PARTIDO
LIBERAL MATO-GROSSENSE
Partido político mato-grossense fundado em 22 de março de
1933 para concorrer às eleições para a Assembléia Nacional Constituinte (ANC).
Foi organizado pelo interventor Leônidas Antero de Matos, que governou o estado
entre 1932 e 1934. Cindiu-se em 1936, passando seus membros a integrar de um
lado o Partido Republicano Mato-Grossense, e, de outro, a Aliança Mato-Grossense.
O
Partido Liberal Mato-Grossense defendia os interesses da Revolução de 1930 e
pretendia integrar-se num futuro partido nacional. Sua primeira comissão
executiva era formada por Ítrio Correia da Costa, Júlio Müller, Silvino Costa,
Modesto Lanzacker, Estêvão Correia, Ribeiro Filho e Antônio Leopoldo Reis
Coelho.
Os
pontos principais de seu programa defendiam a forma republicana federativa de
governo; o sufrágio universal secreto para ambos os sexos; a adoção do
plebiscito e do referendum para as questões de importância social; a autonomia
dos estados e municípios, regidos por constituições e leis orgânicas,
observadas as limitações expressas na Constituição federal; a abolição completa
dos impostos de exportação; a não colaboração política dita antilatifundiária,
considerada ainda inoportuna diante do despovoamento geral e, em particular,
dos estados de Mato Grosso, Goiás, Pará e Amazonas; o estabelecimento imediato,
mais por motivos de ordem nacional do que regional, de núcleos agrícolas à margem
da estrada de ferro Madeira-Mamoré e dos rios navegáveis da mesma região, bem
como a construção de ligações ferroviárias entre o norte de Mato Grosso,
Santarém do Pará e a capital de Goiás; a socialização gradual de todos os
serviços públicos ou de interesse coletivo que a comportassem técnica e
economicamente; a criação de conselhos técnicos e consultivos; a reserva das
minas de interesse econômico ou militar para o poder público federal; o regime
de oito horas de trabalho para os trabalhadores manuais e mecânicos e para os
empregados do comércio, e sua gradual redução; a criação de tribunais para a
solução dos conflitos entre operários e patrões, e o reconhecimento dos
sindicatos e cooperativas de consumo e produção e das associações profissionais
regulares e estáveis, inclusive as de profissões liberais.
Para
participar da ANC de 1933, foram eleitos sob sua legenda Generoso Ponce Filho,
Alfredo Correia Pacheco e Francisco Vilanova.
Nas eleições estaduais de 14 de outubro de 1934, o partido
elegeu nove deputados estaduais e um deputado federal, Ítrio Correia da Costa.
Os deputados estaduais, eleitos para participar da Assembléia
Constituinte estadual, além de preparar a Constituição do estado, deveriam
eleger o governador constitucional e dois senadores. Em função dessas eleições,
as forças políticas do estado vinham-se articulando desde junho de 1934.
O
governo do interventor Leônidas de Matos, do Partido Liberal, vinha provocando
um descontentamento geral devido à precária situação financeira do estado. Esta
situação remontava à administração anterior, de Mário Correia da Costa, que
governara Mato Grosso de 1926 a 1930. Embora tivesse sido chefe de polícia
nesse período, Leônidas de Matos se indispusera com Mário Correia da Costa,
tornando-se seu inimigo político. Em 1934, este último voltou a Mato Grosso e
foi recebido por grande manifestação popular.
A partir desse momento, Mário Correia da Costa congregou as
forças de oposição ao interventor em torno da candidatura de Filinto Müller ao
governo estadual. Concentradas no Partido Evolucionista de Mato Grosso, as
forças oposicionistas receberam o apoio de diversos membros do próprio Partido
Liberal, fortalecendo-se a ponto de provocar a intervenção federal no estado.
Em outubro de 1934, Leônidas de Matos foi destituído, sendo nomeado interventor
César Mesquita Serra, que governou apenas quatro meses. Em março de 1935
assumiu a interventoria Fenelon Müller, irmão de Filinto Müller.
A
campanha pela candidatura de Filinto Müller foi então interrompida, tendo este
desistido da indicação em favor do irmão. No entanto, as forças de oposição
lideradas por Mário Correia da Costa não deram seu apoio a Fenelon, articulando
a candidatura de seu próprio líder. João Vilasboas, então chefe do Partido
Liberal, em troca de seu apoio a Mário Correia da Costa, garantiu sua eleição
para senador.
A comissão diretora do Partido Liberal lançou a seguir um
manifesto reafirmando essas decisões. Esse manifesto foi assinado pelos
deputados João Celestino, Benjamim Duarte Monteiro, Palmiro P. de Barros, João
Vilasboas, Antônio Reis Coelho, José Alves Ribeiro, Sátiro Martins A. Bezerra,
Oliveira Melo e Estêvão A. Correia, os quais, diante do agravamento do clima de
tensão, se refugiaram no quartel do 16º Batalhão de Caçadores.
Nova intervenção federal foi necessária para que a Assembléia
pudesse se reunir. Em 30 de agosto, Fenelon Müller foi substituído pelo coronel
Newton Cavalcanti, que governou apenas nove dias.
Em 7 de setembro a Assembléia reuniu-se e elegeu Mário
Correia da Costa para governador e João Vilasboas e Vespasiano Barbosa Martins
(este último, do Partido Evolucionista) para senadores.
Entretanto,
a coligação que elegeu o governador rompeu-se em 1936, quando dois novos
partidos foram fundados: de um lado, o Partido Republicano Mato-Grossense,
formado por Mário Correia da Costa e seus partidários tanto do Partido Liberal
como do Partido Evolucionista, e, de outro, a Aliança Mato-Grossense, formada
pelos membros restantes dos dois partidos, liderados por João Vilasboas.
Regina Bressane
FONTES: ARQ.
OSVALDO ARANHA; ASSEM. NAC. CONST. 1934. Anais; Diário de Notícias, Rio (9/1,
20/8, 10/9/35 e 13/9/36); Estado de S. Paulo (6/12/34); Jornal do Brasil
(23/2/33); Jornal do Comércio (23/2/33).