PASQUIM,
O
Jornal
semanal fundado no Rio de Janeiro, sua primeira edição data do dia 26 de junho
de 1969. Fez parte da chamada imprensa alternativa, ou seja, uma imprensa de
natureza basicamente política que visava à manifestação de setores sem acesso à
imprensa convencional.
Após o golpe militar de 1964, surgiram muitas publicações com
projetos alternativos, seja como revista — como é o caso de Pif-Paf
criada por Millôr Fernandes em maio de 1964 e que tinha sido anteriormente um
suplemento da revista O Cruzeiro — seja como suplemento de jornais e
revistas, como Cartum JS e O Centavo, ambos criados por Ziraldo
para o Jornal dos Sports e para O Cruzeiro, respectivamente.
Essas publicações, mesmo efêmeras, abriram mais espaços para os humoristas.
Esses profissionais, contudo, ainda sofriam com a censura interna dos órgãos, o
que impedia a publicação de todos os seus trabalhos.
Em 13 de dezembro de 1968, foi editado o Ato Institucional nº
5 que eliminou diversas garantias constitucionais. Com isso, a necessidade de
um espaço de oposição para humoristas e jornalistas impôs-se de forma mais
urgente. O grupo que criaria O Pasquim inicialmente pensou em utilizar
uma revista já existente chamada Carapuça, lançada em agosto de 1968
pelo jornalista Sérgio Porto. Com sua morte realizaram-se algumas reuniões para
decidir a continuidade da revista ou a criação de um jornal, proposta defendida
por Jaguar. Participaram desses encontros os fundadores do novo jornal, O
Pasquim: Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Carlos Prosperi, Claudius,
Carlos Magaldi e Murilo Reis. Do seu lançamento até outubro de 1970, o jornal
foi dirigido por Tarso de Castro. Segundo o jornalista Bernardo Kucinsky, O
Pasquim foi uma sociedade por cotas instável que mudava a composição
acionária a cada crise.
O Pasquim inspirou-se em
publicações da chamada contracultura norte-americana (principalmente no jornal underground
Village Voice, de 1955) e divulgou o pensamento existencialista sobretudo
através da coluna “Udigrudi” de Luís Carlos Maciel. Misturava política,
comportamento e crítica social. Tinha como alvos principais a ditadura militar,
o moralismo da classe média e a grande imprensa. Desde o princípio contou com a
colaboração e adesão de humoristas, jornalistas e intelectuais, como Millôr
Fernandes, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa, Luís Carlos Maciel, entre
outros.
Caracterizou-se
pela utilização do humor como forma de contestação e pelo uso de uma linguagem
coloquial que agradou ao grande público, chegando, já em 1969, à tiragem de
duzentos mil exemplares. Outra importante característica do jornal eram as
entrevistas, com as quais inovou o jornalismo brasileiro ao transcrevê-las como
uma longa conversa, sem copidesque. As entrevistas abriam espaços para
personalidades contrárias ao regime militar como, por exemplo, d. Hélder Câmara
a quem foi dedicada a capa da edição nº 40, de abril de 1970. Outras vezes o
jornal trazia revelações como a feita por Ibrahim Sued no número de 26 de junho
de 1969, sobre a escolha do futuro presidente, general Emílio Garrastazu
Médici.
Em
junho de 1970, iniciou-se a censura prévia a O Pasquim. Ainda assim,
porém, a equipe conseguia contornar os censores e aprovar algumas matérias.
Essa oposição sistemática do jornal, que atingia um grande público, incomodou o
regime militar. Em 1º de novembro, grande parte da equipe do jornal foi presa
pelo DOI-CODI. Os que não foram presos — Marta Alencar, Millôr Fernandes,
Henfil e Miguel Paiva — continuaram editando O Pasquim com a ajuda de
jornalistas e artistas que enviavam colaborações para a redação. Nessa ocasião,
Millôr Fernandes chegou a redigir artigos que publicou com a assinatura de
colegas presos, enquanto Henfil desenhou como Jaguar. Mesmo assim, a vendagem
do jornal caiu.
A prisão terminou em janeiro de 1971. Dessa data até setembro
de 1972, Millôr Fernandes assumiu a direção do jornal, enquanto Henfil,
Ziraldo, Ivan Lessa e Jaguar o produziam. A principal preocupação, nesse
momento, era o saneamento das dívidas, resultado da má administração anterior.
A recuperação financeira de O Pasquim coube ao empresário Fernando
Gasparian. Mudou-se então a razão social para Codecri e iniciou-se a publicação
de livros. Em 24 de março de 1975, foi extinta a censura prévia ao jornal e até
fins dessa década as principais temáticas de O Pasquim foram as
campanhas contra a carestia e pela anistia aos condenados por crimes políticos,
o que permitiria o retorno dos exilados, a libertação dos presos políticos e a
livre circulação dos clandestinos.
No início da década de 1980, com a abertura política, a
redemocratização e o pluripartidarismo, a ditadura militar deixou de ser o
único alvo dos colaboradores. Por ocasião das eleições de 1982, ocorreu uma
divergência política que separou Ziraldo e Jaguar; o primeiro apoiou o Partido
do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e a candidatura de Miro Teixeira
para o governo do estado do Rio de Janeiro, enquanto Jaguar fez campanha para
Leonel Brizola do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Essa divergência foi
estampada nas páginas de O Pasquim e determinou a saída de Ziraldo após
a vitória de Leonel Brizola.
O jornal passou então por um momento de crise financeira, com
a diminuição da tiragem. Havia também uma grande divergência a respeito de qual
linha editorial deveria ser privilegiada: alguns preconizavam uma maior
radicalização política; outros defendiam uma linha humorística mais
descompromissada.
Em agosto de 1988, quando o jornal foi vendido ao empresário
João Carlos Rabelo, a tiragem girava em torno dos três mil exemplares em
edições quinzenais. Em outubro do mesmo ano, sob nova direção, chegou aos 80
mil exemplares. Foi mantida a veia humorística que sempre caracterizou O
Pasquim. Daí em diante, o jornal posicionou-se contra a corrupção, o
capitalismo neoliberal e, após as eleições presidenciais de 1989, contra
Fernando Collor de Melo e as políticas implementadas por ele no governo.
Segundo
João Carlos Rabelo, O Pasquim obtinha seu lucro basicamente das vendas
nas bancas, uma vez que não tinha muitos anúncios publicitários, nem de
empresas, nem do governo. Com o aumento progressivo da taxa da inflação,
tornou-se impraticável o repasse dos custos ao preço final do jornal, agravando
a crise de O Pasquim e determinando seu fechamento.
A sua última edição foi de janeiro de 1991.
Mônica
Castro
FONTES:
KUCINSKY, B. Jornalistas; QUADRAT, S. Telecoteco.