRABALHISTA (PDT)
Partido político nacional fundado em 16 de setembro de 1980
por Leonel Brizola após ter perdido para Ivete Vargas a luta pelo registro do
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), a que ambos haviam pertencido até sua
extinção em 1965, pelo Ato Institucional nº 2.
A
luta pelo PTB
Em junho de 1979, ainda exilado, Brizola promoveu em Lisboa,
juntamente com socialistas ligados a Mário Soares, o “Encontro dos trabalhistas
do Brasil com trabalhistas no exílio”. Refugiados de 12 países da América e da
Europa participaram, ao lado de 80 trabalhistas vindos do Brasil, da elaboração
da Carta de
Lisboa,
documento que continha as bases programáticas do partido político que Brizola
pretendia fazer reviver no Brasil, no contexto de redemocratização que se
anunciava no fim da década de 1970. Tratava-se do PTB, que em sua nova fase
deveria nascer comprometido com o “socialismo democrático”.
Retornando ao Brasil em setembro do mesmo ano, beneficiado
pela anistia decretada no mês anterior, Brizola se engajaria na luta pela posse
do PTB, pleiteada por seu grupo político ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Seus objetivos, no entanto, seriam atrapalhados por Ivete Vargas, também
interessada em obter o controle da sigla. A batalha jurídica em que os dois
grupos se empenharam só terminou em maio de 1980, quando o TSE decidiu que
caberia ao grupo de Ivete a posse da legenda.
A perda da sigla do PTB fez com que Brizola e seus aliados se
voltassem para a criação de outro partido trabalhista que continuasse a
trajetória do velho PTB mas incorporasse novas demandas presentes no cenário da
época. Assim foi criado o Partido Democrático Trabalhista, que, além de
trabalhista, se declarava socialista, anunciando já em seu manifesto a “defesa
da democracia, do nacionalismo e do socialismo”.
Em seu programa, o PDT elegia sete pontos prioritários de
atuação: assistência à infância e aos jovens; defesa dos interesses dos
trabalhadores, das mulheres, das populações negras, das populações indígenas e
da natureza brasileira, e recuperação de concessões feitas a grupos
estrangeiros, “lesivas ao patrimônio e à economia nacionais”. A comissão
diretora nacional foi constituída por dez nomes: Leonel Brizola, Doutel de
Andrade, Lidovino Antônio Fanton, Alceu Colares, José Frejat, Benedito
Cerqueira, Susana Thompson Flores Pasqualini, José Guimarães Neiva Moreira, Antônio Guaçu Dinaer Piteri e Darci Ribeiro.
Desde
a sua concepção, o PDT teve como grande marca a liderança de Leonel Brizola,
que não somente apontava os rumos do partido, como determinava suas linhas de
ação e posturas em relação aos grandes temas nacionais. O partido tinha como
modelo o socialismo europeu, inclusive em seu símbolo, uma rosa, referência
direta ao Partido Socialista Francês. Mas a filiação ao socialismo e à
Internacional Socialista também provocava desconforto em alguns membros
identificados com o trabalhismo getulista. Tal fato já indicava a diversidade
das correntes formadoras do PDT, que abrigaria ainda, no decorrer do tempo,
comunistas ligados a Luís Carlos Prestes e parlamentares provenientes de outras
agremiações políticas.
O registro definitivo do PDT foi concedido pelo TSE em
novembro de 1981.
As
eleições de 1982
A primeira eleição realizada no país após o fim do
bipartidarismo teve cinco partidos concorrendo a governos estaduais,
prefeituras, Congresso Nacional, assembléias legislativas e câmaras municipais.
A adoção do voto vinculado, que obrigava o eleitor a votar em candidatos de um
mesmo partido, acabou por beneficiar o PDT, que na época ainda estava mal
estruturado. O partido obteve um bom desempenho nos estados do Rio de Janeiro e
do Rio Grande do Sul, onde Brizola já desenvolvera, no período anterior a 1964,
intensas atividades políticas.
No
Rio de Janeiro, o PDT apresentou o próprio Brizola como candidato ao governo do
estado — tendo Darci Ribeiro como candidato a vice — e Roberto Saturnino Braga,
egresso do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), como candidato
ao Senado. Concentrando-se na região metropolitana, Brizola e os candidatos do
PDT pautaram sua campanha por críticas aos governos estadual e federal,
marcando sua postura oposicionista. Brizola derrotou Moreira Franco, candidato
do Partido Democrático Social (PDS), não sem antes enfrentar uma tentativa de
fraude eleitoral pela empresa Proconsult, encarregada de processar os votos. A
fraude consistiria na transformação dos votos de Brizola em brancos e nulos.
Descoberta a tempo pela Rádio Jornal do Brasil, a manobra foi evitada, e o PDT
obteve sua primeira vitória eleitoral expressiva: o governo do estado do Rio de
Janeiro, o único estado conquistado pelo partido em 1982.
Puxando a votação por força do voto vinculado, Brizola acabou
por proporcionar ao PDT uma expressiva bancada de parlamentares no estado do
Rio de Janeiro. Saturnino Braga elegeu-se senador — foi também o único eleito
pelo partido em todo o Brasil — e, além disso, o PDT fez 16 deputados federais
e 24 deputados estaduais. Em todo o país o partido elegeu 23 deputados federais
(sendo sete no Rio Grande do Sul) e 36 estaduais, 22 prefeitos e 556
vereadores. Ressalte-se que, por força de sua insuficiente organização no plano
nacional, o PDT deixou de concorrer às eleições em 12 estados da Federação.
Encerradas as eleições de 1982, o país viu-se diante de uma nova
agenda política, que dessa vez trazia a demanda por eleições diretas para
presidente, ampliando o processo de democratização em curso. Brizola e o PDT tiveram, ao lado de outros líderes políticos, expressiva participação
na campanha pelas eleições diretas. Na votação, em abril de 1984, da emenda
Dante de Oliveira, que restabelecia o pleito direto para presidente, o partido
votou unido: seus 23 deputados foram favoráveis à aprovação da medida. A emenda
foi porém derrotada, e as atenções se voltaram para o Colégio Eleitoral que
escolheria o novo presidente da República em janeiro de 1985. O PDT não
participou das negociações políticas que levaram à composição da Aliança
Democrática, que sustentava as candidaturas de Tancredo Neves, do PMDB, a
presidente, e de José Sarney, dissidente do PDS, a vice. Contudo, no momento da
eleição, a bancada do partido manifestou-se integralmente a favor de Tancredo,
contra Paulo Maluf, candidato do PDS. A doença e a morte de Tancredo, em 21 de
abril, levariam José Sarney à presidência da República, inaugurando-se o
período que seria chamado de Nova República.
Ainda
em 1985, um outro tema entraria em pauta na agenda política brasileira: o país
caminhava para a preparação de uma nova Constituição e começavam os debates
sobre o formato da Constituinte a ser eleita. Levada a plenário em novembro, a
matéria teve como desfecho a escolha de uma Constituinte congressual, da qual
participariam os deputados e senadores eleitos em 1986, além dos senadores
eleitos em 1982. O PDT, no entanto, não apoiou tal proposta, e seus
parlamentares, seguindo a orientação do partido, votaram contra ela, defendendo
a idéia de uma Constituinte independente, a ser dissolvida após os trabalhos.
Já nesse período o partido começou a dar mostras daquele que seria
um de seus principais problemas: o choque de alguns de seus integrantes com o
líder Leonel Brizola. Alguns parlamentares eleitos em 1982 deixaram o partido
pouco tempo depois, como, por exemplo, Agnaldo Timóteo — o deputado federal
fluminense mais votado em 1982, com quinhentos mil votos —, Sebastião Néri e
José Colagrossi. No total, dos 16 deputados federais fluminenses eleitos, seis
deixaram o partido durante o mandato.
Nova
República e Constituinte
As
primeiras eleições da Nova República, em 1985, escolheram os prefeitos das
capitais brasileiras, bem como os de cidades situadas em áreas de segurança
nacional e de estâncias hidrominerais. Nesse pleito, o PDT repetiu o desempenho
de 1982, ou seja, saiu-se bem no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, conquistando, com Saturnino Braga, no Rio, e Alceu Colares, em Porto Alegre, duas prefeituras de capitais. Além disso, elegeu no estado do Rio os prefeitos
de Duque de Caxias (Juberlã de Oliveira) e de Volta Redonda (Marino Clinger).
O ano de 1986 trouxe intensas mudanças econômicas ao país,
por conta da edição, em 28 de fevereiro, do Plano Cruzado que, buscando a
estabilização da economia e o fim da inflação, congelou preços e salários e
suscitou uma onda de euforia e civismo com grandes repercussões no cenário
político brasileiro. Os dias e meses que se seguiram à edição do plano
trouxeram grande prestígio ao presidente José Sarney, a seus ministros da área
econômica e ao PMDB em geral. Por outro lado, levaram Brizola ao isolamento
político, uma vez que o governador do Rio de Janeiro fazia contundentes
críticas ao plano. Na noite de 6 de março de 1986, por exemplo, Brizola
ocupou uma cadeia de rádio e televisão destinada ao PDT para, por 35 minutos,
criticar o Plano Cruzado e acusá-lo de levar o país ao “caos econômico e à
miséria social”. O líder pedetista marcava, com essa atitude, uma posição que a
curto prazo o isolou, assim como ao próprio PDT, que marchava agora na
contramão da opinião pública.
Nas eleições de 1986, que ficaram conhecidas como “as
eleições do Cruzado”, não houve maiores progressos no crescimento eleitoral do
PDT em relação a 1982. O desempenho do partido ficou comprometido pela
proibição imposta pela legislação eleitoral, e confirmada pelo TSE, da aparição
de não-candidatos na propaganda eleitoral no rádio e na televisão.
Impossibilitado de fazer uso da imagem e da retórica de seu líder, o PDT
enfrentaria grandes dificuldades no pleito.
No Rio de Janeiro, o partido lançou Darci Ribeiro como candidato a governador e Marcelo Alencar e José Frejat como candidatos ao
Senado. O grande adversário do PDT seria Moreira Franco, agora no PMDB e
apoiado por uma constelação de partidos que iam do Partido da Frente Liberal
(PFL) ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), unidos na chamada Aliança Popular
e Democrática. Moreira elegeu-se governador, e as cadeiras no Senado foram
ocupadas por Nélson Carneiro, do PMDB, e Afonso Arinos, do PFL.
Em
todo o país o PDT elegeu 24 deputados federais constituintes — sendo 13 no Rio
de Janeiro e cinco no Rio Grande do Sul —, um senador — Maurício Correia, do
Distrito Federal — e 62 deputados estaduais. Nenhum governador foi eleito pelo
partido, uma vez que o PMDB conquistou o governo de 22 estados, e o PFL de um
(Sergipe). A bancada pedetista iria perder alguns integrantes durante a
Constituinte, mas também receberia adesões de deputados de outros partidos.
Assim, em 1989 o partido contaria com 31 deputados.
A atuação do PDT na Constituinte ficou marcada pela defesa
dos temas nacionalistas. Entre outros pontos, o partido apoiou o
presidencialismo, votou contra os cinco anos de mandato para o presidente
Sarney, a favor da jornada de trabalho de 40 horas semanais e do monopólio
estatal do petróleo.
Crise
no Rio e eleições de 1988
Em
1987, o PDT perdeu um de seus grandes expoentes: o então prefeito Saturnino
Braga que, em meio a conflitos dentro do partido iniciados antes mesmo de sua
posse, abandonou a legenda. A crise do então prefeito com o PDT começou com a
escolha de seu secretariado, onde não foram reservadas vagas para os vereadores
do partido. Além disso, a ênfase de Saturnino em uma administração “socialista”
desagradou a alguns integrantes da corrente trabalhista do PDT. A postura cada
vez mais independente de Saturnino em relação ao partido e a Brizola aumentou
quando, ainda em 1987, o prefeito demitiu grande número de funcionários da
Riotur e da Comlurb, além de fechar a “fábrica de escolas”, mexendo em uma área
sensível aos líderes do PDT. A situação de Saturnino ficou insustentável ante a
troca de insultos com Leonel Brizola, e isso o levou, em julho, a abandonar o
partido, acusando-o de ser “cada vez mais um veículo para a candidatura de
Brizola à presidência da República”. Juntamente com o prefeito, deixaram o PDT,
entre outros, Jamil Haddad, José Frejat e o vice-prefeito Jó Resende. O próprio
Saturnino e alguns de seus seguidores ingressaram no Partido Socialista
Brasileiro (PSB).
Se
a gestão de Saturnino já enfrentava graves dificuldades de relacionamento com a
Câmara Municipal, com sua saída do PDT as chances de enfrentar a crise
econômica da prefeitura diminuíram sensivelmente. O prefeito não encontrava
nenhum apoio dos vereadores, sobretudo pedetistas. Autorizações para
empréstimos foram sucessivamente negadas pela Câmara. A crise financeira do
município atingiu seu ápice em setembro de 1988, quando o prefeito anunciou a
falência da Prefeitura.
As
eleições de 1988 aconteceram em um clima de crise econômica, tanto no nível
municipal quanto federal. Aumentava o descontentamento com o governo Sarney,
que fracassara em dois planos de estabilização econômica e governava com altas
taxas de inflação. Um conflito entre soldados do Exército e operários da
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, que deixou três mortos, acirrou ainda mais a tendência oposicionista do
eleitorado. No Rio, esse sentimento oposicionista se voltou contra o prefeito
Saturnino Braga, acusado de incompetência administrativa e culpado pelo
descalabro financeiro do município.
Os partidos de oposição, como o PDT e o Partido dos Trabalhadores
(PT), foram beneficiados por essa conjuntura política e saíram-se bem nas
eleições. No Rio, o candidato pedetista Marcelo Alencar ganhou com facilidade a
prefeitura, deixando em segundo lugar Jorge Bittar, do PT. Além dessa vitória,
o PDT alcançou expressivos resultados em cidades importantes do estado do Rio
de Janeiro, conquistando as prefeituras de Niterói, São Gonçalo, Campos,
Resende e Nova Iguaçu. No plano nacional, o PDT conquistou outras quatro
prefeituras de capitais, entre elas Curitiba, com Jaime Lerner, João Pessoa,
com Wilson Braga, e Natal, com Vilma Maia. Mais de duzentos prefeitos foram
eleitos pelo partido em todo o Brasil, além de 2.300 vereadores.
A
campanha presidencial de 1989
O PDT e seu líder Leonel Brizola aguardavam, desde a fundação
do partido, o momento de disputar a presidência da República. Brizola aparecia
no início de 1989 como um dos maiores líderes de oposição à Nova República, e
era hora, portanto, de preparar a campanha que poderia conduzi-lo ao Planalto.
A escolha do candidato a vice-presidente na chapa pedetista, após intensas
discussões, recaiu em Fernando Lira, ex-ministro da Justiça do governo Sarney,
que aderira ao PDT.
A campanha de Brizola não teve, entretanto, um desfecho
favorável. Embora liderasse as pesquisas nos primeiros meses do ano, Brizola
foi ultrapassado por Fernando Collor de Melo em abril, passando a disputar com
Luís Inácio Lula da Silva, do PT, uma vaga no segundo turno.
O
maior problema enfrentado pelo PDT foi a limitação de suas bases eleitorais.
Brizola possuía grande apoio popular no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul,
estados onde fora governador. Porém, o PDT jamais conseguira conquistar o
eleitorado paulista, a despeito dos esforços para atrair políticos de expressão
local, como Ademar de Barros Filho. Mesmo minimamente estruturado, com
diretórios municipais na quase totalidade dos municípios paulistas, e mais de
65 mil filiados no estado, o partido não decolara sequer na região do ABCD.
Esse cenário foi decisivo nas eleições de 1989, quando
Brizola conquistou apenas 1,5% do eleitorado paulista. O candidato do PDT
venceu em três estados da Federação: Rio de Janeiro (52% dos votos válidos),
Rio Grande do Sul (62,66%) e Santa Catarina (26%). Em todo o país Brizola
atingiu 15,45% dos votos, insuficientes para chegar ao segundo turno, uma vez
que Lula obteve 16,48%, credenciando-se para disputar com Collor a presidência
da República. O PDT e seu líder pagavam assim um alto preço pelo insuficiente
desempenho eleitoral em estados importantes da Federação como Minas Gerais e
São Paulo.
Mesmo
fora da disputa, Brizola e o PDT teriam uma importante participação no segundo
turno da eleição presidencial, já que seu apoio a Lula rendeu ao candidato
petista a maioria absoluta dos votos nos estados do Rio de Janeiro e do Rio
Grande do Sul. Esses votos, contudo, não impediram a vitória de Fernando
Collor.
Oposição
a Collor
O
ano de 1990 começou com o PDT reassumindo sua condição de partido
oposicionista, contrapondo-se agora às propostas do governo Collor. O partido
logo se opôs ao plano econômico do novo governo que, entre outras medidas,
reteve os depósitos em cadernetas de poupança. Como já acontecera no Plano
Cruzado, Brizola se colocou novamente contra um plano de estabilização, mas
dessa vez encontrou uma opinião discordante de peso dentro do próprio PDT. O
então deputado federal pedetista César Maia elogiou publicamente as novas
medidas e pregou a aprovação total do plano pelo Congresso Nacional. As
declarações de Maia provocaram um clima de revolta contra o deputado dentro do
partido, em grande parte ainda ressentido em função de um encontro de Maia com
Collor ocorrido em plena campanha presidencial de 1989.
Novamente ocupando uma cadeia de rádio e televisão destinada
ao PDT, Brizola teceu em abril pesadas críticas ao Plano Collor, acusando-o de
ser “ainda mais lesivo ao povo brasileiro do que o Cruzado”. O PDT tinha como
ponto central de suas críticas a perda salarial — sobretudo do salário mínimo —
ocasionada pelas medidas econômicas, que sacrificariam grande parte da
sociedade, e o bloqueio imposto aos depósitos em caderneta de poupança. Brizola
e o PDT acusavam também o novo governo de não resolver os problemas das “perdas
internacionais”, ocasionadas sobretudo pela dívida externa.
Ao longo do ano de 1990, Brizola e o PDT mantiveram-se firmes
na oposição ao governo Collor, protestando contra a reforma administrativa,
contra membros da equipe econômica e contra a política de privatizações
proposta pelo governo a partir de maio, que incluía a venda da CSN.
Foi
nesse contexto que se desenvolveu a campanha para as eleições de 1990,
destinadas a escolher governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
Brizola foi novamente indicado pelo PDT candidato ao governo do estado do Rio
de Janeiro. O partido esperava por uma aliança ampla, que englobasse também o
PT, numa espécie de retribuição ao apoio emprestado por Brizola a Lula no
segundo turno da eleição presidencial. As pretensões pedetistas foram, contudo,
frustradas em uma reunião do PT fluminense, que decidiu, “atendendo às bases”,
lançar candidatura própria ao governo — a do engenheiro Jorge Bittar. De toda
forma o PDT recebeu o apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do Partido
Verde (PV) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e resolveu pautar sua
campanha em críticas aos governos Collor e Moreira Franco. Brizola venceu com
grande facilidade o pleito, atingindo 60,88% dos votos válidos em todo o estado
e decidindo, assim, a eleição no primeiro turno.
Em todo o Brasil ocorreria nesse ano o melhor desempenho
eleitoral da história do PDT. O partido elegeu, além de Brizola, mais dois
governadores: Alceu Colares, no Rio Grande do Sul, e Albuíno Azeredo, no
Espírito Santo. A bancada de deputados federais somou 46 parlamentares, sendo
19 eleitos pelo Rio de Janeiro e sete pelo Rio Grande do Sul. Além disso, o
número de deputados estaduais em todo o Brasil foi de 91.
Ao
final das eleições, o PDT já aparecia como uma das maiores bancadas da Câmara
dos Deputados, atrás apenas do PMDB e do PFL. Uma nova postura, entretanto,
começou a ser gestada dentro do partido em relação ao governo federal. A
legenda possuía agora três governadores e parecia querer adotar uma política de
menor confronto e maior entendimento com Collor. Em dezembro, Brizola, Albuíno
e Colares se reuniram em Vitória e lançaram a chamada Carta
de Vitória, na
qual pregavam uma “oposição responsável ao governo Collor”, que incluía a
condenação da política econômica do governo, mas abandonava a idéia de uma
“oposição sistemática”.
Em 1991, mais um ilustre pedetista se desligaria do partido.
Desde o início do ano, César Maia passou a sofrer críticas do PDT por apoiar as
novas medidas econômicas do governo, conhecidas como Plano Collor II. Alguns
pedetistas já pregavam o desligamento “espontâneo” de Maia do PDT. Ao mesmo
tempo, o partido desautorizou o deputado a falar em nome da legenda e o
substituiu como seu negociador no Congresso. Em seu lugar entrou o deputado
gaúcho Carrion Júnior.
Aproximação
de Collor
A política de “oposição responsável” implicou, na verdade,
uma aproximação de Brizola em relação a Collor. Os entendimentos que visavam
conseguir recursos para o Rio de Janeiro, possibilitando obras como a da Linha
Vermelha, acabaram por resultar em encontros constantes entre o governador e o presidente.
Este, por sua vez, acenava para Brizola com investimentos do governo federal em
escolas de tempo integral, semelhantes aos centros integrados de Educação
Popular (CIEPs), adotados no Rio de Janeiro.
Grande parte da bancada do PDT dessa vez se posicionou contra
o maior líder do partido. Em junho de 1991, uma reunião do diretório nacional
do PDT deixou expressa a discordância da bancada em relação ao apoio de Brizola
a Collor. Mesmo contrariando os membros do partido, o apoio do governador chegou
até 1992. Segundo os parlamentares pedetistas, tal fato prejudicaria a legenda
em um ano eleitoral. A situação se agravou com as acusações feitas em maio por
Pedro Collor de que o presidente, seu irmão, faria parte de um grande esquema
de corrupção. A crise política que então se iniciou teria como desfecho o impeachment de Collor. Antes que isso ocorresse, entretanto, Brizola
sofreria críticas ainda mais duras do partido, já que, mesmo diante das
denúncias publicadas pela imprensa, recusava-se a criticar o presidente e a
apoiar sua deposição. Em contrapartida, vários parlamentares pedetistas, como
Cidinha Campos, manifestavam sua posição favorável ao impeachment. Mesmo sem o apoio firme de Brizola, em 29 de setembro a
bancada do PDT marchou praticamente unida para votar a favor da abertura do
processo de impeachment e do afastamento do presidente. Da bancada fluminense,
apenas Sérgio Cury se ausentou da votação.
As
eleições de 1992 e o plebiscito de 1993
As eleições de 1992 não foram favoráveis ao PDT no Rio de
Janeiro. O então prefeito Marcelo Alencar tentou lançar a candidatura de Luís Paulo Correia da Rocha à sua sucessão, mas Brizola, intervindo nos diretórios do partido, acabou
por controlar o processo de escolha do candidato do PDT, e a indicada foi a deputada
federal Cidinha Campos. A princípio liderando as pesquisas, Cidinha foi
ultrapassada por Benedita da Silva, do PT, e, nos últimos dias da campanha, por
César Maia, candidato do PMDB. Dessa forma, a candidata pedetista sequer
chegou ao segundo turno. O partido conquistou quatro prefeituras de capitais,
entre elas Curitiba e João Pessoa, e 410 prefeituras em todo o país.
O saldo dessa eleição foi o início de um conflito entre
Marcelo Alencar e Brizola que causou mais uma importante dissensão no partido.
Em março de 1993 Marcelo Alencar abandonou o PDT, levando consigo vários
deputados e vereadores que, como ele, ingressaram no Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB).
Também em 1993, reafirmando suas convicções presidencialistas
expressas por ocasião da Constituinte instalada em 1987, o PDT entrou
firmemente na campanha do plebiscito sobre a forma de governo a ser adotada no
país. Suas lideranças e seus militantes foram mobilizados para defender nas
ruas, no rádio e na televisão o presidencialismo, posição que saiu vitoriosa
nas urnas.
Na mesma época, o PDT se empenhou no combate à revisão
constitucional, seja por meios institucionais, recorrendo ao Supremo Tribunal
Federal, seja por métodos alternativos, como a ação de parlamentares em
plenário visando tumultuar as sessões da revisão e impedir seu andamento. A
revisão constitucional fracassou, e os parlamentares pedetistas envolvidos
nessas tentativas de obstrução, como por exemplo Luís Alfredo Salomão, do Rio
de Janeiro, sofreram apenas punições leves. O partido também votou unido contra
a criação do Fundo Social de Emergência, que, não obstante, acabou aprovado
pelo Congresso Nacional.
As
eleições de 1994 e 1996
As eleições presidenciais de 1994 aconteceram em um contexto
bem diferente das de 1989. Dentro do PDT a candidatura de Leonel Brizola à
presidência da República já não despertava unanimidade. O nome de Jaime Lerner,
ex-prefeito de Curitiba, aparecia esporadicamente e chegou a ser proposto pelo
PFL no início do ano visando a uma eventual aliança com o PDT. Brizola,
entretanto, mantinha o controle sobre o partido e tinha apoio suficiente para
mais uma vez se candidatar. Seu nome não chegou em momento algum a liderar as
pesquisas, comandadas até julho por Lula, do PT, e depois por Fernando Henrique
Cardoso, do PSDB.
O
candidato do PSDB, respaldado pelo Plano Real, venceu as eleições no primeiro
turno, e Brizola sequer conseguiu vitórias nos seus antigos redutos, Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro, chegou em quarto lugar, com 10,68%
dos votos. Em todo o Brasil, ficou em quinto lugar, com 3,18% dos votos
válidos, atrás dos candidatos Fernando Henrique Cardoso, Lula, Enéias Carneiro
e Orestes Quércia.
O
PDT elegeu na ocasião, em todo o país, quatro senadores, 34 deputados federais e
88 deputados estaduais. Dois governadores foram eleitos sob sua legenda: Jaime
Lerner, do Paraná, e Dante de Oliveira, do Mato Grosso. No Rio, apesar do bom
desempenho eleitoral do candidato Anthony Garotinho, sobretudo no interior do
estado, o PDT não conseguiu evitar a vitória de Marcelo Alencar, ex-pedetista,
agora no PSDB, que venceu o pleito no segundo turno.
Terminadas as eleições, mais uma vez o PDT ocuparia lugar na
oposição, manifestando-se contra o plano de governo de Fernando Henrique
Cardoso, sobretudo no tocante às reformas constitucionais previstas. Nas
votações das emendas constitucionais o PDT se aliou ao PT na oposição, embora
sem sucesso em seus objetivos. Vários deputados pedetistas acabaram votando com
o governo e foram expulsos do partido, o que diminuiu bastante a sua bancada.
Pelo menos sete parlamentares deixaram o PDT entre 1995 e 1996.
As eleições de 1996 foram marcadas por um retorno aos temas
municipais, em detrimento das questões nacionais. Nesse contexto, o PDT lançou
como candidato à prefeitura do Rio de Janeiro o deputado Miro Teixeira, que
pautou sua campanha pelas críticas ao governo federal, extensivas aos
candidatos seus concorrentes do PSDB e do PFL. A estratégia do PDT fracassou, e
Miro Teixeira chegou em quarto lugar no primeiro turno, atrás de Luís Paulo
Conde, do PFL, Sérgio Cabral, do PSDB, e Chico Alencar, do PT. Apenas quatro
vereadores foram eleitos pelo partido na cidade. O PDT conquistou, contudo, 435
prefeituras em todo o Brasil, sendo algumas delas em capitais, como Curitiba e
Porto Velho.
O início do ano de 1997 trouxe uma nova crise ao PDT,
ocasionada pela decisão de alguns deputados pedetistas de votar favoravelmente
à emenda constitucional que autorizava a reeleição do presidente da República e
dos governadores e prefeitos. O foco da crise seria o governador do Mato
Grosso, Dante de Oliveira, que fez intensa campanha pela reeleição, inclusive
desembarcando em Brasília para pressionar deputados. A situação culminou com a
expulsão do partido de Dante de Oliveira, que se filiou ao PSDB.
Nas
eleições presidenciais de 1998, não havendo boas projeções para seus possíveis
candidatos à presidência, o PDT decidiu-se pela coligação com o PT,
apresentando Brizola como candidato a vice na chapa que teve Lula como candidato
a presidente. Fernando Henrique Cardoso foi reeleito logo no primeiro turno,
tendo a chapa PT-PDT ficado em segundo lugar, com 31,71% dos votos válidos.
A coligação PDT-PT se repetiu na eleição para governador no
estado do Rio de Janeiro, com Anthony Garotinho liderando a chapa e Benedita da
Silva como vice-governadora. A aliança entre os dois partidos esteve perto de
ser desfeita quando da aprovação pelo diretório regional da candidatura de
Vladimir Palmeira, de corrente mais radical do PT, ao governo do Rio. Brizola
condicionou a permanência do partido na aliança nacional à manutenção da
coligação no Rio, que se confirmou após intervenção do diretório nacional do
PT. Apesar das resistências, a chapa Garotinho-Benedita saiu vitoriosa, tendo
conseguido se eleger no segundo turno do pleito. Esse foi o único governo
estadual que o PDT conseguiu conquistar nas eleições de 1998. No Rio Grande do
Sul a coligação nacional também foi debatida, mas houve uma grande resistência
do PDT gaúcho, que optou pelo lançamento de candidatura própria. No segundo
turno o partido apoiou o candidato do PT Olívio Dutra. O partido teve
esperanças de vitória em São Paulo, onde lançou como candidato Francisco Rossi,
ex-prefeito de Osasco. Tendo-se mantido em segundo lugar durante quase toda a
campanha, Rossi começou a perder pontos quando os demais candidatos começaram a
atacá-lo. Terminou em quarto lugar e se desligou do PDT para apoiar Paulo
Maluf, do Partido Progressista Brasileiro (PPB), no segundo turno. Nesse
momento, oficialmente, seguindo a orientação de Brizola, o PDT pregou o voto em
branco em São Paulo.
Ao
todo o PDT elegeu 24 deputados federais em 1998, dez a menos do que em 1994, e
ficou com apenas dois de seus quatro senadores.
Ricardo Guanabara colaboração
especial
O
PDT SEM BRIZOLA
Nas
eleições municipais de 2000 os pedetistas elegeram 288 prefeitos, sendo dois de
capitais: Jackson Lago, em São Luís, e Carlos Camurça, em Porto Velho.
Para
as eleições gerais de 2002 o PDT mudou de estratégia, em relação ao que sucedera
em 1998: ao invés de apoiar a candidatura de Lula, pelo PT, os pedetistas
optaram por apoiar o candidato Ciro Gomes, então no Partido Popular Socialista
(PPS). O ex-governador do Ceará, apoiado também pelo PTB, terminou o 1º turno
em quarto lugar, com quase 12% dos votos válidos. Com a vitória de Lula, no 2º
turno, contudo, o PDT teria a oportunidade, pela primeira vez, de participar
oficialmente de um governo central no Brasil.
Nas
eleições estaduais daquele ano, o PDT concorreu diretamente em nove estados,
elegendo apenas um governador: Valdez Góis (AP). As bancadas pedetistas na
Câmara passaram a contar, após as eleições de 2002, com dezenove
representantes, ou 4,37% das cadeiras. Já no Senado o PDT passou a contar com
mais quatro senadores.
O
ano de 2004 trouxe grande tristeza ao PDT com o falecimento, em junho, de seu
grande líder e fundador, Leonel Brizola, aos 82 anos, por problemas cardíacos.
Sem seu principal nome, o partido disputou as eleições municipais de outubro,
elegendo 307 prefeitos, obtendo, portanto, desempenho ligeiramente superior às
eleições municipais anteriores. Três capitais foram conquistadas pelos
pedetistas em 2004: Maceió, com José Cícero Soares de Almeida, Salvador, com
João Henrique Carneiro, e São Luís, agora com Carlos Tadeu.
Nas
eleições gerais de 2006, o PDT novamente mudou de estratégia com relação ao
cargo mais importante do nosso sistema político, e apresentou a candidatura de
Cristovam Buarque à presidência da República. Ex-ministro da Educação do
primeiro governo Lula, e dissidente do PT, Cristovam terminou o 1º turno em
quarto lugar, tendo obtido pouco mais de 5 milhões de votos válidos (5,2%).
Lula se reelegeria no 2º turno, superando o candidato tucano da vez, o
ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com o apoio, inclusive, do próprio
PDT. O novo governo petista, iniciado em janeiro de 2007, contaria,
mais uma vez, com a participação dos pedetistas.
Nas
disputas estaduais de 2006, o PDT reelegeu Valdez de Góis no Amapá, e Jackson
Lago no Maranhão. Quanto a suas bancadas no Congresso Nacional, elas não
sofreram, na Câmara, qualquer alteração em relação ao desempenho eleitoral
anterior, elegendo o partido 19 deputados. Já no Senado, o PDT ganhou um novo
representante.
No
pleito municipal de 2008, foram eleitos 350 prefeitos pedetistas, resultado
superior ao de 2004. O desempenho da legenda em capitais, porém, não foi tão
satisfatório e, dessa vez, o PDT saiu-se vitorioso somente em Macapá, com
Roberto Góis.
FONTES:
ARAÚJO, M. C. S. Renascimento;
BANDEIRA, M. Brizola;
DIAP. Quem ;
DIMENSTEIN, G. ; SOUSA, J.
História; Estado
de S. Paulo
(18 e 31/7/84, 4/8/85, 13 e 15/7 e 19/11/86, 19/2, 18 e 19/3, 6 e 21/4/89,
4/5/98); FIGUEIREDO, M. Banco; Folha
de S. Paulo
(1 e 4/8/85, 15/7, 11 e 12/11 e 12/12/86, 19/2, 8 e 19/3, 13, 19 e 26/6, 13 e
21/8, 21/10, 4, 15 e 29/11, 6, 21 e 24/12/89, 29/3, 1 a 4, 10 e 15/10/98); Globo
(9/9, 13, 23 e 28/11, 13 e 16/12/86, 25/4, 25/6, 26/9, 1, 4, 15 e 30/11 e
11/12/89); Jornal do Brasil
(23/7, 23 e 25/11/82, 19/6, 12/7, 4 e 13/8 e 24/10 e 26/11/85, 9/7, 13, 17 e
26/11/86, 23/2, 9 e 20/3, 9, 16, 19 e 24/5, 4/7, 14 e 31/8, 7, 24 e 25/10/89, 2 a 5/10/98); KINZO, M. Radiografia;
LEITE FILHO, F. C. Brizola;
LIMA JÚNIOR, O. B. Democracia;
MONTEIRO, B. ; OLIVEIRA, C. Partidos;
NICOLAU, J. Multipartidarismo;
Portal do TSE. Disponível em : <http://www.tse.gov.br>.
Acesso em : 01 dez. 2009; TRIB.
SUP. ELEIT. Resultados.